Continuando nossos estudos sobre o Novo Testamento, aqui está o segundo módulo, contendo o livro de Atos e os escritos de Paulo. Embora já tenhamos falado em igreja, a instituição, no evangelho de João, é em Atos que, de fato, ela começa a tomar forma. Assim, diante da formação dessa nova comunidade (a igreja), torna-se necessário produzir uma literatura de orientação, de regulamentação, de apoio, e é nesse contexto que aparecem os escritos paulinos.
Optamos, inicialmente, por uma análise geral das epístolas de Paulo, para somente depois, analisarmos de forma breve cada uma delas.
Para que as coisas fluam numa boa e haja um aprendizado significativo, precisamos que você, companheiro(a) aluno(a), leia cada lição antes do domingo em que ela será trabalhada. Assim, além de entendê-la melhor, você poderá enriquecer a aula com seus questionamentos, com suas contribuições, ajudando, dessa forma, seu professor, sua professora.
E por falar em professores da EBD, quero parabenizar a cada um dos nossos companheiros da PIB-Unamar (já professores ou ainda não) que participaram do nosso II Seminário de Formação Continuada para Professores de EBD, nos dias 05 e 06 de julho, no CIEP 331, em Aquários. Foi muito enriquecedor, uma belezura. Na 1ª edição, tivemos 40 inscritos; nesta segunda, pulamos pra 60. O evento é aberto a todas as denominações. Foi muito fofo. Agora, de agosto a novembro, ministraremos, aqui mesmo na igreja, um curso para professores de EBD (também aberto a todas as denominações e a não professores), com aulas em sábados alternados (a partir de 02 de agosto), sempre das 13 às 16 horas.
A partir de setembro e até o primeiro semestre de 2009, ficaremos sem o nosso companheiro Daniel, que estará estudando e trabalhando fora do estado. Fiquei “mal acostumado” com o companheirismo desse cabra, sentirei muito sua falta nesse período. Aproveito esse espaço para dizer o quanto esse sujeito tem abençoado meu ministério e o quanto tem sido importante para a nossa igreja. Valeu, companheiro, ficaremos ansiosos aguardando seu retorno.
Isac M. Moura
LIÇÃ0 09
O LIVRO DE ATOS
O livro de Atos dos Apóstolos tem como objetivo apresentar um esboço da história da igreja, começando nos primeiros dias, em Jerusalém, até a chegada de Paulo. Ele fornece um quadro da vida e pregação da comunidade primitiva em Jerusalém e registra o avanço do evangelho pelo mundo. Foi escrito por Lucas, companheiro de Paulo, por volta do ano 60.
Na introdução do seu Evangelho, bem como em Atos, ele afirma ter obtido informações daqueles “que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra” (Lc 1:2; At 1:1), e que havia investigado, pessoalmente, os assuntos sobre os quais iria escrever.
A RESSURREIÇÃO DE CRISTO
Os discípulos de Jesus se apegaram firmemente à esperança do breve estabelecimento do Reino de Deus. A morte do Mestre, todavia, abalou todas as suas esperanças (Mc 14:50; Lc 23:49; Jo 20:19). A vinda do Reino fora um sonho perdido, aprisionado no túmulo junto com o corpo de Jesus (Lc 24:21).
Em poucos dias tudo isso mudou... Jesus ressuscitara. E foi a partir desse acontecimento “fantástico” que o Cristianismo começou a dar seus primeiros passos. Assim, a principal função dos apóstolos, na comunidade cristã primitiva, não era liderar ou governar, mas dar testemunho da ressurreição de Jesus (At 4:33; 1:22).
A ressurreição é o tema central dos sermões registrados no início do livro de Atos (3:14,15), e graças a ela é que os apóstolos foram capacitados a realizarem feitos poderosos (4:10). Foi o persistente testemunho da ressurreição que causou a primeira reação oficial da parte dos líderes religiosos judeus contra essa nova “seita” (4:1,2; 5:27,28).
A NATUREZA DA RESSURREIÇÃO
O caráter corpóreo da ressurreição de Cristo é confirmado de várias formas:
Seu corpo ressurreto provocou reações nos sentidos físicos: tato (Mt 28:9; visão e audição (Jo 20:16 – aqui, Maria deve ter reconhecido Jesus pelo tom familiar da sua voz ao pronunciar seu nome);
“...um espírito não tem carne nem ossos, como percebeis que eu tenho” (Lc 24:39). Com base no contexto, essa declaração não sugere uma análise científica da composição do corpo ressurreto de Cristo, mas sim a intenção de provar que ele tinha um corpo real e que não era um espírito desencarnado. A expressão carne e ossos não devem ser interpretadas ao pé da letra, indicando um corpo físico como o nosso.
O Jesus ressurreto foi capaz de comer (Lc 24:42-43). É bom observar, todavia, a força da expressão diante deles, que, no contexto, parece sugerir apenas um sinal de sua ressurreição corpórea e não para indicar que tinha fome normalmente.
É interessante observar que o corpo ressurreto de Jesus possuía poderes novos e maravilhosos, o que significa dizer que não se trata simplesmente de um corpo físico natural; possuía capacidades nunca antes experimentadas sobre a terra. Tinha o surpreendente poder de aparecer e desaparecer (Jo 20: 19,26; Lc 24:31,36,37); portas fechadas já não o limitavam, como observamos nas referências apresentadas.
Quanto ao rolamento da pedra que protegia o túmulo de Jesus (Mt 28:2), pode-se dizer que tal providência foi tomada em função dos discípulos e não de Cristo, cujo corpo, certamente, já havia saído antes da remoção.
