EBD - Janeiro a abril de 2012 - ONZE PERSONAGENS BÍBLICOS
APRESENTAÇÃO
Queridas
companheiras, queridos companheiros, estamos iniciando mais um ano letivo em
nossa EBD. Nesta primeira revista de 2012, que vai de fevereiro a abril,
estudaremos alguns personagens bíblicos. Quero chamar a atenção de vocês para o
fato de que a proposta não é estudar uma biografia completa de cada personagem,
mas uma parte da vida de cada um, um recorte apenas. Minha proposta também não
é simplesmente “queimar o filme” de alguns personagens ou enaltecer outros. A
ideia é mostrar que, assim como nós, eles não foram perfeitos.
Não estamos analisando, neste pacote
de lições, apenas personagens mais importantes, apenas os de grande expressão
ou ainda aqueles que são citados costumeiramente em sermões como elementos
quase perfeitos. Aqui, vamos de Abigail, pouco citada, a Davi, apresentados por
muitos como “o cara”, passando por Saul, visto por muitos como um elemento “do
mal”, mas não é assim que ele é tratado aqui.
Enfim, queridos e queridas, a ideia
é aprendermos com os erros deles e copiarmos os modelos que deram certo,
aperfeiçoando esses modelos.
A linguagem, vocês já conhecem. E
por garantia, já vou pedindo perdão se me excedi. Quero ouvir vocês sobre este
material, quero adequar a linguagem, quero acertar, mas não posso mudar o estilo, sob pena de
deixar de ser eu. Como diz uma certa música do cancioneiro popular brasileiro:
“...eu quero apenas que você me aceite do jeito que sou...”
Estou a sua disposição para
críticas, sugestões, elogios e um dedinho de prosa, pessoalmente, através do
celular (22-8835-6861), do e-mail (isacmoura@gmail.com), do facebook e do
Orkut. Fique a vontade, mas lembre-se, como diria o Baby, aquele monstrenguinho
da Família Dinossauro, “você precisa me amar.” Bom, eu amo vocês... assim mesmo
do jeito que são: uns mais liberais, outros mais conservadores, uns mais
próximos, outros mais “distantes”, uns mais de esquerda, outros mais de
direita, uns calvinistas, outros arminianos. Que importa tudo isso? Importa que
em Cristo somos um, e que ser diferente é muito normal. Eu amo vocês e pronto.
Beijos para os beijáveis, abraços para os abraçáveis e ótimos estudos, debates,
discordâncias, CRESCIMENTOS. (Isac Machado de Moura)
LIÇÃO 01 - 05/02/2012
GIDEÃO, SUA AUTO-ESTIMA COMPROMETIDA,
SEU CHAMADO E SUA SUPERAÇÃO
JUÍZES 6
11 Então o anjo
do SENHOR veio, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra, que
pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no
lagar, para o salvar dos midianitas.
12 Então o anjo
do SENHOR lhe apareceu, e lhe disse: O SENHOR é contigo, homem valoroso.
13 Mas Gideão lhe
respondeu: Ai, Senhor meu, se o SENHOR é conosco, por que tudo isto nos
sobreveio? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos
contaram, dizendo: Não nos fez o SENHOR subir do Egito? Porém agora o SENHOR
nos desamparou, e nos deu nas mãos dos midianitas.
14 Então o SENHOR
olhou para ele, e disse: Vai nesta tua força, e livrarás a Israel das mãos dos
midianitas; porventura não te enviei eu?
15 E ele lhe
disse: Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha família é a
mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai.
16 E o SENHOR lhe
disse: Porquanto eu hei de ser contigo, tu ferirás aos midianitas como se
fossem um só homem.
17 E ele disse:
Se agora tenho achado graça aos teus olhos, dá-me um sinal de que és tu que
falas comigo.
18 Rogo-te que
daqui não te apartes, até que eu volte e traga o meu presente, e o ponha
perante ti. E disse: Eu esperarei até que voltes.
19 E entrou
Gideão e preparou um cabrito e pães ázimos de um efa de farinha; a carne pôs
num cesto e o caldo pôs numa panela; e trouxe-lho até debaixo do carvalho, e
lho ofereceu.
20 Porém o anjo
de Deus lhe disse: Toma a carne e os pães ázimos, e põe-nos sobre esta penha e
derrama-lhe o caldo. E assim fez.
21 E o anjo do
SENHOR estendeu a ponta do cajado, que estava na sua mão, e tocou a carne e os
pães ázimos; então subiu o fogo da penha, e consumiu a carne e os pães ázimos;
e o anjo do SENHOR desapareceu de seus olhos.
22 Então viu
Gideão que era o anjo do SENHOR e disse: Ah, Senhor DEUS, pois vi o anjo do
SENHOR face a face.
23 Porém o SENHOR
lhe disse: Paz seja contigo; não temas; não morrerás.
GIDEÃO
E SUA AUTO-IMAGEM
Gideão, tadinho do bichinho, tinha uma
auto-estima muito baixa em função do medo que tinha dos midianitas. Desde cedo
fora treinado a temer esse povo. Mesmo assim, Deus o chamou, e olha que barato:
sua chamada era exatamente para enfrentar, para combater os midianitas.
Não quero parecer um escritor de auto-ajuda, mas preciso dizer que
precisamos enfrentar nossos medos. Sozinho, ele não conseguiria, mas Deus o
chamou, e observe que Deus o chama no exato momento em que ele está preparando
o trigo para escondê-lo dos midianitas. Ele devia estar com medo, com raiva,
muito chateado. E então aparece o anjo
do Senhor e o chama de “homem valoroso”. Uma palavra pode mudar uma vida. Para
o bem ou para o mal. “E desde Moisés se sabe que a palavra é divina...” (Clarice
Lispector). O anjo do Senhor, ao falar
com Gideão, não potencializou seu medo, sequer falou dele. Ele potencializou
uma outra característica que Gideão já nem devia lembrar que tinha: valoroso,
corajoso... A reação de Gideão é óbvia: “peraí, companheiro anjo, você deve
estar brincando comigo, o sedex de Deus deve ter vindo para o homem errado. Ô,
seu anjo, eu estou preparando esse trigo para esconder dos nossos opressores
para não morrermos de fome depois da passagem deles, estou com raiva medo, e você me vem com esse papo... como
assim? Eu sou uma coisinha de nada, não vai rolar isso não... eu ferir os
midianitas? Você tá me tirando? ...Tá bom, mas já que você insiste, o que você
pode fazer para eu ter certeza que essa parada vem de Deus?” Então começa ali a
transformação de Gideão. E começa pela palavra, pelo poder da palavra.
Bem, antes de
seguirmos falando de nosso primeiro personagem dessa revista, falemos um
pouquinho de auto-estima. Tente
responder as perguntinhas a seguir: Quem
sou eu? Qual é o meu valor? As respostas a estas perguntas irão
depender do conceito que temos de nós mesmos. Então podemos concluir que auto-estima tem a ver com a avaliação que
faço de mim mesmo, com a nota que dou a mim mesmo. E no caso de Gideão, essa
avaliação era negativa, essa nota era baixa. Vamos imaginar que todos nós
enxergamos a vida através de óculos, de lentes. Assim, algumas pessoas usam
lentes negativas e só conseguem enxergar o lado negativo da vida; essas são
pessimistas. Outras usam lentes positivas, e através delas conseguem enxergar
todas as belezas da vida, as perspectivas, as possibilidades; essas são
otimistas. Gideão, por força das circunstâncias em que fora criado, usava
lentes negativas. Assim como seu povo, estava acostumado a plantar, colher, e
entregar o fruto da colheita a seus opressores. E todo ano erra assim. Ele não
via o que fazer para mudar aquela realidade. Sentia-se pequeno, fraco, um
coisinha de nada. Mas
um dia tem sua vida mudada através de um chamado inesperado da parte de Deus.
Pronto. Um novo Gideão começava a
surgir.
E você, pessoa, tem medo de quê?
Como você enxerga a vida? Através de que lentes? Vocês lembram dos espias que
Moisés enviou para Canaã? A maioria enxergou de forma negativa, viram apenas as
dificuldades, e voltaram com um parecer pessimista, derrotista: “olha, seu
Moisés, vai dá não... os muros são altos a balde, tem uns caras grandes lá,
muito maiores que o nosso maior homem... então achamos que não vai rolar não.”
Aí chegam outros dois, Josué e Calebe, com uma outra visão. Observe que eles
reconhecem as dificuldades apresentadas pelo outro grupo, mas enxergaram a
situação de outra forma: “companheiro Moisés, tudo o que o outro grupo disse é
verdade: os muros são altos e tem uns caras grandes...mas, olha, companheiro, não
são invencíveis... dá pra gente encarar...” É praticamente isso que ocorre com
Gideão, e talvez alguma coisa parecida ocorra com você. E então, vai encarar ou
ficar se lamentando?
O CONTEXTO ESPECÍFICO DE GIDEÃO
Israel, que
vivia da agricultura, estava sob domínio dos midianitas. Gideão viveu em um
daqueles momentos em que Deus punia o seu povo através de um opressor externo.
Os israelitas tinham se desviado, mais uma vez, do seu Deus e estavam adorando
a Baal. Por conta disso, Deus permitiu tal opressão até que o povo voltou-se
para Ele novamente e pediu socorro. Deus então convoca Gideão para ser o
libertador, naquele momento.
Ao longo de sua
história, Israel viveu isso diversas vezes. Então aquela geração aprendia, mas
a próxima desaprendia. Às vezes, o desvio ocorria ainda na mesma geração.
Israel, então, ficou com a mania de precisar de um libertador. E era isso que o
povo, bem mais tarde, esperava de Jesus,
que ele libertasse a palestina do domínio romano, mas Jesus não estava
interessado em guerras, em questões de estado, ele estava interessado em
pessoas, portanto promoveu um outro tipo de libertação.
O PASSO A PASSO DO CHAMADO DE GIDEÃO
- No verso 11, Gideão se coloca como vítima das circunstâncias. Desde pequeno ouvia falar que era menor... o medo paralisa, e “esteriliza os abraços”, como escreve Drummond no poema “Congresso Internacional do Medo”; ele sentia-se fraco, pobre e miserável.
2.No verso 12, Gideão ouve aquilo que Deus tem a dizer a respeito
do seu potencial: “Apareceu-lhe
então o anjo do Senhor e lhe disse: O Senhor é contigo, ó homem valoroso”.
O Senhor investe em sua auto-estima.
Declara que ele tem um grande valor e tudo começa a mudar. Na Bíblia, temos outros
casos semelhantes. Vou citar dois: Jesus diz para o instável e violento Pedro:
“Tu és rocha!”, e a vida de Pedro começa
a mudar. Deus diz para Jacó, que era um mau caráter: “Tu és príncipe!”, e a
vida dele também muda. O que Deus precisa nos dizer para que nossa vida comece
a mudar?
3.
No verso 13, Gideão ainda responde negativamente:
“Gideão
lhe respondeu: Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo nos
sobreveio? e onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram,
dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Agora, porém, o Senhor nos desamparou,
e nos entregou na mão dos midianitas”.
Observe que a resposta dele começa com um “ai”. Ele estava desiludido e não se
sentia pronto para a missão que se apresentava diante dele.
4. No verso 14, Deus motiva
Gideão a começar com aquilo que tem: “Virou-se o Senhor para ele e lhe disse: Vai nesta tua
força, e livra a Israel da mão de Midiã; porventura não te envio eu?”. Dada a tarefa, Gideão executa. Como diria
o capitão Nascimento, personagem do filme Tropa de Elite: “missão dada é missão
cumprida.” Mas é claro que tudo é um processo. Ele não sai dali já para
executar a tarefa, há todo um preparo, e no fim tudo sai conforme determinado
por Deus e Israel se impõe sobre os midianitas.
5.
No verso 15, Gideão ainda luta contra o chamado divino e dá outra resposta negativa: “Replicou-lhe Gideão: Ai, senhor meu, com que livrarei
a Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu
o menor na casa de meu pai”. Aqui, de novo, aparece o complexo de
inferioridade de Gideão, mas Deus não quer saber disso. Ele escolheu o cara e
pronto.
6. No verso 16, Deus faz uma nova Promessa: “Tornou-lhe o Senhor: Porquanto eu hei
de ser contigo, tu ferirás aos midianitas como a um só homem”.
7.
No verso 17, Gideão começa a mudar a
fonte da sua auto-imagem e desenvolve
uma nova perspectiva: “Prosseguiu Gideão: Se agora tenho achado graça aos
teus olhos, dá-me um sinal de que és tu que falas comigo”.
Bom, o resto da
história a gente já conhece: Gideão, graças a sua insegurança, vai pedindo
outros sinais, outras confirmações, até que por fim parte para a guerra com 300
homens selecionados e liberta seu povo dos midianitas.
LIÇÃO 02 - 12/02/2012
ISAQUE, O FURADOR DE POÇOS; E SUA
VIDA PACATA
GÊNESIS 26
12 E semeou
Isaque naquela mesma terra, e colheu naquele mesmo ano cem medidas, porque o
SENHOR o abençoava.
13 E
engrandeceu-se o homem, e ia enriquecendo-se, até que se tornou mui poderoso.
14 E tinha
possessão de ovelhas, e possessão de vacas, e muita gente de serviço, de
maneira que os filisteus o invejavam.
15 E todos os
poços, que os servos de seu pai tinham cavado nos dias de seu pai Abraão, os
filisteus entulharam e encheram de terra.
16 Disse também
Abimeleque a Isaque: Aparta-te de nós; porque muito mais poderoso te tens feito
do que nós.
17 Então Isaque
partiu dali e fez o seu acampamento no vale de Gerar, e habitou lá.
18 E tornou
Isaque e cavou os poços de água que cavaram nos dias de Abraão seu pai, e que
os filisteus entulharam depois da morte de Abraão, e chamou-os pelos nomes que
os chamara seu pai.
19 Cavaram, pois,
os servos de Isaque naquele vale, e acharam ali um poço de águas vivas.
20 E os pastores
de Gerar porfiaram com os pastores de Isaque, dizendo: Esta água é nossa. Por
isso chamou aquele poço Eseque, porque contenderam com ele.
21 Então cavaram
outro poço, e também porfiaram sobre ele; por isso chamou-o Sitna.
22 E partiu dali,
e cavou outro poço, e não porfiaram sobre ele; por isso chamou-o Reobote, e
disse: Porque agora nos alargou o SENHOR, e crescemos nesta terra.
Dos três patriarcas, Isaque é, sem dúvida
alguma, o mais tranquilo; o mais estável, talvez. Era um cabra que não queria
conflito. Então, se cavava um poço e alguém queria brigar por causa desse poço,
ele abandonava e mandava cavar outro. E foi assim até que o deixaram em paz.
Que este exemplo não nos sirva de modelo na hora de lutarmos por nossos
direitos. Se o poço é nosso, então é nosso. Temos que lutar por ele sim. O
confronto é saudável; não temos que baixar a cabeça para tudo. Esse modelo de
Isaque foi uma opção de vida dele.
