domingo, 7 de fevereiro de 2010

LIÇÕES PARA AS CLASSES DE ADULTOS - fevereiro/março/abril-2010

LIÇÃO 01

O HOMEM CONTEMPORÂNEO E SUAS ANSIEDADES


MATEUS 6

25 Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?

26 Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?

31 Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?

34 Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.

Essa ansiedade a que Jesus se refere é aquela considerada normal nos seres humanos, e tem a ver com a preocupação com o futuro, basicamente, com aquilo que vai acontecer amanhã. Quando Ele diz para não ficarmos ansiosos quanto ao dia de amanhã, não está querendo dizer que cruzemos os braços e tudo acontecerá. A ideia é de que Deus cuida de nós e não de que não devamos fazer nada.

O excesso de trabalho, a busca desenfreada por dinheiro, a falta de fé, tudo isso gera ansiedade no homem contemporâneo, deixando-o em crise. Num determinado momento, então, ele recorre a ciência, num outro momento volta-se para a filosofia, num outro para a religião, para o sobrenatural, pois ele quer solução para o vazio que se instala em seu interior.

Essa ansiedade, muitas vezes, leva ao egocentrismo, que é uma prática completamente oposta aos ensinamentos cristãos.

Mas o que é uma pessoa egocêntrica? É aquela criaturinha fofa que ainda não entendeu que ela não é a única coisinha fofa. Por conta disso, na escola, ela acha que o professor tem que lhe dar atenção prioritária. Caso contrário, o professor tem implicância com ela, é pessoal. É aquela criaturinha que acha que seus líderes, que seu pastor têm que lhe dar atenção total, afinal, ela é muito mais importante que a multidão. É aquela criaturinha simpática que quando está em grupo continua agindo como se estivesse sozinha, então não abre mão de nada, não cede nunca, não negocia; o grupo tem que engolir aquilo em que ela acredita, aquilo que ela quer, todas as suas vontades, afinal de contas, ela é a coisinha mais fofa da humanidade.

Eu nem queria dizer isso, mas é claro que a família tem um percentual gigantesco de culpa nesse tipo de comportamento. Toda pessoa egocêntrica é egoísta. Ela é a mais importante do grupo (egocêntrica), então todos os seus interesses, caprichos e vontades precisam ser atendidos (egoísta), independente de prejudicar o outro ou não. Assim, se essa pessoa precisa enfrentar uma fila, mas vê um amigo lá no início dela, ignora todas as pessoas que estão atrás e fica lá na frente, adianta sua vida e não está nem aí para aquelas outras pessoas. Afinal de contas, ela é a mais importante, ela tem pressa, aquelas pessoas estão ali só para se divertirem. Essa mesma pessoa egoísta, com desvio de personalidade cristã, estaciona o carro de forma a prender outro na vaga, porque, afinal, ela quer parar ali. Essa mesma pessoa, quando o trânsito para, engarrafa, vai para o acostamento, ultrapassa todas as pessoas que estão honestamente na fila, entra lá na frente, e vai embora. Que importam todas aquelas pessoas que estão esperando pacientemente o trânsito fluir? Ela tem pressa, ela é a pessoa mais importante do mundo, ela é o centro. Essa pessoa não tem o hábito de ler a Bíblia, aliás, talvez até leia, mas pulou aquela parte de amor ao próximo. Ela adiantou sua vida, seu lado, que importa o outro?


Alguém deu o troco a mais? então que da próxima vez preste mais atenção. Que importa se ela terá que pagar o que deu a mais para fechar o caixa,? Quem se importa? Queridos e queridas, enquanto eu não entender que o outro, que o meu irmão, que o meu semelhante, é tão importante quanto eu, ou conforme ensinamento paulino, mais importante que eu, eu não serei um bom cristão. Todas as vezes em que eu me der bem, prejudicando alguém, eu estou sendo um mal cristão, aliás, eu não estou sendo cristão. Se de todos os mandamentos, eu observar apenas aquele que fala do amor ao próximo, estarei cumprindo, por tabela, todos os outros. Se amo o outro, não furo fila porque estou desrespeitando o seu direito, não fico com o troco a mais porque estou me apropriando de algo que legitimamente não me pertence e estou causando prejuízo ao próximo; se amo, não furo fila de carros, trafegando pelo acostamento (dentro dos carros existem pessoas); se amo, não traio o marido ou a esposa porque estou violando a confiança do outro; se amo, não tento trapacear numa prova, tentando mostrar que sei aquilo que de fato não sei, colando da prova do outro. Se amo, não sou egoísta. Quando sou egoísta amo unicamente a mim mesmo. Quando sou egocêntrico, espero que todos me amem e me deem atenção total.

“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR.” (Levíticos 19:18)

“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” (Marcos 12:30,31)

“Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.” (Romanos 12:3)


LIÇÃO 02

EU QUERIA SER UMA PESSOA MELHOR

“Eu não entendo o que faço porque não faço o que gostaria de fazer. Ao contrário, faço justamente aquilo que odeio. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero fazer, esse faço.” Romanos 7:15,19

“De fato tenho sido mau desde que nasci; desde o dia do meu nascimento tenho sido pecador. O que tu queres é um coração sincero; enche o meu coração com a tua sabedoria.” Salmos 51:5,6

A maior parte de nosso comportamento é determinada por fatores inconscientes e a guerra e os conflitos que travamos dentro de nós mesmos são bem maiores que conscientemente queremos admitir. Assim, o homem nem sempre consegue ser aquele indivíduo harmônico, lógico e racional que pretende. Pelo contrário, é marcado pela ambiguidade, pelos conflitos interiores e pela confusão. Essa visão do ser humano, na verdade, já havia sido apresentada pelo apóstolo Paulo em Romanos 7:15, 19.

Essa mesma visão paulina do conflito interior, essa luta constante entre inconsciente e consciente, segundo Freud, vamos encontrar no texto a seguir, de Edward Sandford Martin:

“No interior do meu templo terreno há uma multidão. Um de nós é humilde, outro é orgulhoso. Um está com o coração partido por causa de seus pecados. E um, que não se arrepende, senta-se e arreganha um sorriso. Um ama o seu semelhante como a si mesmo, e um não se importa com nada além de fama e ouropel. De muitas aflições dilacerantes eu me veria livre se só uma vez conseguisse saber qual deles sou eu.”
Eu me vejo no texto de Paulo, assim como me vejo no texto desse cabra aí em cima. Há uma luta constante no meu interior, e nem sempre é o bem que vence o mal. Eu queria ser um ser humano melhor, um Isac melhor, mas nem sempre isso funciona. Juro que me esforço. Quantas vezes nos comportamos de um jeito que não gostaríamos de nos comportar? Quantas vezes fazemos uma coisa e nos arrependemos logo em seguida, e nos sentimos culpados, e nos “torturamos” psicologicamente; alguns, mais extremistas se torturam fisicamente também.


O CONFLITO DE VALORES DO HOMEM CONTEMPORÂNEO

Por sua própria natureza e condição existencial, o homem é um ser ambíguo. Situado entre o tempo de vida terrena e a eternidade, ele é atraído por ambos. Sua imagem e semelhança de Deus gera o inevitável conflito entre liberdade e finitude, o que é notório nos escritos de Paulo, como já vimos, bem como no famoso aforismo de Ovídio: “Vejo o melhor e aprovo e sigo o pior.”

O homem contemporâneo é absolutamente consciente de sua ambiguidade. O conflito entre instinto e razão sempre estará presente nele. A diferença em relação a outros períodos históricos é que hoje não escondemos essa situação, tão camuflada e negada em tempos passados.

Outro aspecto da imagem contemporânea do homem, do ponto de vista psicológico, é a ansiedade. De repente, ele se deu conta de que aquele mundo estável, totalmente previsível não mais existe. Essa descoberta gerou um pânico que se expressa na mais profunda ansiedade.

