domingo, 23 de novembro de 2008

EBD - EPÍSTOLAS GERAIS E APOCALIPSE

LIÇÃO 18 19/10/08


HEBREUS


As questões de autoria e destino da epístola aos Hebreus são problemas insolutos. A opinião tradicional tem sido que Hebreus é corretamente denominada, e que foi escrita para uma comunidade de cristãos judeus, provavelmente em Roma (13:24), que diante de perseguição ameaçadora (10:32; 12:4; 13:18,19,23), estava se afastando de Cristo e retornando ao Judaísmo. Contudo, não há nenhuma referência a controvérsia judaico-cristã.
Parece normal que diante de muita pressão, as pessoas recuem ou revejam valores e crenças, especialmente quando não se tem total convicção desses valores ou dessas crenças. O lance então é termos convicção de nossa fé e argumentos para defendê-la diante das mais diversas situações. No caso específico do jovem estudante, eu costumo dizer que o cabra que entra evangélico numa faculdade e sai de lá tão evangélico quanto entrou está pronto para encarar qualquer parada. O meio universitário é muito gostoso, muito belezudo mesmo, porém as pressões são terríveis, as tentações são muitas, mas se há convicção da fé e dos princípios, tudo fluirá muito bem. Citei apenas um exemplo de tantos outros possíveis. Foi mais ou menos isso que aconteceu com aquela turma a quem a epístola, originalmente, se destina, só que ali a pressão tinha status de perseguição com violações dos direitos humanos e tudo.

DESTINATÁRIOS E OBJETIVOS

As pessoas a quem esta epístola foi enviada estavam plenamente familiarizadas com o Antigo Testamento e com o seu sistema sacrificial. Tinham sido postas em contato com o Evangelho e ouvido a pregação de homens que haviam sido testemunhas da vida de Jesus
e que possuíam os dons do Espírito (Hb 2:3,4). Eles próprios haviam sido crentes inabaláveis, suportando a perseguição psicológica e física por amor da sua nova fé (10:32-34). Certamente, não eram novos convertidos.
O autor escreve a fim de aconselhar contra a apostasia. Este propósito fica claro nas várias passagens de exortação espalhadas pelo livro. O escritor tenta assegurar a lealdade dos seus leitores a Cristo através da linha de argumento de que as bênçãos que vieram aos homens em Cristo são superiores a tudo o que precedeu.

VISÃO GERAL DA EPÍSTOLA

A cosmovisão (visão de mundo) básica de Hebreus tem sido bastante debatida. Há, nesta epístola, um duplo dualismo:

1. um dualismo do superior e do inferior – o verdadeiro mundo celestial e o transitório mundo terreno;
2. um dualismo escatológico: o mundo presente e o mundo vindouro.

ÊNFASE NA HUMANIDADE DE JESUS

Hebreus destaca a humanidade de Jesus. Ele mostrou a mesma natureza daqueles que veio salvar (2:14). Ele teve que ser semelhante a eles em todos os sentidos (2:17). Como eles, ele sofreu e foi tentado (2:18). Hebreus enfatiza a ausência de pecado em Jesus, mas ele foi tentado de todos os modos como os outros homens (4:15). Seus sofrimentos foram reais, arrancaram dele clamor e lágrimas (5:7). Sua humanidade era real; ele teve que aprender o significado da obediência (5:8). Hebreus mostra Cristo entrando no lugar santo, no céu, através do seu próprio sangue (9:12,23,24).
Gente, é incoerente falarmos de dor quando nunca sentimos dor; falar de perda quando nunca experimentamos essa sensação; falarmos de traição ou abandono, quando não vimos isso de perto. Pois é, Jesus teve e tem moral pra falar disso tudo, para agir nisso tudo, já que experimentou isso tudo. Então, ele sabe da nossa dor, dos nossos sentimentos, e um detalhe muito importante, ele jamais nos abandona, jamais. Vejam que coisa mais fofa é dita em Salmos
27:10: “Porque se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá.” É lindo de mais esse texto. Isso quer dizer que ele nunca vai nos deixar na mão no meio do deserto, mesmo que tenhamos que atravessar um supostamente sozinhos. Nunca. Ouviram? Quer dizer, leram? Nunca.

A DIVINDADE DE JESUS

A designação favorita de Hebreus para Cristo é Filho de Deus (1:2,5; 4:14; 5:5; 6:6; 7:3). Como o Filho, ele é o herdeiro de todas as coisas (1:2). Como o Filho de Deus, ele participa da deidade, é preexistente. Os anjos o adoram (1:6). Hebreus ainda chama Jesus de Deus, aplicando a ele o Salmo 45:1-8. A divindade de Cristo é também vista no uso do termo Senhor (Kurios). Várias vezes são citadas passagens do Velho Testamento, em que Deus é mencionado como o Senhor (7:21; 8:8,11; 10:16,30).

FÉ E VIDA CRISTÃ

Em Hebreus, o pré-requisito básico para a vida cristã é a fé (11:1,6; 12:2). A título de exemplo de fé e encorajamento aos destinatários da epístola, o autor apresenta, no capítulo 11, uma lista de heróis da fé, além de um conceito muito belezudo, muito lindo, muito fofo de fé: “certeza das coisas que se esperam, convicção de fatos que se não vêem.”

DATA
A epístola foi escrita já na segunda geração de cristãos (2:1-4) e decorrido um considerável intervalo após a conversão dos destinatários (5:12), os quais já haviam se esquecido dos “dias passados” (10:32) e os seus dirigentes tinham morrido (13:7). Timóteo tinha estado na prisão (13:23), porém continuava vivo, sendo posto em liberdade. As referências ao sacerdócio indicam que o templo ainda estava de pé (foi destruído no ano 70), embora não andasse muito distante a abolição das instituições judaicas (12:27). A perseguição era iminente (10:32-36; 12:4). O texto combina com a situação no final dos anos 60, quando a igreja em Roma receava a perseguição, estando próxima a queda da comunidade judaica.



LIÇÃO 19 26/10/08

TIAGO


Em adição a Hebreus, o Novo Testamento contém várias cartas menores, que são chamadas de “católicas” (universais). Com exceção de II e III João, são dirigidas à igreja em geral.

O autor se refere a Jesus como o “Senhor Jesus Cristo” (1:1) e “Senhor da Glória” (2:1). Esta epístola foi escrita por Tiago, irmão de Jesus, de Jerusalém, a judeus cristãos que estavam sendo oprimidos por seus compatriotas.

O propósito de Tiago é, em geral, prático. É impossível concluir, a partir do conteúdo da epístola, que ele estava interessado em Teologia. Tiago escreve para encorajar companheiros judeus cristãos que, em sua maior parte, vinham do nível mais baixo da sociedade e estavam sendo oprimidos por judeus ricos. Não há uma evidência clara de que estavam sofrendo perseguição por serem cristãos.

Assim, temos aqui uma preocupação social com a desigualdade. Penso que a igreja pode contribuir bastante para reduzir as desigualdades sociais existentes em sua membrezia e até mesmo na comunidade em que está inserida, e vejo isso como uma de suas funções. Desigualdade social nada tem a ver com fé. Dessa forma, considero uma incoerência do ponto de vista cristão, a defesa de que se um irmão não prospera é por falta de fé. Ora, vivemos num país de desigualdades absurdas. O Chico Buarque tem uma frase linda sobre isso. Comentando uma fotografia de Sebastião Salgado, ele diz: “o berço da desigualdade está na desigualdade do berço.” Na foto em questão, um bebê dorme embaixo de uma mesa, num chão sem piso, sobre alguns panos, e aquela imagem, senhores, não é uma questão de fé. Aliás, insisto: a igreja pode contribuir para reduzir cenas como aquela retratada pelo Salgado.

IGREJA, SINAGOGA E VIDA CRISTÃ

Tiago revela pouco sobre a estrutura da igreja; usa o termo judaico “sinagoga” para designar o ajuntamento cristão (2:2); ele se refere a anciãos da igreja (5:14) e os instrui quanto aos deveres pastorais: visitar os doentes e ungi-los com óleo; isso deve ser acompanhado pela confissão dos pecados (5:16).
Quanto à vida cristã, está “claramente implícito” em Tiago que o crente vive em tensão entre o já e o não ainda. Pela vontade divina, nasce de novo e se torna uma das pessoas redimidas de Deus (1:18), com a palavra de Deus implantada no coração (1:21). Apesar deste fato, o crente está sujeito tanto à tentação ao pecado de vários tipos como à pressão das provações (1:2), que podem fazer com que se desvie da fé (5:19); contudo, ele espera a manifestação de Cristo, quando herdará o Reino de Deus (2:5) e receberá a vida eterna (1:12).
É claro que as tentações ocorrerão exatamente no “ponto fraco” de cada um. Assim, é importante reconhecermos nossas limitações e fugirmos das tentações, conscientes de que não somos super homens ou super mulheres e de que estamos sim no grupo de risco. Por outro lado, também não rola insistir naquela velha história de que a carne é fraca e por isso pecamos. A carne é realmente fraca, mas o auto-controle existe. Muita coisa negativa atribuída ao sobrenatural pode, tranquilamente, ser posta na conta da falta de vergonha na cara.

FÉ E OBRAS

Tiago apresenta um problema teológico. A princípio, parece contradizer a doutrina paulina da justificação, cujo centro é a absolvição divina inteiramente através da graça, baseada na fé, sem as obras da Lei. Nenhum ser humano será justificado diante de Deus por obras da Lei (Rm 3:20). Tiago parece contradizer Paulo: “Que proveito há, meus irmãos, se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura, essa fé poderá salvá-lo?... Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (2:14-18). É provável que Tiago esteja refutando as perversões da doutrina paulina (e não a própria doutrina paulina). Por outro lado, compreendemos que a fé para a salvação é ativa, portanto, incapaz de não produzir obras. Visto assim, o pensamento de um pode complementar o do outro, acrescentando a idéia de que a fé salvadora não é estática, mas dinâmica e que produz boas obras.
Nada indica que Tiago se opusesse ao ensino de Paulo por questões de princípio. Como lemos em Gálatas 2:9-10, manteve comunhão com este. Além disso, em Atos, o seu comportamento não foi de um antagonista, esforçando-se, inclusive, para dissipar todas as suspeitas dos judeus quanto a verdadeira atitude paulina. Por outro lado, é bastante provável que tivesse receio de que com a libertação do sistema da lei, passasse a haver um comportamento desleixado, descuidado, que desonrasse o bom nome dos cristãos.
A epístola de Tiago foi escrita a fim de promover uma vida ética prática, razão pela qual Paulo também escreveu as suas. Assim, embora houvesse alguma divergência no foco de suas epístolas (um destaca obras, outro destaca fé), ambos querem chegar ao mesmo lugar.
É um fato que se eu tenho uma fé salvadora, sentirei a necessidade de produzir boas obras. Essas duas coisas estão interligadas. Parece incoerente falar de fé quando não produzo nada. Seria uma fé egoísta. É como se você estudasse a balde e não compartilhasse esse conhecimento com ninguém ou não tentasse mudar nada. “De que me adianta conhecer, se não posso mudar?” Todas as obras de madre Tereza de Calcutá teve como motivação uma fé imensa e um imenso amor pelo outro, pelo próximo, se preferir assim. Tiago diz que “a religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.” (1:27)