Recorrendo a algumas anotações do
livro “Quem é quem na Bíblia Sagrada”,
editado por Paul Gardner, da editora Vida, observemos algumas características
do nosso personagem de hoje: “Teve uma vida longa (Gn 35:28), mas nunca se
afastou da mesma região (Gn 35:27; 24:62; 25:11). Quando comparado com os
solenes incidentes que marcaram a vida de Abraão e a atividade frenética de
Jacó, ele praticamente nada fez.... Ele precisava de uma esposa a quem amasse
(Gn 24:67); experimentava as alegrias do casamento (Gn 26:6); sonhava em ter
filhos (Gn 25:21); alegrava-se com a paternidade e com os simples prazeres de
uma boa comida (Gn 25:28); gostava de viver sem a agitação das viagens e das
novidades... Diferentemente de Abraão e Jacó, o Senhor nunca “apareceu” a
Isaque como apareceu a eles... O que foi que produziu esse homem submisso, de
vida pacata? O que o levou a falar de Deus de forma tão pessoal e com tanta
reverência? Por que tinha tanta esperança de encontrar o anjo bondoso que
apareceu a Hagar? Por que possuía tamanha convicção quanto ao futuro?... mas
falharam como pais (ele e Rebeca). Primeiro, cada um deles demonstrava uma
nítida preferência por um dos dois gêmeos (Gn 25:28); segundo, não levaram os
filhos ao conhecimento da Palavra de Deus que precedeu o nascimento deles.
Seria bem mais fácil se tivessem compartilhado com eles, quando ainda eram
adolescentes, que, embora Esaú fosse tecnicamente o ‘primogênito’, Deus já
tinha determinado de outra maneira. Os filhos teriam absorvido essa informação,
que ficaria gravada em suas consciências, sem efeitos negativos; isso moldaria
a estrutura familiar e o relacionamento entre os irmãos. A palavra de Deus,
entretanto, foi negligenciada e posteriormente gerou todos os lamentáveis eventos
que abalaram a família (Gn 27:41): levou Esaú a envolver-se em outro casamento
(Gn 26:34-35; 28:6); separou Rebeca para sempre de seu filho querido e impôs
sobre Jacó um exílio de 25 anos... O casamento de Isaque começou cheio de
esperanças, mas na velhice o casal não se comunicava, nem descansava na palavra
de Deus, nem muito menos um no outro. Este incidente é a única nota dissonante
dentro da música – orquestrada por Deus no concerto patriarcal – da vida de
Isaque. Viveu até os 180 anos de idade e morreu na presença dos dois filhos,
que o colocaram para descansar naquele local cheio de túmulos memoráveis, a
caverna de Macpela (Gn 35:28)”.
ISAQUE É LEVADO AO ALTAR PARA SER
SACRIFICADO
Normalmente,
quando lemos a história de Isaque, pensamos num garotinho sendo levado para o
sacrifício, talvez sem entender direito o que acontecia, mas segundo a tradição
judaica registrada por Josefo, ele tinha 25 anos de idade naquele momento.
Apesar disso, não se rebelou, não tentou fugir, foi para o sacrifício “numa
boa”. Era muito pacato esse cara, parece que tudo estava bom para ele, fazia a
“política” do “deixa a vida me levar, vida leva eu”, entendia que tudo o que
acontecesse seria a manifestação da vontade de Deus em sua vida, não era um
cara ansioso, provavelmente sofria pouco. Era feliz. Gosto dele, mas em
determinados episódios de sua história, chego a ficar irritado, pensando: “que
cara mais lerdo!” Enfim, nosso Isaque era um cara do bem, mas “irritantemente”
pacato, submisso. A propósito, não vejo a submissão como qualidade. Para mim, é
um defeito terrível. A submissão só cabe na nossa relação com Deus, e aí sim, é
preciso nos submeter a sua vontade, aos seus desígnios. Quando se trata, porém,
de outros seres humanos, tenho dificuldades de aceitá-la. Aos meus líderes,
devo respeito e não submissão.
“Somos
todos iguais, braços dados ou não”. Então, se nos amamos, se nos respeitamos,
isso basta; não preciso me submeter ao outro, criar uma relação de dependência,
dizer sim para tudo que o outro propõe. Repito: o confronto é saudável. Só
temos que saber administrar isso, de forma que não se torne algo absolutamente
pessoal. A impressão que tenho é de que há um excesso de sensibilidade em
muitos companheiros nossos. Então, de repente você discorda de uma coisa e o
outro já toma essa discordância como uma ofensa, como algo pessoal, quase como
perseguição. Um exagero. Por outro lado, você precisa saber fazer sua crítica,
sem ferir, sem ofender; precisa saber se impor, ocupar seus espaços, discordar
sempre que for preciso. Nesse sentido, não precisamos ser um Isaque. Vamos
seguir outros exemplos dele: sua tranqüilidade, sua calma, seu gosto pela paz,
sua segurança em Deus, seu exemplo de fé.
sub.mis.são
s. f. 1. Ato ou efeito de submeter(-se); obediência,
sujeição. 2. Disposição para aceitar um estado de dependência. 3. Estado de
rebaixamento servil; subserviência. (Dicionário Michaelis)
ISAQUE, REBECA E OS GÊMEOS
Quando Isaque conheceu Rebeca, ele
tinha 40 anos de idade. Logo que a viu, rolou um clima, foi amor a primeira
vista. Que bom! Se não tivesse rolado esse clima, teriam que ter se casado do
mesmo jeito. Era a cultura daquele contexto. Abraão não queria que ele se
casasse com uma mulher cananéia. Então mandou seu servo de confiança ir buscar
uma esposa para Isaque entre os seus parentes (Gênesis 24), na Mesopotâmia. Seu
servo, pede ajuda divina e parte para a missão. Encontra Rebeca, linda e fofa.
Ela se dispõe a acompanhá-lo para o Negebe, onde morava Isaque, deixando sua
parentela. É bom lembrar que Rebeca era prima de Isaque. Bom, feito o acordo do
servo de Abraão com os parentes dela, e ela dispondo-se a ir ao encontro de
Isaque, não tinha mais volta. O casamento estava resolvido. Então que bom que
rolou um amor a primeira vista e eles se amaram e foram felizes. Rebeca era
estéril (Gn 25:21) e Isaque orava por ela para que engravidasse. E os gêmeos
(Esaú e Jacó) só vieram 20 anos depois, quando ele já tinha sessenta (Gn 25:26).
NINGUÉM É PERFEITO... NEM ISAQUE
Graças a
uma fome sinistra que rolou em sua terra, Isaque foi orientado por Deus a
procurar Abimeleque, rei dos filisteus, e mudou-se para Gerar. Deus também o
havia orientado a não descer para o Egito. Temendo um interesse físico dos
homens de Gerar por Rebeca, que era uma fofeza de mulher, e temendo a
possibilidade dos caras o matarem para ficar com ela, ele diz que Rebeca era
sua irmã. Como “a mentira tem pernas curtas”, um dia Abimeleque flagra Isaque
“brincando” (Gn 26:8) com Rebeca (é
claro que esse “brincando” não tem um sentido infantil), então o chama para uma conversa e dá uns esporros
nele: “Ô companheiro Isaque, você é doido, sujeito? Você disse que a garota é
tua irmã, e se algum dos nossos homens se interessassem por ela, já que, nesse
caso, seria livre, o que você faria, seu maluco? E ainda ia trazer juízo divino
sobre nós... ah, Isaque... mentiu pra mim, sujeito...”
Agora
vejam os senhores que interessante: Abraão, o pai de Isaque, cometeu esse mesmo
erro com esse mesmo rei (Gn 20), quando disse que Sara era sua irmã e não sua
esposa. Isaque não aprendeu com o erro do pai e fez exatamente a mesma coisa.
Você já se pegou reproduzindo comportamentos semelhantes aos de seu pai ou de
sua mãe? Muitas vezes, fazemos isso inconscientemente.
LIÇÃO 03 - 26/02/2012
ABIGAIL, MULHER
VIRTUOSA
PV 12:4 - A mulher virtuosa é a coroa do seu
marido, mas a que o envergonha é como podridão nos seus ossos.
PV 31:10 - Mulher virtuosa
quem a achará? O seu valor muito excede ao de rubis.
1 Samuel 25
2 E havia um homem em Maom, que tinha
as suas possessões no Carmelo; e era este homem muito poderoso, e tinha três
mil ovelhas e mil cabras; e estava tosquiando as suas ovelhas no Carmelo.
3 E era o nome deste homem Nabal, e o
nome de sua mulher Abigail; e
era a mulher de bom entendimento e formosa; porém o homem era duro, e maligno
nas obras, e era da casa de Calebe.
4 E ouviu Davi no deserto que Nabal
tosquiava as suas ovelhas,
8 Pergunta-o aos teus moços, e eles to
dirão. Estes moços, pois, achem graça em teus olhos, porque viemos em boa
ocasião. Dá, pois, a teus servos e a Davi, teu filho, o que achares à mão.
9 Chegando, pois, os moços de Davi, e
falando a Nabal todas aquelas palavras em nome de Davi, se calaram.
10 E Nabal respondeu aos criados de Davi, e
disse: Quem é Davi, e quem é o filho de Jessé? Muitos servos há hoje, que fogem
ao seu senhor.
11 Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e
a carne das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores, e o daria a
homens que eu não sei donde vêm?
12 Então os moços
de Davi puseram-se a caminho e voltaram, e chegando, lhe anunciaram tudo
conforme a todas estas palavras.
13 Por isso disse Davi aos seus homens: Cada um
cinja a sua espada. E cada um cingiu a sua espada, e cingiu também Davi a sua;
e subiram após Davi uns quatrocentos homens, e duzentos ficaram com a bagagem.
14 Porém um
dentre os moços o anunciou a Abigail, mulher de Nabal, dizendo: Eis que Davi
enviou mensageiros desde o deserto a saudar o nosso amo; porém ele os
destratou.
19 E disse aos seus moços: Ide adiante de mim, eis
que vos seguirei de perto. O que, porém, não declarou a seu marido Nabal.
20 E sucedeu que, andando ela montada num
jumento, desceu pelo encoberto do monte, e eis que Davi e os seus homens lhe
vinham ao encontro, e ela encontrou-se com eles.
21 E disse Davi:
Na verdade que em vão tenho guardado tudo quanto este tem no deserto, e nada
lhe faltou de tudo quanto tem, e ele me pagou mal por bem.
22 Assim faça
Deus aos inimigos de Davi, e outro tanto, se eu deixar até amanhã de tudo o que
tem, até mesmo um menino.
23 Vendo, pois,
Abigail a Davi, apressou-se, e desceu do jumento, e prostrou-se sobre o seu
rosto diante de Davi, e se inclinou à terra.
24 E lançou-se a
seus pés, e disse: Ah, senhor meu, minha seja a transgressão; deixa, pois,
falar a tua serva aos teus ouvidos, e ouve as palavras da tua serva.
25 Meu senhor,
agora não faça este homem vil, a saber, Nabal, impressão no seu coração, porque
tal é ele qual é o seu nome. Nabal é o seu nome, e a loucura está com ele, e
eu, tua serva, não vi os moços de meu senhor, que enviaste.
27 E agora este é
o presente que trouxe a tua serva a meu senhor; seja dado aos moços que seguem
ao meu senhor.
28 Perdoa, pois,
à tua serva esta transgressão, porque certamente fará o SENHOR casa firme a meu
senhor, porque meu senhor guerreia as guerras do SENHOR, e não se tem achado
mal em ti por todos os teus dias
32 Então Davi
disse a Abigail: Bendito o SENHOR Deus de Israel, que hoje te enviou ao meu
encontro.
33 E bendito o
teu conselho, e bendita tu, que hoje me impediste de derramar sangue, e de
vingar-me pela minha própria mão.
34 Porque, na
verdade, vive o SENHOR Deus de Israel, que me impediu de que te fizesse mal,
que se tu não te apressaras, e não me vieras ao encontro, não ficaria a Nabal
até a luz da manhã nem mesmo um menino.
Antes
de tecer meus comentários, quero transcrever um trecho de um livro já citado
nesta revista: “Quem é Quem na Bíblia Sagrada”, da editora Vida”, páginas 5 e
6:
“Abigail era uma mulher linda e muito sábia. O
escritor de 1 Samuel deixa subentendido que sua verdadeira beleza encontrava-se
no seu amor ao Senhor e em sua dedicação ao serviço. O relato de sua
hospitalidade diplomática para com Davi contrasta com a ríspida hospitalidade
de seu marido Nabal, que insensatamente pagou as saudações polidas do futuro
rei com insultos. Ele falhou por não oferecer a Davi a costumeira
hospitalidade... A bondade e presença de espírito de Abigail evitaram uma
inevitável explosão de vingança. A morte de Nabal, pouco tempo depois, é
descrita por Davi como castigo de Deus, por ele ter insultado o novo líder de
Israel. O filho de Jessé então tomou Abigail como sua esposa.”
Antes de falar de Abigail, só para
contextualizar a cena, preciso falar um pouquinho só da participação de Davi no
episódio. Davi, o rei de Israel, dava pitizinho por qualquer coisa. Parece até
que foi criado por vó (desculpa aí, irmãs) ou por pais permissivos, e
então não sabia ouvir um “não” que tinha
um ataque. Além de um sujeito violento, tinha uns siricoticos toda vez que ouvia
uma negativa. Não estou querendo enaltecer o Nabal, já que a Bíblia o descreve
como um cabra do mal, mas especificamente neste episódio, ele simplesmente diz
não a Davi, que era seu rei, que tinha por obrigação cuidar de sua segurança,
portanto. Nesta cena, Davi age quase como um miliciano, ou seja, em troca da
segurança dada a Nabal, queria uma “doação”. Nabal recusa-se a dar a doação,
dizendo não reconhecer Davi como seu rei. Pronto. O rei tem um piti, convoca um
grupo imenso de homens e parte contra Nabal, dizendo cheio de raivinha que não
deixaria ninguém vivo lá, nem mesmo um menino. Que cara estúpido que era Davi!
Como o poder lhe fez mal! Aquele menino simpático do episódio de Golias, aquele
menino simples quando da unção por Samuel, ao longo do tempo vai se
transformando num monstrengo graças a relação de poder. Esse piti de Davi no episódio em estudo, e
sua consequente sede de vingança, de “justiça com as próprias mãos”, como ele
mesmo diz no verso 33, me lembra um pouco uma outra relação arbitrária de poder
que presenciamos hoje em nossa cidade, em nosso país: o cara é policial,
portanto representante do estado, tem a obrigação de defender os cidadãos, e
recebe para isso, mas mesmo assim acha que pode achacar os comerciantes em
troca da segurança que oferece, o que é sua obrigação. Então esse cara,
inclusive alguns que fazem isso são evangélicos, acham que o comerciante tem
que lhe oferecer alimentação gratuita todos os dias, e quando o comerciante se
recusa, ele fica aborrecidinho e sequer atende os chamados daquele cidadão.
Senhores policiais evangélicos, se tiver algum lendo isso, os senhores, assim
como eu e tantos outros profissionais, precisam dar seu jeito de pagar sua
alimentação como eu pago. Nenhum comerciante tem que lhe fornecer quentinhas em
troca de segurança. Isso já é sua obrigação. Não dê uma de Davi. Nesse cenário
em estudo hoje, ele não é um modelo a ser seguido. Você é policial e não
miliciano. Ou é tudo a mesma coisa?
Pronto. Falei. Agora vamos a
Abigail.
BREVE DESCRIÇÃO
Segundo o
texto em estudo, era bonita e inteligente; casada com um cara arbitrário, que
era do mal, apesar de ser um descendente de Calebe, que era um cabra do bem.