Outra causa possível para esta ansiedade humana atual pode ser o conflito de valores que caracteriza nosso tempo. A constante discrepância entre o que o homem crê e o que ele faz gera um alto nível de ansiedade que quando ultrapassa certo limite torna-se intolerável. O sujeito crê na Bíblia e como bom batista até diz que ela é sua regra de fé e prática. Ele crê nisso, no entanto na hora de agir, na hora de praticar, ignora seus ensinamentos e pensa apenas em si mesmo, em como pode se dar bem naquela situação. Refletindo sobre isso, escreve Erich Fromm:

“Os fiéis vão à igreja e escutam sermões que falam dos princípios de amor e caridade ao próximo; entretanto, os mesmos indivíduos se considerariam tolos se perdessem um bom negócio, embora sabendo que o comprador faria melhor em se abster da compra. Às crianças ensina-se que devem reger a sua vida por princípios de honestidade, integridade e zelo pelo bem-estar da alma; ao mesmo tempo, a ‘vida’ nos ensina que agir deste modo é ser um sonhador inveterado e apragmático.”
Parte desse comportamento é influenciado pelo capitalismo que não admite prejuízo em hipótese alguma, que valoriza mais as coisas que as pessoas. Assim, tais indivíduos embora aleguem respeitar os princípios cristãos são influenciados de tal forma pelo sistema vigente que abandonam seus valores diante do menor risco de perdas materiais.

Esse camarada a quem Erich From se refere escuta os sermões, declara a Bíblia sua regra de fé, diz ser um bom cristão, mas tem um gato imenso, às vezes, de tão grande parece uma onça, na energia elétrica. Se essa pessoa observar o mandamento do amor ao outro não fará isso, pois se tenho um gato, além de estar agindo fora da lei, sei que alguém paga por ele, um outro ser humano está sendo prejudicado, aliás, vários seres humanos. Ah, mas aí virão os argumentos: o valor cobrado de energia elétrica é um absurdo. Se a Ampla pode “roubar” assim por que eu não posso roubá-la? Se vou mesmo defender esse argumento, serei forçado a defender também que se o dono do supermercado é rico e se os preços praticados por ele são abusivos, posso entrar lá e furtar um produto. Se ele “rouba” nos preços... Oxente, para quem tem princípios, pouco importa os absurdos cometidos por outros, eu não os farei.


LIÇÃO 03

AINDA SOBRE VALORES CRISTÃOS

Vou aprofundar mais ainda mais o exemplo da aula passada: aquele mesmo cara é capaz de passar um cheque sabendo que não há dinheiro na conta para compensá-lo. Você não acredita nisso? Eu também gostaria de não acreditar, mas já ouvi falar de uns casos assim em cidades distantes da nossa. Não é o caso de nossa localidade, mas mesmo assim fiquei chocado. Quem passou o tal cheque não tem o mínimo de amor pelo próximo. Se tivesse não prejudicaria o outro.

Vou piorar ainda mais essa análise do comportamento dessas criaturas que pensam que são cristãs. Vocês já ouviram falar numa pessoa evangélica que seja caçadora? É, caçadora, que sai matando bichinhos por aí. Não, não estou falando daqueles nossos irmãos sertanejos que precisam caçar por uma questão de sobrevivência, estou falando de caça esportiva, de brincadeirinha. Isso num momento em que parte do planeta se mobiliza pelas causas ambientais. Esse cara vai ousar apresentar o seguinte argumento: ”tenho que amar o próximo (meu semelhante) e não os bichos”. Ah que engraçadinho! Essa pessoa está contribuindo para a deterioração do meio ambiente. Na verdade, não entendo bem por que razão a igreja evangélica brasileira não se envolve, de fato, com as causas ambientais. Será que é porque já que aguardamos uma pátria celestial não precisamos nos preocupar com esse planeta provisório? Não é tão provisório assim, além de mim, minhas próximas gerações precisarão dele.

Tem umas criaturas asquerosas que jogam lixo pela janela do carro, que largam lixo na praia ou na cachoeira que frequentam e que acham tudo isso normal e que são suficientemente descaradas para pregarem o evangelho logo depois de praticarem atitudes como essas. E aquelas que cortam pelo acostamento, que invadem a frente do outro? Isso tudo com um adesivão identificando-o como evangélico. Gente, quando o trânsito para se forma uma fila de carros. FILA. A fila é de carros, mas dentro dos carros estão seres humanos. Então se corto pelo acostamento ou faço outras atrocidades, estou FURANDO FILA, desrespeitando e espaço do outro e declarando que não entendi nada do mandamento divino de “amar ao próximo como a si mesmo.” O próximo está em todos os lugares e eu preciso respeitá-lo onde quer que ele esteja. Qualquer coisa que me beneficie em prejuízo de outro é contraditório a este mandamento, logo não preciso de uma listinha de coisas proibidas ou permitidas.

“E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis.”

Paulo está falando de IMATURIDADE CRISTÃ, de pessoas que não conseguem tomar suas decisões sozinhas. Que tudo perguntam a outros e que quando quebram a cara culpam essas pessoas a quem consultaram. Um dos princípios batistas é a ideia de que cada um é seu próprio sacerdote. Você não precisa, por exemplo, se confessar com o pastor, como fazem nossos irmãos católicos com os padres. Você é seu próprio sacerdote, você confessa-se diretamente com Deus, logo, precisa amadurecer. Eu sei que alguns líderes evangélicos acabam criando uma relação de dependência muito grande das pessoas para com eles, mas isso é péssimo.

Ainda outra causa de ansiedade é o medo da liberdade, como sugere o mesmo escritor citado na lição anterior (Erich From):

“É mais confortável para a maioria dos mortais ter uma estrutura externa que determine seu comportamento, pois isso poderia eximi-los de suas responsabilidades pessoais.”
Então é assim: não vou pagar minhas contas porque o governo (estrutura externa) não paga as suas. Se o Brasil deve, por que não posso dever? Não me importa o que os outros fazem, eu não vou fazer. Eu não tenho que me proteger sob nenhum desses argumentos para justificar meus desvios de conduta cristã. “Todo mundo” paga ou aceita propina. E daí? Eu não sou todo mundo, eu sou um cristão. Não pagarei nem aceitarei propina, só quero o que é meu, aquilo que trabalhei para ter. Se ando certo com o carro, por exemplo, não vou precisar pagar propina a nenhum policial corrupto. Se pago, estou me corrompendo e alimentando a corrupção de um funcionário público. Ou eu sou cristão ou aceito propina. Simples assim. Oi. Outra coisa: tem aquele engraçadinho que está com o carro todo errado, mas não paga propina e nem fica na blitz. Ele também é policial ou é militar e acha que pode dar uma “carteirada”. Esse carinha não está menos errado que aquele que pagou propina, pior ainda, ele usou sua suposta autoridade, sua suposta influência para ficar impune. Errado é errado independente de cargo, função ou posição social que ocupe. O que tem de “cristãos” dando carteirada por aí.... Uma pena!

Alguns policiais, mesmo “cristãos”, acham que o estabelecimento comercial, o restaurante do bairro em que ele atua tem que fornecer-lhe comida gratuitamente, já que ele, o policial, é responsável pela segurança da área. Na cabeça desse servidor público, ele está fazendo um favor para aquela comunidade, logo, todos precisam fornecer o que ele precisa sem cobrar. Se esse comportamento já é de extremo “malcaratismo” para qualquer policial, o que dizer então do “cristão” que também faz isso? Ele não está prestando um favor a comunidade, ele está fazendo o seu trabalho e recebendo salário por isso. Se esse salário é baixo ou não, o comerciante não tem nada a ver com isso. O trabalho do gari também é importante, no entanto ele teria que pagar pela sua comida, assim como o médico e todos os outros funcionários públicos que trabalham naquela comunidade.