CONTEÚDO DO LIVRO
O fato de Lucas desejar escrever um tratado esclarecedor sobre o desenvolvimento do ensino cristão e sobre as missões cristãs implica que ele estava na posse de certo discernimento sobre o seu completo significado. Não era meramente um cronista que, penosamente, registrava no papel áridos acontecimentos. Lucas era um historiador e apresentava os fatos em função da continuidade do tema que lhe interessava, o crescimento da igreja e, particularmente, a transição do Judaísmo para o Cristianismo gentílico, da qual tomou parte ativa, como indica o freqüente uso da 1ª pessoa do plural (nós).
O período cronológico abrangido pelos Atos vai da crucificação de Cristo, em aproximadamente 29 d.C. até o fim da prisão de Paulo em Roma, em aproximadamente 60 d.C.
LIÇÃO 10
A IGREJA NO LIVRO DE ATOS
Jesus e seus discípulos não formaram uma sinagoga separada nem iniciaram um movimento separado com propostas segregacionistas e, apesar dos conflitos com as lideranças judaicas, não cortaram relações com a sinagoga ou com o templo. Seus discípulos promoveram uma comunhão aberta dentro de Israel, cuja única característica era o seu discipulado em relação a Jesus. É claro que como acontece em todas as comunidades humanas, em alguns momentos a situação tornou-se complicada pela não aceitação de práticas judaicas dentro desse grupo, e outras vezes pela exigência desses mesmos rituais judaicos.
O EMBRIÃO DA IGREJA
Depois da morte e da ressurreição de Cristo, esse pequeno grupo de discípulos (cento e vinte), por várias semanas, aparentemente, não fez nada além de esperar em Deus pela direção divina. Durante 40 dias, Jesus apareceu-lhes repetidas vezes, continuando a instruí-los sobre o Reino de Deus (At 1:3). Eles ainda acreditavam que isso significava a restauração da teocracia judaica (1:6), mas Jesus revelou-lhes que Deus tinha um propósito diferente para o presente.
A profecia feita por João Batista de que a vinda do Messias cumpriria a profecia de Joel com relação ao batismo do povo de Deus com o Espírito Santo, em breve teria o seu cumprimento, o que aconteceu no dia de Pentecostes (confira: Jl 2:28-32; Ez 36:22...)
Na realidade, a igreja nasceu no Pentecostes, quando o Espírito Santo foi derramado sobre o pequeno grupo de discípulos judeus de Jesus, constituindo-se o núcleo do corpo de Cristo. Antes do Pentecostes, os discípulos devem ser considerados apenas o embrião da igreja.
A igreja não deve ser vista apenas como uma comunhão humana, resultado de uma fé e de uma experiência religiosa comum, mas como a criação de Deus através do Espírito Santo.
O CULTO NA IGREJA PRIMITIVA
Era marcado por grande simplicidade. Além da adoração, no templo, há também reuniões nos lares cristãos (2:46; 5:42), para o partir do pão e comunhão na refeição. A expressão sugere a mesma prática observada, mais tarde, nas igrejas paulinas: uma refeição comum (ágape), que é associada à Ceia do Senhor (1 Co 11:20,34). Refeições comuns tinham desempenhado um papel importante no ministério de Jesus (Mt 9:10,11; 11:19; Lc 15:1,2; At 1:4) e continuaram a desempenhá-lo na experiência religiosa da igreja primitiva.
Lares forneceram os locais de reunião para atos de adoração cristã diferentes do Judaísmo. No Pentecostes, um grande número de judeus abraçou a fé cristã (2:41; 4:4; 5:14), e não há evidência de que um grupo tão grande pudesse se congregar num único lugar. O padrão, é, na verdade, de muitas pequenas “igrejas-lares”, congregações separadas, vizinhas às sinagogas judaicas. Este também é o modelo das igrejas paulinas, pois, frequentemente, lemos em seus escritos sobre uma igreja que funcionava na casa de alguma pessoa.
OS NOVOS MEMBROS
A igreja primitiva recebia em sua comunhão todos os que aceitassem a proclamação de Jesus como o Messias, se arrependessem e recebessem o batismo em água, sinal visível de admissão e comunhão cristãs. Nenhum intervalo significativo de tempo decorria entre o ato de crer em Jesus e o batismo (2:41; 8:12,36,37; 10:47,48; 9:18; 16:14,15).
Um dos elementos mais admiráveis na vida das igrejas primitivas era o sentido de comunhão (2:42,44,47). Os primeiros cristãos estavam conscientes de estarem unidos uns aos outros, pois estavam todos unidos em Cristo.
A RUPTURA COM A SINAGOGA
A narrativa dos primeiros quinze capítulos de Atos mostra como uma igreja gentílica surgiu, livre da lei.
Os últimos treze capítulos narram como uma ruptura final se desenvolveu entre a igreja e a sinagoga, o que era absolutamente inevitável e previsível.
LIÇÃO 11
O APÓSTOLO PAULO E SEUS ESCRITOS
A mais notável interpretação, no Novo Testamento, do significado da pessoa e do trabalho de Jesus, é a de Paulo, um fariseu convertido, que esteve envolvido em três mundos diferentes: judaico, grego e cristão.
Nasceu na cidade grega de Tarso, mas foi criado em lar judeu, segundo os costumes do judaísmo (Fp 3:5) e se orgulhava de sua ascendência judaica (Rm 9:3; 11:1). Ele declara ter vivido como fariseu em obediência estrita à Lei (Fp 3:6; 2 Co 11:22), e que foi além de muitos de seus contemporâneos no zelo pelas tradições orais dos círculos fariseus (Gl 1:14).