É
interessante observar, contextualizando a situação, que mulheres bonitas atraem
os homens, porém as inteligentes afastam, salvo exceções. Parece que parte dos
homens têm medo de mulheres muito inteligentes. Será por quê? Será que é para
ter a garantia da submissão feminina? Será que é para ter certeza que ele é quem
vai mandar? E se ao invés do tradicional “aqui quem manda sou eu” os homens
experimentassem um “aqui conversamos, dialogamos e resolvemos juntos”? Bom,
voltemos para Abigail, que era fofa e inteligente, porém casada com um sujeito
grosso e do mal, segundo o próprio texto.
EVITANDO UMA DESGRACEIRA
Independente
da arbitrariedade de Davi, de não admitir ser contrariado e de ser pitizento,
uma coisa é certa: Nabal provocou a ira do rei e este estava disposto a fazer
uma chacina por lá. Um dos moços, porém, na verdade o grande herói coadjuvante
da história, conta a Abigail toda a história, e ela fica apavorada. Não era pra
menos. O rei não podia ser contrariado
(hoje ainda temos um bocado de pequenos reis espalhados por nossas igrejas na
forma de líderes), e ela sabia o que a atitude do seu marido ia causar.
Imediatamente, sem falar nada com ele, ela pega um bocado de coisa (uma
“doação”) e parte ao encontro do raivoso Davi. Ao encontrá-lo, desce do
jumento, faz uma saudação ao rei, pede desculpas, assumindo como sua a atitude
do marido, faz a doação e, para garantir, ainda dá uma bajuladinha (verso 28).
Davi, então, se acalma um pouquinho, confessa o que pretendia fazer, e aceita
seus pedidos de desculpas, bem como sua reverência. Estava assim evitada uma
desgraceira. Muitas vezes, companheiros e companheiras, podemos evitar uma
guerra imensa através de gestos simples, utilizando as palavras certas. Vamos
imaginar quantas mortes desnecessárias Abigail evitou agindo sabiamente,
conforme descrito no texto!!
Bom, dez
dias depois desse episódio, Nabal morre de um ataque cardíaco. E Davi, logo
depois, toma Abigail para ser sua esposa, um procedimento parecido com o
episódio de Bate-Seba, narrado em 2 Samuel 11.
CONCLUSÃO
Da forma
como falo de Davi, vocês podem ter a impressão de que não gosto nenhum
pouquinho dele. Não é bem assim. Tudo bem, ele não é meu herói preferido, mas
também não é um caso de raiva. Eu só preciso que vocês entendam, queridos e
queridas, que mesmo sendo Davi “um homem segundo o coração de Deus”, isso não
faz dele um cara perfeito. Ele cometeu diversas arbitrariedades, ele foi
arrogante em vários momentos, ele dava piti diante de um não, ele mandou o
marido de Bate-Seba para a morte e a tomou como esposa, mas ainda assim, Deus o
amou. Ele até queria acertar, mas errava bastante, e errava feio. Não somos
muito diferentes dele, erramos, somos pecadores, mas apesar de nós, Deus pode
nos usar. Se culpe menos e aja mais, companheiro/companheira. Faça o que lhe
vier às mãos para fazer (Eclesiastes 9:10), respeitadas as suas limitações.
Você é gente e gente pode errar sim, e pode se acertar, e recomeçar. Não deixe
para começar a fazer o serviço de Deus quando se tornar uma pessoa perfeita.
Isso não vai acontecer. Mas por outro lado, nada de exageros: nada de oprimir
um outro ser humano, nada de achar que as pessoas te devem alguma coisa por
você fazer sua obrigação, nada de achar que tem que ser elogiado publicamente
porque fez o seu dever, nada de achar que você é mais especial que os outros
seres humanos.
Ah, e sobre
o exemplo deixado por Abigail neste episódio, lembre-se que você pode evitar
várias guerras: na igreja, no trabalho, na família, na comunidade... Então
evite todas que forem possíveis ser evitadas, tá bom? Com atitudes simples, com
palavras certas...
E por fim,
sobre o exemplo deixado pelo moço de Davi, sempre que for possível, façamos
isso também. Se ele não tivesse falado com Abigail o que tinha acontecido, ela
não teria podido agir.
LIÇÃO 04 - 04/03/2012
MARIA, MÃE DE JESUS, E SUA
DISPONIBILIDADE PARA DEUS
Mateus 1
18 Ora, o
nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com
José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo.
19 Então José,
seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la
secretamente.
20 E, projetando
ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho
de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é
do Espírito Santo;
21 E dará à luz
um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus
pecados.
22 Tudo isto
aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo
profeta, que diz;
23 Eis que a
virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL,
Que traduzido é: Deus conosco.
24 E José,
despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua
mulher;
25 E não a
conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus.
Lucas 1
26 E, no sexto mês,
foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,
27 A uma virgem
desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem
era Maria.
28 E, entrando o
anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és
tu entre as mulheres.
29 E, vendo-o
ela, turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria
esta.
30 Disse-lhe,
então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus.
31 E eis que em
teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus.
32 Este será
grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de
Davi, seu pai;
33 E reinará
eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.
34 E disse Maria
ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum?
35 E, respondendo
o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo
te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será
chamado Filho de Deus.
Uma das personagens da Bíblia que
mais me encanta com sua disponibilidade para Deus é Maria, a mãe de Jesus. O
que foi pedido a ela poderia comprometer sua honra, comprometeria seu próprio
corpo, ela não tinha tanta clareza assim do que se tratava, de como
aconteceria, na prática; de como seria a vida e a morte da criança que
conceberia, e ainda assim entregou-se completamente a Deus. Ela é mesmo uma
gracinha de pessoa fofa. Diante de tudo o que o anjo estava lhe dizendo, lhe anunciando,
o único questionamento que ela faz é: “...mas ‘peraí’, companheiro anjo, eu
nunca estive com um homem, nunca fiz sexo na minha vida, como posso estar
grávida.” E o anjo explica: “Quanto a isso, companheira Maria, precisa ficar
apoquentada não, relaxe, sossegue, o Espírito Santo vai se encarregar de tudo.”
E ela relaxa, e disponibiliza-se para
Deus e torna-se a mãe de Jesus, do Deus encarnado.
Não dá para dizer, de jeito nenhum,
lendo os evangelhos, que ela tinha clareza total do que aconteceria com aquele
menino. Ela viveu a gestação, a criança nasceu, ela foi educando, fazendo seu
papel de mãe, mas em vários episódios percebemos que ela não compreendia a
dimensão do ministério daquele garoto que crescia sob seus cuidados.
A oração da “ave-maria”, adotada
pelos nossos irmãos católicos, pode ter alguns equívocos do nosso ponto de
vista, mas contém coisas lindas também. Vejamos:
Ave-Maria, cheia de graça!
O Senhor é convosco
Bendita sois vós entre as mulheres
E Bendito é o Fruto do vosso ventre, Jesus
Santa Maria Mãe de Deus,
Rogai por nós os pecadores
Agora e na hora de nossa morte. Amém
O Senhor é convosco
Bendita sois vós entre as mulheres
E Bendito é o Fruto do vosso ventre, Jesus
Santa Maria Mãe de Deus,
Rogai por nós os pecadores
Agora e na hora de nossa morte. Amém
Nenhum
problema na parte sublinhada da oração. Aquele “ave” lá no iniciozinho é
perfeitamente compatível com o “salve”, forma como o anjo a saúda, e não temos
nenhuma dúvida de que o Senhor era com ela, de que ela foi bendita entre as
mulheres e de que bendito era o fruto do seu ventre. Discordamos das três
linhas finais, visto que não a temos como intercessora, e embora tenha sido uma
pessoa fofa, piedosa, íntegra, não teve como objetivo tornar-se uma “santa”, já
que foi um ser humano como todos nós.
MARIA, MÃE DE JESUS, ESPOSA DE JOSÉ, MULHER
Dispomos
de poucas informações sobre a pessoa de Maria. Acredita-se que tenha nascido em
Jerusalém, perto do ano 15 a.C., mas também cogita-se a possibilidade de ter
nascido em Nazaré. Acredita-se ter sido filha de Eli, mas a genealogia
apresentada por Lucas coloca José como filho de Eli. De qualquer forma, é
preciso levar-se em conta que no modelo judeu era comum em situações em que o
sangue do avô era transmitido ao neto através de uma filha, a substituição do
nome desta pelo nome do marido. Portanto, visto dessa forma, não é tão seguro
assim afirmar-se que José era filho de Eli e não Maria.
Ela
aparece poucas vezes na Bíblia. Quer dizer, poucas vezes para a importância que
tem na história da fé cristã. Vejamos as ocasiões em que é citada nos
evangelhos:
- No anúncio em que seria mãe do
Messias: Lucas 1-2; Mateus 1:2;
- Na visita a Isabel: Lc. 1,39-56;
- No nascimento de Jesus: Lc. 2,1-20;
- No ritual de sua purificação e
apresentação de Jesus no templo: Lc. 2,22-38;
- Procurando Jesus. Encontrado,
enfim, no templo: Lc.
2,41-51;
- No casamento em Caná
(Galiléia): João 2:1-11;
- Procurando o filho, enquanto
ele pregava: Lc.
8,19-21; Mc. 3, 33-35);
- Na crucificação do filho: Jo, 19,26-27;
- No Pentecostes: Atos 1:14; 2:1-4;
Há uma outra referência a ela em em
Lucas 11:27-28: “Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te
amamentaram”, depois nada mais se diz sobre ela.
É preciso se
levar em conta também que a importância de uma pessoa, de um personagem bíblico
nem sempre se mede pelo número de referências a ela, mas pela importância
daquilo que fez, pela sua disponibilidade para Deus, e Maria, vamos combinar, foi
um espetáculo de pessoa neste sentido.
E SE FOSSE HOJE NO
BRASIL?
Vamos tentar
imaginar como seria se isso acontecesse
hoje? Ou seja, se a materialização de Jesus ainda estivesse para acontecer, se
fosse acontecer aqui no Brasil, e Deus precisasse de uma menina brasileira, e
essa menina fosse evangélica. E aí, você acha que se acharia alguém como Maria,
tão disponível para Deus? E se essa menina tivesse um noivo, será que ele
compreenderia? Como estamos no campo das hipóteses, das suposições, podemos
“viajar” um pouquinho. E a igreja dessa menina será que compreenderia? Aí você
vai dizer que não existiria igreja já que Jesus ainda estaria para nascer. Por
isso falei em “viajar”. Nossa intenção aqui é fazer uma reflexão, é pensar um
pouquinho sobre como as pessoas da época de Maria, inclusive os religiosos
judeus teriam reagido em relação a sua gravidez, em relação a compreensão de
José, e depois contextualizarmos para o nosso país, para a nossa cultura.
Não é o caso de
prestarmos adoração a Maria ou qualquer forma de veneração religiosa, mas é o
caso, com certeza, de respeitarmos muito a pessoa, de admirarmos sua
disponibilidade para Deus e de copiarmos seu modelo. Ela foi uma grande mulher,
sem dúvida alguma, uma grande mãe, e como todas as mães, sofreu um bocado; ela
certamente mais que as outras. Muito provavelmente ela imaginou para o seu
filho um futuro diferente da cruz, mas aceitou, entendeu que precisava ser
daquele jeito. Ela foi fofa demais! Salve Maria!
Sobre a “dormição” de Maria, escreve João Paulo II:
(...) O Novo Testamento não dá nenhuma informação
sobre as circunstâncias da morte de Maria. Este silêncio induz supor que se
produziu normalmente, sem nenhum fato digno de menção. Se não tivesse sido
assim, como teria podido passar despercebida essa notícia a seus contemporâneos
sem que chegasse, de alguma maneira até nós?
No que
diz respeito às causas da morte de Maria, não parecem fundadas as opiniões que
querem excluir as causas naturais. Mais importante é investigar a atitude
espiritual da Virgem no momento de deixar este mundo....
Qualquer que tenha sido o fato orgânico e biológico
que, do ponto de vista físico, Lhe tenha produzido a morte, pode-se dizer que o
trânsito desta vida para a outra foi para Maria um amadurecimento da graça na
glória, de modo que nunca melhor que nesse caso a morte pode conceber-se como
uma "dormição".
WIKIPÉDIA
“Para os cristãos protestantes, Maria é vista como
uma mulher de alto mérito, respeitosa por ter vivido uma vida exemplar segundo
os propósitos de Deus, porém, sendo ela cheia da Graça (aqui, o significado da
palavra "graça" como algo não merecido, dado gratuitamente), era uma
mulher comum, escolhida dentre outras para dar à luz ao Messias. Não se
acredita, no protestantismo, que Maria seja a Mãe de Deus, no sentido estrito
do termo, pois a natureza divina de Cristo é anterior à existência de Maria.
Mas sim, que Deus se fez homem através de sua mãe, cumprindo o que tinha sido
profetizado pelo profeta Isaías (Isaías
7:14).”
LIÇÃO 05 - 11/03/2012
JOSÉ DO EGITO, O FILHO MIMADO DE JACÓ E RAQUEL
Gn 30
22 E lembrou-se
Deus de Raquel; e Deus a ouviu, e abriu a sua madre.
23 E ela
concebeu, e deu à luz um filho, e disse: Tirou-me Deus a minha vergonha.
24 E chamou-lhe
José, dizendo: O SENHOR me acrescente outro filho.
Gn 37
1 E JACÓ habitou na terra das peregrinações
de seu pai, na terra de Canaã.
2 Estas são as gerações de Jacó. Sendo
José de dezessete anos, apascentava as ovelhas com seus irmãos; sendo ainda
jovem, andava com os filhos de Bila, e com os filhos de Zilpa, mulheres de seu
pai; e José trazia más notícias deles a seu pai.
3 E Israel amava a José mais do que a
todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de
várias cores.
4 Vendo, pois, seus irmãos que seu pai
o amava mais do que a todos eles, odiaram-no, e não podiam falar com ele
pacificamente.
5 Teve José um sonho, que contou a
seus irmãos; por isso o odiaram ainda mais.
10 E contando-o a
seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o seu pai, e disse-lhe: Que sonho é este
que tiveste? Porventura viremos, eu e tua mãe, e teus irmãos, a inclinar-nos
perante ti em terra?
11 Seus irmãos,
pois, o invejavam; seu pai porém guardava este negócio no seu coração.
12 E seus irmãos
foram apascentar o rebanho de seu pai, junto de Siquém.
13 Disse, pois,
Israel a José: Não apascentam os teus irmãos junto de Siquém? Vem, e
enviar-te-ei a eles. E ele respondeu: Eis-me aqui.
14 E ele lhe
disse: Ora vai, vê como estão teus irmãos, e como está o rebanho, e traze-me
resposta. Assim o enviou do vale de Hebrom, e foi a Siquém.
19 E disseram um
ao outro: Eis lá vem o sonhador-mor!
20 Vinde, pois,
agora, e matemo-lo, e lancemo-lo numa destas covas.
23 E aconteceu
que, chegando José a seus irmãos, tiraram de José a sua túnica, a túnica de
várias cores, que trazia.
Bem, nosso personagem de hoje foi o
décimo primeiro filho de Jacó, o primeiro de Raquel. Foi o filho da velhice de
Jacó; depois ainda teve Benjamim, segundo filho de Raquel. Aliás, a bichinha
morreu no parto, tadinha.
