domingo, 12 de julho de 2009

REPENSANDO A IGREJA - 3o trimestre/2009


APRESENTAÇÃO

Toda vez que penso em igreja, visualizo Cristo no Getsêmani pedindo ao Pai para que, se possível (embora sabendo impossível), passasse dele aquele cálice terrível de sofrimento. Depois, penso nele na cruz. E ali, ele deve ter pensado alguma coisa do tipo: “vale a pena tudo isso, estou fazendo isso por pessoas, por todas as pessoas.” Depois penso em Paulo estabelecendo as regras para aquela nova comunidade, a igreja. Depois vejo esse mesmo Paulo estressado com pessoas dessas novas comunidades (1 Tm 1:20). Depois disso tudo, penso em nossas igrejas contemporâneas, seguidoras de Cristo, instruídas por Paulo, mas longe, muitas vezes, dos ensinamentos de ambos. Concluo com profunda tristeza que algumas dessas nossas igrejas não aceitariam nenhum dos dois como seu pastor, não teriam o perfil desse ou daquele grupo. Então viajo, e imagino uma dessas igrejas num processo de escolha de um pastor. Num domingo, vai Jesus. Durante sua pregação, algumas pessoas se entreolham, outras torcem o nariz, outras se retiram. No domingo seguinte, é a vez de Paulo. Ih, esse é radical, machista, se sente dono da verdade, quer sistematizar tudo. O da semana passada era bonzinho demais, tolerante e revolucionário ao mesmo tempo, falou em perdão para todos e desdenhou de nossas tradições seculares, veio com aquele papo de amor ao outro ainda que esse outro queira nos prejudicar. Imagine só! O de hoje é estressadinho, só fala em regras, e veja só, quer abrir nossa denominação sacrossanta e histórica para receber qualquer criatura, hereges e tudo mais. Que absurdo! Acho que ele não entendeu que fazemos parte de uma elite e que não queremos nos misturar. E o de domingo passado, com aquele papo de venham todos como estiverem. Como assim? Melhor avaliar um terceiro candidato.

Cristo e Paulo são bonitinhos e fofos porque foram de outra geração. Cristo é bonitinho porque é a materialização de Deus, porque ressuscitou. Paulo é um cara legal porque lançou as bases, estabeleceu as regras, sistematizou o Cristianismo. Agora, tragam esses dois para o Cristianismo contemporâneo e verão que “não se adequam”, que os “fundadores” não cabem naquilo que fundaram. Imagino Cristo dizendo que quer almoçar com Fernandinho Beiramar, na casa dele. Que crise terrível causaria. Que alvoroço!
Calma aí, não me vejam como um crítico radical da igreja contemporânea. Também consigo ver uma igreja capaz de se envolver numa campanha como aquela para operar Nayara, filha do nosso companheiro pastor Eduardo, de Carapebus. Foi lindo demais aquilo. O poder público não cumpriu seu papel de prestar assistência médica aos seus cidadãos, mas a igreja assumiu a causa e a menina foi operada, e está bem. Cristo se orgulha disso, e parafraseando o pastor Ricardo Agreste, no congresso 2009 do Haggai: “Jesus sorriu para as igrejas naquela ocasião.” Ele também sorri para a igreja que tenta amenizar as desigualdades entre seus membros, que fofeza! Que igreja espetacular!
Lindinhos e lindonas, esse é o tema desse trimestre: REPENSANDO A IGREJA. Estudemos e apliquemos nossos estudos à nossa igreja. Vamos valorizar e aperfeiçoar nossos acertos e rever nossas falhas, nossos pontos mais vulneráveis, pois somente assim fará sentido o conteúdo dessas lições. A propósito, nossas aulas estão baseadas no livro “IGREJA? TÔ FORA!”, do pastor Ricardo Agreste, da Igreja Presbiteriana em Chácara Primavera, São Paulo. Recomendo sua leitura, é baratinho, gostoso de ler e capaz de proporcionar profundas reflexões. Enfim, é uma belezura.
Bons estudos, bons debates, boas reflexões.

Prof. Isac Machado de Moura



Lição 01 - 26/07/09

A IGREJA

Textos bíblicos:

1 Coríntios 12:12: “Porque assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo.

1 Coríntios 12:14: “Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos.”

1 Coríntios 12:26-27: “De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e se um deles é honrado, com ele todos se regozijam. Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo.”

1 Coríntios 12:29: “Porventura são todos apóstolos? Ou todos profetas? São todos mestres? Ou operadores de milagres?

COMENTÁRIOS INICIAIS

Essa análise do apóstolo Paulo sobre igreja é uma belezura. Ele foi muito feliz ao compará-la com o nosso corpo. Imagine que você esteja caminhando numa boa e de repente dê uma daquelas topadas maravilhosas numa pedrinha, machuque seu dedinho mínimo, aquele que parece sem função, e grite “oh glória!”. Pois é, a dor não se concentrará apenas nele, se espalhará pelo corpo e todo o corpo sofrerá por conta disso. Pois é, a igreja precisa funcionar dessa forma. Se um membro sofre, todos sofremos juntos, já que formamos uma unidade. E mais: cada um de nós tem um dom diferente e precisa ser assim até para garantir o bem estar dessa unidade que é a igreja. Dessa forma, uns cantam, uns ensinam, uns pregam, enfim, há uma diversidade de ministérios, mas o objetivo é um só: a edificação do corpo de Cristo, que é a igreja. Num corpo, todos os membros trabalham, todos são úteis, todos tem uma função específica, assim é a igreja. Cada membro precisa do outro para que tudo funcione direitinho.

CRISTO – A CABEÇA DA IGREJA

O corpo executa aquilo que a cabeça determina. Assim mesmo acontece com a igreja em relação a Cristo, ou seja, a igreja faz aquilo que Cristo determina. É preciso que seja assim (Efésios 1:22,23; Colossenses 1:18). Se a coisa não rola desse jeito, algo está errado e precisa ser repensado. A igreja não manda em Cristo, a igreja não pode determinar uma ação de Deus; é Deus que faz isso em relação a igreja.

MAS AFINAL DE CONTAS, O QUE É A IGREJA?

No momento em que recebe Cristo em seu coração, o novo crente torna-se parte do corpo, que é a igreja.
Na Bíblia, a palavra igreja tem dois sentidos. Algumas vezes, refere-se a todos os salvos do planeta, ou seja, a igreja universal. Outras vezes, refere-se a um grupo específico de crente de determinado lugar, é a igreja local.
É assim: independente de denominação, temos uma única igreja, o corpo espiritual de Cristo, formada por todos os salvos de toda a terra. Essa igreja universal, invisível, é constituída de todos os salvos independente da denominação pela qual optou. Dessa forma, no céu não vai rolar nenhuma divisão denominacional. Além disso, somos todos irmãos em Cristo.

POR QUE PRECISO DE UMA IGREJA?

A igreja é necessária por diversas razões:

1. Para que haja uma organização dos crentes. Ela fornece orientação, aconselhamento e promove a interação entre pessoas diferentes, mas que precisam se aceitar e viver o desafio do convívio. Ela promove comunhão (dê uma lidinha em Atos 10:25) e num ambiente de comunhão, aprendemos, trocamos, crescemos. Esse papo de igreja em casa não existe. Igreja é lugar de comunhão, de troca, um ajuda o outro. Precisa ser assim. Do contrário, perderá parte da razão de existir.

2. Para promover o ensino doutrinário e o consequente amadurecimento espiritual. Precisamos conhecer as bases da nossa fé e precisamos ter argumentos para defendê-las e isso é função da igreja. Aliás, é isso que estamos fazendo através desta apostila e das aulas presenciais aos domingos pela manhã.

3. Promover a adoração a Deus, pois Ele deseja e exige de nós um louvor constante. Essa adoração pode ser individual ou coletiva. O fato é que o culto coletivo, com cânticos de louvor, adoração e pregação da palavra contribui para o nosso crescimento, além de promover comunhão entre os adoradores. Aqui é interessante deixar registrado que adoração a Deus é um ato permanente, o que significa dizer que não pode se limitar ao momento de culto na igreja. Isso significa dizer que o nosso culto é permanente, chegamos à igreja adorando e vamos embora adorando e deve ser assim toda a nossa semana. Adoramos ao nosso Deus também através do nosso testemunho.