LIÇÃO 20 02/11/08


AS DUAS EPÍSTOLAS DE PEDRO

I PEDRO

A epístola declara ter sido escrita pelo apóstolo Pedro (1:1), um “ancião” que foi testemunha ocular dos sofrimentos de Cristo (5:1). Certamente, foi enviada de Roma – designada como Babilônia (5:13) – antes da perseguição de Nero. Parte substancial da carta foi escrita para encorajar os cristãos diante da perseguição nas mãos da população pagã (4:12; 5:9), com a possibilidade de estarem enfrentando perseguição oficial pelo fato de serem cristãos (4:15), o que aconteceu nos dias desse imperador. A carta é dirigida “aos peregrinos na dispersão”, nas províncias da Ásia (1:1), mas está claro que estes são gentios (2:10; 4:3). Provavelmente, trata-se de uma carta circular, assim como Efésios.
O contraste entre o mundo mal, hostil a Cristo e, portanto, aos crentes (4:4; 1:14,18; 2:11), e o céu é particularmente forte e desempenha um papel essencial no pensamento de Pedro.
Pedro vê a Igreja como o verdadeiro Israel. O antigo Israel tropeçou perante aquele a quem Deus designou que fosse o alicerce de seu templo espiritual (2:5,8,9).
Não há nenhuma referência à Ceia do Senhor e apenas uma ao batismo (3:21).
Quanto à vida cristã, há duas ênfases notáveis. A primeira é a firmeza no sofrimento. Sofrer é uma experiência normal do crente, porque o mundo, para ele, é uma terra estranha. O sofrimento (por causa de Cristo) deve ser suportado firme e pacientemente, até com regozijo, pois ocorre sob a mão providencial de Deus, traz bênçãos consigo e fornece a certeza da partilha da glória futura de Cristo (4:13). Trazendo isso para a nossa vida prática, precisamos diferenciar esse sofrer por amor a Cristo de um suposto sofrer por bobagens nossas. Vamos imaginar que um companheiro nosso trabalhe numa determinada empresa e, justamente na hora do expediente, resolva ler a Bíblia. Esse cabra é advertido e então comenta com os colegas que está sendo perseguido por ser evangélico, por extensão, por amor a Cristo. É claro que não se trata disso. Ele não foi contratado para ler a Bíblia, portanto, não está rolando perseguição alguma; simplesmente está se cobrando dele uma postura profissional. Também acho interessante lembrar aqui que nós, cristãos evangélicos, não somos os únicos beneficiados com a liberdade de culto estabelecida em nossa Constituição. No Brasil, toda a diversidade religiosa é contemplada com essa liberdade. Isso significa dizer que não podemos apoiar, achar bonitinho ou interessante atitudes fanáticas como daquele grupo que invadiu e quebrou um templo do Candomblé, no Rio de Janeiro. Oxente, então a liberdade de culto só serve pra gente? Então é lícito promover a perseguição de outros grupos, justo nós, que um dia fomos perseguidos?
A segunda é a do bom comportamento (2:15,20; 3:6,17). Este “fazer o bem” não se refere às boas obras do legalismo judaico, mas envolve uma conduta justa, em contraste com a pecaminosidade pagã (4:2).

II PEDRO

A autoria é atribuída a Simão Pedro (1:1), que foi testemunha ocular da majestade de Jesus, em sua transfiguração (1:16-18). Foi escrita pelo apóstolo pouco antes da sua morte (1:14). O intervalo entre as duas epístolas é pequeno.
A ocasião para a escrita da carta determina o seu conteúdo. O propósito desta carta é bastante diferente em relação à primeira. II Pedro foi escrita para alertar seus leitores contra falsos mestres (2:1,2). Estes eram mestres dentro da igreja, que se afastaram da fé (2:21), provavelmente, gnósticos, que declaravam ter acesso especial à verdade divina. Falavam de liberdade (2:19), todavia como libertação da disciplina cristã e liberdade para darem livre vazão aos seus apetites corporais.
2 Pedro é de especial interesse por causa da doutrina a respeito da Escritura. O apóstolo enfatiza a primazia da norma da verdade apostólica. Segundo ele, a verdade é um “mandamento santo”, entregue à Igreja através dos apóstolos (3:2; 1:20-21). Pedro compara a verdade da Escritura com as “fábulas” dos gnósticos (1:16), ressaltando a força da primeira e a fragilidade da segunda.
Esta epístola nos fornece a mais antiga referência ao fato de que a Igreja apostólica tinha os escritos de Paulo (pelo menos, alguns deles) como Escritura (3:16) ao compará-los com as Escrituras do Velho Testamento.

Observando o conteúdo de II Pedro, concluímos que um dos principais erros doutrinários dos gnósticos era a negação da escatologia cristã fundamental e da vinda do Senhor. Esta pode ser a única razão por que Pedro dedica tanta atenção a escatologia (leia atentamente o capítulo 3).
Ao longo de sua história, a igreja sempre sofreu com a presença de falsos ensinadores e hoje continua assim. Há sempre um bisonho ensinando umas “novidades” e há sempre outros bisonhos seguindo esses caras. Os ensinadores se comportam dessa forma, normalmente, levando em conta seus próprios interesses e os seguidores os acompanham por acharem o máximo “qualquer vento de doutrina”, como diz o apóstolo, por não terem uma fé estruturada, por não terem amadurecido. Acho inconcebível que alguém abrace uma fé, uma religião e não leia sua literatura sagrada. Acho estranho demais o fato de a maioria dos cristãos (católicos e evangélicos) não ler a Bíblia regularmente e ao mesmo tempo referir-se a esse livro como sua regra de fé. Como regra se o cabra não lê? A maioria do nosso povo constrói o seu conhecimento bíblico simplesmente ouvindo sermões. Nada contra se ouvir sermões, mas tudo contra tomá-los como regra de fé. Aí por conta dessa pouca familiaridade com a Bíblia como um todo, temos que aturar as caixinhas de promessa, as Bíblias abertas em Salmos 91, 121 ou 23, as consultas mágicas da suposta “vontade de Deus” a partir da abertura aleatória da Bíblia. Uai, se eu conheço a Bíblia, se a leio, não vou precisar dessas “simpatias” para consultar a vontade de Deus, pois ela já está revelada pra nós nas páginas da Bíblia Sagrada, nossa regra de fé.


LIÇÃO 21 09/11/08

A EPÍSTOLA DE JUDAS

SOBRE O AUTOR

De acordo com a tradição, Judas é o irmão de Jesus (Mt 13:55), que só se tornou crente após a ressurreição de Cristo (Jo 7:5; At 1:14), e cujo irmão, Tiago, se tornou líder da igreja primitiva (At 15:13; Gl 1:19). A data provável está entre os anos 70 e 80 da era cristã.

JUDAS E II PEDRO

Há pouca coisa de interesse teológico em Judas que não se encontre em II Pedro. Judas dirige-se ao mesmo problema dos gnósticos libertinos, como o faz II Pedro, e escreve para encorajar seus leitores a lutarem por uma fé ortodoxa (v.3). Falsos mestres chegaram à Igreja, e “negam o nosso único Soberano e Senhor Jesus Cristo (v.4), rejeitam toda autoridade e ultrajam os anjos (v.8), são escarnecedores (v.18) do caminho cristão aceito”. Judas não diz que eles escarneceram da idéia da segunda vinda de Cristo (2 Pe 3:3,4). Eles proclamam especial iluminação do Espírito, mas são, na verdade, destituídos do Espírito (v.19). Seu erro se manifesta na licenciosidade sexual (v. 4 e 12). Judas, como 2 Pedro, enfatiza o juízo escatológico destes apóstatas (v.14). Está claro, a partir da referência às predições dos apóstolos, que Judas, como 2 Pedro, deve ter sido escrito bem tarde, na era apostólica (v.17).

PONTOS DE INTERESSE TEOLÓGICO

Os dois itens de interesse teológico são a referência aos “anjos que não guardaram o seu principado” (v.6) e o uso que o escritor faz da literatura apócrifa. Ele faz citação verbalmente de “Enoque, o sétimo depois de Adão” (v.14), palavras (ipsis literis) encontradas no apocalipse de Enoque (1 Enoque – livro apócrifo). Judas tem o livro de Enoque como um escrito de grande valor, mas ele não o chama de Escritura.
É provável que Judas tenha feito uso de um outro livro apócrifo, a Assunção de Moisés, no verso 9. Embora este livro esteja perdido, para nós, tanto Clemente quanto Orígenes supunham que Judas estava usando-o (ambos estavam familiarizados com esse apócrifo). Não está claro que Judas tenha usado este livro por considerá-lo Escritura inspirada.
Estes dois exemplos de uso de literatura não-canônica não são únicos. Paulo faz uso de um “midrash” rabínico (1 Co 10:4) sobre a pedra que seguia os israelitas no deserto. Ele até cita um poeta pagão, em seu discurso em Atenas (At 17:28; 1 Co 15:33). Ele cita os mágicos que resistiram a Moisés, como Janes e Jambres (2 Tm 3:8), provavelmente extraindo-os de uma fonte não-canônica.

CONTEÚDO

Judas anunciou que seu propósito era incitar os leitores “a batalha pela fé que uma vez foi dada aos santos” (3). A causa desta emergência era a infiltração nas fileiras cristãs de homens que “convertem em dissolução a graça de Deus e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo” (4).
A heresia é definida da mesma forma que em II Pedro, sendo, porém, mais detalhada. As pessoas tinham se afastado tanto dos princípios cristãos que já não observavam restrições e já não possuíam padrões morais fixos. Tudo era relativo, rolava uma especulação intelectual ociosa, e já não se falava em deveres.

Aliás, isso me lembra uma situação bastante atual e preocupante. Sabe aquele garoto que te aborda no sinal de trânsito ou dentro do ônibus e diz: “eu poderia está matando, roubando, me drogando, mas estou aqui vendendo esse doce”. Pois é, é como se ele estivesse dizendo: compre esse doce, eu estou quebrando seu galho, poderia matá-lo, roubá-lo. Esse garoto, na verdade, não está me fazendo nenhum favor, me quebrando nenhum galho, ele precisa vender e precisa ser honesto. Até aí, tudo mais ou menos bem, mas o que me preocupa de fato é que esse discurso chegou às igrejas em declarações do tipo: “essas pessoas poderiam estar matando, roubando, se prostituindo, se drogando, mas estão aqui na igreja.” Estão aqui porque querem estar, estão aqui porque entenderam a chamada divina, não estão me fazendo favor algum. Se quiserem matar, roubar, se prostituir, se drogar, que o façam, embora seja uma pena para eles próprios, para a família, para a sociedade e para a igreja. Esse tipo de discurso pode fazer o cara pensar o seguinte: já estou fazendo muito de estar na igreja, tudo o que eu fizer, a igreja tem que aceitar porque eu poderia ser um cara do mal. Eu quero que os caras entendam o chamado divino e estejam aqui porque querem estar de verdade e não porque estão me fazendo um favor porque não estão. É como se o cara estivesse barganhando com a igreja e a igreja sendo permissiva com ele. Isso seria cristianismo? Precisamos convencer o nosso povo, os nossos jovens em especial, de que não estão aqui por causa de a ou b, mas porque optaram por estar aqui. É claro que são bem-vindos, mas se quiserem partir, não sou eu que vou impedi-los. De qualquer forma, ouvir que poderiam estar matando, roubando, se prostituindo, mas estão aqui, sempre me aborrece de verdade. Você já parou pra pensar onde estaria agora, no momento em que lê esse texto, se não tivesse sido alcançado pelo evangelho?
Só mais uma coisinha: numa discussão, o cabra diz ao outro: só não te dou um soco porque sou crente. Esse cabra não está transformado de fato. A vontade de dar o soco está presente. Ele não está controlando essa vontade por convicção, mas por adequação ao momento. Isso não seria similar ao legalismo judaico?


LIÇÃO 22 16/11/08

AS EPÍSTOLAS DE JOÃO

O autor destas epístolas é o mesmo do quarto Evangelho. Todas estas obras foram produzidas, certamente, na mesma época e no mesmo local, ambos indeterminados, e enviadas às igrejas asiáticas pelos fins do primeiro século, quando a separação entre igreja e sinagoga já era definitiva.

O ROMPIMENTO COM O JUDAÍSMO

O rápido crescimento da igreja gentílica, independente do Judaísmo tanto por tradição como por convicção, só podia conduzir a uma brusca e definitiva separação. Os membros da igreja judaica continuavam apegados à observância da lei, embora confiassem em Jesus, o Messias, para sua salvação. A tensão entre judeus e gentios, que se manifestou nos primeiros trinta anos da história cristã, tornou-se maior à medida que as igrejas de todo o mundo de então rivalizavam com as sinagogas em número de membros e em crescimento. A rejeição judaica da mensagem cristã chegou a um ponto tal, que até o apóstolo Paulo abandonou todas as esperanças de um arrependimento nacional. Embora tivesse declarado que “eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne” (Rm 9:3), posteriormente afastou-se deles, dizendo: “Seja-vos, pois, notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios e eles a ouvirão” (At 28:28).