Bom, por ser o filho de sua velhice,
Jacó amou mais a José que a seus outros irmãos, demonstrava mais amor por ele
diante de todos os outros, chegando a presenteá-lo com uma túnica de várias
cores, uma belezura só, e somente José ganhou uma. É claro que os outros
irmãos, tadinhos dos bichinhos, passaram a ter ciúmes dele, inveja, raiva,
coisas assim.
Ciúmes – medo de perder algo que se supõe
seu e que lhe é muito importante.
Inveja – querer aquilo que é do outro
Tinham ciúmes, pois entendiam, obviamente, que o pai era de todos e não
apenas de José. É como se temessem perder o pai para José. Tinham inveja porque queriam a atenção que era
dada a José, queriam ter uma capa como a de José, ou a capa de José.
Gostaria de analisar com vocês
alguns pontos de vista sobre o episódio de hoje.
Antes de tudo, nada de olhar para
José como o coitadinho, e para os irmãos como uns monstrengos. Tudo bem, tudo
bem, eles agiram errado, exageraram. Em momento nenhum vou defender aqui a
atitude dos irmãos dele. Quando muito, vou dizer que o grande responsável por
essa animosidade entre os irmãos foi o próprio Jacó. Olha, gente, gosto um
pouco de Jacó, curto muito o episódio já analisado em outra lição, do amor dele
por Raquel, acho lindo, mas vou confessar uma coisa pra vocês, dos gêmeos de
Isaque, meu preferido é Esaú: um cara íntegro, trabalhador, gente boa pra
caramba, perdoador. Jacó não, Jacó foi trapaceiro, e para sua trapaça teve o
apoio de Rebeca, sua mãe. Agora, vejamos só. Jacó foi, nitidamente, o gute-gute
de Rebeca, o preferidinho dela, o fofinho. Ela o ajudou a trair Esaú e enganar Isaque, quando este já não enxergava,
naquele episódio da primogenitura. Pois bem, agora Jacó é pai. E o que ele faz?
Reproduz o comportamento da mãe, elegendo um filho preferido, e declarando isso
diante dos outros, e tratando este preferido de um jeito exclusivo. O resultado
não podia ser outro. Os irmãos passaram a ter raiva de José. José tornou-se um fiscal dos irmãos,
um dedo-duro, um x-9, e era premiado por isto.
Antes de continuar o caso específico
de José, quero fazer uma breve interrupção para declarar publicamente que
Matheus é o meu filho preferido. Também é o meu único filho. Agora, se você
tiver mais de um, companheiro, companheira, evite cometer o mesmo erro de Jacó.
E mais ainda, queridos e queridas, se tem mais de um, evite compará-los. Se seu
primeiro filho é muito inteligente, o segundo não tem nenhuma obrigação de ser
tão inteligente quanto o irmão. O segundo não é uma cópia do primeiro. O mais
velho pode gostar muito de estudar, e o segundo pode ser um aluno mediano. Eles
são seres humanos diferentes, únicos, e isso precisa ser respeitado. Quantos
filhos tornaram-se adultos neuróticos, frustrados, com a auto-estima
comprometida de tanto ouvirem os pais dizerem coisas do tipo: “você é um burro,
tinha que ter a inteligência do seu irmão”, “você não tem a beleza e a simpatia
da sua irmã...”, e por aí vai. As pessoas são diferentes, queridos e queridas,
mesmo quando são irmãos, mesmo que sejam gêmeos. Não vê Esaú e Jacó? O cara
legal, bonzinho, gente boa, não era Jacó, era Esaú, mas quem ficou bonito na
história foi Jacó. Mais tarde eles se reencontraram e se entenderam. Esaú
perdoou a trapaça do irmão, numa cena muito bonita registrada em Gênesis 32 e
33. Aliás, Jacó cheio de peso na consciência por reconhecer o que fizera contra
o irmão, estava com um medo danado, se prevenindo contra um possível ataque do
irmão, contra uma possível vingança, mas quando o temido Esaú aparece, que
coisa mais bonitinha, corre para o irmão e o abraça. A cena é linda demais. Eu
até suporto Jacó, mas meu herói é Esaú. Que cara bacana! Bom, mas voltemos para
José.
Então
como dizíamos, nesse dedinho gostoso de prosa que estamos trocando, falando da
vida alheia, vamos a José. Entendo que ele era um garoto até legal, mas o pai,
Jacó, estragou o menino e estragou também a relação entre os irmãos. Bom, um
dia, os irmãos, já muito aborrecidos com ele, cogitaram matar o bichinho,
tadinho, mas acabaram vendendo-o como escravo para um grupo de traficantes de
gente, um bando de ismaelitas.
Ah, vocês estão assustados com essa
história de “traficantes de gente” que existiam no Velho Testamento, lá pras
bandas do Oriente Médio? Pois vou piorar um pouquinho: existem traficantes de
gente no Brasil, atualmente. E não são poucos. Alguns
traficam belas meninas sonhadoras que querem ser modelos no exterior, e acabam
virando garotas de programa; outros traficam gente para o trabalho escravo em
fazendas distantes, em áreas de dificílimo acesso; outros traficam colombianos
e bolivianos para o trabalho escravo em porões de fábricas de roupas no centro
de São Paulo. O que a igreja faz diante disso? Lamenta e diz que vai orar. Ah,
companheiros e companheiras, “pior que a maldade dos maus é o silêncio dos
bons”, já dizia nosso irmão Martin Luther King. Vemos muitas coisas e deixamos
pra lá para não nos comprometermos, e temos a cara de pau de dizer que vamos
orar, e só. Não estou dizendo que não devamos orar, estou querendo dizer que
além disso, precisamos não compactuar com as injustiças, precisamos denunciar
quando nosso irmão é oprimido. Mas o que fazemos? de um modo geral, nos
omitimos enquanto igreja de Cristo, nos calamos diante da injustiça, ou pior
ainda, fazemos parte dela, ajudamos a oprimir. Enfim, assim como nos dias de
José, o tráfico de gente continua existindo. Meninas de dez anos de idade estão
sendo prostituídas em nosso país, vendidas, negociadas como mercadorias. Elas
não têm mais sonhos, mais esperanças, e o que faz a igreja? Bonitos discursos
dizendo que a prostituição é pecado. Oh, bela informação. É pecado. Ok. E o que
vamos fazer pelas menininhas de dez anos ou menos ou mais que estão sendo
vendidas para gerarem dinheiro para seus donos?
Dia desses, voltando de um passeio
de férias, num dia muito quente em que diversos meninos e diversas meninas da idade
do meu pequeno se queimavam sob um sol escaldante vendendo refrigerante e água
na estrada, comentei com meu menino, que estava bicudo dentro do carro, com ar
condicionado ligado, ouvindo música e reclamando da vida, como fazem nossos
amáveis filhos adolescentes: “Ô moleque, isso que você está vendo aqui é um
exemplo clássico de desigualdade social: você aqui dentro protegido do calor e
aqueles meninos lá fora tentando nos vender refrigerantes... devem está aí o
dia inteiro... ‘curtindo’ as férias.” Além desse comentário, o que fiz? Nada.
Acho que nem um refrigerante eu comprei naquele momento.
Mas voltemos para nosso José. Pois
é. Venderam o bichinho e contaram ao pai que ele tinha sido devorado por alguma
fera. E para reforçarem a informação, mataram um carneiro e empaparam com o
sangue do bicho a túnica colorida de José. O velho
Jacó entrou em depressão com a notícia, isolou-se, chorou um bocado, rasgou
suas roupas como era costume da época e não aceitou ser consolado por ninguém,
por nenhum dos outros filhos.
Agora vejamos a ironia da cena: a
túnica de várias cores, símbolo maior da preferência de Jacó por José, foi
exatamente o instrumento utilizado pelos irmãos para dizer a Jacó: “seu
filhinho preferido está morto, deve ter sido devorado por alguma fera, só
achamos isso que você deu a ele para diferenciá-lo de nós; toma aí, você não
tem mais o filho, mas tem a capa cheia do sangue dele.”
É, gente, Jacó deveria ter enviado
José junto com os irmãos, mas não, ele enviou José para fiscalizar os irmãos.
Se os irmãos o tivessem matado,
jogando-o numa cova, como cogitaram, será que poderíamos dizer que Jacó o teria
matado? Recentemente, um adolescente morreu num acidente bobo de moto aqui em
nossa região, como acontece frequentemente. Ele era muito novinho para ter uma
moto, e a mãe diante da tragédia, se torturava gritando: “Eu dei essa moto a
ele. Será que matei meu filho?” E eu, pensava com meus botões, apesar de estar
de camiseta: matou.
Mas finalizemos José, quer dizer, a
lição sobre José. Bom, Deus era com ele. Ele foi parar no Egito, onde foi
vendido como escravo. Deus o conduziu ao governo daquele império e ele foi
usado para salvar muita gente da fome.
UMA COISA É UMA COISA E OUTRA COISA É OUTRA COISA
Gente, uma coisa é dizer: “Deus tinha
o controle da situação, e usou cada episódio da vida de José para conduzi-lo ao
seu propósito.” Tudo bem. Concordo plenamente. Agora, outra coisa é dizer: “Deus determinou que
Jacó fizesse dele o seu gute-gute, que apoiasse e premiasse o entreguismo, que
seus irmãos o odiassem e o vendessem.” Aí não. Aí fica muito difícil pra mim.
Deus pode e usa as circunstâncias a
nosso favor, o que pode não significar que ele tenha determinado que as coisas
tinham que acontecer desse ou daquele jeito. Eu, como gente que sou, posso
sofrer um acidente, quebrar uns pedaços e ir parar num hospital. No hospital,
posso conhecer uma certa pessoa, falar de Jesus para essa pessoa, abençoar a
vida dessa pessoa. Deus estará usando uma circunstância adversa a mim para
abençoar a vida de outra pessoa. “Já que
esse cara está aqui, vou usá-lo para abençoar aquele outro cara”. Tudo bem. Mas
é muito difícil para mim pensar que o meu Deus vai me quebrar todinho só para
eu falar com um outro cara que está no hospital. Ele não poderia me levar lá
inteiro? Vocês querem discutir isso?
CONCLUSÃO
Apesar de Jacó, apesar dos irmãos de
José, apesar do próprio José, Deus usou poderosamente a vida de José para
abençoar muita gente, para livrar muita gente de morrer de fome. José não era um
político da bancada evangélica brasileira. Se fosse, teria se safado, safado a
sua família, garantido um dinheirinho para o futuro e pronto. José chegou ao
poder porque Deus o foi conduzindo, para o bem de muitos.
Se um candidato evangélico vier
conquistar o seu voto dando como exemplos de servos de Deus ocupando cargo
público José ou Daniel, diga ao cabra para ler bem a narrativa bíblica antes de
sair falando bobagem por aí. E por favor, não vote nele não. Esse papo de
“irmão vota em irmão” é furada. No poder, eles viram primos distantes. Estamos
num ano eleitoral. Fiquem ligados! José e Daniel foram conduzidos
gradativamente a vida pública porque havia um propósito definido e eles
cumpriram esse propósito. Outra coisa, não foram eleitos pelo povo. Outra
coisa, não fizeram campanha malhando outro candidato. Outra coisa, não
negociaram a fé, os valores. Daniel, por exemplo, chegou até ser chatinho com
aquele papo de “não vou comer isso de jeito nenhum”. Era comida árabe. Se fosse
uma buchada de bode, uma dobradinha, um mocotó, a história poderia ter sido
diferente. Enfim, eles não negociaram a fé e cumpriram a missão. É isso. José
foi um cara legal. Perfeito? Claro que não. Ele foi como um de nós.
LIÇÃO 06 - 18/03/2012
PAULO, O AMONTOADOR DE GRAVETOS
Atos 27
41 Então a ideia
dos soldados foi que matassem os presos para que nenhum fugisse escapando a
nado.
42 Mas o centurião, querendo salvar a Paulo, lhes
estorvou este intento; e mandou que os que pudessem nadar se lançassem primeiro
ao mar, e se salvassem em terra;
43 E os demais, uns em tábuas e outros em coisas
do navio. E assim aconteceu que todos chegaram à terra a salvo.
44 Quanto aos
demais, que se salvassem, uns, em tábuas, e outros, em destroços do navio. E
foi assim que todos se salvaram em terra.
Atos 28
1 E, HAVENDO escapado, então souberam que a
ilha se chamava Malta.
2 E os bárbaros usaram conosco de não
pouca humanidade; porque, acendendo uma grande fogueira, nos recolheram a todos
por causa da chuva que caía, e por causa do frio.
3 E, havendo Paulo ajuntado uma
quantidade de gravetos, e pondo-os no fogo, uma víbora, fugindo do calor, lhe
acometeu a mão.
4 E os bárbaros, vendo-lhe a víbora
pendurada na mão, diziam uns aos outros: Certamente este homem é homicida,
visto como, escapando do mar, a justiça não o deixa viver.
5 Mas, sacudindo ele a víbora no fogo,
não sofreu nenhum mal.
6 E eles esperavam que viesse a inchar
ou a cair morto de repente; mas tendo esperado já muito, e vendo que nenhum
incômodo lhe sobrevinha, mudando de parecer, diziam que era um deus.
NOTA: A NVI – Nova Versão Internacional da
Bíblia substitui a expressão “bárbaros” por “habitantes da ilha”. Muito fofo.
Queridos e queridas, fofos e fofas, antes de falar do
episódio em si, dessa linda narrativa bíblica envolvendo Paulo, nosso velho
conhecido, quero falar de PRECONCEITO. Isso mesmo. Só um pouquinho. Lendo essa
narrativa, você já atentou para a forma como o narrador-tradutor se refere aos habitantes daquela ilha (Malta)?
Ele os chama de BÁRBAROS. Quem seriam esses “bárbaros”?
bár.ba.ro
(Dicionário Michaelis)
adj. 1. Relativo aos bárbaros, povos invasores do
Império Romano, nos sécs. III e IV. 2. Selvagem, sem civilização. 3. Desumano,
cruel.
Os judeus chamavam de “gentios”
todos aqueles que não eram judeus; os romanos chamavam de “bárbaros” todos
aqueles que não falavam latim, que não faziam parte do império romano. No
Brasil, os paulistas chamam de “baiano”, num tom pejorativo, todos os
nordestinos; e os cariocas chamam de “paraíba”.
Assim, quando alguém faz uma bobagem no trânsito e chama isso de
“baianagem” está sendo muito preconceituoso conosco (também sou nordestino...
não estou legislando em causa individual; somos muitos fora de nossa região de
origem, mas dentro do nosso país); quando você chama o seu filho ou o seu
colega de “paraíba” porque ele fez alguma besteira, você está sendo muito
preconceituoso com o meu povo, você está dizendo, nas entrelinhas, que somos
inferiores, incapazes de pensar, e isso não é bonito nem mesmo numa brincadeirinha
“inocente”.
Durante muito tempo, a Antropologia olhou para as
civilizações desconhecidas e, portanto, diferentes, como inferiores, estranhas.
Foi desse jeito que os portugueses cristãos invasores olharam para o nosso
índio quando dominaram nosso território sem nenhuma dificuldade. Nossos índios
foram vistos como povos selvagens, bárbaros, semi-humanos. Da mesma forma, os
africanos. O narrador do episódio de hoje olha dessa forma para o povo da ilha
de Malta, mas observe que no verso 2, por exemplo, ao mesmo tempo que os chama
de bárbaros, ele enfatiza o quanto foram humanos, o quanto foram bacanas com o
grupo de náufragos. Pessoas, não existe cultura inferior ou povo esquisito.