Finalmente, outra possível causa de ansiedade no homem contemporâneo é a alienação do fundamento do ser. O estado de alienação do homem é uma característica marcante da condição humana. A tentativa de se livrar de Deus em busca de sua liberdade resultou num grande sentimento de vazio no coração do homem moderno. Essa sensação de vazio resulta em crises depressivas cada vez mais frequentes nas pessoas, independente de idade. Uma das consequências claras desse vazio nas pessoas é a humanização de animais domésticos que passam a preencher de forma ilusória essa sensação de vazio e de medo de envolver-se num relacionamento com outro ser humano. O ser humano é sempre imprevisível, o animal não. Qualquer investimento em outro ser humano é de alto risco, já que ele é imprevisível; com o animal é diferente. Então as pessoas vazias precisam humanizar bichos, chamam de filho, conversam com eles como se fossem um semelhante, investem neles, enquanto filhotes humanos vão ficando largados em abrigos ou pelas ruas. Gente, nada contra tratar bem os animais; eu, por exemplo, tenho uma cadela muito fofa e cuidamos bem da bichinha, mas ela não é gente, ela é uma cadela, linda e fofa, mas não posso querer humanizá-la.


LIÇÃO 04

O HOMEM TECNOLÓGICO E SUAS CRISES DE IDENTIDADE

Por si só, a tecnologia não é boa nem má. Tudo depende do uso que se faz dela. O que preocupa os estudiosos do assunto é que ela está gerando mutações de grandes proporções na cultura humana, o que afeta a própria natureza do ser humano. Instala-se, assim, uma nova civilização, a tecnológica, com seu enorme poder multiplicador. Isso é tão sério, que já registramos hoje uma espécie de síndrome de abstenção tecnológica. É assim: você usa seu computador diariamente para acesso à internet. De repente, ele pifou e o conserto está demorando. Após uns cinco dias sem ele, o seu humor começa a apresentar profundas alterações.

Como a noção de tempo do homem tecnológico é linear, o novo é bom por definição, ou seja, tudo aquilo que é novo é bom simplesmente pelo fato de ser novo. Esta sede do novo tem um lado positivo, uma vez que estimula a invenção. Todavia, enquanto exalta o novo, o homem tecnológico tende a desprezar o velho e por isso ele tem medo de envelhecer. A velhice já não é vista como um prêmio, mas como um fardo insuportável. Por conta disso, muitas pessoas na fase adulta fazem questão de viver cercadas por adolescentes porque só admitem ser cobrados pela sociedade ou pela comunidade da qual fazem parte, como um deles. Agindo assim, essas pessoas entendem que estão resistindo ao amadurecimento, à velhice. Ainda um outro aspecto, nesse contexto, é a necessidade de consumir todos os novos produtos que são lançados no mercado, ainda que não passem do velho produto já conhecido, apenas mascarado com uma nova embalagem.

Os hinos do Cantor Cristão são bonitos. Da mesma forma, muitos hinos contemporâneos também são muito bonitos. Até aí, tudo bem. O problema é quando a nova geração recusa-se a cantar ou ouvir hinos do Cantor Cristão pelo fato de ser um modelo velho de música, ou quando os mais velhos recusam-se a participar dos louvores contemporâneos porque não moderninhos demais. O desafio é encontrar um meio termo. O novo, por mais bonito que seja, não deve anular o velho, nem o velho deve ignorar o novo. São gerações diferentes convivendo, então temos que chegar a um acordo, não adianta ficar brigando ou apenas vivendo do passado.

Outro aspecto relevante desta civilização é a objetividade. Não se procura mais o belo e o verdadeiro, mas o que é útil e eficaz. Assim, novas “amizades” não desenvolvidas não pelo que a outra pessoa de fato é, mas pelo que ela pode trazer de benefício. “Sabe aquela menina que está frequentando nossa classe, tenho que colar nela, ela tem um emprego maneiro na Petrobras.”

Nenhum cristão deve se aproximar de outra pessoa querendo se dar bem, querendo explorar essa pessoa ou simplesmente pelo que essa pessoa tem. Cristãos se aproximam de outras pessoas porque amam essas pessoas. E só.

No plano das ideias, a civilização tecnológica é pluralista. Isso significa dizer que no mundo moderno, nenhuma religião ou filosofia podem pretender aceitação unânime de toda a sociedade. Elas representam uma verdade e não a verdade. Nós cristãos, temos uma verdade, acreditamos nela, vivemos por ela, mas não podemos negar o direito de outras pessoas de nosso contato terem outras verdades. Oi, qual foi mesmo sua pergunta, se existe uma verdade ou várias verdades? Bem, pergunte a um cristão qual é a verdade e ele dirá que é tudo aquilo que está na Bíblia. Agora faça a mesma pergunta a um mulçumano e ele dirá que a verdade é aquilo que o Alcorão registra. Então se vivemos numa sociedade livre, várias verdades circulam. Do ponto de vista cristão, no entanto, nossa verdade é a Bíblia, a Palavra de Deus, e não se fala mais nisso.


JOÃO 8

"Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos. E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."

Quanto a pergunta “que tipo de homem está sendo gerado pela civilização tecnológica?”, responde Roland Corbisier:

“É o homem tradicional, milenar, edificado de acordo com o modelo de Sócrates ou de Cristo, por exemplo, apenas provido de aparelhos e máquinas de que Sócrates ou Cristo não dispunham, ou será um homem qualitativamente diferente, o homem oco, interiormente vazio, sem alma, sem abertura para a transcendência, esgotando-se na dimensão do cotidiano, vivendo para produzir e consumir bens, mercadorias, utilidades e serviços? O tele-homem, o alegre robô, o cibernântropo?”

O HOMEM SOCIOLÓGICO: SECULARIZAÇÃO

Para alguns estudiosos, a secularização é a libertação do homem do controle religioso, o abandono dos mitos sobrenaturais e dos símbolos sagrados. O homem secular tem o mundo em suas mãos e é responsável por seu próprio destino. A secularização ocorre quando o homem desvia sua atenção dos mundos do além e se volta para este mundo e para este tempo.

Outro aspecto da secularização, também chamada de contextualização, é a aproximação e até a mistura daquilo que era tido como profano com aquilo que é considerado sagrado. Esse fenômeno pode ser visto amplamente, hoje, em muitas igrejas brasileiras, de várias formas. A principal delas, talvez, seja relacionada à música e aos modismos. Dessa forma, promovendo essa mistura, vamos encontrar forró gospel, pagode gospel, funk gospel e outros ritmos “profanos” que de repente foram “sacralizados” sob o argumento da contextualização.

Vamos aprofundar nossa análise de contextualização ou secularização mais um pouquinho. A música faz parte da estrutura de qualquer igreja brasileira. A dança, porém, é uma novidade. A princípio, aliás, nem chamávamos de ministério de dança, era ministério de coreografia. Nunca entendi bem essa distinção. Tudo bem. Essas danças, que a galera prefere chamar, em igrejês, de ministrações e não de apresentações (eu entendo que dança é arte, independente do objetivo dela) limitavam-se a reprodução de movimentos corporais que representavam a letra da música que estava sendo cantada. Modernamente, isso ampliou-se, e alguns ministérios de dança, das mais diferentes denominações, tornaram-se tão ousados que já beiram a sensualidade. Isso é o que chamam de contextualização. Que fique claro que não estou condenando à fogueira os ministérios de dança, acho até muito bonitinhos, fofinhos mesmo; meu papel aqui, no entanto, é de provocar um debate reflexivo sobre o tema. Bem, de qualquer jeito, tenho o direito, enquanto cidadão brasileiro, batista, de achar meio loucas, meio cômicas até, determinadas atuações, determinados conceitos, determinadas “ministrações”. Você, leitor, aluno da EBD, por sua vez, tem o direito de achar que estou escrevendo bobagem. Como disse um sábio batista do passado de quem não consigo lembrar o nome agora: “discordo de você, mas morrerei defendendo seu direito de se expressar.”


LIÇÃO 05


ESPIRITUALIDADE SUSPEITA

I Coríntios 2

13 As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais.

14 Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.

1 Coríntios  3

1 E EU, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo.

2 Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis,

3 Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?

Colossenses 3:16

A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao SENHOR com graça em vosso coração.

O Cristianismo tem como um de seus maiores desafios o equilíbrio entre o materialismo e o fanatismo. É como se houvesse uma linha e de um lado estivesse a tendência de se descrer de tudo (materialismo) e do outro uma espiritualidade exacerbada, exagerada, a que chamamos de fanatismo.