OBJETIVOS DOS ESCRITOS JOANINOS

A partir de uma análise de 1 João 1:1 e de João 20:31, concluímos que o Evangelho foi escrito para despertar a fé, e a primeira epístola para estabelecer a certeza. As duas cartas seguintes podem ter sido escritas como “cartas de cobertura”, sendo uma destinada a uma igreja a que João se refere como “senhora eleita” (2 Jo 1), e a outra a Gaio, o pastor (3 Jo 1). A intenção destas era transmitir notas particulares de conselho e saudação, enquanto que o corpo principal de ensinamento vinha contido no Evangelho e na primeira epístola.

I JOÃO tem por objetivo apressar seus leitores a provar “se os espíritos vêm de Deus” (4:1), ou seja, é preciso avaliar os pronunciamentos carismáticos de todos os “profetas”, tendo como parâmetro a norma da tradição cristã, no centro da qual está a realidade da encarnação de Cristo (4:2,3), questionada pelos cismáticos, os quais, em seus ensinos, negavam que Cristo veio em carne, confundindo, assim, os membros da igreja, aos quais a epístola é dirigida com o claro objetivo de esclarecer a questão.
O ensino combatido por João nesta epístola defendia que o espírito é bom, a matéria má, e que as duas coisas não podem ter uma relação duradoura juntos. Assim, a salvação consiste em fugir do domínio da matéria para o domínio do espírito, através do conhecimento (gnosis), mediante o qual o homem pode erguer-se acima das cadeias terrenas da matéria e ascender à apreensão celestial da verdade. Uma outra heresia corrente era o docetismo, oriunda da anterior, que fazia do Jesus humano um mero fantasma, uma ilusão, que parecia surgir perante o homem, mas que não tinha existência real.
João afirma que o Cristo que ele pregava era audível, visível e tangível (1:1), e que quem nega o Pai e o Filho é antiCristo (2:22), além de declarar que “todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus” (4:2,3).

II JOÃO é destinada a uma determinada igreja, “à senhora eleita, e a seus filhos” (v.1), a fim de instruí-la a não dar hospitalidade, como era o costume, a um alegado mestre cristão itinerante que não proclama a verdadeira doutrina (8-11). Tais não são verdadeiros profetas, mas embusteiros, porque “não confessam que Jesus Cristo veio em carne” (v.7).


III JOÃO foi escrita para orientar a um certo Gaio como lidar com Diótrefes (v.9), um cismático. Não está claro se seu separatismo se devia ao fato de ter aderido ao ensino gnóstico ou a questões pessoais, o que é mais provável.
Ao se deparar especialmente com a heresia gnóstica do conhecimento exclusivo (questionamento da encarnação de Cristo, etc..), João não ataca os falsos mestres, como acontece em II Pedro. Sua preocupação não é apenas polêmica, mas também pastoral. Ele está preocupado em encorajar seus leitores a se apegarem a uma fé cristã consistente e a viver, consistentemente, com uma verdadeira conduta cristã.
Embora João use uma linguagem dualística (luz e trevas; Deus e o mundo), ele não é dualístico no pensamento, mas está centralizado na tradição cristã. Sua teologia está estruturada no dualismo do passado e do futuro – o já e o não ainda. O âmago do evangelho é algo que a igreja possui “desde o princípio” (2:7). Foi isto que ocorreu no evento histórico de Jesus Cristo. Aqui João usa a mesma teologia do Logos que aparece no Evangelho, embora a epístola fale do “Verbo da vida” (1:1). Este verbo divino, como o Logos de João 1:1, era “desde o princípio”, fazendo-se, contudo, manifesto na História, na pessoa de Jesus. João enfatiza a realidade histórica objetiva da encarnação (1:1-3).
A epístola, assim como o Evangelho (Jo 3:3), fala da entrada na vida cristã como um novo nascimento, sendo-se gerado por Deus, tendo-se a semente de Deus implantada em seu interior (2:29; 3:9; 4:7; 5:1,4,18). Por novo nascimento e implante da semente divina, João quer dizer, claramente, algo mais do que uma nova relação. Isto significa uma nova dinâmica, um novo poder, que entrou na personalidade humana, o que se reflete numa mudança de conduta. Permanecer em Cristo significa também permanecer na verdadeira tradição cristã, uma coisa que os gnósticos não fizeram (2:14,24,27; 4:16; 3:24).
A ética de João é a mesma encontrada no Evangelho (Jo 13:34), o novo mandamento do amor (2:15; 4:2,10; 3:11; 2:7,8).


LIÇÃO 23 23/11/08


O APOCALIPSE

O Apocalipse encerra o cânon e a história do Novo Testamento. Independente de ter sido ou não o último a ser escrito, é final no seu pensamento, pois encerra a expectativa de uma igreja que havia sido lançada no mundo como uma instituição e que aguardava, ansiosamente, que a sua missão se consumasse. É o único livro do Novo Testamento dedicado inteiramente à profecia. Praticamente todo o seu simbolismo está relacionado com imagens e símbolos presentes nos livros proféticos do Antigo Testamento, sendo, grande parte do seu conteúdo, preditivo. O autor declara que o mensageiro que lhe trouxe a última visão viera do Senhor, “o Deus dos santos profetas, (que) enviou o Seu anjo para mostrar aos Seus servos as coisas que hão de acontecer” (22:6), e no versículo seguinte fala na “profecia deste livro”.
As condições em que o livro foi escrito podem ser razoavelmente deduzidas do seu conteúdo. Destinava-se às sete igrejas da província da Ásia, que já existiam há bastante tempo, experimentando um crescimento espiritual seguido de declínio.
Nas cartas a estas igrejas encontram-se indícios de que a perseguição era iminente, ou já havia começado. A igreja de Esmirna ia sofrer e teria “uma tribulação de dez dias” (2:10). Antipas sofrera o martírio em Pérgamo (2:13); Filadélfia seria guardada da hora da tentação (3:10). Mesmo que estas passagens sejam interpretadas como referindo-se a acontecimentos futuros, a atmosfera do Apocalipse é de hostilidade e opressão.
Na parte principal do livro, a fome, a guerra, a peste, a pressão econômica e a perseguição são consideradas como os fenômenos típicos do seu cenário.
Restam poucas dúvidas de que Roma imperial constituiu o modelo do poder do estado que o Apocalipse pintou como inimigo do Cristianismo. A besta que tinha “poder sobre toda a tribo, e língua e nação” (13:7) tinha o seu antítipo no domínio universal de Roma sob os Césares. O “sinal” que os homens seriam obrigados a trazer para comprarem ou venderem (13:16,17) era o termo indicado para indicar o selo imperial estampado em testamentos, contratos, contas de venda e outros documentos a fim de dar-lhes valor legal. A prostituta chamada “Grande Babilônia”, embriagada com o sangue dos santos e mártires, estava sentada sobre sete montes (17:9), número idêntico ao das colinas de Roma.
Quer o Apocalipse deva ser definitivamente interpretado como aplicável a Roma ou não, fato é que os primeiros leitores assim entenderam.

DATA DO LIVRO

Prevalecem duas correntes de pensamento quanto à época e às circunstâncias em que foi escrito. Um grupo o atribui aos dias de Nero, quando o incêndio de Roma resultou em grande perseguição aos cristãos. O número místico 666 (13:18) seria o total dos valores numéricos das letras hebraicas com que se escreve NERON CAESAR, sendo a personagem do texto em questão, o próprio Nero. Assim, o livro teria sido escrito numa data recuada, antes de João escrever os evangelhos e as três epístolas.
Outro grupo situa o livro em finais do primeiro século (81-96), no período de Domiciano. Muito embora nos dias desse imperador não tenha havido uma perseguição generalizada, como nos dias de Nero, sua insistência em ser adorado como uma divindade e a tirania crescente da sua ditadura puseram-no em oposição ao crescimento do Cristianismo, constituindo o presságio do aparecimento das condições sociais, econômicas e religiosas que o Apocalipse profetizara.
O Apocalipse representa uma testemunha da hostilidade crescente surgida entre a Igreja e o estado romano. Em finais do primeiro século, os cristãos encontravam-se na defensiva em toda a parte, já percebendo claramente o efeito das palavras de Jesus: “Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece” (Jo 15:19).

OBJETIVOS DO LIVRO

O Apocalipse foi escrito para encorajar as igrejas, que sentiam esta hostilidade crescente, e para alertar os cristãos descuidados e negligentes, tentados a resvalar para uma conformidade fácil com o mundo.
Outro objetivo é apresentar uma revelação dos eventos que ocorrerão no final dos tempos e no estabelecimento do Reino de Deus. A teologia básica do livro, portanto, é sua escatologia. Ele declara ser uma profecia das coisas que brevemente têm que acontecer (1:2,3), cujo evento central é a segunda vinda de Cristo (1:7).

AUTOR

O autor, como ele mesmo diz, chamava-se João e fora testemunha ocular das coisas que descrevera (1:1,2). Encontrava-se em Patmos, uma ilha rochosa ao largo da costa da Grécia, onde encontrava-se encarcerado em função da sua fé (1:9). Ali foi-lhe dada a visão que descreveu, tendo-lhe sido ordenado que a transmitisse às sete igrejas da Ásia (1:10), com as quais estava familiarizado.

ESQUEMA BÁSICO DO LIVRO

PRIMEIRA VISÃO (1:9 – 3:22) – Cristo exaltado e suas cartas às sete igrejas.

SEGUNDA VISÃO (4:1 – 16:21) – Retrata o trono celestial com um livro selado com sete selos na mão de Deus, o qual só pode ser aberto pelo Leão da tribo de Judá, que é o Cordeiro de Deus sacrificado. O tema central aqui é o conflito entre Deus e Satanás.

TERCEIRA VISÃO (17:1 – 21:8) – A grande prostituta, Babilônia, a grande cidade que tem domínio sobre todos os reis da terra (17:18). O julgamento e a destruição da Babilônia são, então, anunciados (18:1-24), seguidos por um hino de louvor por sua destruição (19:1-5). O restante da terceira visão retrata a vitória final de Deus sobre os poderes do mal.

ÚLTIMA VISÃO (21:9 – 22:5) – Retrata a Jerusalém celestial, que é a Noiva, a esposa do Cordeiro.

EPÍLOGO (22:6-21) – Convida os homens a receberem a dádiva da vida por parte de Deus (22:17).


LIÇÃO 24 30/11/08

MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE

1. Interpretação Preterista – Trata o livro como um exemplo típico do gênero de literatura apocalíptica. Apocalipses são “panfletos para tempos ruins”, que aparecem em tempos de perseguição e mal inusitados com o objetivo de encorajar um povo em apuros. A solução para os problemas é encontrada na opinião de que Deus entregou este século aos poderes do mal, mas breve intervirá para destruir o mal e estabelecer seu Reino.
A mensagem dos apocalipses é dirigida aos seus próprios contemporâneos e, de modo algum, contém profecias do futuro, mas apenas pseudo-profecias baseadas na própria história. Assim, essa interpretação preterista supõe que o Apocalipse foi produzido para uma igreja que estava encarando a ameaça da medonha perseguição nas mãos de Roma, talvez na província da Ásia, onde o culto ao imperador florescia. Logo, a Besta é um dos imperadores romanos e o Falso Profeta é o culto de adoração ao imperador. O autor assegura, aos cristãos, que mesmo que apareça um grande martírio, Cristo retornará brevemente, destruirá Roma e estabelecerá seu Reino na terra.
De acordo com esse método, o simbolismo do Apocalipse relaciona-se unicamente com os acontecimentos da época em que foi escrito. Nada do simbolismo dos selos, das trombetas e das taças tem qualquer relação com o futuro. Ao falar do julgamento futuro, o escritor exprimia, simplesmente, a sua indignação moral perante os abusos do seu tempo. Relaciona o Apocalipse com o pensamento e com os acontecimentos históricos da época em que foi escrito, mas não dá margem a qualquer elemento profético.