Existem sim culturas e povos diferentes, e isso precisa ser respeitado. Na
verdade, chamamos de esquisito tudo aquilo que é diferente de nós. Logo, para
outros povos, somos também muito esquisitos.
CONTEXTUALIZANDO
Paulo está em mais uma viagem de navio. Está preso, sendo
transportado para Roma juntamente com mais um bocado de sentenciados. Bom, vale
lembrar que em todas as vezes que ele viajou de navio, rolou um naufrágio. Não
sei se essa fama de Paulo naufragar navios ficou tão conhecida como a fama de
batistas falirem instituições educacionais. No nosso caso, há um provérbio
terrível, maldoso que circula nos meios acadêmicos-teológicos: “quer falir um
grande colégio? entregue a administração a um pastor batista”. Que maldade! Só
porque falimos vários colégios batistas e só porque diversos seminários
batistas estão no vermelho e alguns já fechados. Ah, nada a ver. Mas vamos
combinar e aprender com os católicos nessa área: você precisa ter um padre ou
uma freira “liderando” uma instituição de ensino ou um hospital, coordenando,
mas o diretor administrativo é um profissional do ramo, especialista em
administração educacional ou hospitalar. Gente, pastores e padres pastoreiam;
não têm que ser administradores de empresa. Mas voltemos a Paulo. Então, devia
ter alguma coisa assim: “quer afundar um navio? transporte Paulo”. Pois bem, e
o navio encalhou, partiu-se, já era. Os soldados, responsáveis pelos presos,
não pensaram duas vezes: “vamos matar geral, e pronto... ‘bandido bom é bandido
morto’”. Será que a expressão cristã ideal não seria: “bandido bom é bandido
transformado pelo evangelho de Cristo”? Bom, então iam matar todos os presos,
Paulo era um deles. Na sua opinião, preso e bandido ainda é a mesma coisa?
Então, aí o comandante, que gostava de Paulo (se você ler a história toda vai
entender porque o comandante gostava dele
e queria poupar-lhe a vida), querendo poupar a vida do apóstolo, não
permite que os soldados executem os presos, e determina que todos tentassem se
salvar. Primeiro, os que sabiam nadar deveriam lançar-se ao mar e tentar chegar
em terra firme; depois, os que não sabiam nadar deveriam tentar a sorte
agarrados a pedaços do navio. Sabe o que mais me impressiona nessa narrativa? A
tranquilidade de Paulo. O tempo todo ele ajuda a
manter a calma no navio, convence os caras, que já estavam desistindo da vida,
a se alimentarem, a se fartarem para garantir a sobrevivência, já que toda a
reserva de trigo precisaria ser lançada ao mar para aliviar o peso; e por fim,
o tempo todo ele diz aos policiais para que ficassem tranqüilos, que todos os
presos chegariam em terra firme e que não tentariam fugir. Que convicção era
essa do apóstolo? É claro que o comandante tinha mesmo que gostar dele, e tentar poupar sua vida.
Pois bem, de um jeito ou de outro, uns com menos e outros
com mais dificuldades, todos chegam em terra firme, numa ilha, que só mais
tarde descobrem chamar-se Malta. Para surpresa do narrador, são bem recebidos
pelos seus habitantes, pelos “bárbaros”. Todos estavam exaustos, com muito
frio. “E então, Paulo, enfim, pôde descansar”. Olha gente, ele até poderia ter
descansado, mas é brincadeirinha, não descansou não. Os habitantes foram tão fofos com os
náufragos que fizeram logo uma fogueira para que os caras se aquecessem. E
então, nesse momento, todos ainda desesperados e semimortos de terror, de
cansaço, tentam se aproximar da fogueira, menos Paulo. Ele sai catando gravetos
pela ilha para alimentar a fogueira. O nosso amontoador de gravetos que tinha
conseguido manter a calma da tripulação, convencido todos a comerem porque a
luta pela sobrevivência exigiria muita energia, convencido o comandante a não
autorizar a morte sumária dos presos, garantido ao comandante que todos se
salvariam sem tentar fugir, ele mesmo se esforçado, como os outros, por sua
própria sobrevivência, agora está em terra firme, tem uma fogueira para se
aquecer, mas o que ele faz? Enquanto todos se aquecem, vai catar gravetos para
garantir que o fogo não cesse. Que cara genial! Que coração pastoral que esse
cara tinha! E quando falo em coração pastoral não estou falando simplesmente de
coração de pastores, daqueles ordenados por uma igreja, por um concílio, estou
falando de todos aqueles que de alguma forma, independente de ordenação,
exercem o pastoreio. E todos esses, pastores
ordenados ou não, são catadores de gravetos. São capazes de abrir mão de
momentos de conforto pessoal para confortar outras pessoas; são capazes de amar
sem ser amados; de compreender sem ser compreendidos; de perdoar sem ser
perdoados; de dar sem esperar nada em troca, como diz Francisco de Assis em sua linda oração.
Nesse episódio, Paulo, literalmente, põe lenha na
fogueira, mas não para provocar uma guerra, como o provérbio popular é
utilizado, mas para garantir o aquecimento daquela turma. E tem uma outra
coisinha muito importante: aquela gente por quem Paulo estava se sacrificando
naquele momento não era necessariamente gente boa não, tinha um bocado de
criminoso no pacote. Então vamos refletir um pouquinho: você abriria mão de se
aquecer um pouquinho numa situação de frio extremo como estavam para catar
gravetos a fim de aquecer também um monte de condenados pela justiça? Ou você
faria o discurso inflamado daqueles selvagens apresentadores de programas
policiais televisivos: “têm que morrer mesmo, está devendo tem que pagar, com a
vida se for o caso!” Gente, você pode até não responder ao meu questionamento e
ficar apenas numa reflexão pessoal, mas eu quero responder, reconhecendo minhas
limitações, e em momento nenhum querendo me passar por certo: “eu, Isac,
arrumaria um lugarzinho bem perto da fogueira, e ficaria lá, torcendo para que
o fogo não acabasse, e contanto com a generosidade dos habitantes da ilha; não
me vejo catando gravetos numa ilha fria, após sobreviver a um terrível
naufrágio, para aquecer aquela turma não.” Estou chocado com a minha resposta.
Preciso rever alguns conceitos. Vou terminar de escrever esta lição e pensar um
pouco sobre o cristão que tenho sido.
Bom, na busca por gravetos e folhagens, Paulo é picado
por uma serpente. Como a visibilidade não era boa, é possível que tenha pegado
a cobra achando tratar-se de mais um graveto. Ela agarrou-se à mão dele, e ele
a sacudia para livrar-se da bicha. Enfim, consegue atirá-la
no fogo, ninguém do IBAMA estava vendo a cena (ufa!), e os habitantes da ilha,
conhecendo aquele tipo de serpente, ficam aguardando a morte de Paulo. E o cara
tá lá, catando gravetos, alimentando a fogueira, provavelmente batendo papo. E
os caras esperando. Quando o tempo conhecido por eles para a morte de alguém
picado por aquela cobra passa, eles ficam chocados, ninguém sobrevive a picada
daquela bicha. Esse cara só pode ser um deus. Pronto, agora Paulo tem autonomia
total para falar o que quiser na ilha, e ele, claro, anuncia o evangelho,
realiza diversas curas. Ficaram três meses na ilha até que um outro navio os
conduziu a Roma.
Gente, desculpa, mas quando leio essa narrativa em que os
habitantes daquela ilha passam a achar que Paulo é um deus, e Paulo continua se
comportando como um simples amontoador de gravetos e exercendo entre eles seu
ministério, sou levado a pensar em como reagiram alguns líderes evangélicos de
hoje. Imagina se um “apóstolo” contemporâneo desses aí da vida chega a um lugar
e alguém diz que ele é um deus. Meus irmãos e minhas irmãs, ele não terá dúvida
nenhuma de que é mesmo. Sem alguém dizer isso, os caras já se comportam como
semideuses, como inerrantes e infalíveis, agora imagine alguém dizendo a um
deles: “você é um deus!”
Ah, Isac, encerra logo essa lição! Tá encerrada. Bom
domingo a todos. Vamos catar gravetos.
LIÇÃO 07 - 25/03/2012
SAUL, UM HUMANISTA!
I Samuel 8
2 Este tinha um filho, cujo nome era
Saul, moço, e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro homem mais
belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaía a todo o povo.
17 E quando
Samuel viu a Saul, o SENHOR lhe respondeu: Eis aqui o homem de quem eu te
falei. Este dominará sobre o meu povo.
21 Então
respondeu Saul, e disse: Porventura não sou eu filho de Benjamim, da menor das
tribos de Israel? E a minha família a menor de todas as famílias da tribo de
Benjamim? Por que, pois, me falas com semelhantes palavras?
I Samuel 10
1 ENTÃO tomou Samuel um vaso de
azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e beijou-o, e disse: Porventura não te
ungiu o SENHOR por capitão sobre a sua herança?
20 Tendo, pois,
Samuel feito chegar todas as tribos, tomou-se a tribo de Benjamim.
21 E, fazendo
chegar a tribo de Benjamim pelas suas famílias, tomou-se a família de Matri; e
dela se tomou Saul, filho de Quis; e o buscaram, porém não se achou.
22 Então tornaram
a perguntar ao SENHOR se aquele homem ainda viria ali. E disse o SENHOR: Eis
que se escondeu entre a bagagem.
23 E correram, e
o tomaram dali, e pôs-se no meio do povo; e era mais alto do que todo o povo
desde o ombro para cima.
24 Então disse
Samuel a todo o povo: Vedes já a quem o SENHOR escolheu? Pois em todo o povo
não há nenhum semelhante a ele. Então jubilou todo o povo, e disse: Viva o rei!
25 E declarou
Samuel ao povo o direito do reino, e escreveu-o num livro, e pô-lo perante o SENHOR;
então despediu Samuel a todo o povo, cada um para sua casa.
26 E foi também
Saul à sua casa, em Gibeá; e foram com ele do exército aqueles cujos corações
Deus tocara.
27 Mas os filhos
de Belial disseram: É este o que nos há de livrar? E o desprezaram, e não lhe
trouxeram presentes; porém ele se fez como surdo.
I Samuel 11
12 Então disse o
povo a Samuel: Quem é aquele que dizia que Saul não reinaria sobre nós? Dai-nos
aqueles homens, e os mataremos.
13 Porém Saul
disse: Hoje não morrerá nenhum, pois hoje tem feito o SENHOR um livramento em
Israel.
I Samuel 13
13 Então disse
Samuel a Saul: Procedeste nesciamente, e não guardaste o mandamento que o
SENHOR teu Deus te ordenou; porque agora o SENHOR teria confirmado o teu reino
sobre Israel para sempre;
14 Porém agora
não subsistirá o teu reino; já tem buscado o SENHOR para si um homem segundo o
seu coração, e já lhe tem ordenado o SENHOR, que seja capitão sobre o seu povo,
porquanto não guardaste o que o SENHOR te ordenou.
I Samuel 15
3 Vai, pois, agora e fere a Amaleque;
e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde
o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até às
ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos.
4 O que Saul convocou ao povo, e os
contou em Telaim, duzentos mil homens de pé, e dez mil homens de Judá.
5 Chegando, pois, Saul à cidade de
Amaleque, pôs emboscada no vale.
6 E disse Saul aos queneus: Ide-vos,
retirai-vos e saí do meio dos amalequitas, para que não vos destrua juntamente
com eles, porque vós usastes de misericórdia com todos os filhos de Israel,
quando subiram do Egito. Assim os queneus se retiraram do meio dos amalequitas.
24 Então disse
Saul a Samuel: Pequei, porquanto tenho transgredido a ordem do SENHOR e as tuas
palavras; porque temi ao povo, e dei ouvidos à sua voz.
25 Agora, pois,
rogo-te perdoa o meu pecado; e volta comigo, para que adore ao SENHOR.
Pessoas queridas, preciso iniciar
esta lição fazendo uma confissão a vocês: gosto muito de Saul. E mais uma
coisa: numa eleição em que os candidatos fossem Saul e Davi, me desculpem,
tentem me compreender, mas eu votaria em Saul. Que cara bacana! Talvez você
sempre tenha olhado para Saul como um cara do mal. Muitas vezes somos levados a
ter determinada visão de algum personagem bíblico a partir do que ouvimos em
sermões ou em letras de música. E normalmente, Davi é enaltecido, e Saul,
tadinho, depreciado. Humanamente
falando, Davi não foi melhor que Saul. Sabe qual a grande diferença entre os
dois? Davi obedecia cegamente às ordens divinas, sem perguntas, sem
questionamentos. “Missão dada é missão cumprida.” Saul era muito mais humano
que Davi. Ele recebia uma ordem, mas o seu lado humanista o levava a pensar, a
repensar, a avaliar a sua ação. E foi agindo assim que perdeu seu reinado.
Leiam com atenção o capítulo oito. Vejam que atitude
mais bonitinha de Saul quando Samuel diz que ele será o primeiro rei de Israel.
Antes, vejam a descrição que se faz dele: o mais belo israelense, mais alto que
um israelense comum. Mas isso não fez dele um cabra metido a besta. Ao ser
informado da escolha divina através de Samuel, ele reage assim: “peraí,
companheiro profeta, deve ter algum engano. Pra começar, sabe aquela tribo
miudinha, a menor de Israel, Benjamim? Eu sou dela. Não sou das tribos grandes,
poderosas. E tem mais, a minha família, companheiro, é a menos influente, a
menorzinha da menor tribo. Tem certeza?” Esse comportamento indica uma
humildade tão grande, uma simplicidade tão bonitinha da parte de Saul. E aí a
gente já começa a gostar dele.
Bom, então o capítulo dez narra a unção de Saul. Todas as tribos são
convocadas, a “tribozinha” de Benjamim é destacada, a família de Saul
apresentada, e as coisas vão acontecendo. Epa, cadê Saul? Todos estão aqui, mas
e o rei? Ah, que coisa mais linda e mais fofa. O rapaz bonito, alto e humilde,
que seria nesse momento ungido rei de Israel, também era tímido, não gostava de
mídia. Então se escondeu na bagagem. Acho linda essa cena. Nem acho que fosse
medo não, ele era tímido, tadinho. E provavelmente ainda estava em choque com a
velocidade dos acontecimentos. Gente, ele tinha ido a Samuel simplesmente para
tentar encontrar uns animais, de propriedade de seu pai, que tinham fugido.
Quando chega lá, antes de dizer qualquer coisa sobre o que queria, Samuel vai
dizendo ao bichinho: “Ih, rapaz, fica tranquilo que o problema dos animais do
teu pai está resolvido. Mas olha só, tenho uma notícia para você: você será
ungido rei de Israel.” Gente, uma notícia dessa, inesperada, derruba qualquer
um. Ele não estava acreditando nisso tudo, mas quando vê aquela multidão,
aquele cerimonial todo, aqueles holofotes, ele tenta se esconder, mas não
consegue. É o
próprio Deus que entrega o bichinho: “ah, ele tá ali no meio da bagagem”. Então
ele é trazido para o meio do povo e declarado rei. Na sequência, a narrativa
vai informar que o Espírito de Deus vem sobre ele e aquele garoto tímido
transforma-se num guerreiro valente, mas nem por isso perde a sensibilidade.