4. Dar oportunidade das pessoas trabalharem para o Senhor, exercitando os dons concedidos por Deus. Na igreja, podemos trabalhar juntos com outras pessoas diferentes, porém em busca de um objetivo comum: a edificação do corpo de Cristo.

Nossa associação a um grupo cristão ajuda-nos a amadurecer. Na igreja, o novo crente tem contato com crentes mais amadurecidos, que podem ajudá-lo, orientá-lo e juntos buscarem as melhores soluções .

A IGREJA COMO SAL E LUZ


O brilho da igreja reflete a luz de Jesus (João 8:12). Como luz, a igreja precisa brilhar sempre para dissipar as trevas do pecado. Como sal, precisa ter uma mensagem que conserve e dê sabor à vida do homem. A igreja precisa também promover a justiça, lutar contra as desigualdades. Para isso, ela não deve, nem pode envolver-se com política partidária, pois não é seu papel.


VAMOS REFLETIR UM POUQUINHO

Se a igreja é sal e luz, se há tantas igrejas em Unamar e se cada uma cumpre sua missão, então os índices de violência, inclusive doméstica, precisam ser menores ainda do que são; as escolas não podem registrar problemas graves de disciplina; os atendimentos nos serviços públicos precisam ser de boa qualidade; o número de caloteiros (seres humanos que compram coisas de outros seres humanos e entendem que foi uma doação) no comércio local precisa ser bem reduzido, pois são tarefas da igreja, entre outras, promover transformações sociais, alterar os costumes da comunidade em que está inserida, ser percebida no comportamento e nas atitudes dos seus membros. Se as coisas não estão fluindo nessa direção, precisamos rever nossos conceitos de igreja, de povo de Deus.
Talvez não estejamos percebendo aquilo que estamos fazendo. Talvez nos declaremos contra o uso de palavrões, mas estejamos usando palavrões, achando que tudo bem, afinal de contas, todo mundo usa, inclusive alguns irmãos, então eu também posso usar; além disso, segundo a mídia, “nossa regra de fé e prática”, alguns palavrões já não são palavrões, como, por exemplo... Ah, acharam que eu ia citar aqui, né? Não vou, tenho certeza de que alguns de vocês seriam capazes de citar alguns exemplos. Talvez nos declaremos contra as desigualdades sociais, mas estejamos explorando nossos funcionários. Talvez nos declaremos contra a corrupção, contra a desonestidade, mas estejamos enganando e desrespeitando nossos patrões, nossos professores. Talvez estejamos falando de direitos humanos e ao mesmo tempo espancando nossos filhos, e atendendo mal nossos semelhantes no comércio ou no serviço público em que trabalhamos.
Nos Estados Unidos, um país cristão de maioria evangélica, a maior parte da população declara-se contra o uso de drogas. No entanto, aquele país é o maior “aspirador de pó” da humanidade. Oxente, se um país de maioria evangélica que se declara contra o uso de drogas é o maior consumidor de drogas do planeta, algo está muitíssimo errado. Não podemos reproduzir isso em nossas igrejas. Não podemos achar normal uma distância tão grande entre nosso discurso e os números, afinal de contas, somos igreja, fazemos parte do corpo de Cristo.

Lição 02 - 02/08/09

PARA ONDE CAMINHA A IGREJA?
(Isac Machado de Moura)
Igrejas,
Projetos,
Comunidades,
Dogmas,
Doutrinas,
Tradições,
Costumes,
Pessoas.
O que representam as pessoas?
Prioridade?
Estatística?
Números apenas?
As pessoas têm fé,
Têm família,
Têm estômago.
As pessoas são vítimas de desigualdades.
E a igreja nisso tudo?
Amém?
Sermão, boa música e tudo bem?
Resolve tudo a oração?
Para onde caminha a igreja?
Em que direção vamos?
A igreja somos homens,
Mulheres,
Crianças,
A igreja é esperança.
Evangelho social,
Teologia da libertação,
Pode ser uma boa direção.
O estômago primeiro,
Depois o evangelho,
Ou nada fará sentido.
Que momento é esse do Cristianismo,
Em que ignora-se o socialista “pão e peixe para todos”
E valoriza-se o capitalista
“farinha pouca, meu pirão primeiro”?
E os líderes,
O que fazem, de fato, pelo seu povo,
Pelas suas ovelhas,
Além de negociarem seus votos,
De fecharem acordos,
De se beneficiarem,
Alegando visão e audição apuradas,
Sobrenaturais até?
Estou farto.
Apesar de tudo isso,
Ainda existem líderes
Que a exemplo de Francisco de Assis,
Embora sem o extremo voto de pobreza,
Entendem que suas necessidades,
E apenas elas,
Precisam ser atendidas,
E dispensam o luxo,
E esquecem de si próprios
E vivem pelo seu povo;
Aqueles, que a exemplo de Cristo,
Se dispõem a dar a vida
Por suas ovelhas;
Aqueles, que assim como Luther King
(um norte-americano do bem),
leva seu povo a entender
que as diferenças existem
e devem ser respeitadas
e que as desigualdades, essas sim,
precisam ser exterminadas,
e que pior que a maldade dos maus
é o silêncio dos bons;
líderes que entendem
que o mais importante
não é a denominação,
mas os princípios universais
de amor ao outro
estabelecidos por Cristo;
que todos fazemos parte de uma teia,
que todos somos gente,
e que, conseqüentemente, temos falhas.
Gosto de líderes povo,
De líderes gente,
Que embora austeros,
Não são autoritários,
Dos que diferenciam autoridade de autoritarismo,
Dos que dominam a si mesmos.
Gosto de Luther King,
Que embora chamado para o sacerdócio,
Não deixou de lado as lutas sociais do seu povo,
Ou, que embora lutador das causas sociais,
Não renunciou ao sacerdócio;
Gosto de João Paulo II,
Que embora conservador,
Conquistou uma geração de católicos e não-católicos;
Gosto de líderes que mudam,
Que são “metamorfoses ambulantes”,
Que reconhecem quando erram e se desculpam,
Que não negociam a fé,
Nem a sua, nem a dos outros;
Gosto de líderes que falham.

O APÓSTOLO PAULO E SEUS “SANTOS”

Na página 23 do seu livro “Igrejas? Tô Fora!”, escreve o pastor Ricardo Agreste: “...Paulo sempre começa suas cartas referindo-se aos cristãos destas igrejas como ‘santos’. Como ele poderia chamar de ‘santos’ grupos formados por pessoas tão problemáticas e que carregavam em seus currículos erros e pecados tão grotescos? Como poderia ele considerar como ‘santos’ gente tão confusa e cheia de pendências na vida? A resposta está na expressão que normalmente Paulo usa após o adjetivo ‘santos’. Constantemente ele chama os cristãos de ‘santos em Cristo Jesus’. Esta simples expressão revela um grande segredo para compreendermos o que é a igreja” e para onde ela caminha, acrescento eu.

No mesmo livro, o autor conta um episódio em que um certo preletor após ouvir vários depoimentos sobre igrejas, declara: “Sabem, a cada dia que se passa mais me convenço de quão bíblica é a minha comunidade local. Observando as pessoas que se reúnem domingo após domingo e conhecendo suas histórias de segunda a sábado, identifico inúmeros pontos em comum com as igrejas locais descritas nas páginas do Novo Testamento. Em minha comunidade, temos alguns imorais, vários idólatras, um punhado de adúlteros e até mesmo homossexuais. Caluniadores e trapaceiros então... já perdi a conta de quantos são.”
Sobre isso escreve também o jornalista e escritor cristão Philip Yancey, em seu livro “A Maravilhosa Graça”: “Rejeitei a igreja durante algum tempo porque encontrei bem pouca graça ali. Voltei porque não descobri graça em nenhum lugar.” Já no livro “Igreja: Por que me Importar?”, diz o mesmo autor: “O processo me ensinou que o segredo para encontrar a igreja certa está dentro de mim. Tem a ver com o meu modo de olhar a igreja”.
Já ouvi algumas pessoas, aqui em Unamar, dizendo que nossa igreja é de elite e que nossos cultos de domingo parecem desfiles de moda. Concordei com tudo, é claro, afinal de contas, me sinto elite por pertencer a uma igreja tão fofa, e quanto ao desfile de modas, além de nunca terem me observado, a situação é a seguinte: as pessoas veem o que querem ver. É assim: quem quiser ver desfile de modas verá desfile de modas, porém quem quiser ver um grupo adorando ao Senhor num culto animado, é isso que verá. Resumindo: nós vemos aquilo que queremos ver.