Alguns de nós temos a mania de julgar o nível de espiritualidade do outro e aí saímos fazendo as classificações, pondo os rótulos: o irmão X é muito espiritual, já o irmão Y é um cético. Julgar o outro não é uma qualidade cristã, certo?

Algumas pessoas têm mania de espiritualizar todas as coisas. Algumas pessoas acreditam num Deus plantonista que está o tempo todo a sua disposição exclusiva, e aí voltamos para a questão do egocentrismo cristão, e então acham que para que tudo aconteça em sua vida, basta orar. Algumas chegam a dizer que a oração ideal, com mais chance de ser respondida, é aquela feita de madrugada, pois “na madrugada, a fila é menor.” Essa frase aparece, inclusive, em letras de música evangélica. Dizer isso é, de cara, dizer que Deus é limitado. Assim, dentro de sua limitação, ele não consegue atender a todos os pedidos, mas se eu orar de madrugada, quando menos pessoas estão pedindo coisas, minhas chances são maiores. Gente, ninguém passa em vestibular ou em qualquer outro concurso simplesmente orando todas as madrugadas. É preciso estudar. Não estou dizendo para você dispensar a oração, estou dizendo que você precisa estudar se quiser ser aprovado em algum concurso.

Ainda sobre a questão da espiritualidade suspeita, para Ed René Kivitz, pastor batista de São Paulo, em seu livro OUTRA ESPIRITUALIDADE, é preciso que se repense a visão de Deus:


“Chegou a minha vez de dizer que ‘Deus morreu, vocês mataram Deus... um deus morreu em mim, e nasceu outro, que me seduziu com amor eterno. Por ele me apaixonei. O deus que morreu foi exaltado na subcultura da religiosidade evangélica brasileira. Era basicamente um deus que: 1) vivia de plantão para me poupar de qualquer tragédia, evitar meus sofrimentos e abreviar as situações que me trariam qualquer desconforto; 2) prometia satisfazer não apenas minhas necessidades, mas também meus desejos; 3) estava comprometido em favorecer-me em todas as minhas demandas contra os pagãos; 4) compensava minhas irresponsabilidades e ignorâncias em troca de minha fé; 5) manipulava todas as circunstâncias de minha vida como um tapeceiro que corta fios e dá nós no emaranhado do avesso do tapete para revelar a bela paisagem no fim do processo, capaz de encantar todos aqueles que olham pelo lado certo. Enfim, morreu em mim aquele deus parecido com a figura idealizada de um super pai, que levou homens como Freud, Nietzsche e Sartre a desdenhar da religião.”
Esse deus descrito por Ed René começou a morrer em mim ainda em minha infância, quando via minha mãe possuída por espíritos malignos e ia para o banheiro chorar e pedir-lhe que fizesse parar aquela situação e ela continuava possuída. Esse deus começou a morrer em mim quando via minha mãe em crises nervosas e ia para o banheiro chorar e pedir-lhe que a acalmasse e apesar disso, ela continuava em surto. Esse deus começou a morrer em mim quando adoecia, pedia a cura imediata, no entanto precisava ir para hospital, fazer exames e mais tarde, cirurgia. Esse deus morreu completamente em mim quando perdi minha filhinha e me disseram que “foi a vontade de Deus”. Me apaixonei por esse mesmo Deus por quem o autor em questão foi seduzido. Esse Deus, diante da terrível dor da perda de nossa filhinha, o que não aconteceu por ser sua vontade, mas sim como uma das tantas incontingências da vida, usou pessoas para estar perto de nós, para nos fazer carinho. Esse Deus por quem me apaixonei libertou minha mãe, no seu tempo. Esse Deus por quem me apaixonei, não assumiu nenhum compromisso comigo de que eu não poderia ter nenhum problema de saúde, mas está comigo em todos os momentos. Hoje não tenho um Deus plantonista a meu serviço 24 horas. Hoje estou a serviço desse Deus.

Para aqueles que têm um deus plantonista, qualquer “falha” dele em atender suas exigências são tidas como um descaso, e isso é imperdoável. Essas pessoas quase xingam Deus quando isso acontece. Elas não vão permanecer na igreja porque esse deus plantonista não foi legal com elas. Para aqueles que estão a serviço de Deus, no entanto, e que contam com sua graça, e que entendem que existem inúmeras incontingências provocadas pela natureza ou pelos próprios homens, Deus continua sendo Deus, independente do que aconteça.

Nosso irmão, Jó, por exemplo, perdeu tudo, mas não sua crença em Deus. Se ele fosse adepto da infeliz, da desgraçada, da miserável, da abestalhada teologia da prosperidade, diante da primeira perda, ele teria saído batendo portas e gritando:”que deus é esse que me permite passar por essa situação?”

No dia em que escrevi essa parte da lição, vi uma cena linda: diante do caos em que se encontra o Haiti, nossos irmãos improvisaram uma igreja e estavam cantando louvores. Isso mesmo, cantando no caos. A propósito, na sua opinião, o terremoto no Haiti foi vontade de Deus? Deus está feliz diante daquele caos? Teria sido a natureza se manifestando diante da miséria em que se encontravam aquelas pessoas já antes do terremoto e assim, eliminando aquele povo, dando um basta ao seu sofrimento? Ou terá sido um fenômeno do mundo físico, explicado pela Geografia ou pela Geologia ou alguma outra dessas gias aí? E onde estava Deus na hora do terremoto? (cuidado com o lance do deus plantonista). Mas Isac, a Bíblia fala de terremotos como sinal do fim dos tempos... Tá bom, vou buscar o texto pra você:

Mc 13:8 Porque se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá terremotos em diversos lugares, e haverá fomes e tribulações. Estas coisas são os princípios das dores.

Lc 21:11 E haverá em vários lugares grandes terremotos, e fomes e pestilências; haverá também coisas espantosas, e grandes sinais do céu.

Aqui estão apenas dois exemplos, existem vários outros. De qualquer forma, sempre existiram terremotos, guerras e fome. A questão é que tais coisas estão se intensificando, tudo bem. De qualquer forma, não consigo ver Deus naquele terremoto, consigo vê-lo sim na força daquele povo (gente, 4 dias depois do terremoto ainda tem gente sendo resgatada com vida!) e na solidariedade de todo o planeta. Mais do que nunca, é hora de aparecerem os chamados missionários para o Haiti. Chamada missionária para os Estados Unidos e para a Europa rica, me desculpem, mas não tenho fé suficiente para aceitá-las como legítimas.


LIÇÃO 06

APRENDIZAGEM SIGNIFICA MUDANÇA DE ATITUDE E EDUCAR TEM A VER COM DIZER NÃO

Eu só sei se aprendi realmente alguma coisa quando observo que algo mudou em mim. De repente você ouve um sermão maravilhoso, ou participa de uma aula daquelas, quer dizer, dessas, sente-se impactado, vai para casa, reflete sobre tudo o que ouviu e resolve mudar. Nesse caso, houve aprendizagem. Agora, se ouço um sermão ou participo de uma aula e apenas me emociono superficialmente, não rolou aprendizagem. Muita gente, em praticamente todas as igrejas brasileiras, todos os domingos, se emocionam durante o sermão, atendem ao apelo, vão a frente chorando, voltam soluçando para seus lugares, voltam para casa, vivem uma semana como se nada tivesse acontecido e no outro domingo, tudo de novo. Puro emocionalismo. Emoção e aprendizagem são coisas diferentes. Não confunda. Diferentes como assim? Qual a diferença de emoção para aprendizagem?

Gente, ensinar não é entregar um manual para o sujeito, é apresentar os princípios de forma que o indivíduo possa aplicá-los nas mais diferentes e surpreendentes situações. Precisamos aplicar tudo aquilo que aprendemos ou nada fará sentido. Nossas aulas na EBD podem ser umas belezuras, mas se eu não aplicar todas essas coisas fofas na minha vida diária, de nada está adiantando essa aprendizagem.