É difícil determinar até onde esse conhecimento variado de Paulo influenciou seu pensamento, mas uma coisa é certa: sua conversão não esvaziou sua mente de todas as idéias religiosas anteriores, substituindo-as por uma teologia já pronta. A sua insistência de que havia sido escolhido antes de nascer para servir a Deus (Gl 1:15) deve conter a verdade de que suas experiências, enquanto criança e jovem, o estavam preparando para preencher sua tarefa de ordem divina.
Como Judeu, Paulo era um monoteísta inflexível (Gl 3:20; Rm 3:30) e rejeitava severamente a religião pagã (Cl 2:8), a idolatria (1 Co 10:14,21) e a imoralidade (Rm 1:26...). Ele mencionava o Velho Testamento como a Sagrada Escritura (Rm 1:2; 4:3), a Palavra de Deus divinamente inspirada (2 Tm 3:16).
O seu método de interpretação do Velho Testamento o coloca na tradição do Judaísmo rabínico. Assim, como rabino judeu, partilhava, inquestionavelmente, da fé judia na centralidade da Lei. Mesmo quando cristão, afirmou que a Lei é espiritual (Rm 7:14), justa e boa (Rm 7:12) e nunca questionou a origem divina e a autoridade da Lei.
A ERA PRESENTE E A ERA VINDOURA NOS ESCRITOS DE PAULO
Paulo não abandonou o esquema judaico das duas eras e do caráter mau da era atual (Gl 1:4). Poderes demoníacos ainda se opõem ao povo de Deus (Ef 6:12...), que ainda está sujeito ao mal físico, à doença (Rm 8:35...) e à morte (Rm 8:10). O mundo físico ainda está no cativeiro da corrupção (Rm 8:21), e o espírito do mundo da sociedade humana, oposto ao Espírito de Deus. O mundo está sob julgamento divino (1 Co 11:32). Os crentes ainda vivem no mundo e fazem uso dele (1 Co 7:31), e não podem evitar a associação com os homens deste mundo (1 Co 5:11).
Sendo Jesus o Messias, ao trazer ao seu povo essa salvação messiânica, algo mudou. Assim, o reino de Cristo já tem que ser uma realidade presente, para dentro da qual foi trazido seu povo, mesmo que o mundo não o possa ver (Cl 1:13)
Paulo faz um contraste entre a morte, que entrou neste mundo através de um homem, e a ressurreição dentre os mortos, que entrou neste mundo através de um homem.
A ressurreição, nos escritos paulinos, acontece em diferentes estágios:
Cristo, as primícias, é o primeiro estágio da ressurreição;
O segundo estágio consistirá daqueles que pertencerão a Cristo na sua vinda (1 Co 15:21-23). A ressurreição de Cristo é o começo da ressurreição como tal, e não um acontecimento isolado; é o começo da esperança escatológica.
O centro da teologia paulina está na justificação pela fé e na experiência mística de se estar em Cristo. Suas epístolas não são tratados teológicos nem produções literárias formais, e sim uma correspondência não-literária, viva, pessoal e escrita com profundos sentimentos às congregações cristãs, em sua maioria, fundadas por ele mesmo.
A VISÃO PAULINA DO MUNDO
Paulo refere-se ao kosmos em vários sentidos:
O universo – a totalidade de tudo o que existe: Rm 1:20; Ef 1:4; 1 Co 3:22; 8:4,5);
A terra habitada, a moradia do homem, o cenário da história (1 Tm 6:7; 1 Co 5:10b; Rm 4:13; 1:8; Cl 1:6; Ef 2:12);
A humanidade, a totalidade da sociedade humana que habita a terra (2 Co 1:12; 4:13; 1:27; Rm 3:19; 3:6; 11:15; 2 Co 5:19).
Ainda hoje se usa, com freqüência, a palavra mundo, muitas vezes no sentido de corrupção da sociedade. Bom, é um fato que em algumas situações não tem muito a ver. Por exemplo: Quando alguém diz que o fulaninho (essa palavra é do Éder) estava ouvindo música do mundo, nós entendemos que ele estava ouvindo música popular, mas de fato não faz muito sentido, pois todas as músicas são do mundo, ou seja, nossos compositores e cantores evangélicos são pessoas deste mundo também. Ou não? Os caras são apenas dotados de um dom especial. Eu não posso dizer, por outro lado, que os artistas populares compõem sob inspiração demoníaca. Eles também têm o mesmo dom. O que muda é o foco, a motivação, o objetivo.
LIÇÃO 12
PODERES ESPIRITUAIS NOS ESCRITOS PAULINOS
O arquiinimigo de Deus é um espírito mau, às vezes, chamado de Diabo (Ef 4:27; 6:11; 1 Tm 3:7), mas geralmente, de Satanás, o príncipe das potestades do ar (Ef 2:2), o deus deste século (2 Co 4:4), cujo objetivo é cegar as mentes dos homens para que eles não apreendam o poder salvador do evangelho. Ele é o tentador, que procura, através da aflição, desviar os crentes do evangelho (1 Ts 3:5), obstruir os servos de Deus em seus ministérios (1 Ts 2:18), e que cria falsos apóstolos com o objetivo de perverterem a verdade do evangelho (2 Co 11:14), que está sempre tentando derrotar o povo de Deus (Ef 6:11,12,16) e que é até mesmo capaz de praticar seus ataques sob a forma de sofrimentos corporais aos servos escolhidos de Deus (2 Co 12:7). O objetivo principal de Satanás é frustrar os propósitos da redenção por parte de Deus e, no fim deste século, o poder satânico estará encarnado num homem de iniqüidade que se empenhará num esforço final em destruir a obra de Deus e em levar os homens à adoração do mal (2 Ts 2:4-10). Contudo, a sentença de Satanás está assegurada: Deus o esmagará sob os pés dos santos (Rm 16:20).