Ainda nesse mesmo capítulo, aparece
sua primeira oposição: os filhos de Belial não reconhecem seu reinado, e se
referem a ele com desdém. E sabe o que faz o novo rei? “Se fez como
surdo.” Ele já poderia ter seu primeiro
piti no poder e exigir outro comportamento daquele grupo. Que nada. Nem deu
ouvido aos comentários.
Queridos, quando lideramos com
sensibilidade, aprendemos que uma “oposição” equilibrada, sensata nos ajuda
muito a crescer, a amadurecer. E a essa oposição, que apenas pensa diferente de
nós, mas quer o bem do grupo, devemos ouvir sempre. Por outro lado, aquele tipo
de oposição que só quer ser do contra, que critica, mas nunca apresenta uma
sugestão, a essa não devemos mesmo ouvir. Saul nem tinha tido tempo de tomar
qualquer medida como rei, e os caras já estavam dizendo: “ah, é esse cabra, que
se esconde entre as bagagens no dia de sua apresentação ao povo, que será o
nosso rei? Dá não.” Foi uma crítica precipitada, claro. Mas Saul foi muito
sábio: fez-se de surdo.
E então vem o capítulo 11. Repito: que cara fantástico que foi Saul! Ele,
já como rei, conquista sua primeira vitória, contra os amonitas. Então o povo,
eufórico com a vitória contra Naás, um fanfarrão danado, comenta com Samuel,
diante de Saul: “sabe aqueles caras que desdenharam de Saul, dizendo que ele
não poderia reinar sobre nós? Vamos arrebentá-los, vamos matar esses caras.” E
Saul, com toda a sua sensibilidade: “Nada de mortes. Hoje não morre mais
ninguém por aqui. Quem tinha que morrer já está morto.” Gente, fala sério, que
coisa mais linda! Saul, ao contrário de Davi, não tinha problemas com oposição,
sabia administrar isso numa boa, e não permitiu, de jeito nenhum, que aqueles
homens fossem mortos simplesmente porque discordavam dele ou porque não o
reconheciam como rei. Agora, vejam Davi, naquele episódio da lição 2, o piti
que ele deu porque Nabal se recusou a reconhecer seu reinado: “ah, é, vamos lá
então matar todo mundo.” E Saul, no episódio de hoje: “não morre mais ninguém
por aqui. Deus já nos deu um grande livramento, por que matar gente nossa?”. É
ou não é um cabra sensível o nosso personagem de hoje? E antes que você diga: “peraí, mas ele tentou matar Davi mais tarde!”
Gente, estamos estudando recortes da vida de cada personagem, não a vida toda
deles, não uma biografia completa. Em algum momento da vida, todos nós erramos,
e eles também. O que queremos mostrar é que Saul não foi o monstro que nos
apresentam, e nem Davi foi o homem justo que tentam nos dizer que foi. Os dois
tiveram erros e acertos. Nós erramos e acertamos. Os personagens bíblicos não
foram homens e mulheres diferentes de nós, apenas viveram em contextos
diferentes dos nossos. Gosto muito de Saul, admiro-o. Não gosto que falem mal
dele o tempo todo não.
No capítulo 13, Samuel dá um esporro nele porque ele se
precipita e oferece sacrifício ao Senhor. Tadinho do bichinho. Samuel tinha
combinado com ele um tempo de espera, sete dias. Esse tempo passou, e nada de
Samuel chegar; uma situação de guerra, o povo pressionando, ele tendo que agir
como líder, tendo que dar uma satisfação ao povo. Ele precipita-se e perde ali
seu reinado. Caso parecido foi o de Moisés no episódio em que deveria falar à
rocha, mas ao invés disso, deu uma cajadada. Gente, imagina o estresse dessas
pessoas, a pressão que sofriam naquele momento!? Não tinham muita escolha não,
e na intenção de agir, na ansiedade de resolver (todo líder passa por situações
assim) acabaram se precipitando um pouco. Mas observe no desenrolar da
narrativa: ele não discute com Samuel em momento nenhum. Tenho a impressão de
que abaixou a cabeça e seguiu seu caminho. Gosto mesmo desse cara.
Ah, o capítulo
15 me dá uma tristeza tão grande. Saul recebe uma ordem: acabar com os
amalequitas. E veja só que preocupação humanística ele tinha. Entre os
amalequitas, viviam os queneus, um outro grupo, um outro povo. E esse grupo
tinha sido legal com Israel, diferente dos amalequitas. Pois bem, Saul tem a
preocupação de avisar aos queneus para que saíssem daquele território porque os
amalequitas, e somente eles, seriam destruídos. Muito bacana da parte dele.
Depois da saída dos queneus, o território é invadido e os amalequitas
exterminados, um horror. Saul resolve ouvir o povo e permitir que peguem o que
quiserem como espólio de guerra. E naquela guerra isso não
deveria acontecer. E mais: ele resolve poupar a vida do rei, e leva-o consigo.
Foi a gota dágua. É o próprio Samuel que mata o rei amalequita com requintes de
crueldade. Saul está destituído! Mas vejam que bonitinho nos últimos dois
versos acima, desse capítulo: ele reconhece que errou e quer pedir perdão. Tudo
bem, mas está destituído de qualquer jeito. Ah, tadinho! Pecar por ouvir o povo
é tão bonitinho para um governante!
E aí? consegui convencê-los a terem um outro olhar sobre
Saul? Ele foi mesmo um cabra bacana. Deus o escolheu e o rejeitou. Isso é outro
papo. Mas ele foi um ser humano e tanto!
LIÇÃO 08 - 01/04/2012
SAMUEL, EXEMPLO DE ÉTICA
I SAMUEL 12
1 ENTÃO disse Samuel a todo o Israel: Eis que
ouvi a vossa voz em tudo quanto me dissestes, e constituí sobre vós um rei.
2 Agora, pois, eis que o rei vai
adiante de vós. Eu já envelheci e encaneci, e eis que meus filhos estão
convosco, e tenho andado diante de vós desde a minha mocidade até ao dia de
hoje.
3 Eis-me aqui; testificai contra mim
perante o SENHOR, e perante o seu ungido, a quem o boi tomei, a quem o jumento
tomei, e a quem defraudei, a quem tenho oprimido, e de cuja mão tenho recebido
suborno e com ele encobri os meus olhos, e vo-lo restituirei.
4 Então disseram: Em nada nos
defraudaste, nem nos oprimiste, nem recebeste coisa alguma da mão de ninguém.
5 E ele lhes disse: O SENHOR seja
testemunha contra vós, e o seu ungido seja hoje testemunha, que nada tendes
achado na minha mão. E disse o povo: Ele é testemunha.
CAPÍTULO 8
1 E SUCEDEU que, tendo Samuel
envelhecido, constituiu a seus filhos por juízes sobre Israel.
2 E o nome do seu filho primogênito
era Joel, e o nome do seu segundo, Abia; e foram juízes em Berseba.
3 Porém seus filhos não andaram pelos
caminhos dele, antes se inclinaram à avareza, e aceitaram suborno, e
perverteram o direito.
Bom domingo, meu povo querido.
Estamos aqui para mais um dedinho de prosa. Dessa vez, falaremos sobre Samuel,
o filho de Ana e de Elcana. Lembram da história do nascimento dele, né? Pois é,
nosso Samuel foi crescendo na presença do Senhor, segundo Seus caminhos, e
tornou-se profeta de Israel. Na verdade, ele exerceu triplo ministério em
Israel: sacerdote, profeta e juiz. Foi o último dos juízes. Depois dele, começa
a monarquia hebraica, com Saul.
Samuel acertou no ministério, mas
errou na educação dos filhos. Mesmo caso de Eli, o sacerdote. E isso não é
legal, não é bonito, evidentemente. Mas antes de vocês condenarem essa gente
que se dedica demais ao ministério, e pecam com a família, deixem-me dizer uma
coisa: muitos fazem isso por paixão, por amor absoluto a causa, e não se dão
conta de que estão falhando em outros setores. Então vamos combinar assim: se
você é filho/filha, esposo/esposa de uma criatura dessas, sempre que ela
estiver envolvida demais com o ministério, com a profissão ou com as causas em
que acredita, e “esquecendo” de vocês, deem um “chega pra cá” nele, faça-o
entender que você está ali querendo atenção, carinho, tempo; tire o cabra um pouquinho do foco ministerial
ou profissional. Eles não fazem por mal não. Tá bom, pode substituir
esse eles aí por nós, mas não esqueça de alterar o verbo para fazemos.
Queridos e Isac, a ordem hierárquica
das coisas em nossa vida precisa ser: Deus,
família, igreja, etc... O ministério é muito importante, seja ele qual for,
mas a família precisa ser prioridade. Fui claro, Isac? Tenho me esforçado.
Tenho muitas paixões. Ih, mas passo longe do caso Eli, do caso Samuel. Meu
pequeno não é perfeito, graças a Deus, mas é um moleque muito ético, com uns
comportamentos de esquerda... lindo.
Bom, mas voltemos ao foco de hoje: Samuel.
TAL PAI, NÃO TAL FILHO
Samuel foi um líder e tanto. Coube a
ele ungir o primeiro rei de Israel, mesmo não concordando com a instituição de uma
monarquia. Também coube a ele a difícil missão de destituir esse mesmo rei,
informando-o que havia sido rejeitado, nosso querido Saul, da lição anterior.
Mas Saul era tão gente boa que Samuel
teve dó do bichinho, e ainda tomou um esporro de Deus por conta disso. Também
coube a Samuel ungir a Davi, o segundo rei de Israel.
O primeiro texto selecionado para a
lição de hoje, I Samuel 12, nos mostra um Samuel no final de seus ministérios,
desafiando o povo judeu a apontar nele algo de errado, de comprometedor, de suspeito
que ele tenha feito contra o povo. O texto é
de uma belezura sem tamanho, e mostra o quanto nosso personagem de hoje foi
ético no cumprimento de seus deveres: “se vocês conhecem alguém que eu tenha
oprimido de alguma forma, ao longo da minha vida, para me beneficiar, tragam
essa pessoa aqui; se alguém sabe de algum suborno que eu tenha recebido de
alguém para fechar meus olhos diante do erro, tragam aqui a pessoa que me
subornou”. E o povo responde: “Nada disso aconteceu, companheiro Samuel. Você
nunca oprimiu ninguém, nunca aceitou suborno para inocentar ou culpar alguém,
você nunca recebeu nada que não devesse ter recebido.” Que fofeza de líder! Que
exemplo! Nossos políticos brasileiros, especialmente os da chamada bancada
evangélica precisam ler, precisam ouvir, precisam entender esse texto; alguns
líderes cristãos também precisam. Samuel tinha convicção de sua integridade. Do
contrário, jamais ousaria fazer esse desafio. Ele sabia que não tinha feito
nada do que citou. Quando tão temos convicção de nossas atitudes, melhor
ficarmos quietos, revermos nossos conceitos, nos reorganizarmos. Mas se temos
convicção, como Samuel, então podemos fazer como ele: “apontem minhas
injustiças para com o povo”. E do outro lado, o silêncio total. Isso é de uma
lindeza sem tamanho. Me faz lembrar o nosso “amontoador de gravetos”: “Combati
o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” É desse jeito que quero
encerrar meu ministério, minha profissão, minha carreira, daqui a uns 40 anos:
convicto de minha integridade, como Samuel. Convicto de não ter negociado minha
fé, meus valores, como Paulo.
O capítulo 8 do mesmo livro (I Samuel) traz a parte feia da
história de nosso personagem de hoje: seus filhos. Samuel os constituiu juízes
também sobre Israel, mas diferente do pai, andando por caminhos completamente
diferentes dos caminhos dele, tornaram-se avarentos, aceitaram suborno e
perverteram o direito. Que frustração! “Filho de Samuel Samuelzinho não é”.
Ah, companheiros e companheiras, e
por falar nisso, ou seja, em Samuel tornando seus filhos juízes, lembro-me de
um fato contemporâneo um pouco parecido. Bom, no caso de Samuel, porque ele era
juiz, entendeu que seus filhos também deveriam ser. Ao longo da história,
ocorreu na igreja uma situação chamada de clericalismo,
bastante comum ainda hoje, que consiste no seguinte: um cidadão por ser pastor,
entende que seus filhos também têm que ser, ordena-os ao ministério pastoral,
mesmo que não tenham um chamado para isso e empurra-os
guela a baixo da igreja, e quando se aposentam, querem, de qualquer jeito, que
o filho seja seu sucessor, mantendo assim o poder pastoral na família. Isso não
faz sentido. O chamado é individual e independe de ser pai ou filho. E o que
dizer daquelas igrejas em que a esposa do pastor obrigatoriamente precisa ser
pastora. É um “chamado” por tabela?
Na verdade, queridos e queridas, não
se pode cobrar dos filhos o mesmo comportamento dos pais. Nossos filhos não são
cópias nossas, são outros seres humanos que originam-se de nós. Os filhos de
Samuel não tinham que ser necessariamente éticos como o pai, simplesmente por
serem filhos dele. Mas já que não eram, então não precisavam ser juízes também.
Sou apaixonado pelo magistério. Estou no ramo, profissionalmente, há quase vinte anos; e no ministério de
ensino, há vinte e cinco anos. Comecei bem cedo. Ficaria muito feliz mesmo se
meu filho também abraçasse o magistério, mas em hipótese alguma exigiria isso
dele; está dando sinais de que não será professor e é um direito do cabra. Se
eu o obrigo a seguir minha profissão, meu ministério (para mim, as duas coisas
se misturam), ele não o fará apaixonado como eu faço. Pode ter sido o caso dos
filhos de Samuel. “Meus filhos serão juízes como eu sou.” Não era a praia dos
caras. Então eles viram ali uma oportunidade de se corromperem, de se darem
bem. E foi lamentável. Eu escolhi minha profissão. Quero que o meu filho
escolha a dele. Mas seja lá o que for fazer, quero que seja ético, apaixonado,
feliz, e que exerça sua profissão em benefício das pessoas também, que não seja
apenas uma forma de ganhar dinheiro, mas de realizar-se e de abençoar pessoas.
Quando o povo vai a Samuel pedir um
rei, um dos argumentos é que Samuel está velho, e seus filhos não são
moralmente capacitados para substituí-lo. Tudo bem, se eles apenas não
quisessem ser juízes, mas muito triste não seguirem o padrão moral e ético do
pai.
MAS AFINAL DE CONTAS, O QUE É MESMO ÉTICA?
é.ti.ca (dicioário
Michaelis)
s. f. 1. Parte da filosofia que estuda os valores
morais e os princípios ideais da conduta humana. 2. Conjunto de princípios
morais que se devem observar no exercício de uma profissão.
Não apenas no exercício de uma
profissão, mas no exercício de um ministério, no dia a dia da vida. Ser ético,
na prática, significa pensar no direito do outro e respeitar esse direito.