Não sou xenófobo, mas todos aqui sabem que não sou simpatizante dos Estados Unidos, os donos do mundo, nem gosto muito de citar modelos europeus, mas tem uma coisa que não posso deixar de abordar como exemplo. Em vários países da Europa, os jornais diários são deixados num determinado lugar, as pessoas pegam um jornal e depositam ali o dinheiro correspondente, sem nenhuma fiscalização. E por que isso não é possível no Brasil? Simples de responder e de entender. Quer dizer, nem tanto. Oxente, fomos colonizados por europeus, os portugueses que invadiram nosso país em 1500. O sr. Cabral pode ter descoberto muitas outras coisas, mas não o Brasil. Nós fomos invadidos por ele e sua corja. As pessoas que Portugal mandou para cá eram indesejadas lá. Portugal esvaziou seus presídios, suas ruas e mandou geral para o Brasil a fim de iniciar uma nova vida e colonizar a “nova terra”. Essa gente que veio para cá queria se dar bem independente de qualquer coisa, traindo, passando por cima do outro, enfim, o lance era se dar bem. Essa gente dominou nosso índio e desumanizou o africano. Resultado: o jeitinho brasileiro, a corrupção. A cena mais chocante que já vi de corrupção no Brasil não foi nenhum desses mega escândalos que vemos pela imprensa, foi, na verdade, uma cena bizarra, na rodoviária da Praça XV, no centro do Rio. Enquanto esperava um ônibus, presenciei o seguinte episódio: um senhor chegou com um saco nas costas cheio de latinhas de cerveja e refrigerante. Despejou tudo perto de um monte de pedras (havia uma obra lá), ia colocando pedrinhas dentro das latinhas e amassando a fim de aumentar o peso. Se aquele senhor tivesse acesso a muito dinheiro, como nossos senadores, por exemplo, ele faria um mega roubo, mas como tinha disponível apenas as latinhas, agiu ali daquela forma. Não há qualquer diferença entre o roubo do velhinho da latinha e nossos senadores, respeitadas, é claro, as devidas proporções do estrago para a sociedade. Nossa chamada bancada evangélica no legislativo brasileiro é uma vergonha. Tão vergonhosa é a ação dessa gente para mudar alguma coisa de fato nesse país, que nesse momento não consigo lembrar de nenhuma exceção que possa citar aqui como modelo de resistência. Como produzem muito pouco para a sociedade, tentam suprir sua incompetência com projetos do tipo criação de um monumento à Bíblia em tal lugar, atitude que muito pouco contribui de fato para o bem-estar da sociedade. O cabra cria o tal monumento a Bíblia, mas não tá nem aí para respeitar seus preceitos. Grande coisa! Se nossa bancada evangélica no congresso, nas assembleias legislativas ou nas câmaras de vereadores fizessem a diferença enquanto cristãos, a sociedade perceberia que algo está mudando, mas não é bem isso que temos visto. Temos aí um monte de casos de “pastores” que abandonaram o “ministério para o qual foram chamados” a fim de se envolverem com política partidária, usando sua influência enquanto líderes, manipulando multidões, alegando que vão moralizar as casas legislativas com os princípios cristãos. Desculpem-me, mas terei que citar aqui nosso Gilberto Gil: “... gente estúpida, gente hipócrita!” Uma pena!


SOBRE A PÓS-MODERNIDADE E SEU CONCEITO FURADO DE LIBERDADE

Na pós-modernidade não há repressão, não há limites, o cara precisa “ser livre”; o importante é o agora, é o indivíduo, não tem NÓS, não tem FUTURO. É preciso gozar a vida agora, não tem planejamento de velhice, já que pode-se morrer amanhã ou ainda hoje. É como aquelas crianças mal educadas, aquelas que os pais fazem questão de transformar nos monstrengos de amanhã, dando-lhe tudo o que pedem para evitar o piti público. Como esses pais não saberiam controlar o tal piti, então antes que as criaturas se joguem no chão, se babem todas e eles paguem um mico danado, dão tudo o que pedem, e tem que ser agora, no momento do pedido. Não há limites. É nesse sentido que estou dizendo que a educação precisa sim ser repressora. Segundo Roseli Saião, “educar é ser impopular.” Alguém precisa desempenhar essa função castradora, alguém precisa dizer a esses seres que eles não podem tudo, que existe o outro, que ele não está sozinho no planeta, que ele não é o centro das atenções: Salmos 34:11; Provérbios 22:6.

As criaturas da geração pós-ditadura militar brasileira alegam que como foram muito oprimidas e reprimidas não querem oprimir ou reprimir os filhos, tadinhos. Consequentemente, vem o outro extremo: crianças e adolescentes sem limites. Aí não dá. Não precisamos oprimir os caras, mas precisamos dizer NÂO. Todo ser humano precisa experimentar a sensação de frustração. Se a criança não aprende a lidar com o NÂO, quando vira adulto é capaz de jogar ácido no rosto da menina que disse não, é capaz de agredir a namorada que disse não a continuidade do relacionamento, enfim, que monstrengos a sociedade moderna está produzindo para o futuro?

Gente, alguns desses monstrengos já estão por aí, são pessoas que não estão nem aí para o outro, são pessoas que para tornarem-se chefes vão deixando um rastro de destruição terrível, um rastro de mágoas, de desgraças, de inimizades para trás. Eles precisam ser chefes custe o que custar, e não estão nem aí para o outro.

1 Co 8:9 Mas vede que essa liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os fracos.

1 Co 10:29 Digo, porém, a consciência, não a tua, mas a do outro. Pois por que há de a minha liberdade ser julgada pela consciência de outrem?

Gálatas 5:1 ESTAI, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.

Gálatas 5:13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor.

14 Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.

1 Pe 2:16 Como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus.


LIÇÃO 07



HEBREUS 11

1 ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.

2 Porque por ela os antigos alcançaram testemunho.

3 Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente.

Gente, esse texto é lindo demais. Naquelas horas que estamos duvidosos do amanhã, que estamos pra baixo, que não estamos entendendo o que Deus quer de nós, nada melhor que esse texto para nos deixar bem. Eu estou dentro de um túnel escuro, o túnel é longo, estou quase desanimando, mas tenho certeza de que há uma saída porque já passei por ali em outra situação, então sigo em frente. Isso não é necessariamente um exemplo de fé. No caso desse túnel, eu já sei que existe uma saída, então é só caminhar sem desanimar que chegarei a ela. Um exemplo de fé seria continuar caminhando sem conhecimento prévio da saída.

Não confudamos fé com emocionalismo ou com alienação. A fé é individual, estritamente individual. Se estou num “festival de milagres”, num “culto de milagres” e alguém diz para que todos joguem seus óculos fora porque serão curados, e eu jogo o meu movido pelo calor do momento, porém sem convicção de cura, vou ficar na mão. Não foi Deus que me disse para jogar meus óculos fora, foi aquele cara, e eu embarquei na dele. Isso não é necessariamente um exemplo de fé.


A FÉ SEGUNDO O SENSO COMUM (conceitos populares equivocados)

1. “Profunda convicção de que algo vai acontecer.”Se você continuar lendo o texto de Hebreus 11, verá uma série de exemplo em que as pessoas agiram sem essa profunda convicção. Noé sequer sabia o que era chuva quando começou a construir a arca (Gênesis 2):

5 E toda a planta do campo que ainda não estava na terra, e toda a erva do campo que ainda não brotava; porque ainda o SENHOR Deus não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para lavrar a terra.

6 Um vapor, porém, subia da terra, e regava toda a face da terra.

2. “É a alavanca que move o coração de Deus.” Isso significa dizer que Deus está parado e que somente a minha oração poderá movimentá-Lo, o que indica uma arrogância humana sem tamanho. Da mesma forma, também é uma baita arrogância humana dizer que “a oração é o recurso que convence Deus a fazer o que nós queremos que ele faça”, ou seja, nós podemos mover Deus. Como assim? Que moral é essa? Quem pensamos que somos?.

Vamos entender melhor essa questão: não é que a nossa oração coloca Deus em movimento, nossos corações é que não estão alinhados com Deus, então ficamos ansiosos.