A IGREJA É ESPERANÇA: 1 Co 6:9-11

Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus.
Assim foram alguns de vocês, mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus.

“O que nos qualifica para estarmos sentados em um banco de uma igreja, certamente, não é nosso currículo anterior. Quem pensa o contrário não compreendeu ainda a essência do Evangelho.” - escreve o pastor Ricardo Agreste, e continua: “Ao estabelecer que o padrão de aceitação para pertencer ao grupo seria a graça, Deus transforma a igreja numa comunidade de gente que traz profundas marcas em seu passado, grandes lutas no presente e a esperança de redenção de suas vidas e histórias no futuro. No entanto, esta esperança não faz deles gente acabada, mas ainda em obras”.

CONCLUSÃO

A igreja, queridos e queridas, não é formada de santos acabados, mas de pessoas que buscam a santidade, santos em Cristo, como escreve Paulo. Ela seria perfeita sem os seres humanos, mas aí perderia sua função. O desafio é convivermos com todas essas pessoas esquisitas, com todos esses ex. Se você criar uma expectativa de encontrar somente pessoas perfeitas na igreja, vai frustrar-se gravemente, até porque você mesmo não é perfeito. E então vai sair em busca de outra igreja. No início, tudo será uma belezura. Dias depois começarão acontecer tudo aquilo que acontecia na outra, e sabe por quê? Porque essa segunda igreja e todas as outras existentes são formadas de pessoas, seres humanos, criaturas imperfeitas e problemáticas, inclusive eu e você.
Se você acha que a igreja primitiva, aquela dos livros de Atos e das epístolas, era perfeita, e tudo se resolvia sem conflitos, você está precisando ler com mais atenção o Novo Testamento, perceber o estresse de Paulo e de outros pastores. Os problemas daquela igreja eram muito parecidos com os da igreja de hoje, e sabe por quê? Porque tanto lá como aqui existiam e existem pessoas, razão da existência da igreja.
Tudo aquilo que menciono no texto de abertura desta lição aconteceu ao longo da história da igreja, respeitadas as proporções. Hoje somos milhões, então os problemas se acentuaram, tornaram-se mais visíveis. Se nós somos a igreja, então podemos responder para onde caminhamos.


Lição 03 - 16/08/09

IGREJA - Transformação e Fragilidade

A igreja é composta de pessoas que resolveram mudar, passar por uma transformação, converter-se, e “deve ser conhecida como uma comunidade que conhece e vive intensamente a graça”.
Sobre isso escreve o pastor Ricardo Agreste: “Nossos erros e pecados para com Deus e para com o nosso próximo formam um montante impagável. Nós, pelas nossas próprias forças e determinação, jamais conseguiríamos ‘pagar’ nossa dívida a fim de sermos tidos como ‘justificados”. Mas, o que Deus fez? Enviou Jesus para com sua vida e morte na cruz, ‘pagar’ nossa dívida. Agora, em nosso prontuário, existe a relação de nossas ofensas, mas todas elas estão cobertas por um carimbo escrito: ‘justificado’”. Isso quer dizer, companheiros e companheiras, que nós que compomos a igreja não somos necessariamente as pessoas mais fofas do mundo.
Escreve ainda o pastor Agreste: “Uma comunidade comprometida com a obra de Deus na vida daqueles que a ela se achegam, deve também ser uma comunidade que ama o bastante para acolher pessoas como elas se encontram, mas que ama demais para permitir que elas continuem se machucando e se ferindo ao longo da vida.”
Ao mesmo tempo que a igreja é um espaço de transformação, se não se fizer um bom trabalho com o novo convertido, teremos pessoas extremamente frágeis que por qualquer razão querem abandonar o grupo.
No livro já citado aqui, o pastor Ricardo Agreste conta uma experiência que retrata bem isso que estou dizendo, ou seja, a fragilidade das pessoas. Num determinado momento abre sua caixa de e-mails e entre os vários ali presentes, um chama sua atenção de maneira especial: “Tratava-se de uma pessoa a quem eu havia dedicado meu tempo por 3 anos seguidos, com encontros quase que semanais. Estava comunicando que deixaria nossa comunidade porque na última semana, havia tentado marcar um horário comigo, mas não teve sucesso. Alegou que precisava de uma igreja onde o pastor fosse mais acessível e estivesse mais disponível. Senti-me um produto de consumo. E pior! Um produto descartável. Mas esta é a cultura que nos envolve nos dias de hoje. Tudo ao nosso redor existe para ser consumido e, quando não tiver mais utilidade, é descartado.” Sem comentários? De jeito nenhum. Com comentários sim. Não pensem os senhores que isso seja uma situação exclusiva do pastor Agreste. Pergunte ao companheiro Luciano se algo assim já não aconteceu com ele. As pessoas não se contentam com um pastor de tempo integral para a igreja como um todo; elas querem um pastor de tempo integral para elas, exclusivamente. Não importam os outros, as prioridades dos outros, as urgências do próprio pastor, importa apenas a prioridade dessas pessoas egocêntricas, em torno das quais o mundo gira. É frustrante demais após 3 anos dedicando tempo e cuidados a uma criatura ter que ouvir dessa mesma criatura que o pastor não tem disponibilidade para ela. Quando nos referimos ao nosso pastor como MEU PASTOR a intenção é boa, denota até um certo carinho, todavia tenhamos cuidado para que não venhamos a acreditar que ele seja nosso mesmo, que precisa estar atento exclusivamente aos nossos problemas, aos nossos pitis. Ele tem toda uma comunidade para pastorear.

CULTURA DE CONSUMO

O sistema capitalista não foi idealizado para que você pense e sim para que você reproduza o próprio sistema, que se submeta a ele e que limite-se a produzir e/ou consumir bens de consumo. Nós que pensamos representamos as falhas desse sistema, ou seja, somos prova de que ele tem falhas, tanto que ousamos pensar quando deveríamos apenas reproduzir.
Essa cultura de consumo “é fruto da sociedade capitalista ocidental em que estamos inseridos e se caracteriza por alguns fatores:
Constante incentivo à aquisição contínua de bens e serviços;
Bens e serviços tornam-se elementos de afirmação da própria identidade;
Indivíduos transformam-se em consumidores, dotados da sensação de poder;
Os meios de comunicação geram necessidades e o fator insaciabilidade.”