2. Método Histórico – Esta interpretação, aceita pelos Reformadores, vê, no Apocalipse, uma profecia da história da Igreja. Eventos específicos, nações e personagens, que se enquadrem nos selos, nas trombetas, nas taças, etc., são buscados na história eclesiástica. A mais importante identificação, nesta interpretação, é a da Besta e do Falso Profeta com o papado em seus aspectos político e religioso. Assim, os símbolos descrevem, seqüencialmente, os grandes acontecimentos: os selos representam a dissolução do Império Romano; a erupção de gafanhotos do abismo representa as invasões islâmicas. Os defensores desse método, como os reformadores e diversos pregadores contemporâneos, nunca foram unânimes com relação ao significado dos símbolos.

3. Método Simbólico ou Idealista – Um dos métodos mais atraentes é o que vê, no Apocalipse, apenas símbolos dos poderes espirituais atuando no mundo. A mensagem do livro é a garantia aos santos sofredores do triunfo final de Deus, sem a predição de eventos concretos, nem no passado nem no futuro. A objeção a esta opinião é que o gênero de literatura apocalíptica sempre usava simbolismo apocalíptico para descrever os eventos da História, e temos que esperar que o Apocalipse compartilhe pelo menos desta característica com os outros livros deste caráter. Esse método considera o Apocalipse, unicamente, um quadro simbólico da luta constante entre o bem e o mal; entre o Cristianismo e o Paganismo. Assim, “o Apocalipse não significa uma revelação dos mistérios futuros do fim do mundo, do milênio ou do dia do juízo. Tampouco significa, primariamente, uma revelação das glórias do céu ou da beatitude dos remidos. Denota, antes, uma revelação do Deus infinito, poderoso para salvar; um descortinar, para consolo e inspiração do povo de Deus, do poder avassalador de um Salvador onipotente...”(Raimond Calkins). O método idealista tem a vantagem de chamar a atenção do leitor para a verdade ética e espiritual do livro e não para os aspectos discutíveis do seu simbolismo. Por outro lado, tende a reduzir o valor desse simbolismo como veículo de profecia. A sua “espiritualização” retira do Apocalipse todo o seu valor preditivo, separando-o de qualquer consumação histórica definida. O dia do juízo, segundo esta teoria, acontece sempre que se decide um grande problema moral, não é um ponto culminante em que um Cristo sobrenatural sobe a um trono invisível.

4. Interpretação Futurista Extrema / Dispensacionalismo
– Interpreta o Apocalipse considerando sua premissa dispensacionalista de dois programas divinos diferentes: um para Israel e um para a Igreja. Todos os selos, todas as trombetas e taças pertencem à grande tribulação. Considerando que esta é a hora da “angústia para Jacó” (Jr 30:7), tem a ver com Israel e não com a Igreja. Nos capítulos 2 e 3, a Igreja é vista na terra, mas a palavra “igreja” não ocorre mais no livro, a não ser em 22:16. Os vinte e quatro anciãos vistos ao redor do trono de Deus são tidos como a igreja, transportada e recompensada (4:4). Logo, o arrebatamento da Igreja tem que ocorrer em 4:1, e o povo de Deus na terra são os judeus, doze mil de cada uma das doze tribos (7:1-8), que proclamam o “evangelho do Reino” durante a tribulação e ganham uma grande hoste de gentios (7:9-17). A Besta é o chefe do Império Romano, que será restaurado nos últimos dias. A profecia em Daniel 9:27 é também entendida como se referindo ao chefe deste império restaurado. Os últimos sete anos começarão com um pacto entre a Besta (o anti-Cristo) e Israel, o qual será rompido pela própria Besta após três anos e meio e, então, enfurecida, perseguirá os judeus. O grande conflito, no Apocalipse, se dará entre o anti-Cristo e Israel, não entre o anti-Cristo e a Igreja. Visto que os capítulos 4 a 19 têm a ver com o período de tribulação, somente os capítulos 2 e 3 têm a ver com a era da Igreja.As sete igrejas representam sete períodos sucessivos da história eclesiástica, sendo o período final o da apostasia e da apatia espiritual, ponto de vista contestado por teólogos contemporâneos.
Segundo esse método, os três primeiros capítulos do Apocalipse aplicam-se ao tempo em que o livro foi escrito ou, então, que as sete igrejas da Ásia representam sete épocas na história da Igreja, estabelecendo uma ligação entre a era apostólica e o regresso de Cristo. Até aí, os futuristas são históricos. A partir de 4:1: “...as coisas que depois destas devem acontecer”, afirmam apresentar acontecimentos que terão lugar num período chamado de Grande Tribulação, mesmo antes do regresso de Cristo, a qual se prolongará por um período de três e meio a sete anos. Os acontecimentos previstos para este período são interpretados da forma mais literal possível.

Ponto de Vista Futurista Moderado – O Apocalipse afirma representar a consumação do propósito redentor de Deus, contendo tanto o juízo quanto a salvação. Um dos principais problemas na interpretação desse livro é a relação entre os selos, as trombetas e as taças. Na solução deste problema pode estar a chave para a interpretação do livro. As sete cartas são endereçadas a sete igrejas históricas que representam a Igreja como um todo. Os selos representam as forças, na história, qualquer que seja a sua duração, pelas quais Deus elabora seus propósitos de redenção e julgamento na história, conduzindo-a ao fim. Os eventos que começam com o capítulo sete estão no futuro e cumprirão a disposição final da vontade divina para a história humana.


LIÇÃO 25 14/12/08

PARTICULARIDADES DO LIVRO

1. O PROBLEMA DO MAL – O Apocalipse prevê um curto período de terrível mal na história, no fim dos tempos. Como Mateus 24:15 e 2 Tessalonicenses 2:3, ele fala de um personagem maligno que será, satanicamente, inspirado e autorizado, que abertamente desafia a Deus e exige que os homens o adorem, em vez de adorarem a Deus. Será permitido a ele empreender uma guerra contra a Igreja, e ele exercerá poder sobre o mundo inteiro (Ap 13:1-10). O esforço de Satanás de destruir o Messias é frustrado (12:4,5). Em lugar disso, ele próprio é destituído de seu poder, como resultado de um conflito espiritual, figurado como uma batalha entre o Dragão e Miguel (veja: Ap 12:10-12; Lc 10:17; Mt 12:28,29).

2. A VISITAÇÃO DA IRA – O Apocalipse retrata algo que não é ensinado em nenhum outro lugar da Bíblia: os juízos antecipatórios que serão lançados por Deus sobre os homens (16:1). As dores são dirigidas contra os homens que trazem o sinal da Besta e adoram sua imagem (16:2). Nesta última hora terrível, os homens terão que tomar uma posição: terão que ficar de um lado ou de outro. O martírio pode aguardar aqueles que seguem o Cordeiro, mas a ira de Deus aguarda aqueles que se submetem à Besta.

3. A VINDA DO REINO – A vinda do Reino de Deus é mostrada em duas situações: a destruição do mal e a bênção da vida eterna. A destruição do mal ocorre em vários estágios. A segunda vinda de Cristo (19:11-16) tem como propósito básico a destruição do mal. Sua vinda é tratada em termos de guerra antiga. Ele cavalga um cavalo de batalha e usa vestes manchadas de sangue. Ele é acompanhado pelos exércitos dos céus, aparentemente, anjos, todavia eles não participam do conflito. Sua única arma é uma espada afiada, oriunda de sua boca – sua palavra direta e simples. Não se trata de uma conquista militar. Sua vitória sobre o mal está no poder de sua palavra. Ele falará e a vitória será sua. O estado final do Reino de Deus é um novo céu e uma nova terra, o que expressa uma teologia da criação que permeia toda a Bíblia (Ap 21:1; Is 11:6-9; Jl 3:18; Am 9:13-15; Is 65:17,20; 66:22). O centro da nova terra é a cidade santa, a nova Jerusalém, retratada como a Noiva do Cordeiro, magnificamente vestida (21:9-11). A descrição da cidade é altamente simbólica. Entre seus habitantes estão os redimidos, tanto do Velho Testamento (21:12), como do Novo Testamento (21:14). Veja também: 21:22; 22:1,2,4.

E assim termina a Bíblia, com uma sociedade redimida vivendo numa nova terra purificada de todo o mal, com Deus habitando entre o seu povo.

O MILÊNIO E AS TEORIAS MILENIAIS

“Milênio é o período de mil anos em que Cristo reinará sobre a Terra, dando cumprimento às alianças abraâmica e davídica, bem como à nova aliança. É chamado também de reino dos céus (Mt 6:10), reino de Deus (Lc 19:11), reino de Cristo (Ap 11:15), a regeneração (Mt 19:28), tempos de refrigério (At 3:19) e o mundo por vir (Hb 2:5).
Seu Cabeça será Cristo (Ap 19:16). Seu caráter, um reino espiritual que produzirá paz, eqüidade, justiça, prosperidade e glória (Is 11:2-5). Sua capital será Jerusalém (Is 2:3).
Durante este período satanás estará acorrentado, sendo liberto ao seu final para liderar uma revolta final contra Cristo (Ap 20). Satanás será derrotado e lançado definitivamente no lago de fogo.”

POSIÇÃO PÓS-MILENISTA: a segunda vinda de Cristo se dará depois do Milênio. A parte final da Era da Igreja (os seus últimos mil anos) é o Milênio, que será uma época de paz e abundância promovida pelos esforços da Igreja. Depois disso, Cristo virá. Em seguida, haverá uma ressurreição generalizada, o juízo final e a eternidade. Segundo esta visão, Apocalipse 20 será cumprido num reino terreno , estabelecido pelos esforços da Igreja.

POSIÇÃO AMILENISTA: a segunda vinda de Cristo se dará no fim da época da Igreja e não existe um Milênio na terra. Num sentido restrito, a presente condição dos justos no céu é o Milênio e não há ou haverá um Milênio terrestre. A Era da Igreja terminará num tempo de convulsão, Cristo voltará, haverá ressurreição e juízo gerais e, depois, a eternidade. As promessas feitas a Israel são cumpridas na Igreja. Apocalipse 20 descreve a cena das almas no céu durante o período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo.

POSIÇÃO PRÉ-MILENISTA: a segunda vinda de Cristo acontecerá antes do Milênio. A Era da Igreja termina no tempo da Tribulação, Cristo volta à terra, estabelece e dirige seu reino por mil anos, ocorrem a ressurreição e o juízo dos não-salvos e depois vem a eternidade. Apocalipse 20 é interpretado literalmente. Entre os pré-milenistas não há unanimidade quanto ao tempo em que vai acontecer o arrebatamento.

domingo, 17 de agosto de 2008

GRUPOS DE VIDA

VIVENDO MELHOR

1º encontro

DEPRESSÃO – A DOENÇA DA MODA

A depressão não é uma doença nova, sempre existiu. É possível que Adão e Eva tenham sentido algo parecido quando perderam o direito de continuar naquele jardim belezudo criado por Deus para eles. Recentemente, porém, a doença está na moda e até ganhou status de epidemia. Nunca tanta gente esteve deprimida como atualmente. Segundo a ONU, de cada dez pessoas, uma terá depressão ao longo da vida. Desse total, 60% serão mulheres e 40% , homens. Não é muito difícil imaginar por que as mulheres correm mais riscos de ficarem depressivas. É possível, inclusive, que nós, os homens, sejamos, de alguma forma, responsáveis por isso. Ainda segundo a ONU, ela será a principal doença em 2020.
Todos os seres humanos fazem parte do grupo de risco, ou seja, ninguém está livre da depressão. Há um entendimento meio abestalhado de que o servo de Deus não pode, de jeito nenhum, ficar deprimido, que tal situação reflete pecado ou falta de fé. Oxente! O servo de Deus também é gente, também tem problemas, logo, está no grupo de risco. Outra coisa: essa parada de idade não tem nada a ver. Uma pessoa pode ficar depressiva em qualquer fase da sua vida, inclusive na infância. É claro, que a galera mais velha corre mais riscos, mas temos vários casos de jovens, de adolescentes, de crianças e até mesmo de bebês.
Nas páginas da Bíblia, encontramos homens e mulheres de fé que lutaram contra um sentimento de tristeza asfixiante, contra uma dor sem explicação, uma dor melecosa, enfim, uma depressão.