EXPRESSÕES USADAS POR PAULO PARA NOMEAR AS FILEIRAS DE ESPÍRITOS ANGÉLICOS
Potestade ou domínio (1 Co 15:24; Ef 1:21; Cl 2:10);
Potestades e principados (Ef 1:21; Cl 2:10);
Poder: 1 Co 15:24; Ef 1:21;
Poderes: Rm 8:38;
Tronos, soberanias: Cl 1:16;
Dominadores deste mundo tenebroso: Ef 6:12;
Hostes espirituais da iniqüidade nas regiões celestes: Ef 6:12;
Poder das trevas: Cl 1:13;
Todo nome que se nomeia: Ef 1:21;
CONSCIÊNCIA
Além de ter a responsabilidade de cultuar a Deus, o homem também tem a responsabilidade de fazer o bem por causa da consciência. Deus implantou em todos os homens um instinto que lhes dá um senso do que é certo e do que é errado (Rm 2:14,15).
PECADO
A natureza do pecado pode ser observada a partir de um estudo de diversas palavras usadas por Paulo, traduzidas como:
Impiedade (Rm 1:18);
Transgressão (Rm 2:23; 5:14, 15; 4:25);;
Iniqüidade, impureza (Rm 6:19);
Desobediência (Rm 5:19; 2 Co 10:6).
Tanto para os gentios como para os judeus, a raiz do pecado não se encontra nos atos pecaminosos, mas numa vontade pervertida, rebelde. Isto encontra apoio da visão de Paulo, do homem como “carne” – o homem em oposição rebelde a Deus.
Um dos conceitos mais bonitinhos que já vi de pecado é “tudo aquilo de fazemos escondido ou que tentamos esconder de alguém.” Acho um conceito fofo porque aquilo que temos certeza que está de acordo com a conduta cristã não tentamos esconder, fazemos abertamente sem o menor problema.
A LEI
Paulo não considera a Lei apenas como um padrão divino para a conduta humana, embora reconheça sua origem divina e seus méritos positivos (Rm 7:12,14). Ele reconhece, todavia, que por causa da fraqueza e pecaminosidade humana, ela torna-se um instrumento de condenação (Rm 5:13), ira (Rm 4:15) e morte (Rm 7:9).
A vida sob a Lei é uma servidão da qual o homem precisa libertar-se através da graça de Deus.
JESUS É O SENHOR
A designação predominante e mais característica para Jesus é SENHOR, não apenas nas epístolas de Paulo, mas também no Cristianismo gentio em geral.
Os homens chegaram à comunidade da igreja através da crença na ressurreição e confessando Jesus Cristo como Senhor (Rm 10:9). O centro da proclamação paulina é Cristo como Senhor (2 Co 4:5). A importância desta confissão, nas igrejas paulinas, é demonstrada em 1 Co 12:3. Aqui, o apóstolo não quer dizer que é impossível pronunciar estas palavras (Jesus Cristo é o Senhor) a não ser através da inspiração do Espírito Santo (veja Mt 7:21). O que ele quer dizer, de fato, é que uma confissão sincera do credo cristão mostra que quem fala está motivado pelo Espírito Santo. Aqui, portanto, está a marca mais óbvia do crente, a confissão de que Cristo é o Senhor: 1 Co 1:2. Confira: At 9:14,21; 22:16; 2 Tm 2:22.
JUSTIFICAÇÃO E RECONCILIAÇÃO
Paulo emprega muitos termos para demonstrar a obra de Cristo. Um dos mais importantes, que domina as epístolas ao Gálatas e Romanos, é justificação. A idéia é declarar justo e não transformar em justos. É a declaração de Deus, o justo juiz, de que o homem que crê em Cristo, embora possa ser pecador, é justo – é visto como sendo justo, porque, em Cristo, ele chegou a um relacionamento justo com Deus (Rm 8:33,34).
Reconciliação é uma doutrina estreitamente aliada à da justificação. A justificação é absolvição do pecador de todo pecado; a reconciliação é a restauração do homem justificado ao relacionamento com Deus (2 Co 5:19; Rm 5:10; Cl 1:21,22; Ef 2:15,16). A reconciliação é, então, a obra de Deus, e o homem, o objeto. O homem não pode se reconciliar com Deus; ele tem que ser reconciliado com Deus através da ação divina.
LIÇÃO 13
A PSICOLOGIA PAULINA
O texto de 1 Ts 5:23 sugere uma visão tricotomista do homem: espírito, alma e corpo. Alguns estudiosos, porém, entendem que Paulo apresentou uma dicotomia (alma e corpo), onde alma e espírito fundem-se num único elemento. Já outros estudiosos entendem que termos como corpo, alma e espírito não são diferentes faculdades separáveis do homem, mas modos diferentes de encarar o homem no seu todo.
CORPO – No Velho Testamento é usado no sentido de carne, termo que indica a fragilidade do homem em relação a Deus. Assim, ser carnal é uma fraqueza, coisa que Deus não possui e este fato é que faz distinção entre Deus e os homens (Gn 6:3; Is 31:3). A palavra grega para corpo é soma (1 Co 13:3; 9:27), que não representa algo mau em si mesmo, contudo pode tornar-se um obstáculo à manifestação de Deus. A prova de que o corpo não é mau em si mesmo é que ele será glorificado, redimido (Rm 8:23).