A mídia cria em nós, primeiramente, a necessidade de um produto, depois nos apresenta de forma ostensiva esse produto. Ninguém sabia que existiam ácaros até que lançaram o aparelho steriller para eliminar os ácaros. A partir daí, tornou-se fundamental o tal aparelho; como conceber a vida sem ele, com a casa cheia de ácaros?
Hoje, diferente do ensino de Cristo, as pessoas estão usando as pessoas e amando as coisas. Vivemos a busca do ter em detrimento do ser. “O que determina quem nós somos não é o caráter ou o conteúdo interior, mas a roupa que usamos, o lugar onde moramos, o carro que temos e o lugar onde passamos as férias”, lembra o pastor Ricardo Agreste, e acrescenta: “Passamos então a nos aproximar do outro, não pelo que ele é, mas pelo que ele pode nos oferecer. Obtemos o máximo que podemos e, quando percebemos que ele esgotou-se como fonte de benefícios, desviamos nossa atenção para a próxima vítima. Hoje em dia, isso acontece nas amizades, nas sociedades, nos casamentos e na relação com igrejas.” Você já sentiu-se usado em algum momento de sua vida por um irmão em Cristo ou pela própria igreja?
É claro que somos consumidores em potencial, uma vez que precisamos atender nossas necessidades, mas o que estou questionando aqui é a insaciabilidade, é o caso de nunca estarmos satisfeitos com o que temos, ou mais ainda, nunca nos saciarmos. Conseguimos, hoje, comprar um determinado bem de consumo e já estamos sentindo a necessidade do próximo bem, e enquanto ele não chegar, estaremos ansiosos, ou pior ainda, infelizes.
E aí mais uma vez, cito o pastor Agreste: “Algumas igrejas encarnam o papel de prestadoras de serviços religiosos, no qual o produto principal é Jesus, seus pastores transformam-se em grandes gerentes de vendas e o grande apelo é a promessa que este produto em sua vida lhe oferecerá o sucesso profissional esperado, a felicidade afetiva almejada e a dissolução de qualquer tipo de problema que envolva sua vida.” É o que oferece a teologia da prosperidade com sua visão capitalista espiritualizada: junte-se a nós e seus problemas se acabarão de imediato, você pode barganhar com Deus, negociar com Ele, lembrar a ele que você está fazendo a sua parte e que Ele, portanto, tem a obrigação de fazer a dele, como ouvi outro dia num programa de rádio de um desses pastores eletrônicos. Assim mesmo, com essas palavras, fiquei chocado. Esse é o cristianismo capitalista da pós-modernidade, onde Deus tornou-se uma espécie de funcionário com obrigações a cumprir, de forma que não frustre as pessoas para que estas não abandonem a igreja. E diga-se de passagem, essas criaturas abandonarão mesmo a igreja diante da primeira negativa da divindade, diante do primeiro silêncio. E a culpa disso será da igreja intermediária, portanto, mais uma vez, hora de mudar de igreja. Nesse caso, o evangelho passa a ser também um produto de consumo, com retorno garantido, segundo a propaganda enganosa promovida pelos teólogos da prosperidade e seus seguidores (conscientes ou não).
No Congresso do Haggai desse ano (2009), o pastor Ed René citou uma experiência terrível da horrorosa teologia da prosperidade. Segundo ele, um pastor amigo, em férias, visitou uma determinada igreja onde o seu pastor iniciara o sermão daquela noite dizendo que ensinaria os ouvintes a orarem de acordo com a parábola do Filho Pródigo. O pastor visitante achou o maior barato e até imaginou que o pregador falaria sobre a oração de contrição feita pelo garoto que voltava: “pai, pequei contra ti, já não sou digno de ser chamado de teu filho.” Que nada, estava enganado o visitante. O foco da mensagem foi: “Você precisa orar com autoridade e com ousadia. Ponha o dedo na cara de Deus e diga: pai, dá-me o que é meu.” Ou seja, na visão do tal pregador, nada de contrição, nada de pedir com carinho; o lance é “ousar”, é dizer para Deus que Ele tem obrigações para conosco. Como assim? Que evangelho é esse, onde nem Deus escapa do papel de algo a ser consumido? E o outro pregador eletrônico, que também nessa paranóia de pedir com ousadia, orou assim: “Deus, se eu tivesse pedido isso ao diabo, ele já teria me dado, mas insisto em te pedir porque sou teu servo...” Servo? Com essa postura? Ter ousadia é barganhar com Deus dessa forma insana? Algo está errado, queridos e queridas, e nós não podemos reproduzir nem compactuar com essas loucuras.


Lição 04 - 23/08/09

Como as pessoas escolhem uma igreja no Cristianismo Capitalista da pós-modernidade?

Antes de tecer qualquer comentário, vou transcrever parte da página 47 do livro “Igreja? Tô Fora!”, do pastor Ricardo Agreste, já citado nas lições anteriores: “Imagine um casal de consumidores à procura de uma igreja em sua cidade. Eles passam dois a três meses visitando, domingo após domingo, diferentes igrejas. Em cada uma delas eles pegam o boletim, juntam todos os folders disponíveis, tomam notas de pontos favoráveis e contrários, fazem uma breve entrevista com o pastor e, em alguns casos, discretamente, tiram algumas fotos com a câmera do celular do espaço em que seus filhos vão ficar por uma hora na semana, do lobby onde o cafezinho é servido, etc.
Reunidas todas as informações necessárias, o casal se reúne para a avaliação final. A mulher, então pega um dos folders sobre a mesa e diz:
Eu gostei desta igreja! Eles têm uma liturgia bem quentinha, tive uma média de 2 a 3 arrepios por música e a pregação é razoável, o problema é que o projeto de educação infantil é bem fraquinho. Além disso, temos que deixar o carro na rua. ...
O marido então alcança um outro boletim e diz:
Bem, se a questão é educação infantil, esta igreja aqui é nota 9. Você se lembra? O pessoal tava todo uniformizado e o material era impresso em papel marché. No entanto, a liturgia é bem tradicional. A única chance de você ter arrepios é por causa da frieza do dirigente litúrgico ou do ar condicionado nas costas. A pregação então! Nada mau para a soneca de domingo. Ah! Mas eles têm estacionamento!”

Penso que é bem por aí o processo de escolha de uma nova igreja, especialmente no nosso caso aqui em Unamar, onde quase todos somos forasteiros. Vou tentar “adivinhar” o que aconteceu com cada um: mudamos, e imediatamente começamos a visitar as igrejas daqui, em uma não gostamos do tradicionalismo, em outra não gostamos da pregação, em outra, do espaço; em outra, do ministério infantil e por aí vai. Chegamos a Igreja Batista Luciânica (PIB-Unamar), gostamos dela, conversamos com o companheiro pastor e nos instalamos por aqui. Alguns de nós achamos de imediato que poderíamos sugerir a execução aqui de algumas práticas de nossas ex-igrejas, como se todas as igrejas fossem iguais e como se tudo o que deu certo naquela de onde venho tivesse que dar certo aqui também. Mais que isso, de repente, achamos que as igrejas da capital estão mais evoluídas que as do interior e quisemos dar nossa contribuição a esta nova igreja do segundo distrito de Cabo Frio. Alguns de nós ainda nos referimos a ex-igreja como nossa igreja e ao nosso ex-pastor como meu pastor. Alguns de nós estamos aqui, mas ainda estamos lá.
Queridos e queridas, Unamar é a nossa realidade do momento. A Primeira Igreja Batista de Unamar é a nossa igreja do momento e um certo botafoguense chamado Luciano é o nosso pastor do momento. Esse é o nosso presente. Você pode e deve ter todo o carinho desta vida com sua ex-igreja e com o seu ex-pastor, mas ambos estão no passado. O seu presente é PIB Unamar e Luciano.

Voltando ao livro do pastor Agreste, ele reproduz uma carta que também reproduzo a seguir (partes dela) em que um visitante analisa sua igreja:
“Caro reverendo, estive visitando sua igreja no último domingo e decidi dar-lhe um retorno com as minhas impressões. Primeiramente, parabéns pelo nível de pregação encontrado em sua igreja. Pode-se perceber o zelo no preparo e ousadia na comunicação. No entanto, confesso que me senti um tanto quanto desconfortável com sua vestimenta e linguagem informal. Creio que a comunicação das Sagradas Escrituras exige um pouco mais de reverência. Também gostei muito das dependências e do ambiente interno. Tudo razoavelmente sinalizado e a harmonia das cores é louvável. Sugiro apenas maior cuidado na temperatura ambiente. Sentei primeiramente em um local onde um vento gelado vinha sobre minha cabeça. Preocupado em não resfriar-me, mudei de local e passei a transpirar de calor.
Fiquei com algumas inquietações que, quando possível, gostaria de ter um momento para conversarmos um pouco mais a respeito. Dentre outras coisas, destaco duas:
Primeiramente, eu teria sérias dificuldades em contribuir financeiramente com uma igreja que investe parte de seus recursos para transmitir um culto pela internet ou para ajudar no início de outras igrejas em cidades distantes. Que benefício direto este tipo de investimento traz ao contribuinte?
Em segundo lugar, por que sua igreja não privilegia as grandes composições do passado? Por que insistem em músicas de estilo brasileiro, uma cultura notoriamente contaminada pelo pecado? Confesso que, para mim, seria uma combinação perfeita sua pregação envolvida pelas clássicas canções cristãs que marcaram tantas gerações do passado.”