O pastor Ed René Kivitz cita um exemplo maravilhoso dessa ansiedade: “É como se o meu filho me acordasse às três da manhã para me perguntar se haverá almoço naquele dia ou se eu vou pagar a escola naquele mês. Ora, eu, como pai, não preciso dessa motivação, não preciso que ele faça isso para tomar tais providências, isso já é natural em mim na função de pai, meu filho já tem essa certeza, imagine Deus!” Então, se tenho Deus como Pai eu não preciso, obrigatoriamente, levantar todas as madrugadas, “quando a fila é menor”, para pedir determinadas coisas. Por outro lado, se me faz bem orar de madrugada, se o silêncio da madruga me faz bem e eu posso ficar mais a vontade para bater um papo com Deus, beleza, não estou dizendo para você não fazer isso, estou querendo dizer para você não achar que todos tenham que fazer, sob pena de não serem espirituais; e para você não achar que está super bem na fita com Deus por conta disso e que ele então atenderá todos os seus pedidos.

Mateus 6

26 Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?

31 Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?

Queridos e queridas, “se Deus cuida de passarinhos e de flores, há de cuidar com muito mais carinho dos seres humanos.”

3. “Primeiro tem que acontecer na sua cabeça, você precisa visualizar algo para que aconteça.” Essa ideia tem a ver com Psicanálise, com neuro-linguística, mas não com o evangelho de Cristo, não com o conceito de Hebreus.

VOLTANDO PARA HEBREUS 11

5 Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus.

Andar com Deus é um fim em si mesmo. Nada se sabe sobre Enoque, apenas que ele “andou com Deus.” Deus não pode ser um meio para obtenção de fins. “Deus não é um poder manipulável”, logo não podemos entrar nessa de que devemos nos aproximar de Deus porque precisamos de uma cura física, de um casa própria ou de um emprego no Senado Eu quero andar com Deus porque é bom andar com Deus, e mesmo que esteja passando por uma fase ruim na vida, continua sendo bom andar com Deus


DEUS NÃO É UM GÊNIO DA GARRAFA

Na história do gênio da garrafa, ele se compromete a atender três pedidos daquele que o libertar. Tem companheiros nossos, evangélicos, achando que Deus, assim como o gênio da garrafa, obriga-se a atender nossos pedidos, nossos caprichos.

Em um de seus lindos sermões, o pastor Ed René, já citado nesta apostila, disse ter ouvido de um daqueles pastores eletrônicos a seguinte aberração: “Deus, se eu tivesse pedido isso ao diabo, ele já teria me dado, mas estou te pedindo por ser teu servo.” Que servo mais abusado é esse? Como eu poderia me atrever a falar assim com o meu Senhor? Não faz o menor sentido. Esse cara está tentando chantagear Deus. Outros tentam fazer uma negociação: “Se tu me deres um emprego, vou dar o dízimo.” A questão do dízimo já é uma orientação bíblica, não deve entrar numa suposta negociação com Deus.

Ainda no mesmo sermão, o pastor Ed René fala de uma pregação feita por um pastor neopentecostal, adepto da teologia da prosperidade, em que ele diz que naquela noite iria ensinar as pessoas a orarem melhor com base na parábola do Filho Pródigo. É claro que qualquer um de nós esperaríamos que o dito cujo ensinasse a fazer uma oração de contrição, de arrependimento, como fez o próprio filho pródigo em relação a seu pai: “Pai, pequei contra ti e contra os céus, já não sou digno de ser chamado teu filho.” Ao invés disso, o cara ensinou o seguinte: “Ponha o dedo na cara de Deus e diga ousadamente: pai, me dá o que é meu!” Meu Deus, quanta pretensão! Cuidado, companheiros e companheiras, tem muita gente falando em ousadia em nossa relação com Deus, falando absurdos como esses. Eu sou pequeno demais para aparecer diante de Deus com qualquer atitude que pareça ousadia. Nesse conceito pós-moderno de espiritualidade que circula por aí, eu não sou um cabra “espiritualizado”, eu não me encaixo no perfil de ousado nesse contexto. Muito pelo contrário, em minhas orações, em minhas conversas com Deus, me apresento diante dele como alguém tão pequeno, tão vermezinho, que me pergunto se de fato Ele me ouvirá. Na relação com o próximo, com o outro, somos todos iguais, mas na relação com Deus me sinto um coisinha, ou seja, sem ousadia nenhuma, e confesso que sou feliz assim. Eu sou apenas mais um na multidão de adoradores, eu não sou especial nesse sentido, e pra mim já basta a graça de Deus. Eu não sou o cara, eu sou apenas mais um cara, “um rapaz latino-americano sem dinheiro no bolso...”


LIÇÃO 08

CURA INTERIOR

Cura interior é a cura do nosso homem interior: da mente, emoções, lembranças desagradáveis, sonhos frustrados. É o processo pelo qual, por meio da oração somos libertos de sentimentos negativos, como: ressentimento, rejeição, auto-piedade, depressão, culpa, medo, tristeza, ódio, complexo de inferioridade, auto-condenação, senso de desvalor, etc.

Nove Pontos Importantes sobre a Cura Interior:

1. A cura interior, muito mais do que um objetivo a ser alcançado ou uma meta a ser conquistada, é conseqüência do nosso jeito de viver. Cura interior é fruto, precisa ser cultivada, desejada. Ninguém passará por um processo efetivo de cura interior se não desejar realmente ser curado.

2. Precisamos aprender a celebrar as vitórias, pequenas e grandes. Cada passo vivido precisa ser degustado, saboreado, festejado. Não podemos ficar esperando para celebrar somente as grandes vitórias. Aliás, sem a celebração das pequenas conquistas, perde-se o sabor das grandes vitórias almejadas.

3. O pessimismo do mundo moderno acaba contaminando nosso coração. Vamos nos tornando especialistas em ressaltar o negativo. Alimentamos o negativo através das notícias e das conversas. Enfocamos o negativo com lente de aumento e com isso nos especializamos naquilo que não presta e isso vai nos tornando pessoas pessimistas, medrosas, indecisas, enfim, carentes de cura interior.

4. Feliz aquele que tem com quem compartilhar suas tristezas e dores. Mais feliz ainda aquele que tem com quem compartilhar suas alegrias. O amigo verdadeiro é aquela pessoa diante de quem podemos nos revelar por inteiro. Muita gente tem medo de partilhar suas vitórias – aliás, pode nem mesmo ter alguém diante de quem fazê-lo. O outro parece sempre ser uma ameaça. Como vivemos numa constante competição, parece que ser feliz ofende aos outros. Acreditar na felicidade é um bom caminho para encontrá-la, é uma trilha segura para construí-la. Já ouvi alguns colegas dizendo: “não acredito na felicidade; o que existem são momentos felizes.” Oxente, se existem momentos felizes, isso não quer dizer que existe a felicidade?

5. Um coração curado sabe que a alegria verdadeira não está naquilo que temos ou conquistamos, mas na qualidade de nossos relacionamentos. O que não pode ser partilhado não merece ocupar lugar nenhum em nossa vida. Algumas pessoas se deixaram levar pelo pessimismo e pensam que não existem amizades verdadeiras, duradouras, estáveis. Penso que o problema aí são as escolhas dessas amizades. Eu entendo que AMIGO “é um irmão que temos o direito de escolher”. Meus amigos, minhas amigas de infância nunca me decepcionaram. Sempre que precisei, pude contar e confesso que gosto muito de compartilhar com essas pessoas as minhas frustrações e as minhas alegrias. Se não confiamos em nossos amigos, é hora de revermos conceito sobre o que é amizade, começando por não confundir amigo com colega.

6. Para compartilhar a felicidade é preciso optar pela alegria. Divertir-se corretamente não é pecado! O grande pecado é não saborear a vida. É preciso ter a seriedade suficiente para ser alegre e brincalhão. Uma boa piada, na hora certa, tem um lindo poder restaurador em nosso coração. Rir e ajudar os outros a rir é um dos mais eficientes e eficazes remédios para a cura interior. Quem aprendeu a sorrir saberá chorar na hora certa, diante das pessoas e das situações adequadas.