Em relação ao corpo, Paulo declara em seus escritos:
O corpo é uma parte integrante do homem, embora mortal (Rm 6:12; 8:11; 2 Co 4:11; Rm 7:24), por este motivo pode tornar-se instrumento do pecado (Rm 6:6,12; 8:13);
O corpo tem de ser mantido em sujeição. Como é mortal e capaz de pecar, o corpo deve ser disciplinado para que evitemos que ele ganhe domínio sobre a vida espiritual do homem. A verdadeira vida se encontra no “homem interior”, que quando é estimulado, recebe energia através do Espírito de Deus;
O autocontrole sobre o corpo é obtido através da consagração a Deus (Rm 12:1,2). O crente deve reconhecer que seu corpo é habitação do Espírito de Deus (1 Co 6:18-20). O crente é membro do corpo de Cristo (1 Co 6:15).
Os próprios corpos dos crentes serão redimidos no dia da salvação consumada (Rm 8:23; Fp 3:21).
ALMA - A palavra designa a vitalidade ou o princípio de vida do homem (Gn2:7 – “fôlego de vida”). Dessa forma, a palavra pode ser entendida como sentimentos, paixões, vontade e até mesmo a mentalidade do homem; daí se conclui o fato da palavra alma significar em alguns contextos o próprio ser humano.
A aplicação do sentido grego de alma refere-se ao homem como pessoa pensante, que age e sente. Fazer a vontade de Deus de coração (Ef 6:6) é servir a Deus com todo o ser e personalidade. Dentro do contexto grego alma e espírito não são sinônimos, mas se referem a vida interior do homem.
ESPÍRITO – O termo é usado para falar do homem em relação a Deus, enquanto alma refere-se ao homem em relação a si próprio e a outros seres humanos. A esfera do Espírito Santo é a humanidade e é com o espírito do homem que o Espírito de Deus se ocupa amplamente. É com o espírito que o homem serve a Deus (Rm 1:9), que pode entrar em união com o Senhor (1 Co 6:17).
O espírito é a dimensão interior do homem, contudo devemos buscar a santificação do corpo e do espírito (1 Co 7:34; 2 Co 7:1). O Espírito Santo concede vida ao espírito do homem (Rm 8:10,11). O espírito do cristão é marcado, circuncidado (Rm 2:29).
A NOVA VIDA EM CRISTO
A nova vida em Cristo está resumida no clássico enunciado de Paulo (2 Co 5:17). A partir da conversão, todos os desejos e apetites do homem (até então não-regenerado) passaram e foram substituídos por um conjunto de desejos e apetites inteiramente novo (Gl 1:4; Rm 12:2; Ef 2:10,15; Cl 3:9,10).
O CASAMENTO
Embora o próprio Paulo fosse celibatário e considerasse o celibato um dom de Deus, que todos deveriam desejar, reconhecia que nem todos os homens possuíam esse dom e recomenda que os homens se casem em vez de se abrasarem em desejos sexuais insatisfeitos (1 Co 7:9). É claro que essa recomendação sugere uma visão nada legal do casamento (para satisfação sexual). Todavia, mais a frente, o mesmo Paulo aconselha o altruísmo e a doação dentro dos laços matrimoniais, de forma que nem o marido nem a mulher devem impedir o prazer sexual do outro (1 Co 7:4,5), muito pelo contrário, cada um deve preocupar-se em satisfazer o outro. De novo, uma vinculação direta entre casamento e sexo. O sexo, aliás, não é apresentado aqui como uma forma de procriação apenas, como a igreja defendeu durante muito tempo, mas de mútuo prazer. É claro que nenhum casamento baseado exclusivamente no sexo vai muito longe. Tem que rolar, acima de tudo, o companheirismo, a compreensão, o carinho, o amor. O sexo virá como bênção de Deus coroando tudo isso, ou seja, ele não pode ser o objetivo maior de um casamento, embora seja parte importante.
Fora do casamento, não deve rolar. O princípio da proibição continua sendo o mesmo, mas precisamos ter a sensibilidade de entender que o contexto vem se modificando. Vou me explicar melhor: antigamente, podia se falar nessa proibição com mais tranqüilidade e certeza de que o sexo não rolaria antes do ritual do casamento, porque os caras e as meninas com 15 anos já estavam se casando (casamentos arrumados pelas famílias). Depois, temos outra situação: não tínhamos toda essa exposição de corpos nus ou seminus nas capas de revistas, na televisão e ao vivo, então era mais fácil segurar a onda, já que o homem é visual. Agora, o contexto é mais complexo: a galera aos 25 anos, com seus hormônios fervilhando, ainda não se casou, estão preocupados e preocupadas em terminar a faculdade, com suas carreiras e não querem se casar ainda. Além disso, tudo está à mostra. Assim, manter-se casto num monastério, afastado de tudo e de todos, sem contato com o sexo oposto é moleza, mas aqui na vida real não é tão fácil assim. Até mesmo as meninas evangélicas dificultam a vida casta dos meninos com seus decotes, suas roupas coladas ao corpo,suas mini-saias, enfim, é difícil. Vejam bem: eu só disse que é difícil e que o contexto é outro, eu não disse que o princípio cristão do sexo exclusivamente dentro do casamento tenha mudado, portanto, se comportem.
LIÇÃO 14
BREVE ANÁLISE DAS CARTAS DE PAULO NA ORDEM EM QUE FORAM ESCRITAS (PROVAVELMENTE)
1. Aos GÁLATAS
Esta epístola não foi escrita como um trabalho de história contemporânea. Constituiu um protesto contra a distorção do Evangelho de Cristo. A verdade essencial da justificação pela fé em vez de pelas obras da lei fora obscurecida pela insistência dos judaizantes em como os crentes em Cristo deviam guardar a lei, se esperavam ser perfeitos perante Deus. Quando Paulo tomou conhecimento de que esta doutrina começava a penetrar nas igrejas gálatas, afastando-as do seu patrimônio de liberdade, escreveu o protesto apaixonado contido nesta epístola, em 48 ou 49d.C., provavelmente antes do Concílio de Jerusalém, sendo assim, o mais antigo dos escritos paulinos.