Texto Bíblico para contrastar com a preocupação do companheiro acima em relação ao culto: RM 12:1,2

“ ROGO-VOS, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.

E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”

Bem, a recomendação de Paulo é para que nos aproximemos de Deus e de uma comunidade cristã, de uma igreja local com o objetivo de mais servir ou oferecer do que de receber. E aí, não tem jeito, tenho que parafrasear a frase de um líder político norte-americano (ou inglês?): “não pergunte o que a igreja pode fazer por você, mas o que você pode fazer pela igreja”.

A IGREJA COMO REFÉM DA CULTURA

Escreve o pastor Ricardo Agreste: “Igrejas que se deixam fazer reféns da cultura de consumo têm se tornado espaço no qual pessoas se aproximam para, simplesmente, serem servidas. Assim como entram e se assentam em restaurantes ou cinemas da cidade, elas adentram e se assentam também nestas igrejas. A expectativa delas é serem servidas com um bom espetáculo (louvor e pregação) e terem seus desejos atendidos prontamente (oração). Elas veem a si mesmas como clientes e a igreja como um balcão de prestação de serviços religiosos, comprometida em alimentar seu egocentrismo.”
Se alguém vier com um papo furado desse pra você, se queixando dos “serviços prestados” pela nossa igreja, não alimente isso de jeito nenhum, defenda sua igreja, seus líderes, sua comunidade. Algumas pessoas criticam tudo, todavia nada apresentam de sugestões, só querem criticar, não dê confiança a essa gente, não contribua com seus comentários. Mesmo que critiquem o nosso material de EBD, mesmo que tenham razão nisso, me defenda, por favor, diga que sou um cabra esforçado e bem intencionado, apesar de esquisito, peça para que o crítico me procure e me apresente sugestões, diga que sou um sujeito conversável. Enfim, vamos criar o hábito de nos defender e não de contribuir com os críticos inveterados sem sugestões de melhorias. Se criticarem o pastor, diga que apesar de botafoguense, apesar de macaense, ele é um cara do bem.

Lição 05 - 30/08/09

A liderança da igreja pós-moderna

Mateus 7:15-23

Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.
Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?
Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus.
Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons.
Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo.
Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.

Hebreus 13:17

Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.

Atos 17:10-11

E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus.
Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.

“Proliferam-se os nomes de pastores, bispos e apóstolos envolvidos nos mais variados tipos de escândalos, alimentando sentimentos de resistência no coração daqueles que escutam ou testemunham tais acontecimentos. Do amigo de trabalho que conta acerca de um pastor que fugiu com a secretária, à mídia televisiva que noticia a prisão de um apóstolo brasileiro, tudo contribui para a associação da imagem de líderes de igrejas com a de charlatões e aproveitadores da pior espécie.
Infelizmente, não são poucos os casos manifestando a falta de caráter destes supostos pastores, bispos ou apóstolos e, por isso mesmo, não podemos desconsiderar o sentimento de resistência que existe no coração de muitas pessoas que não querem se aproximar de uma igreja local por esta razão.”

OS FALSOS PROFETAS

“Falsos profetas se parecem com pastores, mas na verdade são tosquiadores de ovelhas. Eles se parecem com bispos realmente interessados no cuidado das ovelhas, mas na verdade contabilizam o valor que ganharão com o abate de cada uma delas. Eles parecem apóstolos comprometidos com o progresso da igreja de Jesus, mas na verdade são empresários tocando seus próprios negócios e enriquecendo com o dinheiro de pessoas ingênuas. Mas uma coisa todos eles têm em comum, usam o carisma para com as massas e escondem o caráter na ausência de relacionamentos.”

“Falsos profetas podem falar e agir de uma forma tão perfeita que passam por ovelhas em situações em que até o próprio profeta talvez não conseguiria passar.
Sua interpretação é tão envolvente que, na cabeça de seus seguidores, sua imagem pessoal chega a se confundir com a própria imagem de Deus.
Muitos se deixam fascinar pela habilidade que alguns pastores, bispos e apóstolos alegam ter de manipulação do sobrenatural. Eles impressionam com suas profecias que mais parecem com jogo de búzios ou leitura de horóscopo. Eles ainda evocam autoridade espiritual e legitimam a submissão cega das pessoas com o currículo que possuem de expulsão de demônios e realização de milagres. Assim, gradativamente, pessoas ingênuas passam a confidenciar suas vidas e colocar o rumo das mesmas inteiramente nas mãos destas pessoas.
Segundo Jesus, discursos religiosos ou feitos extraordinários não devem ser tidos como elementos legitimadores de uma liderança cristã. O que deve legitimar a vida de uma pessoa que ocupa uma posição de autoridade numa comunidade cristã não é o carisma, mas o caráter.”

1 Tm 3

1. ESTA é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja.
2. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar;
3. Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento;
4. Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia
5. (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?);
6. Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.
7. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo.

Segundo o pregador D.L.Moody, “reputação é o que as pessoas pensam ao meu respeito. Caráter é o que eu sou quando ninguém está me olhando.”

CONCLUSÃO

Como vimos nos textos bíblicos, bem como nos comentários do pastor Ricardo Agreste, extraídos do livro já citado, muitas vezes, o povo, em sua ansiedade pela busca de um líder espiritual encontra dificuldades de discernir entre aquele vocacionado por Deus e aquele motivado exclusivamente pela sua ganância.
Também não posso deixar de citar aqui aqueles líderes que embora vocacionados por Deus, num dado momento abrem mão dessa vocação genuína em detrimento de interesses pessoais, de poder, e partem para a política partidária, e se candidatam, e usam o título de pastor como se fizesse parte do seu nome de registro, usando a igreja como trampolim político. E o que é pior, usando textos bíblicos para respaldar suas atitudes e, assim, manipular as massas com mais facilidade. Dentre os versículos mais usados por essa corja, destaco Provérbios 31:8: “Abre a tua boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados.” É claro que essa gente não tem coragem de mencionar o versículo seguinte. Quer dizer, acho até que teriam sim. Quando um sujeito vocacionado abandona sua vocação, envolvido pela popularidade obtida através do seu ministério, quando passa a citar a Bíblia em benefício próprio, manipulando suas palavras descontextualizadas, não dá para esperar dessa pessoa nada que se possa chamar de bom senso. Entendo que pastores são chamados para pastorear e não para legislar ou governar. Fato é que são tantos agindo assim, que chego a achar que eu é que não devo ter entendido direito o que é vocação e o que é se dar bem. O pior de tudo é pensar que eles acham que nós, ovelhas, fazemos nosso papel de ovelhas até mesmo quando o pastor não está sendo pastor. Que Deus tenha misericórdia dessa gente. Eu não tenho.


Lição 06 - 06/09/2009

A Missão da Igreja

“Comunidades cristãs não são lugares de pessoas resolvidas e acabadas, mas de gente que reconhece sua impotência e, por isso, entrega-se à graça de Deus. A igreja torna-se então um ajuntamento de “agraciados”, mas que continuam lutando com suas imperfeições e limitações. São homens e mulheres literalmente ‘em obras”.
Segundo o arcebispo William Temple, “A igreja é a única sociedade cooperativa no mundo, que existe em benefício dos que não são membros.” Para o pastor e teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, “a igreja só é igreja quando o é para os de fora.”

Atos 4:32-34

“E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.
E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça.
Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos.”

A IMAGEM QUE AS PESSOAS TÊM DA IGREJA

Muitas pessoas têm uma imagem negativa da igreja “decorrente da imagem criada em suas infâncias. Não são poucos aqueles que eram levados pelos pais às missas e tinham que permanecer em absoluto silêncio durante um longo e monótono ritual, sem qualquer sentido para a vida real. O cansaço gerado por um ritualismo sem vida e a falta de pertinência do conteúdo gerou certo bloqueio na mente destas pessoas em relação à igreja.”