7. No processo de cura interior é fundamental não se perder tempo e energia com bobagens. Cada vez que nos entristecemos devemos nos perguntar: é algo realmente sério? Será que esse fato merece a atenção que estou dando a ele? Não estou atribuindo um peso excessivo ao que a pessoa me falou ou me fez? Quanto tempo vou continuar alimentando essa tristeza em meu coração? Enfim, vamos parar de fazer tempestade em copo d’água.

8. Todos nós estamos sujeitos a muitos erros e falhas. Ninguém está vacinado contra os dissabores da vida. Portanto, ficar remoendo o passado gera o rancor, que é sempre prejudicial a nós e aos outros. A raiva emburrece a pessoa. O ressentimento bestifica. É preciso aprender a perdoar aos outros e a nós mesmos. O rancor produz medo de começar de novo. Viver é correr riscos, sempre. Amar é um risco consciente. A vida é imprevisível! Só quem tem coragem de se arriscar saberá saborear a alegria das vitórias.


9. É preciso estar aberto ao novo. Não devemos temer coisas novas, pessoas novas, comidas novas, culturas novas, possibilidades novas. Abrir-se ao novo pode ser o começo de uma experiência muito interessante.


PROVÉRBIOS 15:13: “O coração alegre aformoseia o rosto, mas com a tristeza do coração o espírito se abate.”


LIÇÃO 09

APAIXONADOS POR DEUS?


“Apaixonado, apaixonado, apaixonado por você, Senhor, estou...”

“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” (Marcos 12:30,31)

Outro dia, ouvindo esta música (trechinho acima), parei pra pensar um pouco sobre um novo fenômeno presente em nossas igrejas, algo que poderíamos chamar tranquilamente de um “erotismo espiritual”: apaixonar-se por Deus, abrace seu Deus, ande de mãos dadas com Deus, fique agarradinho com Deus e outras expressões que não me ocorrem agora. Na Bíblia, vamos encontrar um “amar a Deus sobre todas as coisas.” E essa comparação me fez pensar nas diferenças entre amor e paixão.

Eu sei que estamos num momento absolutamente imediatista, queremos tudo agora, nada pode esperar, tudo precisa ser rápido e intenso. Resolvi então trazer para discussão nessa aula, esse tema, partindo dos dois sentimentos em questão: amor e paixão, e das diferenças entre eles. Então, vou conceituá-los, falar um pouquinho deles enquanto sentimentos humanos e, na conclusão, voltaremos à letra da música, aos “apaixonados por Deus”.


PAIXÃO – UM SENTIMENTO TEMPORÁRIO

A paixão é uma emoção de ampliação quase doentia do amor. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e doentio, porque, via de regra, o indivíduo perde a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio.

Pode-se dizer também que paixão é algo muito mais passageiro que o amor, pois, sendo uma patologia deste, com o passar do tempo e sendo rompido o véu da idealização do outro, cai-se na realidade, tranformando-se a paixão em amor, ou nada restando do sentimento afetivo. É nesse ponto, por exemplo, que muitas pessoas dirão: “quando casei com fulano, ele não era assim”. Na verdade era, mas como a paixão (e não o amor) é cega, ela não conseguia enxergar como era o outro. Isso só tornou-se possível com o fim da paixão. Como também não havia amor, o conviívio tornou-se impossível.

A paixão pode ultrapassar barreiras sociais, diferenças de formação, idades e gêneros. A paixão completamente correspondida causa grandiosa felicidade e satisfação ao apaixonado, mas do contrário, qualquer dificuldade para antigir essa plenitude pode trazer grande tristeza, pois o apaixonado só se vê feliz ao conseguir o objeto de sua paixão.

Quando você aplica isso em relação a Deus, fica ridículo, pois ocorre o seguinte: o cara de tanto ouvir músicas ou declarações incentivadoras dessa relação “erótica” com Deus vai curtindo Deus a balde até o ponto em que peça algo e não seja atendido. Nesse momento, sua paixão por Deus não foi correspondida, o apaixonado não está satisfeito com o objeto de sua paixão (não confundir com adoração), pois ao “negar” seu pedido, Deus o frustrou... FIM DA RELAÇÃO. Ele já não está apaixonado por Deus. Somente o amor espera. Talvez o namoradinho psicopata da Eloá fosse, de fato, apaixonado por ela. E nós lembramos muito bem como tudo acabou. Pois é, não perca a paciência comigo ainda, vou me explicar: tem gente eliminando Deus da sua vida. E essa mesma gente, dias antes, talvez, estivesse aos pulos cantando a música em questão, declarando sua paixão por Deus. Agora, está frustrado, vai matar Deus, pelo menos na sua vida.

Existem pesquisas científicas que mostram que a paixão, apesar de intensa e arrebatadora, é um sentimento passageiro. Estima-se que a mesma não dure por mais de quatro anos. Adolescentes estão mais sujeitos a apaixonarem-se, devido ao pouco conhecimento de mundo, entre outras coisas, o que não significa que pessoas de maior idade não estejam passíveis de tal sentimento. O que ocorre é que a pessoa adulta, por ter maior conhecimento de mundo, por ter vivenciado maiores experiências, não estará tão sujeita a perder a razão e deixar-se dominar pelo peso do sentimento.

A Paixão se resume em um sentimento de desejar, querer a todo custo o calor do corpo de outro ser. Se cria uma necessidade de ver e tocar a pessoa por quem se apaixonou. É um vício que debilita a mente de forma a focar somente a pessoa em que seu pensamento está. “Eu quero que você me aqueça nesse inverno, e que tudo mais vá pro inferno.” E qualquer outro pensamento é momentâneo e irrelevante para o apaixonado.

Pois é, já vou eu espiritualizar o tema mais uma vez: o apaixonado por Deus deseja Deus, fala sobre Ele, deseja vê-lo, tocá-lo, abraçá-lo (tudo isso é autêntico, repito), e deseja bênçãos materiais imediatas, cura imediata. Se isso não acontece no tempo desejado, o apaixonado desapaixona-se.

Na paixão, você é envenenado com uma espécie de sedante que traz todos os detalhes da pessoa: olhos, boca, nariz, orelha, como sendo perfeitos, embora não sejam, mas você está sedado. A Paixão embora seja mais ativa e romântica do que o próprio amor, não significa que seja melhor que este. A paixão é um encanto passageiro, enquanto o amor é algo que se solidifica com o tempo, e nunca mais pode ser quebrado. Já a paixão, não há como se solidificar, eternizar-se.

Pois bem, isso é paixão. E agora? Você consegue aplicar esse sentimento em relação a Deus? Você consegue pensar em apaixonar-se por Deus, sabendo que isso, embora intenso, é passageiro?

Outra coisa: a paixão não tem limites. É comum você ouvir pessoas dizerem que sob efeito de uma paixão, abandonaram seus cônjuges para viverem um amor intenso e repentino, na verdade, uma paixão. Isso não pode aplicar-se a pessoas evangélicas, a pessoas que vivam de acordo com os princípios cristãos. Eu não posso mudar minha vida por conta de uma paixão intensa e passageira, eu não posso servir a Deus como um apaixonado simplesmente.

É verdade. Muitas pessoas estão apaixonadas por Deus. E chegam às nossas igrejas e dizem que fazem e acontecem, e começam a se envolver com um monte de coisas, e cantam e dançam e choram, e fazem tudo com muita intensidade. De repente, somem, abandonam seus postos, não querem mais saber de nada. E sabe por que isso acontece? Elas são autênticas, são até bem intensionadas, mas são apenas apaixonadas. Não há amor. Elas foram embaladas pela música em questão, elas aprenderam uma liturgia erotizada... deu nisso. São intensas, porém são efêmeras, não há bases, só há paixão.

Bom é podermos conciliar o equilíbrio e a constância do amor com a explosão e a intensidade imediata da paixão e manter isso por longo período. A paixão apenas, sozinha, se desgasta logo. Assim, não havendo amor, nada sobra. É isso que acontece nas relações interpessoais e parece que é também o que acontece com os apaixonados por Deus.