PERSONSAGENS BÍBLICOS EM ESTADO DEPRESSIVO

MOISÉS
“Se assim me tratas, mata-me de uma vez, eu te peço, se tenho achado favor aos teus olhos; e não me deixes ver a minha miséria.” – Nm 11:15

NOEMI

“Não me chameis Noemi; chamai-me Mara, porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso.” – Rt 1:20



“Por que se concede luz ao miserável e vida ao amargurados de ânimo, que esperam a morte, e ela não vem? Eles cavam em procura dela mais do que tesouros ocultos. Eles se regozijariam por um túmulo e exultariam se achassem a sepultura. Por que se concede luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus cercou de todos os lados? Por que em vez do meu pão me vêm gemidos, e os meus lamentos se derramam como água? Aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece. Não tenho descanso, nem sossego, nem repouso, e já me vem grande perturbação.” – Jó 3:20-26

DAVI

“Dentro de mim esmorece o meu espírito, e o coração se vê turbado.” – Sl 143:4

ELIAS

“Basta; toma agora, ó Senhor, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais.” – 1 Rs 19:4

JEREMIAS

“Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e não admite cura?” – Jr 15:18

PAULO
“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida.” – 2 Co 1:8

JONAS

“Em nascendo o sol, Deus mandou um vento calmoso oriental, o sol bateu na cabeça de Jonas, de maneira que desfalecia, pelo que pediu para si a morte, dizendo: Melhor me é morrer do que viver! Então, perguntou Deus a Jonas: É razoável essa tua ira por causa da planta? Ele respondeu: É razoável a minha ira até a morte.” – Jn 4:8-9


ALGUNS SINTOMAS DE DEPRESSÃO

a) emocionais: desânimo, desgosto, tristeza, medo, apatia, inércia e solidão. A depressão é um transtorno de humor, nada parece ter gosto ou graça;

b) cognitivos: sentimentos de inferioridade, vergonha, auto-piedade, indignidade, ressentimento, derrotismo, incapacidade, pessimismo, “dor moral”: o portador de depressão acredita ser o culpado pelo que está lhe acontecendo, e que o seu problema não tem solução;

c) motivacionais: o portador de depressão deseja isolar-se, fugir de tudo e de todos, desaparecer; coisas importantes perdem o encanto: trabalho, família, sexo, relacionamentos, vontade de viver;

d) físicos: alterações do apetite, perturbações do sono, fadiga, semblante caído, corpo vergado, tensão muscular, sensação de “peito apertado”, falta de ar.

Percebidos alguns desses sintomas, o cabra deve procurar ajuda ou rever conceitos imediatamente, ou as duas coisas. Buscar o auxílio de amigos é uma boa, do pastor, ou, se for o caso, de um profissional: preferencialmente, pra começar, um psicólogo ou um psicanalista. Em casos extremos, esses profissionais encaminharão o paciente a um neuro-psiquiatra. A criatura jamais deve auto-medicar-se. Um remédio que funcionou para o vizinho pode não funcionar pra você. Orar é interessante, mas também é preciso agir o quanto antes. O sujeito ou a sujeita não pode, de jeito nenhum, entrar naquela neura: “eu sou crente, não posso ficar assim, o que as pessoas vão pensar de mim?” Nessa situação, pense em você e tome providências imediatamente. Quanto mais demorar para reagir, mais difícil será o tratamento. Nos casos crônicos, o tratamento se faz com antidepressivos que devem ser receitados exclusivamente por um neurologista ou por um psiquiatra.
Coisas simples são capazes de evitar um quadro depressivo: um churrasquinho com os amigos no fim de semana, uma caminhada pela orla ou pelo mato, uma saidinha à noite com a esposa e os filhos para comer um cachorro-quente na praça, um banho de chuva, andar descalço, falar umas bobagens gospel, curtir a família, brincar, pagar uns micos, ouvir música, se envolver com coisas prazerosas, enfim, umas coisas assim.
O melhor tratamento é a prevenção.


2º encontro

DEPRESSÃO / MELANCOLIA

A depressão (ou melancolia) foi documentada há mais de dois mil anos por babilônios, egípcios, gregos e judeus. Durante a Idade Média, relacionaram-na com a covardia, a incredulidade e a preguiça.
O que distingue a tristeza normal de um estado depressivo é a sua duração e sua intensidade. Quando estamos tristes, conservamos nosso amor-próprio, voltamos a nos sentir bem depois que choramos, e somos ajudados por palavras de consolo, mas quando alguém está atravessando um episódio de depressão severa, sua auto-estima desaparece. Chorar não ajuda muito (às vezes, a pessoa nem consegue chorar) e o que os amigos dizem causa-lhe irritação. As pessoas próximas parecem não entender o que acontece e o deprimido, por sua vez, não se sente com a mínima vontade de lhes explicar.
Na depressão, o abatimento da pessoa é desproporcional àquilo que parece tê-lo causado. Outras vezes nem mesmo há uma causa aparente.
Não existe um motivo único para a depressão. Há uma conjugação de fatores. Os casos de depressão são diferentes, apresentam sintomas distintos e podem ter causas diversas.

ALGUMAS CAUSAS DA DEPRESSÃO

a) Causas físico-genéticas: Existe um fator hereditário, ou seja, pessoas com antecedentes na família apresentam maior probabilidade de desenvolê-la; falta de sono, alimentação inadequada;
b) Causas ambientais: Ambiente familiar opressivo, local de trabalho estressante, clima de tensão, competição, insegurança, imprevisibilidade, violência;

c) Causas emocionais: Pessoas que tiveram uma infância infeliz, sofreram traumas ou experimentaram perdas significativas nos primeiros anos de vida têm maior probabilidade de cair em depressão; sentimentos de rejeição, culpa, mágoa. Os perfeccionistas são sérios candidatos à depressão, pois impõem a si mesmos um padrão, muitas vezes, inatingível; o mesmo pode ser dito dos pessimistas, que enxergam dificuldade em tudo e sempre se fixam no lado ruim das coisas.

d) Causas ocasionais: acontecimentos traumáticos, um incidente como: enfermidade repentina, desemprego, separação, perda de entes queridos, agressão, desapontamentos e outras situações sobre as quais não se tem controle. Existem ainda aqueles casos em que o camarada fica deprimido em datas especiais, como natal, ano novo e o próprio aniversário.

e) Causas existenciais: sempre que levamos um estilo de vida inadequado à nossa personalidade, violentamos nossa própria natureza; a pessoa se percebe insatisfeita com a vida que leva, mas não é capaz de enxergar possibilidade de mudança. Assim, sentindo-se presa num beco sem saída, mergulha numa tristeza longa e acentuada;

f) Causas espirituais: falta de intimidade com Deus, de uma experiência real com ele.

EXEMPLO SIMPLES DE UMA SITUAÇÃO DEPRESSIVA

Imagine a seguinte situação: você pega um pardal e coloca-o numa gaiola. Ele não se sentirá feliz. Mesmo que as grades sejam de ouro e que você lhe ofereça alpiste importado e água mineral, o passarinho adoecerá. Ele ficará cada vez mais triste e acabará morrendo. A natureza do pardal não condiz com o cativeiro. Outras aves podem adaptar-se a viveiros e gaiolas, mas não ele. Pardais não sobrevivem sem liberdade. Quando aprisionados, ficam abatidos e doentes porque não estão recebendo aquilo que necessitam para viver: liberdade.
A depressão é sempre um sinal de que não estamos recebendo o que é necessário para vivermos saudáveis e felizes. É um alerta que recebemos de que algo não vai bem. Pode ser que estejamos precisando simplesmente de repouso. É possível que o que nos falte seja férias regulares, perspectivas de vida, amizades sinceras e um relacionamento pessoal com Deus. Também pode acontecer de estarmos desperdiçando nosso potencial, negligenciando a família ou priorizando coisas erradas. Usando a analogia do pardal, é como se estivéssemos trocando o sol e o vento por alpiste importado e água mineral.
A seguir, vamos dar uma olhadinha num caso de depressão registrado em nossa MPB: Clarisse, de Renato Russo (fragmentos):
....
E Clarisse está trancada no banheiro
E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no canto, seus tornozelos sangram
E a dor é menor do que parece
Quando ela se corta ela se esquece
Que é impossível ter da vida calma e força
Viver em dor, o que ninguém entende
Tentar ser forte a todo e cada amanhecer
.......
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente
E sente a essência estranha do que é a morte
Mas esse vazio ela conhece muito bem
De quando em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo
.......
Um mundo onde a verdade é o avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada no seu quarto
Com seus discos e seus livros, seu cansaço
.....
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Clarisse só tem quatorze anos.

Isso que acontece com Clarisse é um quadro depressivo crônico. A dor física provocada por ela mesma através dos cortes com o canivete é menor do que a dor moral, do que a dor de existir que ela sente.

3º encontro

TRANSTORNO DO PÂNICO ou SÍNDROME DO PÂNICO

Os sintomas físicos mais comuns são taquicardia, sudorese, sensação de falta de ar (não se preocupe porque ninguém jamais morreu sufocado por causa de pânico), tremor, fraqueza nas pernas, ondas de frio ou de calor, tontura, sensação de que o ambiente está estranho, que a pessoa “não está lá” (isso se chama desrealização e não tem nada a ver com loucura, não se preocupe), de que vai desmaiar, de que vai ter um infarto, de uma pressão na cabeça, de que vai “ficar louco”, de que vai engasgar com alimentos, assim como crises noturnas de acordar sobressaltado com o coração disparado e com sudorese intensa. É claro que a maioria das pessoas não têm todos esses sintomas.
Um medo muito comum é o de “voltar a sentir medo”. Muitas vezes o simples pensamento de entrar num ônibus ou passar ao lado de um abismo já desencadeiam a crise. Algumas pessoas quando vão a um cinema, teatro ou restaurante, procuram sentar-se perto da saída, outras não trancam a porta quando vão ao banheiro para sair com facilidade caso venham a passar mal.
Uma forma mais específica da Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico se chama Fobia Social e se caracteriza por crises de ansiedade em situações como reuniões, apresentações, discussões com superiores, assinatura de algum documento ou de um cheque e até mesmo comer ou levantar uma xícara de café em público.
Algumas vezes, os sintomas aparecem após uma experiência traumática na qual a pessoa se sentiu indefesa, humilhada ou sem possibilidade de reação, como por exemplo: assalto, seqüestro, acidente, um repentino problema sério de saúde.

MINHA EXPERIÊNCIA COM SÍNDROME DE PÂNICO

Aos 30 anos, por estresse causado por excesso de trabalho, tive um problema sério de saúde. Eu estava internado por outra razão, para um procedimento renal de rotina, quando sem mais nem menos, após a visita noturna do meu médico, durante a refeição, me senti mal e tive uma convulsão. Por cerca de uma hora fiquei sem movimentos, não conseguia mexer nada, apenas ouvia e via sombras e pensava sobre o depois, enquanto vários médicos me assistiam. Eu não respeitei os limites do meu corpo e nem por isso estava com muito dinheiro. Aquela situação foi muito traumática pra mim. O diagnóstico inicial falava de AVC até que um neurologista apresentou dias depois um diagnóstico de stress. Pois bem, quando tive alta (me internei com uma previsão de 12 horas e fiquei 48), nos primeiros dias em casa desenvolvi um transtorno de pânico: medo de viver novamente aquela situação traumática. Fui encaminhado para um neurologista e um cardiologista. Não havia nada de anormal com o coração. O neurologista após alguns exames, optou por um tratamento medicamentoso. O medicamento me impedia, por exemplo, de dirigir. Quase bati com o carro. Precisava ir trabalhar de ônibus. Para ficar mais tranqüilo, levava no bolso uma papelzinho com número de telefone, nome do hospital e do médico, mas precisava encarar, aquilo não podia ser mais forte que eu. Trabalhei assim por mais de 15 dias, com um medo louco de passar mal no ônibus, sozinho. A pior crise foi na praça de alimentação de um shopping, com a minha esposa, eu estava certo de que ia apagar ali. Ela, como sempre, me deu a maior moral e saí dali suando desesperadamente. Depois daquilo, resolvi que não podia viver daquele jeito. Voltei ao neurologista, às vezes, o primeiro remédio não faz efeito, e é preciso trocar. Voltei a ir para o trabalho de carro. A vida foi voltando ao normal e o transtorno do pânico me deixou e fui feliz para sempre.