Uma outra dificuldade em relação à imagem da igreja “está associada à imagem que a pessoa tem daqueles que frequentam igrejas. Nem sempre o amigo de trabalho ou o vizinho que se diz cristão é uma grande inspiração para a pessoa pensar na possibilidade de frequentar uma igreja. Muitas vezes estas pessoas se mostram sempre sisudas, avessas ao desenvolvimento de relacionamentos com os amigos de trabalho ou com os vizinhos, seus hábitos e costumes são bem legalistas e suas palavras soam sempre com dureza no julgamento de outros e arrogância no trato de si mesmo e de seus próprios posicionamentos.”

“A terceira e última fonte diz respeito à imagem gerada pela mídia ao mostrar reuniões onde pessoas estão sempre envolvidas por uma espécie de êxtase coletivo, demônios são entrevistados diariamente, gente simples é visivelmente manipulada em seu desespero por ajuda divina e o dinheiro é exigido como sinal de fé daquele que busca uma determinada bênção. Paralelamente a tudo isso, os escândalos envolvendo problemas sexuais com os líderes, e financeiros com as suas instituições agravam esta imagem.”

LITURGIA E LINGUAGEM

“Na sua versão histórica tradicional, inúmeros elementos litúrgicos parecem ser comuns apenas aos iniciados. Eles se levantam no momento exato para cantar o hino, eles se assentam assim que o mesmo termina. Voltam a se levantar para a leitura bíblica, se assentam novamente. Ficam em pé outra vez para a oração e são convidados para se assentarem novamente. Isso sem falar na linguagem não usual dos hinos cantados e da exposição das Escrituras. Tudo parece completamente deslocado da cultura em que todos vivem de segunda a sexta.”

“Na sua versão pop contemporânea, o desgaste físico e emocional vai além do senta-levanta e da linguagem pouco usual. Assim que o primeiro acorde da guitarra é dado, todos ficam em pé e durante 50 minutos (no mínimo) cantam, levantam os braços, dançam, se abraçam, choram, sorriem, oram juntos, entre as coisas mais simples. A linguagem dos cânticos e da exposição bíblica é encharcada de imagens de guerra. Fala-se em batalha, em vitória, em armadilha, em confronto, etc. Mais uma vez a pessoa se depara com um mundo completamente diferente da sua realidade.”

A LINGUAGEM TÉCNICA DE NOSSAS CRENÇAS “ESQUISITAS”

“Você já se colocou no lugar de alguém que nunca pisou numa igreja e precisa acompanhar um dirigente litúrgico? Em reverência ao Senhor, vamos fechar os nossos olhos e curvar nossas frontes. Após alguns instantes de silêncio o irmão Egídio nos conduzirá à presença do trono de nosso Deus, através de uma oração de contrição. Agora, olhe para a pessoa que está de seu lado e diga: Eu te amo no Senhor. Abrace esta pessoa. Se sentir-se à vontade, dedique-lhe um ósculo santo. Em seguida, a irmã Benedita irá nos elevar aos céus com uma oração de intercessão.”

“E este negócio de eternidade, dá pra acreditar? E que para termos a vida eterna o próprio Deus se fez homem e entrou na história, dá? E que Deus se fez homem no ventre de uma jovem mulher que jamais havia feito sexo em sua vida? E que depois de viver sua vida e anunciar seus ensinamentos, Deus foi morto numa cruz entre dois ladrões, dá? Agora se segura, e se eu te disser que depois de três dias em um sepulcro ele ressuscitou?”
Queridos e queridas, fofos e fofas, nós precisamos ser tolerantes com aqueles que estão de fora. Aliás, são eles o alvo de nossa missão enquanto igreja.
Nos grupos de vida, estudamos diversas religiões com o objetivo de entendermos melhor a crença de nossos vizinhos, de nossos amigos não evangélicos, bem como com intenção evangelizadora. Você deve achar muito estranho, por exemplo, que Maomé tenha subido para o céu montado em seu cavalo branco. Pois bem, agora tente pensar como um mulçumano. Você não estranhará nossas crenças? Paciência, galera, misericórdia e tolerância para com o nosso próximo que professa uma outra fé. Não somos os únicos do planeta.

CONCLUSÃO

“O evangelho possui barreiras que tão somente o Espírito Santo de Deus pode superá-las, convencendo homens e mulheres acerca da verdade. Neste caso, quem faz a obra não somos nós, mas o Espírito Santo de Deus. Ele é quem ilumina a mente das pessoas para que possam compreender verdades espirituais. Ele é quem abre seus corações para que possam acolher estas verdades em suas vidas.”

DESEJAMOS REALMENTE SER IGREJA?

“Temos consciência de que isso implica em fazermos parte de uma comunidade dinâmica, em constante movimento e sempre voltada para os de fora? Estamos dispostos a vivermos em pleno século XXI a essência do que os reformadores do século XVI defenderam ao declararem: ‘igreja reformada, sempre se reformando’”? Ou fazemos parte daquele grupo que acha, por exemplo, que a igreja deve evangelizar sim os homossexuais, os alcoólatras, as prostitutas, os viciados em geral, mas se escandaliza quando vê alguns deles frequentando os cultos e sendo tratados? Será que esse grupo teria a cara-de-pau de defender a criação de centros de recuperação para que ficassem isolados da santa igreja nesse período, como se a igreja não fosse um centro de recuperação? De onde vimos, companheiros e companheiras, onde estaríamos agora se não tivéssemos sido alcançados pelo evangelho? Não somos frutos da missão evangelizadora da igreja? E então, a igreja não tem que se preocupar com os de fora?


Lição 07 - 13/09/2009

MODELOS DE IGREJA

“... lembrei de pessoas que abandonaram a caminhada, alegando decepção com os frequentadores de igreja, de gente que deixou de freqüentar uma comunidade, porque as coisas não funcionavam como ela pensava ou gostaria. Lembrei com tristeza de homens e mulheres machucados e feridos, que não quiseram mais envolvimento com uma igreja local, depois do sofrimento gerado pela quebra de confiança de um líder. E não foi difícil lembrar, em minha própria experiência como pastor, das pessoas que mandaram avisar que estavam deixando a comunidade cristã porque eu me dedicava demais aos de fora e não valorizava os de dentro”

O pastor Ricardo Agreste apresenta três modelos equivocados de igrejas sobre os quais refletiremos a seguir:

MODELO 1: A IGREJA COMO HOSPITAL OU CASA DE REPOUSO

O foco principal desse modelo de igreja “é combater o mundo hostil que existe do lado de fora de seus muros e proteger seus membros da iminente contaminação gerada pelas novas idéias e posturas.”

1. BASE ECLESIOLÓGICA

“A base sobre a qual este modelo é construído é a tradição religiosa herdada pelos seus membros. Boa parte da estrutura desenvolvida e dos valores orientadores estão relacionados à forma como as coisas vinham sendo feitas pelas gerações anteriores. Assim, fidelidade às Escrituras facilmente se confunde com a manutenção de uma cultura religiosa, desenvolvida no passado, em um tempo em que o mundo ainda era predominantemente rural.”

2. O PASTOR

“O pastor ou líder é visto como uma espécie de capelão. Assim como de um capelão de um hospital não se espera mudanças estruturais na forma de atuação do hospital, não se espera que o pastor promova mudanças, apenas que faça visitas aos membros para confortá-los e encorajá-los diante dos momentos difíceis da vida, e pregue todos os domingos relembrando o celeste porvir e fazendo a assepsia do ambiente contra idéias e atitudes que possam contaminá-lo. Ele não deve fazer uso do sermão dominical para gerar qualquer tipo de desconforto em seus membros.”

3. OS MEMBROS

São pacientes. “Eles não estão na igreja para serem desafiados a saírem da zona de conforto gerada por esta igreja-hospital, e se colocarem em risco no mundo cheio de perigos e epidemias. Eles estão ali para serem servidos e protegidos diante dos inúmeros perigos e problemas da vida. Por isso mesmo, demandam a constante atenção do pastor-capelão e sua presença em toda e qualquer situação de crise ou celebração na história de suas vidas.”