Significa não oprimir nem explorar outro ser humano em meu benefício. Significa
chegar a um banco, a um parque de diversões, a um hospital, e mesmo vendo um
conhecido lá no início da fila, entender que entre mim e esse conhecido existem
várias outras pessoas, e que se eu tentar entrar na frente daquele conhecido,
vou estar desrespeitando o direito de todas essas pessoas. Ser ético significa
parar para refletir que se em determinado cenário parece que estou me dando bem
em detrimento de outros, tem alguma coisa errada. Ser ético significa não
avançar o sinal vermelho a qualquer momento do dia ou da noite, a menos que a
permanência ali, efetivamente represente riscos, para mostrar ao meu filho, que
também está no carro, que a leis não têm hora, que precisam ser respeitadas em
todas as horas. Ser ético significa ensinar ao meu filho que ele é a coisinha
mais fofa e mais importante da MINHA vida, mas ele não é a coisinha mais fofa e
mais importante da igreja, da comunidade, da escola, do planeta. Nessas
situações, ele é apenas mais um. Não posso levá-lo a acreditar que o mundo gira
em torno dele e que tudo está a disposição dele. Assim, se vou a uma festinha
de aniversário com o meu filho de 3 ou 4 anos, e ele dá um piti querendo bolo,
preciso dizer-lhe que todas as outras crianças ali também querem, e que ele
precisa esperar. Se os pequenos estão numa fila para pegar seu bolinho, não
posso pegar o meu pequeno no colo, passar a frente de todos, e pedir ao adulto
que está distribuindo bolo para que dê logo o pedacinho do meu filho para que
ele não tenha um ataque. Na verdade, o meu pequeno está tendo um ataque de má
educação e eu estou tendo um ataque de
egoísmo, e estou ensinando ao meu filhinho que no grito ele consegue tudo, e
que aquelas crianças da fila não são importantes. Estamos formando os monstros
egoístas de amanhã que vão furar filas, que vão cortar pelo acostamento quando
o trânsito para, que vão achar que todos precisam agir em benefício dele. E vamos
ainda querer malhar a educação dos filhos de Samuel? Afinal de contas, o que é
ser ético para você? Não roubar, não matar, não desviar dinheiro público...?
Gente, as coisas que parecem pequenas são muito grandes. Hoje, podemos melhorar
a geração de amanhã, mas também podemos criar monstrengos egoístas e
egocêntricos que nos envergonharão em breve.
LIÇÃO 09 - 15/04/2012
RAABE, UMA PROSTITUTA NA GENEALOGIA DE JESUS
Josué 2
1 E JOSUÉ, filho de Num, enviou
secretamente, de Sitim, dois homens a espiar, dizendo: Ide reconhecer a terra e
a Jericó. Foram, pois, e entraram na casa de uma mulher prostituta, cujo nome
era Raabe, e dormiram ali.
4 Porém aquela mulher tomou os dois
homens, e os escondeu, e disse: É verdade que vieram homens a mim, porém eu não
sabia de onde eram.
18 Eis que,
quando nós entrarmos na terra, atarás este cordão de fio de escarlata à janela
por onde nos fizeste descer; e recolherás em casa contigo a teu pai, e a tua
mãe, e a teus irmãos e a toda a família de teu pai.
19 Será, pois,
que qualquer que sair fora da porta da tua casa, o seu sangue será sobre a sua
cabeça, e nós seremos inocentes; mas qualquer que estiver contigo, em casa, o
seu sangue seja sobre a nossa cabeça, se alguém nele puser mão.
25 Assim deu
Josué vida à prostituta Raabe e à família de seu pai, e a tudo quanto tinha; e
habitou no meio de Israel até ao dia de hoje; porquanto escondera os
mensageiros que Josué tinha enviado a espiar a Jericó.
Mateus 1:5
E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de
Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé;
Hebreus 11:31
Pela fé Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos,
acolhendo em paz os espias.
Tiago 2:25 E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi
também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu
por outro caminho?
RAABE – TRAIDORA OU HEROÍNA?
Pessoas, tudo é uma questão de ponto
de vista. Vamos lembrar que a história oficial é sempre contada do ponto de
vista do vencedor. Nunca do ponto de vista do vencido. Assim, para os
“jericoenses” (deve ser esse o adjetivo pátrio para quem nascia em Jericó),
Raabe foi uma baita traidora, entregou seu povo numa boa em troca de proteção
para ela e sua família. Já para os hebreus, foi uma heroína, pois além de
esconder e proteger os espias, deu informações privilegiadas a eles.
Agora, vou defender Raabe um
pouquinho, embora a veja como uma traidora do seu povo. A questão é: o que a
teria levado a trair sua gente dessa forma? É provável que você responda que
ela teve temor de Deus a julgar pelos argumentos que apresenta no texto de
Josué 2. Tudo bem, mas por outro lado, vejamos o seguinte: ela era prostituta,
e em todas as culturas que conhecemos, as prostitutas são pessoas excluídas,
ignoradas pelo estado, que vivem à margem da sociedade sem os direitos básicos
de cidadania. Pois bem, é possível que tenha passado pela cabeça de Raabe
alguma coisa assim: “se o meu país não me protege, por que tenho que proteger
meu país? O estado não faz nada por mim ou pela minha família, moro numa favela
(desculpa gente, em uma comunidade) em cima dos muros da cidade, esse exército
que está vindo vai tomar a cidade, então vou ficar do lado deles e salvar minha
vida e a de minha família.” Então foi
isso que ela fez. E foi muito espertinha ainda, enchendo a bola do povo hebreu
e demonstrando razoável conhecimento sobre as operações militares divinas.
Gente, por falar em operações
militares divinas, ou em Jihad (guerra santa), como chamam os mulçumanos, essa
imagem de um Deus guerreiro é exclusiva do Velho Testamento. No Velho
Testamento, Deus está quase sempre estressado, conduzindo guerras, uma coisa
complicada de se entender, pelo menos para mim. É um tal de invadir cidade,
matar a população inteira sem poupar nem mesmo mulheres, velhos e crianças, uma
coisa horrorosa. Essa imagem desse Deus guerreiro, varão de guerra, general dos
exércitos de Israel é exclusiva daquele tempo. No Novo Testamento, a partir da
materialização do Cristo, tudo é diferente, tudo é lindo, não há mais estresse
divino, a graça de Deus é abundante, não há mais imagem de guerra, só de paz e
amor, “só love, só love”, uma coisa linda. As
pessoas do tempo de Jesus encarnado esperavam que ele fosse um guerreiro, um
varão de guerra, um general, e ele nem aí: “amem seus inimigos, somos todos
iguais, judeus e romanos são iguais, homens e mulheres são iguais, judeus e
samaritanos são iguais...” Ah, que coisa mais fofa esse discurso da igualdade.
Jesus deve ter o maior orgulho do nosso irmão franciscano Leonardo Boff e sua
Teologia da Libertação, deve ter o maior orgulho do nosso irmão René Padilha e
sua Teologia da Missão Integral, e deve dar muitas risadas estressadas da turma
da Teologia da Prosperidade, que parece não ter entendido nada do seu
ministério terreno. Enfim, já que vivemos a abundante graça de Deus a partir do
sacrifício de Cristo, então vamos parar, se é que já não paramos, com aquela
mania de Davi (mas a ele nós perdoamos, pois foi anterior a graça, foi do tempo
das guerras) de pedir a Deus para destruir seus inimigos, para humilhá-los. Vamos
entrar na fase do Novo Testamento, e pedir a Deus para que nos faça amar nossos
supostos inimigos. Companheiros e companheiras, temos de tomar uma decisão: ou
vivemos o Velho Testamento, com suas leis, suas regras do tipo pente fino,
querendo guerrear contra todos que achamos ser inimigos, e assimilamos também
para nós as punições para cada regra desrespeitada, e não são poucas; ou
vivemos as belezuras da encarnação de Cristo, a graça abundante do Novo
Testamento, e então esquecemos aquela paranoia de guerras, e amamos. Vocês,
mais madurinhos (a turma com mais de 40) lembram de uma das cenas mais bonitas
aqui no Brasil de protestos contra a ditadura militar (isso mesmo, aquele
movimento que recuou a história do nosso país em uns 50 anos) em que os estudantes
foram “enfrentar” os soldados armados, com flores, e depositavam uma flor aos
pés de cada soldado, ou no próprio armamento? É de alguma coisa parecida com
isso que estou falando. As guerras ficaram no Velho Testamento, agora são
flores, graça abundante, amor ao próximo, mesmo que esse próximo queira coisas
diferentes de nós, pense diferente de nós, não goste de nós. Meu herói, de
verdade, é Cristo, com seu discurso de paz, amor, tolerância, e não Josué com
suas campanhas militares. Que ele seja herói dos israelenses. O meu herói,
repito, é Cristo. Por favor, não entendam que eu esteja desmerecendo o
companheiro Josué, de jeito nenhum. Ele fez o papel dele naquele momento da
história, mas eu sou da geração paz e amor... de Cristo.
COMO ASSIM, UMA PROSTITUTA
ESTRANGEIRA NA GENEALOGIA DE JESUS?
Do ponto de vista dos
fundamentalistas e nacionalistas judeus, eu não sei o que é mais grave: Raabe
fazer parte da genealogia de Jesus, tendo sido uma prostituta ou tendo sido
estrangeira. O fato é que a presença dela na genealogia do Cristo encarnado é a
coisa mais linda. E digo mais, logo na geração seguinte aparece Rute, que
também não foi nenhum poço de ética, de comportamento impecável. Na próxima
lição, vou contar um segredinho dela para vocês. Mas sabe o que isso nos
indica, companheiros e companheiras: não existem famílias perfeitas,
impecáveis. Mesmo que queiramos esconder, em nosso passado familiar pode ter
alguma coisa que não seja tão linda, alguma pessoa bem longe da perfeição. E
sabe o que isso também indica? Somos normais, somos gente. Na linhagem de Jesus
tem umas ocorrências bem complicadas: tem um rei matador e adúltero (quase
psicopata) chamado Davi, tem uma prostituta traidora do seu povo chamada Raabe,
tem uma simpática garota viúva de quem gostamos muito, chamada Rute, que teve
que dar um “jeitinho” nada bonito para sobreviver, e tem muito mais gente
“suspeita”, é só você ver a genealogia e ir buscando informações na própria
Bíblia sobre as pessoas. E então, você ainda acha que a sua família, que a
minha família têm mesmo que ser perfeitas? A de Cristo também não foi. E isso é
maravilhoso! Minha “quase filha” fofa,
agora também parceira no livro “Igreja 10Cartável”, Stephanie Zuma, tem um
texto lindo, um sermão que ela escreveu, com o título “A Família Imperfeita do
Perfeito”, em que ela fala da genealogia de Jesus. No momento, só quero dar
ênfase ao título.
AFINAL DE CONTAS, RAABE FOI
JUSTIFICADA PELA FÉ OU PELAS OBRAS?
Também é uma questão de ponto de
vista. Para o escritor da epístola aos hebreus, foi justificada pela fé: ouviu
algumas histórias sobre o Deus de Israel, temeu, teve fé, colaborou, foi
justificada. Para Tiago, foi justificada pelas obras: ouviu algumas histórias
sobre o Deus de Israel, temeu, teve fé, agiu. Segundo Tiago, se tivesse parado
no “teve fé”, essa fé teria sido improdutiva. Mas ela agiu. Então a fé genuína
produz obras. Então vamos combinar assim: “sem fé é impossível agradar a Deus”
e essa fé que agrada a Deus é sempre capaz de produzir boas obras. Combinado?
Então toda vez que orarmos por alguém, vamos também agir. Combinado.
LIÇÃO 10 - 22/04/2012
RUTE E O SEU “JEITINHO”
PARA SOBREVIVER
Rute 1
3 E morreu Elimeleque, marido de
Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos,
4 Os quais tomaram para si mulheres moabitas;
e era o nome de uma Orfa, e o da outra Rute; e ficaram ali quase dez anos.
5 E morreram também ambos, Malom e
Quiliom, ficando assim a mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu
marido.
6 Então se levantou ela com as suas
noras, e voltou dos campos de Moabe, porquanto na terra de Moabe ouviu que o
SENHOR tinha visitado o seu povo, dando-lhe pão.
16 Disse, porém,
Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde
quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu
povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus;
17 Onde quer que
morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o SENHOR, e outro
tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.
18 Vendo Noemi,
que de todo estava resolvida a ir com ela, deixou de lhe falar.
CAPÍTULO 3
1 E DISSE-LHE Noemi, sua sogra: Minha
filha, não hei de buscar descanso, para que fiques bem?
2 Ora, pois, não é Boaz, com cujas
moças estiveste, de nossa parentela? Eis que esta noite padejará a cevada na
eira.
3 Lava-te, pois, e unge-te, e veste os
teus vestidos, e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que
tenha acabado de comer e beber.
4 E há de ser que, quando ele se
deitar, notarás o lugar em que se deitar; então entrarás, e descobrir-lhe-ás os
pés, e te deitarás, e ele te fará saber o que deves fazer.
5 E ela lhe disse: Tudo quanto me
disseres, farei.
6 Então foi para a eira, e fez
conforme a tudo quanto sua sogra lhe tinha ordenado.
7 Havendo, pois, Boaz comido e bebido,
e estando já o seu coração alegre, veio deitar-se ao pé de um monte de grãos;
então veio ela de mansinho, e lhe descobriu os pés, e se deitou.
8 E sucedeu que, pela meia noite, o
homem estremeceu, e se voltou; e eis que uma mulher jazia a seus pés.
9 E disse ele: Quem és tu? E ela
disse: Sou Rute, tua serva; estende pois tua capa sobre a tua serva, porque tu
és o remidor.
11 Agora, pois,
minha filha, não temas; tudo quanto disseste te farei, pois toda a cidade do
meu povo sabe que és mulher virtuosa.
14 Ficou-se,
pois, deitada a seus pés até pela manhã, e levantou-se antes que pudesse um
conhecer o outro, porquanto disse: Não se saiba que alguma mulher veio à eira.
4: 10 E de que
também tomo por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para
suscitar o nome do falecido sobre a sua herança, para que o nome do falecido
não seja desarraigado dentre seus irmãos e da porta do seu lugar; disto sois
hoje testemunhas.
Pessoas queridas, vou “traduzir” do
meu jeito isaquiano essa história, tá? Vamos lá: Noemi e suas duas noras, Orfa
e Rute, estão viúvas. Então Noemi chama as duas para uma conversa e diz:
“meninas, voltarei para minha terra, para meu povo, e proponho que vocês voltem
cada uma para as suas famílias. Orfa chora um bocado, abraça a sogra e a
“cunhada”, se despede e volta para sua parentela. Rute gruda-se a Noemi e faz
aquela declaração linda dos versos 16 e 17 do capítulo 1. Então voltam juntas
para Judá. Lá chegando, se arranjam e
vão pegar o que sobra da colheita. Essa prática era chamada de “respigar os
campos”, e está descrita em Lv 23:22 e Dt 24:19 como uma medida de combate
emergencial às desigualdades sociais.
E, quando fizerdes a colheita da vossa terra, não
acabarás de segar os cantos do teu campo, nem colherás as espigas caídas da tua
sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixarás. Eu sou o SENHOR vosso
Deus.
Quando no teu campo colheres a tua colheita, e
esqueceres um molho no campo, não tornarás a tomá-lo; para o estrangeiro, para
o órfão, e para a viúva será; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a
obra das tuas mãos.
Noemi e Rute estão numa situação de
miséria, abaixo da linha da pobreza. Rute, que devia ter uns 30 anos de idade,
cai nas graças de Boaz, que devia ter uns 50. E Noemi percebe aí uma chance de
arranjar um casamento para a nora através do “levirato”. A prática do levirato
(Dt 25:5-7) era exclusiva entre cunhados, mas em algum momento deve ter sido
estendida a parentes mais distantes. Então Noemi dá uma ideia a Rute para que
esta dê seu jeitinho de fisgar o cara.