O tom do livro é de polêmica e indignação: “Ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro Evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (1:8), expressando a censura de Paulo ao gálatas pela aceitação do erro legalístico.
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós... para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito”(3:13,14).
Os livros de Gálatas e de Tiago têm em comum o mesmo contexto, a questão judaizante, e ilustram os dois aspectos do Cristianismo que desde o princípio parecem ter entrado em conflito: a fé e as obras.
2. I TESSALONICENSES
As duas cartas aos Tessalonicenses pertencem, cronologicamente, ao período em que Paulo esteve em Corinto, em 51 d.C.. O intervalo entre ambas é de poucos meses, tendo sido escritas enquanto Paulo se encontrava ocupado no ministério em Acaia.
Esta primeira carta foi escrita com base no relatório fornecido por Timóteo em Corinto, incluindo o nome deste e o de Silas na saudação.
CONTEÚDO: louvor pela firmeza dos tessalonicenses perante a perseguição dos judeus e correção de certos erros e mal-entendidos surgidos no meio deles em relação ao regresso de Cristo (5:4 – compare com Mt 24:43; Lc 12:39,40).
Os problemas abordados nesta epístola são totalmente diferentes dos mencionados em Gálatas. Aqui, encontramos as dificuldades dos convertidos gentios e não dos crentes judeus. As questões da fornicação e da ociosidade (4:1-12) tinham muito menos possibilidades de surgirem numa comunidade judaica, uma vez que a lei, gravada no espírito das crianças judias desde cedo, resolvia antecipadamente tais problemas. O mesmo não acontecia com os gentios, para os quais as relações sexuais eram determinadas, principalmente, pelo prazer e pela conveniência. Apesar dos moralistas pagãos imporem certos limites à licenciosidade, não falavam com um “assim diz o Senhor” cheio de autoridade.
O texto de 4:13-18 foi escrito, certamente, para atender a preocupação dos tessalonicenses em relação aos que morriam. Eles acreditavam que o Senhor voltaria, mas tinham dúvidas quanto ao que aconteceria com os mortos. Quanto ao momento da volta de Cristo (5:1-11), Paulo esclarece que se permanecessem despertos e ativos, aguardando numa boa esse regresso, seriam preservados da ira e nada teriam a temer.
3. II TESSALONICENSES
Esta segunda epístola foi escrita para combater a idéia incorreta de que o dia de Cristo se encontrava já muito perto (2:2). Alguns tessalonicenses tinham se enamorado de tal forma da idéia de que a vinda do Senhor os podia libertar dos males e das tensões deste mundo, que abandonaram o trabalho para aguardar o aparecimento do Libertador. Estavam, assim, desarticulados do resto da igreja e dependiam de outros para se manterem (3:6-11). Paulo incita esse grupo a ganhar seu pão e tratar da sua vida.
Mais ou menos como no contexto dessa epístola, temos hoje umas figuras assim no meio evangélico, cujo objetivo é “abandonar o trabalho material e trabalhar somente para o Senhor” como se o seu trabalho não fosse também obra do Senhor, como se ele não tivesse uma missão lá no seu local de trabalho.
LIÇÃO 15
A CORRESPONDÊNCIA CORÍNTIA
4. I CORÍNTIOS
A igreja em Corinto constituía, pela sua instabilidade, um problema espinhoso para Paulo. Composta em grande parte por gentios pouco familiarizados com o Antigo Testamento e cujos antecedentes religiosos e morais eram o oposto exato dos princípios cristãos, era preciso muito ensino para levá-los à maturidade espiritual (1 Co 3:1-3).
Esta primeira carta deve ter sido escrita em 55 d.C., no auge do seu ministério em Éfeso. Antes dela, houve uma outra carta para esta comunidade, cujo conteúdo não conhecemos, pois perdeu-se. O apóstolo cita esta carta perdida em 1 Co 5:9: “Já por carta vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem.” A reação a esta carta perdida foi muito insatisfatória. Apolo e Cefas tinham-se retirado para outro campo e a igreja, privada de direção capacitada, se perdera na confusão. Bom, aí então três membros da igreja (Estefanas, Fortunato e Acaico) trouxeram um donativo a Paulo e também uma carta contendo determinadas perguntas para as quais os coríntios desejavam respostas, dadas por Paulo nesta carta (1 Coríntios).
CONTEÚDO: Em conteúdo, bem como em estilo, trata-se da mais variada de todas as epístolas paulinas. Os assuntos abordados vão da divisão às finanças, e do decoro à observância da doutrina da ressurreição. Diversos recursos literários conhecidos na arte de escrever são empregados nesta carta: a lógica, o sarcasmo, a imploração, a censura, a poesia, a narrativa, a exposição. Enfim, é como se o escritor estivesse conversando pessoalmente com os anciãos da igreja.
Esta primeira carta aos coríntios reflete bem o conflito que teve lugar quando a experiência e os ideais cristãos de conduta se chocaram com os conceitos e com as práticas do mundo pagão.
Esta carta é organizada de acordo com os itens que os coríntios perguntaram ao apóstolo, ou seja, ele vai respondendo na ordem em que as perguntas foram feitas.
5. II CORÍNTIOS
Esta carta difere de 1 Coríntios por tratar de assuntos pessoais mais do que de ensinamentos doutrinários ou de problemas de ordem eclesiástica. Paulo, o homem, é bastante enfatizado, revelando os seus sentimentos e desejos, bem como suas antipatias, ambições e obrigações.