4. RELAÇÃO ENTRE PASTOR E MEMBROS

“Nada é mais importante que a visitação. Na concepção de seus membros, ainda grandemente atrelada à cultura rural, o bom pastor será aquele que visita intensamente suas ovelhas. Ele se faz presente no dia de aniversário de cada membro da família, nos momentos em que alguém se encontra com dor de cabeça ou gripe, ou mesmo no dia que antecede a um exame de sangue ou uma cirurgia.” Sua ausência em qualquer uma dessas situações é imperdoável, uma desconsideração terrível, afinal de contas, ninguém na igreja é mais importante que esse membro, ninguém tem mais problemas que ele.”


5. VISÃO CULTURAL

“Esta igreja enxerga tudo o que acontece no mundo contemporâneo como ofensivo e perigoso. Através de seu ensino, crê que a solução para todas as coisas é o retorno da sociedade aos valores da cultura dos séculos XVI a XVIII, e confunde facilmente sua defesa dos princípios e valores bíblicos com costumes e opções culturais do passado.”

6. ESTILO MUSICAL

“O estilo musical destas igrejas é grandemente marcado pela tradição dos corais, das togas, dos hinos e dos órgãos de tubo. A expressão bíblica de adoração comunitária se confunde com a expressão da cultura anglo-saxônica, igreja-mãe dos missionários enviados para o contexto brasileiro. Visitantes sentem-se, na melhor das opções, numa viagem no tempo e no espaço. No entanto, pouco entendem a linguagem e os rituais por não serem ‘iniciados’”.

7. SUCESSO

“Como consequência direta de toda essa dinâmica de expectativas por parte dos membros e de serviços prestados por parte do pastor, o sucesso deste modelo se encontra na sensação de bem-estar e conforto entre seus membros.... A possibilidade de sentarem-se no mesmo lugar todos os domingos e a garantia de que novas e ameaçadoras idéias não adentrarão pelas portas da comunidade contribuem grandemente com a sensação de bem-estar.”

8. CRESCIMENTO

“A idéia de crescimento está vinculada ao nascimento de filhos daqueles que já pertenciam à igreja. O grande sonho dos pais, bem como o pesadelo, é a manutenção destas crianças na igreja após o período de adolescência e contato com a universidade. O número daqueles que permanecem na igreja é baixo e, muitos dos que permanecem adotam uma postura meramente religiosa, enquanto seus corações estão completamente secularizados.”

9. DISCIPLINA

“Tendo em vista a importância do bem-estar neste modelo de comunidade, nada pode ser considerado como mais ofensivo do que um pecado que se torna público e ameaça a reputação da igreja-hospital. A vergonha sentida pelos membros e a sensação de ter sua reputação manchada na cidade ou região, faz com que a igreja transforme o processo de disciplina num momento de vingança. Por isso, dificilmente a disciplina neste contexto leva à restauração, mas sim à morte. A disciplina se confunde com uma eutanásia.”

10. PALAVRA-CHAVE

“A palavra que melhor define este modelo é “manutenção”. Manutenção das estruturas, dos estilos musicais, do perfil social, das programações semanais, das comemorações anuais, do modelo de liderança, etc.. Toda e qualquer mudança será sempre vista como uma ameaça, e o desconforto gerado pela mesma será sempre considerado como grande demais e vinculado à infidelidade para com a tradição herdada” (TRADIÇÃO – Fé viva de pessoas que já morreram. TRADICIONALISMO - Fé morta dos que ainda vivem).


Lição 08 - 20/09/09

MODELO 2: A IGREJA COMO UMA “PEQUENA EMPRESA” OU COMO “BALCÃO DE SERVIÇOS.”


“A segunda tendência é formada por igrejas que nascem e crescem rapidamente em um contexto de transição e confusão. Enquanto o Brasil, nas décadas de 60 a 90, vive uma rápida transição do mundo rural para o urbano, e a sociedade é impactada pela emergente cultura pós-moderna, duas coisas acontecem. Primeiramente, as igrejas históricas não conseguem identificar estas mudanças e perdem o contato com a cultura. Em segundo lugar, novos movimentos surgem com maior proximidade da cultura, mas pouco compromisso com uma reflexão bíblico-teológica saudável. Destes movimentos, nascem igrejas grandemente estruturadas em torno dos valores de nossa sociedade de consumo.”


BASE ECLESIOLÓGICA

“A base sobre a qual este modelo é construído são os valores culturais predominantes da sociedade urbana, ocidental e capitalista. Desenvolvidas em um período de rápidas mudanças culturais, sem grande profundidade de reflexão teológica e orientada por resultados, estas igrejas acabam por estabelecer como pilares centrais de sua construção eclesiológica categorias do mercado de consumo. A igreja é transformada numa empresa que deve ser gerenciada visando o aumento dos clientes (membresia) e do lucro (contribuição).”


PASTOR


“Neste modelo o pastor ou líder é uma espécie de gerente. Ele é considerado como o homem da visão, sempre envolvido em grandes projetos, com grande capacidade de articulação de idéias e enorme poder de mobilização de pessoas em torno de seus ideais. Seu carisma pessoal é fundamental no exercício de sua liderança junto à comunidade, e seu desempenho inspira outros a reproduzir seu modelo.”
“Devido às expectativas dos membros-clientes deste modelo, o pastor-gerente precisa constantemente estar gerando impacto. Ele precisa impactar semanalmente com sua pregação, mensalmente com uma programação especial e anualmente com uma nova metodologia de educação infantil, estudos bíblicos nos lares, ministérios internos, campanha evangelística, entre outras possibilidades.”


MEMBROS

“Como não poderia deixar de ser, os membros neste modelo se veem como clientes. Buscam a igreja por terem necessidades e entenderem que aquela igreja possui o melhor conjunto de serviços para sua vida ou família. Domingo após domingo esperam que suas expectativas sejam correspondidas pela banda musical, pela pregação do pastor e pela eficiência das estruturas de apoio do culto. Ao primeiro sinal de degradação nos serviços prestados, os crentes já passam a planejar a visita a um novo prestador de serviços religiosos da cidade.”

RELAÇÃO ENTRE PASTOR E MEMBROS

“O espaço no qual o pastor se relaciona com os membros de sua comunidade neste modelo, é no que chamo de ‘culto-evento’. A ausência do pastor nas mais variadas relações do dia-a-dia da sua comunidade contribui para o aumento da mística em torno de sua pessoa. Por isso, enquanto o pastor executa seu desempenho dominical, os membros se alimentam de suas palavras que culminam com o momento final onde acontece a grande oração de poder. Ao longo da semana, ninguém terá acesso ao pastor.”

VISÃO DA CULTURA

“Possui uma visão utilitarista e acrílica da cultura. Tudo o que puder ser usado para obtenção de resultados numéricos torna-se justificável. A utilização de determinados elementos culturais faz com que, em alguns casos, o produto final seja um sincretismo religioso no qual o Evangelho é diluído e perde sua identidade.”


ESTILO MUSICAL

“O estilo musical destas igrejas é grandemente marcado pela cultura pop-gospel norte-americana dos anos 80 e 90, com suas bandas e solistas. Todo o processo musical é preparado para gerar um momento no qual se experimente todo tipo de emoções. De arrepios a lágrimas, de quebrantamento a risos, tudo se faz presente enquanto as músicas são tocadas, a grande congregação canta e os corpos se movimentam.”


SUCESSO


“O referencial de sucesso deste modelo, é numérico. Tanto o aumento da membresia, como o aumento da contribuição financeira são vistos como sinalização de sucesso. Esta numerolatria leva estas igrejas a confundirem missão com expansão dos negócios corporativos, e leva as mesmas a pragmatismos estratégicos altamente danosos ao Evangelho.”


CRESCIMENTO

“A principal fonte de crescimento destas igrejas se dá através da transferência de crentes insatisfeitos das “Comunidades Convencionais.” Logo, estas igrejas crescem (ou incham) apostando tanto no poder de sedução de seus programas como na infidelidade dos crentes para com suas igrejas de origem. Seus cultos são tomados muito mais pelos movimentos migratórios entre igrejas do que por pessoas que se interessam e se rendem ao Evangelho de Cristo.
Neste modelo, o processo de reprodução se dá através da venda de franquias dos direitos de utilização das idéias e programas. Todo know-how desenvolvido por uma igreja de sucesso deste modelo é transformado em metodologia, treinamento e consultoria. O anseio por resultados faz com que pastores e igrejas do modelo convencional migrem para debaixo da rede e sejam contabilizados como mais uma igreja.”