Vamos combinar de observar o que diz a Bílbia o tempo todo: “amar a Deus”... Vamos combinar também que podemos ser apaixonados pelos nossos ministérios, pela nossa igreja, mas que essa paixão só fará sentido se amarmos a Deus. Nenhum casamento sobrevive apenas de paixão. Da mesma forma, nossa relação com Deus. Tudo bem, vamos cantar a musiquinha, não tem problema, mas vamos pensar nela como uma linda obra literária, bem intencionada até, mas sem compromisso bíblico-litúrgico-teológico. Ela é só bonitinha.


LIÇÃO 10

DECEPCIONADOS! COM DEUS? COM A IGREJA?

Referências bíblicas: 2 Tm 2:15,16; Js 1:6-7; 1 Sm 30:6; Ec 9:8.


Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Evita, igualmente, os falatórios inúteis e profanos, pois os que deles usam passarão à impiedade ainda maior.

• Sê forte e corajoso, porque tu farás este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais. Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita, nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares.

Davi muito se angustiou, pois o povo falava de apedrejá-lo, porque todos estavam em amargura, cada um por causa dos seus filhos e de suas filhas; porém Davi se reanimou no Senhor, seu Deus.

• Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça.


Logo após a conversão, é muito comum muitas pessoas desejarem um chamado para servir a Deus em alguma atividade na igreja, é um sonho para muitos. Então um dia isso acontece e as pessoas ficam felizes e entusiasmadas. O tempo vai passando e surgem as primeiras decepções. Afinal de contas, a igreja é formada por seres humanos, que são falhos, imperfeitos. Assim, os sonhos românticos de uma vida de dedicação acabam, muitas vezes, dando lugar ao cansaço, à amargura e à decepção. Manter um ministério saudável por anos a fio é uma árdua tarefa, conquistada por poucos. A questão é: qual será o segredo para alcançar essa vitória? Como equilibrar as peculiaridades do trabalho cristão e as decepções, comuns e incomuns, com outros cristãos e com a igreja? Vários são os desafios a serem encarados, principalmente as dificuldades nos relacionamentos, a imaturidade de alguns e as decepções com o caráter de outros.


SUPERANDO AS DIFICULDADES

“Deus não nos chamou para fazer sucesso, mas para sermos fiéis.” Isso quer dizer que o sucesso na vida espiritual, muitas vezes, inclui ser perseguido como foram os personagens bíblicos João Batista (decapitado) e Estevão (apedrejado). Em seu livro “Decepcionados com a Graça”, o pastor Paulo Romeiro sinaliza para o perigo do líder fazer do ministério a sua fonte exclusiva de realização pessoal: “O ministério não sacia o coração e a alma porque pode acabar de uma hora para outra. A nossa fonte deve estar em Jesus.”

O lance é o seguinte: um líder, uma pessoa que trabalha na igreja não precisa nem deve ser pessimista, mas deve, com certeza, ter os “pés no chão”, não esperar das pessoas mais do que deve, pois isso pode aliviar grandes frustrações, grandes decepções ao longo da caminhada. Devemos oferecer o nosso melhor, desempenhar nosso ministério com excelência, mas precisamos estar prontos para críticas, muitas vezes, negativas, incompreensões, enfim, essas coisas humanas.

“Somente permaneceremos motivados à medida em que olharmos para quem estamos realmente fazendo tudo o que fazemos. Queremos plantar, regar e colher, mas nem sempre participaremos de todo o ciclo.” Então, se estamos trabalhando para que alguém veja, para nossos líderes, poderemos ficar arrasados com algumas ações deles, porém se estamos fazendo para Deus, para o bem da sua obra, da nossa igreja, ainda que em alguns momentos fiquemos decepcionados (afinal de contas, somos humanos), não vamos ter uma crise existencial ou mesmo um ataque de frescuras pelo fato do nosso trabalho não ter sido reconhecido em algum momento. Oxente, não tem nada a ver eu me decepcionar com meu líder ou com outro companheiro de ministério e resolver que não vou mais fazer. Agindo assim, deixamos claro que não estávamos fazendo para Deus ou pela sua obra.


CONCLUINDO

Para finalizar, devemos levar em conta o seguinte: “se as conseqüências das decepções forem muito intensas, de forma que alterem o bem-estar, o humor e o comportamento de quem trabalha, talvez essa pessoa precise corrigir o foco e entender que o caminhar com Cristo não depende de ministério ou de cargos. Tenho que investir prioritariamente em minha vida com Cristo, pois o trabalho na igreja é passageiro. É preciso focar o que é eterno.”

Assim, companheiros e companheiras, resta-me dizer que é uma belezura trabalhar na igreja, que é muito fofo nos sentirmos colaboradores da causa de Cristo, que é muito legal ser líder, enfim, tudo é uma fofeza só, mas nada se compara a uma vida de efetiva comunhão com Cristo. Se as duas coisas forem possíveis, maravilha; mas se não forem, priorize a comunhão com Cristo. Se trabalhar na igreja está te fazendo mal, te gerando úlceras ou gastrites de fundo emocional, estresse, problemas graves de relacionamento, reveja seus conceitos, peça férias e direcione seu foco para a sua vida espiritual. Você não é insubstituível.

Gente, pelo amor de Deus, não entendam que eu esteja incentivando a demissão em massa, o abandono de ministérios ou o descompromisso com a causa da igreja. O que estou fazendo é colocando a pessoa, o ser, o indivíduo, o meu irmão em Cristo acima de qualquer outra coisa. O que estou dizendo é que você, pessoa, é mais importante que seus cargos, e que a sua saúde física, mental e espiritual está acima disso. Quando trabalhamos, ralamos, nos decepcionamos, mas estamos bem estruturados e tranquilos, beleza. Agora, se isso não rolar, paciência, você é mais importante, sua relação com Cristo é mais importante. “Nem tudo é pra todos.”

Por outro lado, tem uma turma que é sensível demais e que supervaloriza qualquer coisinha, qualquer comentário. Qualquer bobagem é capaz de causar um piti. Por qualquer razão essa criatura bate o pezinho e diz que não vai fazer mais, que tá fora de tudo. Gente, “peraí”, isso é frescura, exagero. Precisamos estar prontos para possíveis decepções e precisamos ter clareza do nosso foco. Meu foco é o ensino e não vou desistir disso com facilidade. Então, em nome do ensino há coisas que eu preciso relevar, superar, encarar, sem piti.

VOLUNTÁRIOS COMPROMETIDOS

Gente, ser voluntário não significa que vou fazer aquilo com que me comprometi quando for possível, não significa deixar de lado meus compromissos diante da menor dificuldade que apareça, não significa achar que se der eu vou. A opção pelo voluntariado é nossa. Então, voluntariamente me disponibilizei para o ministério de ensino dessa igreja. Eu não fui obrigado a fazer essa opção ou a aceitar o convite, porém uma vez que resolvi fazer isso, ou seja, aceitar o convite para este ministério, comprometi todas as minhas manhãs de domingo e outras várias horas ao longo da semana. Então, eu não posso resolver na manhã de um domingo, sem avisar a ninguém, sem pedir uma substituição, que vou à praia porque me deu vontade. Eu sou um voluntário, não um irresponsável.

Outra coisa: se eu não estou podendo continuar exercendo a função para a qual me voluntariei, devo chegar ao meu líder e dizer isso, e não simplesmente parar de vir. Isso é muito feio. Não me interessa ter o nome num determinado ministério da igreja e não atuar, tenho que pedir baixa e liberar o espaço para um outro voluntário que efetivamente queira fazer aquele trabalho.


OBRAS CONSULTADAS E RECOMENDADAS

Psicanálise e Religião
Erich From

Apostila de Antropologia Filosófica
Pr. Eduardo Matias (FABAMA)

Religião e Psicanálise: Um Diálogo Possível
Monografia de Isac M. Moura

Outra Espiritualidade
Ed René Kivitz
Editora Mundo Cristão

Bíblia Digital










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