IMPORTANTE

Sofrer de Pânico não tem nada a ver com personalidade forte ou fraca, com a pessoa ser ou não ser corajosa, todos nós, evangélicos ou não, fazemos parte do grupo de risco. Faço questão de citar esse “evangélicos ou não” porque tem uns companheiros que acham que o fato de serem evangélicos dá imunidade contra tudo quanto é doença. Nada a ver, isso não é bíblico, isso faz parte dessa teologia da prosperidade, que prega que Deus está a nossa inteira disposição 24 horas por dia para atender todas as nossas necessidades, todos os nossos desejos e todas as nossas frescuras. Essas mesmas pessoas acham ainda que Deus é evangélico e que, portanto, só atende os pedidos dos evangélicos e que seria uma traição Ele deixar que um evangélico desenvolva uma síndrome do pânico ou uma depressão. Vou até mudar de assunto porque não tenho muita paciência pra isso. Só mais uma coisinha: tem uma galera que até torna Deus denominacional, quase afirmando que ele é batista, assembleiano, metodista, presbiteriano e por aí vai. Ninguém merece, companheiros. Deus é Deus. Ele atende cristãos e não-cristãos e nem por isso nos deve alguma satisfação.

ENTENDENDO MELHOR A SÍNDROME

Os sintomas físicos de uma crise de pânico podem aparecer subitamente, inclusive sem uma causa definida. Os sintomas funcionam como uma preparação do corpo para alguma “coisa terrível”. A reação natural é acionar os mecanismos de fuga. Assim, diante do perigo, o organismo trata de aumentar a irrigação de sangue no cérebro e nos membros usados para fugir, ou seja, o sistema de “alerta” normal do organismo – o conjunto de mecanismos físicos e mentais que permite que uma pessoa reaja a uma ameaça – tende a ser ativado desnecessariamente na crise de pânico, sem haver perigo iminente.
Gradativamente, se o transtorno não for tratado, o nível de ansiedade e o medo de uma nova crise podem atingir proporções tais, que a pessoa com o transtorno do pânico pode se tornar incapaz de dirigir ou mesmo pôr o pé fora de casa. Desta forma, o distúrbio do pânico pode ter um impacto tão grande na vida cotidiana de uma pessoa como qualquer outra doença grave, a menos que essa pessoa receba tratamento eficaz e seja compreendida pelos demais.

PERFIL DA POPULAÇÃO ATINGIDA

· Normalmente, estão na faixa etária de 21 a 40 anos e encontram-se no auge de suas vidas profissionais;
· Geralmente são pessoas muito produtivas que costumam assumir uma carga excessiva de responsabilidades e afazeres;
· Pessoas exigentes consigo mesmas e que não conseguem conviver bem com erros ou imprevistos;
· Pessoas com alto nível de criatividade, perfeccionismo e necessidade de estar no controle da situação;
· Pessoas com tendência a ignorar os limites físicos do seu corpo.

Pessoas com esse perfil estão predispostas a situações de estresse acentuado, o que pode levar ao aumento intenso da atividade de determinadas regiões do cérebro, desencadeando assim um desequilíbrio bioquímico e conseqüente aparecimento do transtorno de pânico.


4º encontro

TOC: TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO

O TOC é uma doença bastante comum, atingindo, aproximadamente, um em cada 40 ou 50 indivíduos. A maioria dos portadores, embora tenham suas vidas gravemente comprometidas pelos sintomas, nunca foram diagnosticadas, muito menos tratadas.
O TOC é um transtorno mental de ansiedade. Seus sintomas envolvem alterações dos pensamentos (preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de conteúdo impróprio, obsessões), do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão).
A característica principal é a presença de obsessões (pensamentos, idéias, imagens, palavras, frases, números ou impulsos que invadem a consciência de forma repetitiva e persistente, e que geralmente são acompanhadas de medo, angústia, culpa ou desprazer) e/ou compulsões (comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, executados em resposta e obsessões ou por causa de regras que devem ser seguidas rigidamente e que aliviam momentaneamente a ansiedade).
Além disso, os portadores do TOC sofrem de muitos medos (de contraírem doenças, de cometerem falhas, de serem responsáveis por acidentes). Em razão desses medos, evitam as situações que possam provocá-los (evitação).

VAMOS FAZER UM TESTE RÁPIDO?

1. Você se lava (mãos, pés, rosto) com muita freqüência?
2. Você verifica as coisas (se fechou a porta de casa, do carro ou da geladeira, por exemplo) de forma repetida?
3. Você tem pensamentos que lhe incomodam e dos quais gostaria de se livrar, mas não consegue?
4. Você leva muito tempo para completar suas atividades diárias?
5. Você se preocupa muito com ordem ou alinhamento das coisas?

Se uma das respostas for positiva, é bem provável que você seja portador de TOC, mas não precisa se desesperar, você não vai morrer por conta disso. O problema é quando o TOC torna-se intenso a ponto de incomodar as pessoas com quem você convive. Aí ele pode gerar sérios problemas de relacionamento. Tratamentos existem, mas é preciso que o portador admita o problema, do contrário, não vai rolar.

OBSESSÕES E COMPULSÕES MAIS COMUNS

· Sujeira, contaminação (não usar os copos de um restaurante, por exemplo);
· Dúvidas: o cara faz a mesma pergunta ou os mesmos comentários infinitas vezes;
· Simetria, perfeição, exatidão ou alinhamento: tudo tem que estar numa determinada ordem; os chinelos, em hipótese alguma, virados;
· Impulsos ou pensamentos de ferir, insultar ou agredir outras pessoas;
· Sexo ou obcenidades;
· Armazenar comida, poupar, guardar coisas inúteis ou economizar;
· Preocupações exageradas com doenças ou com o corpo;
· Sentimento constante de pecado, de culpa, de escrúpulos, sacrilégios ou blasfêmias;
· Pensamento mágico (superstições: números especiais, cores, datas e horários); rezar, repetir palavras, frases, números; possibilidade de modificar o curso futuro dos acontecimentos com a execução dos rituais (pensamento mágico);

TRATAMENTO

A terapia exigirá um esforço bastante grande por parte do paciente para que ele faça o contrário de tudo aquilo que estava habituado a fazer. Por exemplo: o cara vai ser orientado a se policiar para não conferir inúmeras vezes se a porta está fechada, embora sinta vontade de fazê-lo.

5º encontro

CIÚME: ZELO, MEDO DE PERDER OU OBSESSÃO?

Referências bíblicas: 1 Co 13:4; 3:3; Ct 8:6; Pv 6:34; Nm 11:29; Gn 37:11; Gn 30:1.

· O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece.
· Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?
· ...porque o amor é forte como a morte; e duro como a sepultura, o ciúme...
· Porque o ciúme excita o furor do marido.
· Porém Moisés lhe disse: Tens tu ciúmes por mim? Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito!
· Seus irmãos lhe tinham ciúmes; o pai, no entanto, considerava o caso consigo mesmo.
· Vendo Raquel que não dava filhos a Jacó, teve ciúmes de sua irmã e disse a Jacó: Dá-me filhos, senão morrerei.

INTRODUÇÃO

Nas passagens bíblicas acima, várias formas de ciúmes são abordadas em diferentes contextos. Podemos dizer que o ciúme é uma emoção positiva até o ponto em que se manifesta como zelo, como cuidado por alguém ou por alguma coisa que amamos. Quando, no entanto, toma ares possessivos ou doentio, esse sentimento já passa a preocupar.

O CIÚME NAS VÁRIAS FORMAS DE RELAÇÕES HUMANAS

“Um relacionamento implica uma certa dose de respeito de/por ambas as partes. Sem esse pressuposto não é possível manter uma relação positiva”, afirma Agnes Ghaznavi (especialista em relações humanas). Para que uma relação seja positiva para ambas as partes, é preciso que haja reciprocidade, respeito, amizade, lealdade, fidelidade, proximidade, liberdade, ternura, afeto e confiança.
Um garoto que acredite que os pais dão mais atenção à sua irmã ou ao seu irmão poderá, posteriormente, canalizar esse sentimento à sua parceira, numa relação futura. Uma filha cuja mãe é ciumenta tende a desenvolver esse traço de caráter com mais facilidade.
Em sociedades monogâmicas como a nossa, o ciúme, normalmente, será associado a honra e a moral, quase um instrumento de proteção familiar, uma espécie de adaptação da espécie para proteger o que é nosso por direito. Para alguns, é um sinal de amor e cuidado. Até aí, tudo bem; o problema é quando se torna possessivo, obcecado, desconfiado, inseguro, patológico (doentio).
As causas do ciúme doentio (patológico) podem ser, basicamente, duas: falta de confiança (no outro ou em si mesmo) ou obsessão. Esse ciúme doentio invade os pensamentos e esses pensamentos se repetem na mente do ciumento e projeta inúmeras imagens sobre eventos e episódios que podem jamais ter acontecido.
Os ciumentos costumam ser muito “criativos” e não conseguem, muitas vezes, distinguir a fantasia da sua mente da realidade, criando, assim, o medo da perda (que pode nem ser real). Assim, o ciumento passa a procurar provas que confirmem suas suspeitas, inquirindo o outro sobre o que faz, verificando os seus bolsos, a sua correspondência, os seus e-mails, suas ligações, e isso vai gerando dúvidas cada vez maiores. Mesmo que defendamos a idéia de que os cônjuges não devam ter segredos entre si, todo ser humano quer ter sua privacidade respeitada e a invasão desse espaço vai gerar conflito. Assim, o acesso a privacidade do outro precisa ser conquistada, negociada e não invadida de maneira arbitrária com o objetivo de procurar provas inexistentes de uma situação não ocorrida. Isso é terrível. Por outro lado, se existe uma desconfiança real de possíveis atitudes estranhas do cônjuge, é preciso conversa, o tradicional “discutir a relação”. Se a conversa já não é possível, é hora de procurar ajuda (amigos, pastor, terapeuta familiar). A palavra amigo já traz em si a idéia de alguém em quem confiamos. Se não confiamos, não é amigo. O ideal aqui é um amigo do casal. Nessas situações, os parentes devem ser evitados. Eles normalmente vão tomar o partido do reclamante.
O ciúme doentio ou patológico agrega em si outras emoções negativas: ansiedade, depressão, raiva, vergonha, insegurança, humilhação, perplexidade, culpa e desejo de vingança, todas relacionadas com a baixa auto-estima, que acarreta uma sensação de insegurança.
Não é só nas relações conjugais que o ciúme acontece. Há muitos casos de ciúmes em relacionamentos baseados na amizade e até entre colegas de trabalho e entre companheiros de ministérios, no contexto da igreja.
Algumas pessoas têm dificuldades de construir ou de manter uma rede de amigos e acabam tendo ciúmes dos amigos dos amigos, ou seja, elas gostariam que determinada pessoa fosse seu amigo exclusivo, de mais ninguém. Já na igreja ou no ambiente de trabalho, a pessoa ciumenta passa a alimentar a idéia de que o líder dá mais atenção para o fulaninho e aí passa a ter ciúmes também. Algumas pessoas chegam ao ponto de não querer ter um filho por ciúme do companheiro ou da companheira, por entender que não vai conseguir dividir a atenção do cônjuge com a criança. Outros casos comuns que acabam gerando brigas é ter ciúme daquilo que outro valoriza muito: livros, carros, amigos, amigas, futebol, artistas.
Pessoas que sentem inferiores ou inferiorizadas em relação ao outro tornam-se inseguras e, consequentemente, tendem a desenvolver ciúmes com mais facilidade.
Podemos ficar mais vulneráveis ao ciúme em momentos de estresse, de perdas, de mudanças ou de comportamentos provocativos do outro.

CONCLUSÃO

Havendo confiança, aceitação pessoal e aceitação do outro, poderemos viver menos obcecados com fantasias de traição.
O ciúme não é um sentimento voltado para o outro, mas sim para si mesmo, para quem o sente, pois, na verdade, é o medo egocentrado de perder o outro que gera o ciúme.



6º encontro

INVEJA – UM SENTIMENTO ESPÚRIO À VIDA CRISTÃ

Referências bíblicas: Is 14:12-14; Gn 4:4,5; Mt 15:19; Ec 4:4; Fp 1:15.

· Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
· Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante.
· Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.
· Então, vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo. Também isto é vaidade e correr atrás do vento.
· Alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade.



CONCEITOS INICIAIS

Segundo o dicionário Michaelis, inveja significa ódio pela prosperidade ou alegria de outra pessoa, bem como o desejo de possuir alguma coisa que o outro tem. Já o jornalista Zuenir Ventura, comparando ciúme, cobiça e inveja, define-os da seguinte forma: “ciúme é querer manter o que tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é não querer que o outro tenha.”

A INVEJA DO PONTO DE VISTA BÍBLICO

Na visão cristã, a passagem de Is 14:12-14 se refere a Lúcifer, querubim que se rebelou por inveja e, contaminado por este sentimento, teria convencido outros anjos a se posicionarem contra Deus. Estes, então, teriam sido expulsos do céu. Após o episódio da queda do homem influenciada por esse anjo mau, o pecado entrou na raça humana e, com ele, os frutos da carne (Gl 5:19-21), entre os quais, a inveja.
Caim, o primeiro invejoso humano, não conseguiu dominar sua inveja e matou seu irmão. Talvez o invejoso de hoje não mate literalmente o seu irmão, mas o faça espiritualmente.
Quando Jesus diz em Mateus 5:19 que os maus desígnios procedem do coração, ele está fornecendo base bíblica para crermos que a inveja é inerente ao coração humano. Logo, o desafio é tratá-la e dominá-la.
Me parece muito simplista dizer que a inveja é demoníaca. Na verdade, é sempre muito cômodo projetar para o mundo invisível situações nas quais o homem é o real culpado. Seria bem mais tranqüilo espiritualizar a inveja e “amarrar” os demônios, todavia não podemos esquecer o ensino de Cristo de que ela procede de nossos corações, ou seja, é um sentimento humano negativo.

DO PONTO DE VISTA DA PSICOLOGIA

A maioria dos evangélicos vê a inveja como pecado e não como doença. Segundo a Psicologia há um tipo de inveja que pode ser patológica: quando uma pessoa faz qualquer coisa para ter o que o outro tem ou quer, passando por cima de valores, ideais, amizades e até da família. Esse tipo de inveja pode ser entendido como o desgosto diante da prosperidade alheia. Nesse caso, a pessoa só consegue focar o outro, não consegue perceber o que ela própria tem de valor.
O contentamento com o que temos (não confundir com conformismo) é uma excelente fórmula para nos livrarmos da inveja. Se desenvolvermos uma alegria real pelo que temos e pelo que somos não precisamos nos comparar aos outros. Não havendo comparações, a inveja não vai rolar.

NO AMBIENTE DE TRABALHO

No ambiente de trabalho, a concorrência se acirra a cada vaga ou a cada oportunidade que surge e isso acaba colocando à prova a capacidade de cada um rejeitar ou abrigar a inveja. Há pouco tempo houve um caso, em São Paulo, de uma estagiária que chegou ao absurdo de matar uma colega e ferir outra na intenção de recuperar uma vaga.
Normalmente, nos espelhamos em alguém para crescermos. É preciso olhar para pessoas que são referenciais em suas áreas de atividade e que alcançam resultados extraordinários, mas não se deve imita-las, pois cada um tem seu próprio jeito de fazer as coisas.
Quando você inveja alguém, o seu objetivo é encontrar deficiências no cara. Dessa forma, você não consegue aprender com essa pessoa, nem consegue perceber seus sacrifícios ao longo do caminho. Quando você admira, aí sim, você consegue perceber ensinamentos em cada conquista dessa pessoa, bem como em cada caminho que ela trilhou até alcançar o sucesso.

NA IGREJA

Um dos lugares onde se imagina que a inveja não conseguiria entrar é a igreja, tida erradamente como lugar de santos, incorruptíveis e irrepreensíveis. Precisamos levar em conta, todavia, que esses são os objetivos e não os motivos de estarmos ali, ou seja, estamos na igreja porque gostaríamos de ser santos, incorruptíveis e irrepreensíveis e não porque sejamos. Assim, o fato de algumas pessoas dentro de uma igreja serem o centro das atenções faz da inveja um pecado comum, que deve ser evitado.
Às vezes, a inveja atinge o púlpito, quando líderes disputam entre si, invejando os ministérios uns dos outros. Para complicar ainda mais as coisas, alguns pastores vivem uma certa solidão, sem amigos, sem “confessores” e isso pode levar o cara a uma queda motivada pela inveja ou mesmo pela ambição pelo poder.
Uma das áreas mais propensas à inveja na igreja é a do louvor, pois abrange pessoas em evidência, belas vozes, grandes talentos. Aí o perigo é duplo: essas pessoas podem ser tentadas a se sentirem “astros e estrelas” e podem também ser invejadas.

7º encontro

DECEPCIONADOS! COM DEUS? COM A IGREJA?

Referências bíblicas: 2 Tm 2:15,16; Js 1:6-7; 1 Sm 30:6; Ec 9:8.

· Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Evita, igualmente, os falatórios inúteis e profanos, pois os que deles usam passarão à impiedade ainda maior.
· Sê forte e corajoso, porque tu farás este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais. Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita, nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares.
· Davi muito se angustiou, pois o povo falava de apedreja-lo, porque todos estavam em amargura, cada um por causa dos seus filhos e de suas filhas; porém Davi se reanimou no Senhor, seu Deus.
· Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça.

PALAVRAS INICIAIS

Logo após a conversão, é muito comum muitas pessoas desejarem um chamado para servir a Deus em alguma atividade na igreja, é um sonho para muitos. Então um dia isso acontece e as pessoas ficam felizes e entusiasmadas. O tempo vai passando e surgem as primeiras decepções. Afinal de contas, a igreja é formada por seres humanos, que são falhos, imperfeitos. Assim, os sonhos românticos de uma vida de dedicação acabam, muitas vezes, dando lugar ao cansaço, à amargura e à decepção.
Manter um ministério saudável por anos a fio é uma árdua tarefa, conquistada por poucos. A questão é: qual será o segredo para alcançar essa vitória? Como equilibrar as peculiaridades do trabalho cristão e as decepções, comuns e incomuns, com outros cristãos e com a igreja?
Vários são os desafios a serem encarados, principalmente as dificuldades nos relacionamentos, a imaturidade de alguns e as decepções com o caráter de outros.

SUPERANDO AS DIFICULDADES

“Deus não nos chamou para fazer sucesso, mas para sermos fiéis.” Isso quer dizer que o sucesso na vida espiritual, muitas vezes, inclui ser perseguido como foram os personagens bíblicos João Batista (decapitado) e Estevão (apedrejado). Em seu livro “Decepcionados com a Graça”, o pastor Paulo Romeiro sinaliza para o perigo do líder fazer do ministério a sua fonte exclusiva de realização pessoal: “O ministério não sacia o coração e a alma porque pode acabar de uma hora para outra. A nossa fonte deve estar em Jesus.”
O lance é o seguinte: um líder, uma pessoa que trabalha na igreja não precisa nem deve ser pessimista, mas deve, com certeza, ter os “pés no chão”, não esperar das pessoas mais do que deve, pois isso pode aliviar grandes frustrações, grandes decepções ao longo da caminhada. Devemos oferecer o nosso melhor, desempenhar nosso ministério com excelência, mas precisamos estar prontos para críticas, muitas vezes, negativas, incompreensões, enfim, essas coisas humanas.
“Somente permaneceremos motivados à medida em que olharmos para quem estamos realmente fazendo tudo o que fazemos. Queremos plantar, regar e colher, mas nem sempre participaremos de todo o ciclo.” Então, se estamos trabalhando para que alguém veja, para nossos líderes, poderemos ficar arrasados com algumas ações deles, porém se estamos fazendo para Deus, para o bem da sua obra, da nossa igreja, ainda que em alguns momentos fiquemos decepcionados (afinal de contas, somos humanos), não vamos ter uma crise existencial ou mesmo um ataque de frescuras pelo fato do nosso trabalho não ter sido reconhecido em algum momento. Oxente, não tem nada a ver eu me decepcionar com meu líder ou com outro companheiro de ministério e resolver que não vou mais fazer. Agindo assim, deixamos claro que não estávamos fazendo para Deus ou pela sua obra.


CONCLUINDO

Para finalizar, devemos levar em conta o seguinte: “se as conseqüências das decepções forem muito intensas, de forma que alterem o bem-estar, o humor e o comportamento de quem trabalha, talvez essa pessoa precise corrigir o foco e entender que o caminhar com Cristo não depende de ministério ou de cargos. Tenho que investir prioritariamente em minha vida com Cristo, pois o trabalho na igreja é passageiro. É preciso focar o que é eterno.”
Assim, companheiros e companheiras, resta-me dizer que é uma belezura trabalhar na igreja, que é muito fofo nos sentirmos colaboradores da causa de Cristo, que é muito legal ser líder, enfim, tudo é uma fofeza só, mas nada se compara a uma vida de efetiva comunhão com Cristo. Se as duas coisas forem possíveis, maravilha; mas se não for, priorize a comunhão com Cristo. Se trabalhar na igreja está te fazendo mal, te gerando úlceras ou gastrites de fundo emocional, estresse, problemas graves de relacionamento, reveja seus conceitos, peça férias e direcione seu foco para a sua vida espiritual. Você não é insubstituível.
Gente, pelo amor de Deus, não entendam que eu esteja incentivando a demissão em massa, o abandono de ministérios ou o descompromisso com a causa da igreja. O que estou fazendo é colocando a pessoa, o ser, o indivíduo, o meu irmão em Cristo acima de qualquer outra coisa. O que estou dizendo é que você, pessoa, é mais importante que seus cargos e que a sua saúde física, mental e espiritual está acima disso. Quando trabalhamos, ralamos, nos decepcionamos, mas estamos bem estruturados e tranqüilos, beleza. Agora, se isso não rolar, paciência, você é mais importante, sua salvação é mais importante. “Nem tudo é pra todos.”

sábado, 2 de agosto de 2008

ATOS DOS APÓSTOLOS E AS EPÍSTOLAS PAULINAS

APRESENTAÇÃO

Continuando nossos estudos sobre o Novo Testamento, aqui está o segundo módulo, contendo o livro de Atos e os escritos de Paulo. Embora já tenhamos falado em igreja, a instituição, no evangelho de João, é em Atos que, de fato, ela começa a tomar forma. Assim, diante da formação dessa nova comunidade (a igreja), torna-se necessário produzir uma literatura de orientação, de regulamentação, de apoio, e é nesse contexto que aparecem os escritos paulinos.
Optamos, inicialmente, por uma análise geral das epístolas de Paulo, para somente depois, analisarmos de forma breve cada uma delas.
Para que as coisas fluam numa boa e haja um aprendizado significativo, precisamos que você, companheiro(a) aluno(a), leia cada lição antes do domingo em que ela será trabalhada. Assim, além de entendê-la melhor, você poderá enriquecer a aula com seus questionamentos, com suas contribuições, ajudando, dessa forma, seu professor, sua professora.
E por falar em professores da EBD, quero parabenizar a cada um dos nossos companheiros da PIB-Unamar (já professores ou ainda não) que participaram do nosso II Seminário de Formação Continuada para Professores de EBD, nos dias 05 e 06 de julho, no CIEP 331, em Aquários. Foi muito enriquecedor, uma belezura. Na 1ª edição, tivemos 40 inscritos; nesta segunda, pulamos pra 60. O evento é aberto a todas as denominações. Foi muito fofo. Agora, de agosto a novembro, ministraremos, aqui mesmo na igreja, um curso para professores de EBD (também aberto a todas as denominações e a não professores), com aulas em sábados alternados (a partir de 02 de agosto), sempre das 13 às 16 horas.
A partir de setembro e até o primeiro semestre de 2009, ficaremos sem o nosso companheiro Daniel, que estará estudando e trabalhando fora do estado. Fiquei “mal acostumado” com o companheirismo desse cabra, sentirei muito sua falta nesse período. Aproveito esse espaço para dizer o quanto esse sujeito tem abençoado meu ministério e o quanto tem sido importante para a nossa igreja. Valeu, companheiro, ficaremos ansiosos aguardando seu retorno.
Isac M. Moura

LIÇÃ0 09


O LIVRO DE ATOS

O livro de Atos dos Apóstolos tem como objetivo apresentar um esboço da história da igreja, começando nos primeiros dias, em Jerusalém, até a chegada de Paulo. Ele fornece um quadro da vida e pregação da comunidade primitiva em Jerusalém e registra o avanço do evangelho pelo mundo. Foi escrito por Lucas, companheiro de Paulo, por volta do ano 60.
Na introdução do seu Evangelho, bem como em Atos, ele afirma ter obtido informações daqueles “que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra” (Lc 1:2; At 1:1), e que havia investigado, pessoalmente, os assuntos sobre os quais iria escrever.