DISCIPLINA

“Neste modelo de igreja não há como ter processo de disciplina. Primeiramente, porque o que chamamos de membresia nestas igrejas é, na maioria das vezes, uma relação sem compromissos formais. Em segundo lugar, nas leis do mercado de consumo, o cliente tem maior poder para ditar as regras do que o fornecedor. Em terceiro e último lugar, a mesma infidelidade que moveu o crente de sua igreja de origem para a atual, o levará para outra diante de qualquer situação que o desagrade.”

PALAVRA-CHAVE

“Na construção deste modelo, pastores e igrejas tornam-se reféns das demandas dos crentes-consumidores. Com o passar do tempo, o nível de tolerância para com qualquer insatisfação torna-se significativamente alta. Por isso, a palavra ‘satisfação’ torna-se de grande importância para a compreensão de todos os elementos e dinâmica presentes neste modelo.”


Lição 09 - 27/09/09

MODELO IDEAL DE IGREJA: UMA COMUNIDADE MISSIONAL

“Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos.” (Mt 28:19-20)

“Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.” (At 1:8)

“A igreja emerge na história para ser uma comunidade de discípulos de Cristo, engajados na missão de fazer novos discípulos dEle. O processo deste discipulado envolve duas coisas: Batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o que significa assumir um compromisso formal com a comunidade dos discípulos de Jesus. Ensinar a obedecer tudo o que Jesus ordenou, o que implica em um repensar de princípios e valores orientadores para a vida.
... Logo, igrejas sob a real influência do Espírito Santo são movidas não ao isolamento, mas ao engajamento no mundo, a fim de fazer novos discípulos de Jesus. Este processo se dá em diferentes lugares e culturas, sendo caracterizado pelo rompimento de barreiras, a fim de que a mensagem de Jesus seja ouvida, compreendida e acolhida.”

BASE ECLESIOLÓGICA

“Este modelo é construído sobre os alicerces lançados pela redescoberta da natureza da igreja e seu propósito missional na história. A constatação de que a comunidade local faz parte de um povo escolhido e chamado por Deus para anunciar o Evangelho de Cristo àqueles que se encontram distantes do amor de Deus e de sua obra redentora, determina os elementos e a dinâmica destas igrejas. Sua vitalidade não reside em metodologias ou estratégias, mas na conexão com sua vocação histórica.”

O PASTOR

“O pastor neste modelo é um mentor. Ele possui profunda sensibilidade e consciência para com o fato de que Deus está trabalhando na história, na cultura em que sua comunidade está inserida e na vida de cada membro desta comunidade. Logo, não se dedica à implementação de programas e metodologias desenvolvidas em outros contextos, mas sim à percepção do chamado específico de Deus para sua comunidade no contexto em que esta se encontra.”
“Enquanto mentor, o principal papel do pastor é motivar e equipar pessoas à maturidade cristã e ao engajamento na missão de Deus no mundo. No aspecto comunitário, este pastor, através do ensino formal e informal da Palavra, leva a igreja a descobrir seu chamado específico no contexto histórico e geográfico em que se encontra.”

OS MEMBROS

“Diferentemente dos modelos anteriores, os membros destas igrejas não se veem como alvo do serviço, mas como fonte de serviço. Sua identidade é definida como a de discípulos de Cristo em missão no mundo. A comunidade local é o espaço no qual são incentivados na direção da maturidade em Cristo e equipados para o serviço no contexto da comunidade e da missão no mundo.”

RELAÇÃO ENTRE LÍDER E MEMBROS

“O espaço de maior relação entre o pastor e os membros neste modelo se dá no contexto do ensino da Palavra, seja este um momento individual, em pequenos grupos ou na pregação aos domingos. O ciclo estabelecido entre o ensino da Palavra e os consequentes encontros para lidar com a reação ao mesmo, faz com que esta dinâmica seja relacional, mesmo que nos grupos menores outros sejam os facilitadores do aprendizado.”

VISÃO DA CULTURA

“A cultura é vista como fruto do poder criativo e relacional dado por Deus ao ser humano no ato da criação. Em toda manifestação humana existirá sempre um toque da imagem de Deus. No entanto, uma vez que o pecado afetou toda expressão humana, também encontramos seus sinais na cultura. Por isso, esta igreja relaciona-se de forma crítica para com a cultura, enxergando, na mesma, armadilhas e oportunidades.”

ESTILO MUSICAL

“O estilo musical neste modelo pode combinar diferentes elementos, mas sempre demonstrando grande sensibilidade cultural para com as pessoas para as quais a comunidade é enviada. O fator mais importante aqui não é a preferência dos seus membros, mas o estilo encarnacional desenvolvido a partir da consciência de uma igreja que adora missionariamente a Deus.”

SUCESSO


“O sucesso neste modelo é determinado pela maturidade dos membros. Na medida em que os cristãos alcançam a maturidade cristã, duas coisas acontecem como conseqüência direta disso. Primeiramente, ganham maior consciência de sua vocação e chamado ao serviço na história da salvação. Em segundo lugar, assumem a função de pais espirituais, tornando-se responsáveis pelo cuidado e desenvolvimento dos mais novos na caminhada da fé.”

CRESCIMENTO

“Desta forma, uma vez que cristãos maduros engajam-se na missão e fazem filhos e filhas espirituais, este modelo de igreja certamente apresenta resultados numéricos. No entanto, seu crescimento não se restringe ao número de membros. Na medida em que as pessoas amadurecem, esta comunidade local também cresce no amor a Deus, na beleza do cristianismo vivido, na afetividade de um para com o outro, no serviço aos que sofrem e na consciência profética diante dos elementos anti-reino numa cultura.
Neste modelo, existe a plena consciência de que uma única comunidade jamais poderá manifestar toda a multiforme sabedoria de Deus e alcançar todos os grupos de pessoas de uma cidade ou região. Por isso, seu engajamento no processo efetivo de plantação de novas comunidades missionais é inevitável. Assim, novas igrejas nascem não por causa daqueles que já são membros, mas por causa daqueles que não foram ainda alcançados.”

DISCIPLINA


“A disciplina cristã, sendo um elemento bíblico e presente na história do povo de Deus, tem o seu lugar neste modelo. No entanto, diferentemente do modelo convencional, o objetivo principal da disciplina não é a vingança da igreja local, mas a restauração do discípulo que falhou. O exercício do perdão, associado a processos de suporte e restauração, visa oferecer a oportunidade de retomada da caminhada cristã.”

PALAVRA-CHAVE: MISSÃO

“Enquanto nos modelos anteriores, missão é algo que é feito por alguns em lugares distantes, neste modelo, missão é a razão de ser de toda a comunidade cristã e o chamado de todo discípulo de Cristo. Logo, todos os elementos presentes na vida e na dinâmica destas igrejas, relacionam-se com o engajamento na missão de Deus na história, anunciando o Evangelho com integridade e relevância.”


CONCLUSÃO

“As igrejas que não resgatarem sua missão diaconal terão problemas graves de desenvolvimento. Precisamos atender como prioridade a pessoa que está a nossa frente, seja qual for o seu problema (espiritual, físico ou social). Precisamos atender essa pessoa e resolver esse problema na ordem em que aparecer. Se o cabra estiver endemoninhado, vamos expulsar o demônio; se estiver com fome, vamos alimentá-la; se estiver precisando de emprego, e tivermos a possibilidade de ajudar, vamos ajudar, encaminhar, empregar. Assim deve agir a igreja que compreende sua missão integral.


SITES INTERESSANTES

www.Ibab.com.br (Igreja Batista de Areia Branca – Pastor Ed René)

http://www.chacaraprimavera.org.br/ (Igreja Presbiteriana de Chácara Primavera – SP)

http://www.betania.org.br/

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Igreja? Tô Fora!
Ricardo Agreste
SOCEP Editora

Nosso blog: http://www.ensinopibunamar.blogspot.com/

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