Gente,
antes de fazermos qualquer juízo de valor sobre a atitude nada bonita de Noemi
e Rute, vamos lembrar o seguinte: uma mulher sem marido valia muito pouco;
agora uma mulher sem marido e estéril, como era o caso de Rute, valia menos
ainda. As duas, sogra e nora, como viúvas, nunca iam conseguir ultrapassar a
linha da pobreza absoluta. Então é nesse contexto, que Noemi orienta Rute a
fazer o seguinte: “Menina, você é novinha, bonitinha, fofinha, e precisa logo
arrumar um marido; eu me sinto responsável por você. Então você vai fazer tudo
o que eu disser. Tudo bem?” E Rute, evidentemente, concorda. “Então... toma
banho, veste o melhor vestido que você conseguir, põe um perfume legal, e vai
lá no alojamento à noite. Tá bom, minha filha, eu sei que mulheres não podem
aparecer lá assim, mas você vai. Quando a colheita terminar, os homens vão
beber, vão encher a cara, e depois vão dormir. Pois bem, então você vai entrar
lá, no sapatinho, e vai deitar-se com Boaz. Quando ele acordar de cara cheia,
da ressaca, vai ficar desesperado por você estar ali, então você vai dizer a
ele que ele é o teu remidor, que deverá casar-se contigo. Ele não vai querer
que ninguém saiba que você dormiu lá com ele. Então te pagará pelo silêncio.”
Alguns pesquisadores
do texto hebraico, entre eles o doutor Valtair Miranda, do Seminário do Sul,
defendem a ideia de que a expressão “descobrir os seus pés” é um eufemismo para
“levantar seu vestido (sua túnica), expor o seu pênis e deitar sobre ele.” Isso
faz bastante sentido, pelo menos por duas razões: Primeira - “Se Rute ia
deitar-se ao lado do cara, por que a preocupação de descobrir-lhe os pés
literalmente? Qual o peso que isso teria?” Segunda – o susto que o cara toma
quando acorda denota algo mais do que os pés descobertos. E como ele tinha
deitado de cara cheia, o que Rute dissesse, ele teria que acreditar. Se ela
fosse descoberta ali, naquela situação, poderia ser apedrejada. Foi um plano de
alto risco. Por outro lado, se ele resolvesse declarar-se inocente e expor a
menina, se exporia também, pois “seus pés” estaria ainda exposto, no caso de
flagrante. Ele então, que já estava mesmo a fim
da viuvinha fofa, resolve “pagar” pelo silêncio (verso 14) dela e fazer
tudo o que ela havia dito para ser feito (verso 11). Observe que quando ele a
percebe, ela também está exposta, pois pede para que ele a cubra com sua capa.
Foi um golpe e tanto. Ainda sobre o
“descobrir os pés”, ou seja, levantar o vestido, é bom lembrar que o hábito de
usar roupas de baixo é uma prática moderna. Na época de Boaz, os homens usavam
apenas os vestidos, assim como as mulheres. Logo, se os dois estavam com “os pés” de fora, então tinha
rolado alguma coisa, tinha sido uma noitada. Como o cara ia dizer que não, se
estivera bêbado? O melhor a fazer, era casar-se com ela. Mas ele era um cara
ético, cumpridor dos seus deveres legais, tanto que lembra que existia na
cidade um parente mais próximo dela que ele, e ele precisaria conversar com esse cara antes de casar-se com Rute. Se o cara aceitasse, ele
teria que desistir dela. E a julgar pela narrativa, ele vai conversar com o
cara torcendo para ele abrir mão do dever de casar-se com Rute. Ufa! O Cara
renuncia. Uhu. Então se casam e são felizes para sempre.
Olha,
gente, ele já estava a fim dela desde que a viu “respigando o campo”, tanto que
diz a um dos seus trabalhadores: “faz o seguinte, deixa essa menina colher onde
ela quiser... melhor ainda: deixa cair uns punhados de cevada para ela pegar.”
Depois a convida para comer junto com os trabalhadores. Huuummmm... Já tava
rolando um clima. Depois aquela conversinha dela: “por que achei graças aos
olhos do meu senhor?” Parece que foi paixão a primeira vista. Ah, não sei dizer
com convicção, não há indícios no texto, mas numa sociedade patriarcal como
aquela, é pouco provável que um homem bem sucedido de talvez uns 50 anos de
idade, já não fosse casado; poderia ser viúvo, como ela; provavelmente tinha
filhos, mas nada se fala a esse respeito. A ênfase da narrativa é Rute e não a
provável família dele.
Enfim,
queridos e queridas, bonito o que ela fez? De jeito nenhum, mas naquele momento
era a única saída que Noemi conseguiu visualizar. Ah, sim, depois ela deixou de
ser estéril e teve um filho com Boaz: Obede, avô de Davi. Pronto. Rute também está
na linhagem de Jesus. Mais uma estrangeira. Vamos recapitular as mulheres
estrangeiras na linhagem dele. Ah, estrangeiras e não necessariamente santas:
Raabe, prostituta; Bate-Seba, mulher de Urias, aquela do banho público que
deixou Davi doidinho; Rute, a golpista.
“A família imperfeita do perfeito.” Uma belezura!
RELACIONAMENTO
SOGRA-NORA NO MODELO DE RUTE
Não poderia
deixar de abordar esse aspecto do livro: o relacionamento lindo entre Noemi e
Rute. Rute faz aquela declaração linda dos versos 16 e 17, e Noemi continua
sentindo-se responsável por ela depois da morte do filho. Que coisa mais fofa!
Quem de
vocês, meninas (mais meninas que meninos) diriam algo tão bonito a sua sogra? E
quem de vocês, sogras, fariam ou fazem isso (esse cuidado todo com a nora)? É
lindo isso: essa relação de amizade existente entre ambas.
Quer fazer
um testezinho para saber o nível de envolvimento entre você e sua sogra? É só
você pensar assim: quando meu cônjuge morrer, ou, eventualmente, num caso de
separação, manterei contato com minha sogra? Dependendo da conclusão a que você
chegue, saberá, com clareza, o nível de envolvimento. E aí, é parecido com Rute
e Noemi?
LIÇÃO 11 - 29/04/2012
VASTI, UMA RAINHA INJUSTIÇADA
ESTER 1
3 No terceiro ano do seu reinado, fez
um banquete a todos os seus príncipes e seus servos, estando assim perante ele
o poder da Pérsia e Média e os nobres e príncipes das províncias,
9 Também a rainha Vasti deu um
banquete às mulheres, na casa real, do rei Assuero.
10 E ao sétimo
dia, estando já o coração do rei alegre do vinho, mandou a Meumã, Bizta,
Harbona, Bigtá, Abagta, Zetar e Carcas, os sete camareiros que serviam na
presença do rei Assuero,
11 Que
introduzissem na presença do rei a rainha Vasti, com a coroa real, para mostrar
aos povos e aos príncipes a sua beleza, porque era formosa à vista.
12 Porém a rainha
Vasti recusou vir conforme a palavra do rei, por meio dos camareiros; assim o
rei muito se enfureceu, e acendeu nele a sua ira.
15 O que, segundo
a lei, se devia fazer à rainha Vasti, por não ter obedecido ao mandado do rei
Assuero, por meio dos camareiros.
16 Então disse
Memucã na presença do rei e dos príncipes: Não somente contra o rei pecou a
rainha Vasti, porém também contra todos os príncipes, e contra todos os povos
que há em todas as províncias do rei Assuero.
17 Porque a
notícia do que fez a rainha chegará a todas as mulheres, de modo que aos seus
olhos desprezarão a seus maridos quando ouvirem dizer: Mandou o rei Assuero que
introduzissem à sua presença a rainha Vasti, porém ela não veio.
18 E neste mesmo
dia as senhoras da Pérsia e da Média ouvindo o que fez a rainha, dirão o mesmo
a todos os príncipes do rei; e assim haverá muito desprezo e indignação.
19 Se bem parecer
ao rei, saia da sua parte um edito real, e escreva-se nas leis dos persas e dos
medos, e não se revogue, a saber: que Vasti não entre mais na presença do rei
Assuero, e o rei dê o reino dela a outra que seja melhor do que ela.
20 E, ouvindo-se
o mandado, que o rei decretara em todo o seu reino (porque é grande), todas as
mulheres darão honra a seus maridos, desde a maior até à menor.
21 E pareceram
bem estas palavras aos olhos do rei e dos príncipes; e fez o rei conforme a
palavra de Memucã.
22 Então enviou
cartas a todas as províncias do rei, a cada província segundo a sua escrita, e
a cada povo segundo a sua língua; que cada homem fosse senhor em sua casa, e
que se falasse conforme a língua do seu povo.
Companheiras, que situação, heim!? O
rei de cara cheia querendo exibir a rainha como se fosse um troféu, um objeto,
querendo impressionar a todos com a
beleza da esposa. Ela se recusa. A julgar pela narrativa, parece que ela se
ofende com o fato do rei não ir pessoalmente buscá-la, mas enviar os camareiros
para isso. Então ela não vai. O marido, rei Assuero, de cara cheia, chama seus
principais conselheiros, homens, todos de cara cheia e pergunta como agir numa
situação daquelas. Seu principal conselheiro, que parece não gostar nenhum
pouquinho da rainha, faz um discurso inflamadíssimo dizendo que a rainha
precisava ser punida. Ele exagera, apela mesmo. Ele diz que a rainha não faltou
com o devido respeito apenas com o rei, mas com todos os homens do império
medo-persa, que a atitude da rainha pode gerar uma revolução feminina, que as
mulheres daquele dia em diante não respeitariam mais seus maridos, e por aí vai
até convencer o rei de que deveria destituí-la. E o rei assim faz.
Não vejo na atitude de Vasti um
desrespeito, uma rebelião, um ato de desobediência, mas uma atitude de auto-valorização. Talvez ela tenha mesmo se
sentido um objeto, um troféu que seria exibido aquele monte de bebum, e
resolveu abster-se. Normalmente, nos sermões que ouvimos sobre esta história,
Ester é a fofa e Vasti a desobediente. Tudo bem que Ester seja a fofa, mas não
há porque depreciar Vasti. Tudo bem, Ester não deu um golpe em Vasti, nada
disso. Ela apenas inscreveu-se para um concurso cuja vencedora seria a nova
rainha do império (esposa do rei). O posto já estava vago. Então, tudo bem,
Ester é ficha limpa. Mas daí a depreciar Vasti, não concordo não. Eu sei que
muitos homens de hoje fariam coro com os homens que estavam lá naquele
banquete, com o Memucã, principal conselheiro do rei, apoiando a destituição de
Vasti, tadinha. Ela devia ser uma gata mesmo, a julgar pela descrição que se
faz, mas era uma pessoa, não uma boneca de luxo, um troféu, um objeto de
conquista do rei, uma peça valiosa. Era gente, e gente tem características
próprias, tem vontades próprias. E vamos combinar: Vasti tinha personalidade.
Disse que não ia e não foi mesmo. Já devia estar de saco cheio desse tipo de
comportamento do rei, de exibi-la como sua bela propriedade.
Companheiros, a discordância da sua
esposa não pode ser vista como um ato de desobediência, e sim como uma
expressão de sua opinião pessoal, de sua vontade. Deve ser muito chato você
conviver com uma pessoa que concorda com tudo
o que você propõe, que faz tudo o que você diz, que aceita todas as suas
normas, que nada questiona,
que diz sim para tudo, que faz tudo o que você gosta, que atende todos os seus
caprichos. Bacana mesmo são os debates, as discussões que enriquecem, as
discordâncias que amadurecem. Não estou falando de brigas não, de ofensas, de
coisas parecidas, estou falando de pessoas diferentes convivendo, e o convívio
exige negociações constantes e não determinações constantes. O pitizinho de
Assuero não tem o menor cabimento. O problema é que em todas as sociedade que
conhecemos os homens sempre mandaram no pedaço e sempre consideraram um ato de
desobediência atitudes como esta de Vasti, e por deterem o poder, como é o caso
de Assuero, não poderiam deixá-las impunes diante de tal “insulto”.
É claro que temos que nos orgulhar
de nossos cônjuges, de achá-los bonitos quando isso for verdade ou quando
estivermos apaixonados, ou as duas coisas, mas não é justo tratá-los como um
objeto fofo que conquistamos; é uma pessoa que conquistamos e que nos
conquistou, e que normalmente, graças a Deus, têm opiniões diferentes das
nossas. Então temos que administrar isso e não subjugar o outro.
COM QUEM NOS ACONSELHAMOS?
Os conselheiros de Assuero, especialmente o Memucã (bem
feito, tem um nome feio) botaram muita lenha na fogueira e ainda jogaram uma
gasolinazinha para garantir. Como eles eram os “sábios” do império, o bebum do
Assuero seguiu seus conselhos. Amor nesses casos não era levado em conta,
quando existia; o que determinava as ações era o poder, a manutenção do poder,
o ter sido “desafiado”. Um conselheiro do bem poderia ter dito: “ela pode estar
indisposta; se você for lá pessoalmente, de repente ela vem.” Queridos e
queridas, precisamos ter cuidado quanto a escolha das pessoas com quem nos
aconselhamos. Alguns conselheiros podem nos levar a atitudes precipitadas das
quais nos arrependeremos terrivelmente mais tarde. Um conselheiro precisa ser
sensato, equilibrado, ajudar o aconselhado a observar o caso em questão sob
vários ângulos, e nunca, simplesmente botar lenha na fogueira, valorizar o
incêndio.
A COMPLEXIDADE DAS RELAÇÕES DE PODER
Diferente da relação entre Assuero e Vasti, uma relação
conjugal precisa ter como base o amor e não o poder, a negociação e não a
determinação de uma das partes. Aquela antiga fala dos nossos avós, “aqui quem
manda sou eu”, precisa ser completamente esquecida.
Quando se tem filho, a decisão de um dos pais, presente
em determinada cena que exija uma atitude imediata, precisa ser respeitada pelo
outro, mesmo que discorde, mesmo que ache exagerada ou muito amena para a
situação. Essa discussão de discordância ou aceitação da medida tomada pelo
outro precisa ser feita na ausência do filho, e mesmo discordando, deve ser
apoiada diante dele a decisão do outro ou, se houver uma negociação entre os
dois e chegarem a uma conclusão de que a “sentença” pode ser mudada, que essa
mudança seja anunciada pelo mesmo que a tomou; do contrário, o que estava
ausente no momento do acontecimento vai ser o bonzinho da história, e o que
estava presente será o monstro.
As relações de poder familiar precisam ser bem articuladas,
o diálogo precisa estar presente em todo momento, e nada de interpretar
qualquer coisinha como um ato de rebelião, de desobediência total. Ah, e
cuidado com os conselheiros.
VASTI E ESTER
Não conheço nenhum fato que desabone a conduta de Ester.
Como disse, ela é ficha limpa e é fofa, além de uma heroína israelense. Quanto
a Vasti, no episódio estudado, também não vejo nada que a desabone. Vejo uma
imensa injustiça na destituição da bichinha. Conheço muito pouco de sua
história, apenas este episódio narrado no livro de Ester, e aqui vejo apenas
uma mulher que não quer ser exposta como objeto de conquista. Portanto, acho as
duas fofas. Será que para Ester entrar
em cena Vasti precisava mesmo ser destituída da forma que foi?
Nenhum comentário:
Postar um comentário