CONTEÚDO: II Coríntios fornece-nos uma visão bastante detalhada da carreira do apóstolo Paulo. Foi escrita para se defender, não só contra os cristãos ocasionais da igreja em Corinto, mas também contra as calúnias e acusações que os seus inimigos lhe dirigiam onde quer que pregassem.
Eram numerosas as acusações:
Que andava segundo a carne (10:2);
Que era covarde, pois escrevia cartas que reboavam como um trovão, porém pessoalmente era fraco e desprezível (10:10);
Que não defendia a sua dignidade, aceitando o apoio das igrejas, antes se humilhava trabalhando (11:7);
Invocavam o fato dele não ter sido um dos apóstolos originais, sendo destituído, portanto, de condições para ensinar (11:5; 12:11,12);
Insinuavam que gastava em proveito próprio o dinheiro que lhe era confiado (8:20,23).
Ah, já ia esquecendo, boa parte desses acusadores eram cristãos (11:22,23; 3:1).
6. ROMANOS
Esta carta foi enviada, provavelmente, de Corinto. A igreja em Roma era pequena e formada, em sua maioria, de gentios (1:13). Diferente de Coríntios, Romanos não tem por objetivo corrigir erros, mas ensinar a verdade de forma preventiva, inclusive contra os argumentos judaizantes. Trata-se de uma epístola didática.
CONTEÚDO: O tema central de Romanos é a revelação da justiça de Deus ao homem e a aplicação desta à sua necessidade espiritual. Ninguém pode entrar em contato com Deus senão depois de estabelecida uma via de acesso adequada.
Esta carta destina-se especialmente aos gentios. Paulo declarou-se apóstolo dos gentios (1:5) e afirmou que a salvação de Deus era também para os gentios (3:29) e que não há distinção entre judeu e grego no que diz respeito à fé. Esta epístola, portanto, proclama o âmbito universal da salvação.
Romanos funciona como a espinha dorsal da teologia cristã.
LIÇÃO 16
AS EPÍSTOLAS DA PRISÃO (Filipenses, Colossenses, Efésios e Filemon)
As quatro epístolas da prisão foram escritas no período de 56 ou 57 a 60 ou 61. Todas foram escritas no período em que Paulo esteve preso, provavelmente em Roma: Fp 1:12,13; Ef 3:1; 4:1; 6:20; Cl 1:24; Fm 1.
7. FILEMON
Onésimo, escravo de Filemon, comerciante de Colossos, fugira com alguns bens de seu senhor, com destino a Roma, onde se perdeu em meio a multidão daquela grande cidade. De alguma maneira entrou em contato com Paulo, convertendo-se ao Cristianismo (Fm 10).
Consciente da necessidade de compensar o mal que ele tinha causado, Paulo o reenviou ao seu antigo senhor com esta epístola, pedindo-lhe que o recebesse e o perdoasse. O apóstolo assumiu o compromisso de reparar o prejuízo financeiro provocado por Onésimo (Fm 18,19), acrescentando que nutria esperanças de ser logo posto em liberdade, quando pretendia visitar novamente as igrejas.
CONTEÚDO: Apesar de tratar-se de uma epístola muito mais pessoal do que teológica, Filemon apresenta o mais belo quadro do significado do perdão encontrado no Novo Testamento, com todos os seus elementos: a ofensa (11,18), a compaixão (10), a intercessão (10,18,19), a substituição (18,19), a restauração (15) e a elevação para novas relações (16).
8. EFÉSIOS
Esta epístola, a julgar pela ausência de uma saudação específica, foi produzida como uma encíclica endereçada a diversas igrejas, a partir de Éfeso. O mensageiro foi Tíquico, acompanhado por Onésimo (Ef 6:21; Cl 4:7-9).
O tema IGREJA está presente em toda a carta e refere-se a igreja universal, não a uma igreja local. Esta epístola não foi dirigida a noviços na fé cristã, mas a pessoas que já alcançara alguma maturidade e experiências espirituais e que desejavam progredir para um conhecimento e uma vida cristã amplos.
Aqui a igreja é apresentada como um único corpo funcional, constituído por judeus e gentios, equipado com padrões próprios e empenhado num conflito espiritual, tendo como objetivo “a unidade da fé... o conhecimento do Filho de Deus.... a medida da estatura completa de Cristo” (4:13).
9. COLOSSENSES
A heresia de Colossos, que deu origem a esta epístola, foi um acontecimento local, cuja causa encontrava-se na localização geográfica da cidade, situada na rota comercial do oriente, ao longo da qual eram transportados para Roma religiões, cultura e produtos orientais. Os antecedentes religiosos dos Colossenses caracterizavam-se pela sua natureza altamente emotiva e mística. Procuravam alcançar a plenitude de Deus. Assim, quando surgiram entre eles ensinadores com uma filosofia que permitia um conhecimento místico da divindade, sentiram-se arrebatados pelas novas idéias. Entre os seus princípios, encontravam-se a humilhação voluntária, provavelmente mediante práticas ascéticas (2:18,20,21); a adoração dos anjos, que podem ter sido considerados intermediários entre Deus e o homem (2:18); a abstinência de certas comidas e bebidas; e a observância de dias de festa e cerimoniais (2:16). É muito provável que nesses ensinamentos houvesse também elementos do legalismo judaico, resultantes de contatos com a população judaica da Ásia Menor.
10. FILIPENSES
Dentro da igreja de Filipos não parecia haver qualquer cisma ou heresia que exigissem ação disciplinar. As referências aos judaizantes (3:2) retratam mais um perigo potencial do que presente. A linguagem veemente de Paulo não tem por objetivo condenar os erros daquela igreja, mas preveni-la contra eles, incentivando-a a caminhar de uma maneira digna da sua cidadania celeste (3:17-21).
Filipenses é uma carta de agradecimento por favores recebidos e uma expressão da vida cristã pessoal de Paulo.
Aqui Paulo fala muito em alegria. As suas perspectivas em Roma eram sombrias, pois seus inimigos procuravam minar a sua obra e além disso um dos possíveis resultados do seu julgamento poderia ser a execução sumária. Mesmo assim, a epístola não é pessimista. Ele alegrava-se ao lembrar dos filipenses (1:3), por Cristo ser pregado quer em sinceridade, quer em hipocrisia (1:18), pela humildade dos seus seguidores (2:2), pelo seu sacrifício pessoal por amor de Cristo (2:17), pelos donativos e pela boa vontade dos seus amigos (4:10); tudo isso em contraste com o contexto sombrio que tinha em torno de si.
LIÇÃO 17
AS EPÍSTOLAS PASTORAIS (I Timóteo, Tito, II Timóteo)
Não existe qualquer história consecutiva que nos descreva os destinos da Igreja do fim do livro de Atos ao fim do primeiro século.
Os dados biográficos constantes destas epístolas sugerem que Paulo foi absolvido na sua primeira audiência perante o Imperador e que teve depois disso um breve período de ministério em liberdade, quando deve ter escrito estas cartas.
A primeira epístola a Timóteo apresenta Paulo em viagem e ativo, aconselhando o jovem Timóteo quanto aos seus deveres pastorais. Tito apresenta um contexto bastante parecido, e a segunda carta a Timóteo apresenta um encerramento. Parece evidente que o apóstolo não esperava sobreviver ao inverno (2 Tm 4:21). Sua condenação e execução seriam apenas uma questão de tempo. O temperamento de Nero era muito incerto e seriam poucas as probabilidades de ser dispensada mais clemência ao Apóstolo.
11. I TIMÓTEO
Nascido em Listra, filho de um grego com uma judia, Timóteo foi educado nos princípios do judaísmo, tornando-se, desde cedo, conhecedor das Escrituras. Paulo fizera dele seu substituto na sua segunda viagem (At 16:1-3), tornando-se seu companheiro fiel, sempre presente.
Timóteo era confiável, porém não tinha uma personalidade vigorosa. Dava a impressão de imaturidade, apesar dos seus trinta anos, quando Paulo lhe entregara o pastorado de Éfeso (1 Tm 4:12). Era tímido (2 Tm 1:6,7). As epístolas que têm o seu nome tinham por objetivos encoraja-lo e fortalecê-lo para a importantíssima tarefa que Paulo lhe confiara.
A organização da igreja tornara-se mais complexa. As funções tornaram-se fixas e procuradas por alguns que almejavam “status”. Bispos, diáconos e anciãos são todos mencionados, embora o primeiro e o terceiro sejam idênticos. As viúvas sustentadas pela igreja eram “inscritas”, assumindo a comunidade certa responsabilidade pelos serviços sociais (5:9). Os cultos apresentavam certas características regulares: oração de mãos erguidas (2:8), leitura, pregação e ensino (4:13); imposição das mãos para conferir dons espirituais (4:14). À medida em que iam surgindo as novas gerações de convertidos, a teologia da igreja ia se tornando mais “frágil”, mais passivamente aceita, perdendo, gradualmente, sua vitalidade. Em torno de pormenores controversos travavam-se discussões e debates, fazendo com que a heresia representasse um perigo cada vez mais iminente. Daí a preocupação de Paulo em escrever-lhe esta carta.
12. TITO
A situação em Creta era desanimadora. A igreja estava desorganizada e os seus membros tinham um comportamento descuidado. De acordo com o capítulo 2, os homens eram relaxados e descuidados; as mulheres de idade eram fofoqueiras e gostavam de bebericar, enquanto as novas eram ociosas e dadas a episódios amorosos. Talvez a pregação do Evangelho da graça tenha dado aos cretenses a impressão de que a salvação pela fé não tinha relação com uma vida ética e de trabalho. Nesta breve epístola, os crentes são estimulados a praticar boas obras (1:16; 2:7,14; 3:1,8,14). Apesar do apóstolo defender que a salvação não pode ser ganha pela obra (3:5), incentiva os crentes a praticá-las.
Tanto 1 Timóteo quanto Tito foram escritas para aconselhar um substituto que enfrentava problemas emergentes de um pastorado difícil.
Tito, o destinatário desta carta, tinha sido conhecido e companheiro de Paulo durante, aproximadamente, quinze anos. Era um convertido gentio dos primeiros dias em Antioquia. A última referência bíblica sobre ele declara que fora para a Dalmácia (2 Tm 4:10). Parece ter sido dotado de uma personalidade mais forte do que a de Timóteo e, portanto, mais apta a enfrentar a oposição.
13. II TIMÓTEO
O tom geral das epístolas pastorais aponta para uma igreja que travava uma luta de vida ou morte contra a inveja de um Judaísmo frustrado e contra a indiferença corrupta de um paganismo ultrapassado.
A segunda epístola a Timóteo foi a última mensagem do apóstolo aos seus auxiliares e amigos antes de desaparecer de cena. O conteúdo desta última epístola constitui uma apresentação de sentimentos pessoais e de política administrativa; de lembranças e de instrução; de tristeza e confiança. Seu principal objetivo era fortalecer Timóteo para a árdua tarefa que o apóstolo abandonaria em breve. Paulo determinou o padrão pastoral lembrando, primeiramente, a Timóteo a sua própria experiência pessoal, incluindo-o nela: “... que nos salvou e chamou com uma santa vocação segundo o Seu próprio propósito e graça” (1:9). A incumbência final (4:1-6) é clássica, devendo ser, cuidadosamente estudada por todos os candidatos ao ministério.
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