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO

Os discípulos de Jesus se apegaram firmemente à esperança do breve estabelecimento do Reino de Deus. A morte do Mestre, todavia, abalou todas as suas esperanças (Mc 14:50; Lc 23:49; Jo 20:19). A vinda do Reino fora um sonho perdido, aprisionado no túmulo junto com o corpo de Jesus (Lc 24:21).
Em poucos dias tudo isso mudou... Jesus ressuscitara. E foi a partir desse acontecimento “fantástico” que o Cristianismo começou a dar seus primeiros passos. Assim, a principal função dos apóstolos, na comunidade cristã primitiva, não era liderar ou governar, mas dar testemunho da ressurreição de Jesus (At 4:33; 1:22).
A ressurreição é o tema central dos sermões registrados no início do livro de Atos (3:14,15), e graças a ela é que os apóstolos foram capacitados a realizarem feitos poderosos (4:10). Foi o persistente testemunho da ressurreição que causou a primeira reação oficial da parte dos líderes religiosos judeus contra essa nova “seita” (4:1,2; 5:27,28).

A NATUREZA DA RESSURREIÇÃO

O caráter corpóreo da ressurreição de Cristo é confirmado de várias formas:

Seu corpo ressurreto provocou reações nos sentidos físicos: tato (Mt 28:9; visão e audição (Jo 20:16 – aqui, Maria deve ter reconhecido Jesus pelo tom familiar da sua voz ao pronunciar seu nome);
“...um espírito não tem carne nem ossos, como percebeis que eu tenho” (Lc 24:39). Com base no contexto, essa declaração não sugere uma análise científica da composição do corpo ressurreto de Cristo, mas sim a intenção de provar que ele tinha um corpo real e que não era um espírito desencarnado. A expressão carne e ossos não devem ser interpretadas ao pé da letra, indicando um corpo físico como o nosso.
O Jesus ressurreto foi capaz de comer (Lc 24:42-43). É bom observar, todavia, a força da expressão diante deles, que, no contexto, parece sugerir apenas um sinal de sua ressurreição corpórea e não para indicar que tinha fome normalmente.

É interessante observar que o corpo ressurreto de Jesus possuía poderes novos e maravilhosos, o que significa dizer que não se trata simplesmente de um corpo físico natural; possuía capacidades nunca antes experimentadas sobre a terra. Tinha o surpreendente poder de aparecer e desaparecer (Jo 20: 19,26; Lc 24:31,36,37); portas fechadas já não o limitavam, como observamos nas referências apresentadas.
Quanto ao rolamento da pedra que protegia o túmulo de Jesus (Mt 28:2), pode-se dizer que tal providência foi tomada em função dos discípulos e não de Cristo, cujo corpo, certamente, já havia saído antes da remoção.

CONTEÚDO DO LIVRO

O fato de Lucas desejar escrever um tratado esclarecedor sobre o desenvolvimento do ensino cristão e sobre as missões cristãs implica que ele estava na posse de certo discernimento sobre o seu completo significado. Não era meramente um cronista que, penosamente, registrava no papel áridos acontecimentos. Lucas era um historiador e apresentava os fatos em função da continuidade do tema que lhe interessava, o crescimento da igreja e, particularmente, a transição do Judaísmo para o Cristianismo gentílico, da qual tomou parte ativa, como indica o freqüente uso da 1ª pessoa do plural (nós).
O período cronológico abrangido pelos Atos vai da crucificação de Cristo, em aproximadamente 29 d.C. até o fim da prisão de Paulo em Roma, em aproximadamente 60 d.C.

LIÇÃO 10

A IGREJA NO LIVRO DE ATOS

Jesus e seus discípulos não formaram uma sinagoga separada nem iniciaram um movimento separado com propostas segregacionistas e, apesar dos conflitos com as lideranças judaicas, não cortaram relações com a sinagoga ou com o templo. Seus discípulos promoveram uma comunhão aberta dentro de Israel, cuja única característica era o seu discipulado em relação a Jesus. É claro que como acontece em todas as comunidades humanas, em alguns momentos a situação tornou-se complicada pela não aceitação de práticas judaicas dentro desse grupo, e outras vezes pela exigência desses mesmos rituais judaicos.

O EMBRIÃO DA IGREJA

Depois da morte e da ressurreição de Cristo, esse pequeno grupo de discípulos (cento e vinte), por várias semanas, aparentemente, não fez nada além de esperar em Deus pela direção divina. Durante 40 dias, Jesus apareceu-lhes repetidas vezes, continuando a instruí-los sobre o Reino de Deus (At 1:3). Eles ainda acreditavam que isso significava a restauração da teocracia judaica (1:6), mas Jesus revelou-lhes que Deus tinha um propósito diferente para o presente.
A profecia feita por João Batista de que a vinda do Messias cumpriria a profecia de Joel com relação ao batismo do povo de Deus com o Espírito Santo, em breve teria o seu cumprimento, o que aconteceu no dia de Pentecostes (confira: Jl 2:28-32; Ez 36:22...)
Na realidade, a igreja nasceu no Pentecostes, quando o Espírito Santo foi derramado sobre o pequeno grupo de discípulos judeus de Jesus, constituindo-se o núcleo do corpo de Cristo. Antes do Pentecostes, os discípulos devem ser considerados apenas o embrião da igreja.
A igreja não deve ser vista apenas como uma comunhão humana, resultado de uma fé e de uma experiência religiosa comum, mas como a criação de Deus através do Espírito Santo.


O CULTO NA IGREJA PRIMITIVA

Era marcado por grande simplicidade. Além da adoração, no templo, há também reuniões nos lares cristãos (2:46; 5:42), para o partir do pão e comunhão na refeição. A expressão sugere a mesma prática observada, mais tarde, nas igrejas paulinas: uma refeição comum (ágape), que é associada à Ceia do Senhor (1 Co 11:20,34). Refeições comuns tinham desempenhado um papel importante no ministério de Jesus (Mt 9:10,11; 11:19; Lc 15:1,2; At 1:4) e continuaram a desempenhá-lo na experiência religiosa da igreja primitiva.
Lares forneceram os locais de reunião para atos de adoração cristã diferentes do Judaísmo. No Pentecostes, um grande número de judeus abraçou a fé cristã (2:41; 4:4; 5:14), e não há evidência de que um grupo tão grande pudesse se congregar num único lugar. O padrão, é, na verdade, de muitas pequenas “igrejas-lares”, congregações separadas, vizinhas às sinagogas judaicas. Este também é o modelo das igrejas paulinas, pois, frequentemente, lemos em seus escritos sobre uma igreja que funcionava na casa de alguma pessoa.

OS NOVOS MEMBROS

A igreja primitiva recebia em sua comunhão todos os que aceitassem a proclamação de Jesus como o Messias, se arrependessem e recebessem o batismo em água, sinal visível de admissão e comunhão cristãs. Nenhum intervalo significativo de tempo decorria entre o ato de crer em Jesus e o batismo (2:41; 8:12,36,37; 10:47,48; 9:18; 16:14,15).
Um dos elementos mais admiráveis na vida das igrejas primitivas era o sentido de comunhão (2:42,44,47). Os primeiros cristãos estavam conscientes de estarem unidos uns aos outros, pois estavam todos unidos em Cristo.

A RUPTURA COM A SINAGOGA

A narrativa dos primeiros quinze capítulos de Atos mostra como uma igreja gentílica surgiu, livre da lei.
Os últimos treze capítulos narram como uma ruptura final se desenvolveu entre a igreja e a sinagoga, o que era absolutamente inevitável e previsível.

LIÇÃO 11

O APÓSTOLO PAULO E SEUS ESCRITOS


A mais notável interpretação, no Novo Testamento, do significado da pessoa e do trabalho de Jesus, é a de Paulo, um fariseu convertido, que esteve envolvido em três mundos diferentes: judaico, grego e cristão.
Nasceu na cidade grega de Tarso, mas foi criado em lar judeu, segundo os costumes do judaísmo (Fp 3:5) e se orgulhava de sua ascendência judaica (Rm 9:3; 11:1). Ele declara ter vivido como fariseu em obediência estrita à Lei (Fp 3:6; 2 Co 11:22), e que foi além de muitos de seus contemporâneos no zelo pelas tradições orais dos círculos fariseus (Gl 1:14).
É difícil determinar até onde esse conhecimento variado de Paulo influenciou seu pensamento, mas uma coisa é certa: sua conversão não esvaziou sua mente de todas as idéias religiosas anteriores, substituindo-as por uma teologia já pronta. A sua insistência de que havia sido escolhido antes de nascer para servir a Deus (Gl 1:15) deve conter a verdade de que suas experiências, enquanto criança e jovem, o estavam preparando para preencher sua tarefa de ordem divina.
Como Judeu, Paulo era um monoteísta inflexível (Gl 3:20; Rm 3:30) e rejeitava severamente a religião pagã (Cl 2:8), a idolatria (1 Co 10:14,21) e a imoralidade (Rm 1:26...). Ele mencionava o Velho Testamento como a Sagrada Escritura (Rm 1:2; 4:3), a Palavra de Deus divinamente inspirada (2 Tm 3:16).
O seu método de interpretação do Velho Testamento o coloca na tradição do Judaísmo rabínico. Assim, como rabino judeu, partilhava, inquestionavelmente, da fé judia na centralidade da Lei. Mesmo quando cristão, afirmou que a Lei é espiritual (Rm 7:14), justa e boa (Rm 7:12) e nunca questionou a origem divina e a autoridade da Lei.

A ERA PRESENTE E A ERA VINDOURA NOS ESCRITOS DE PAULO

Paulo não abandonou o esquema judaico das duas eras e do caráter mau da era atual (Gl 1:4). Poderes demoníacos ainda se opõem ao povo de Deus (Ef 6:12...), que ainda está sujeito ao mal físico, à doença (Rm 8:35...) e à morte (Rm 8:10). O mundo físico ainda está no cativeiro da corrupção (Rm 8:21), e o espírito do mundo da sociedade humana, oposto ao Espírito de Deus. O mundo está sob julgamento divino (1 Co 11:32). Os crentes ainda vivem no mundo e fazem uso dele (1 Co 7:31), e não podem evitar a associação com os homens deste mundo (1 Co 5:11).
Sendo Jesus o Messias, ao trazer ao seu povo essa salvação messiânica, algo mudou. Assim, o reino de Cristo já tem que ser uma realidade presente, para dentro da qual foi trazido seu povo, mesmo que o mundo não o possa ver (Cl 1:13)
Paulo faz um contraste entre a morte, que entrou neste mundo através de um homem, e a ressurreição dentre os mortos, que entrou neste mundo através de um homem.
A ressurreição, nos escritos paulinos, acontece em diferentes estágios:

Cristo, as primícias, é o primeiro estágio da ressurreição;
O segundo estágio consistirá daqueles que pertencerão a Cristo na sua vinda (1 Co 15:21-23). A ressurreição de Cristo é o começo da ressurreição como tal, e não um acontecimento isolado; é o começo da esperança escatológica.

O centro da teologia paulina está na justificação pela fé e na experiência mística de se estar em Cristo. Suas epístolas não são tratados teológicos nem produções literárias formais, e sim uma correspondência não-literária, viva, pessoal e escrita com profundos sentimentos às congregações cristãs, em sua maioria, fundadas por ele mesmo.

A VISÃO PAULINA DO MUNDO

Paulo refere-se ao kosmos em vários sentidos:

O universo – a totalidade de tudo o que existe: Rm 1:20; Ef 1:4; 1 Co 3:22; 8:4,5);
A terra habitada, a moradia do homem, o cenário da história (1 Tm 6:7; 1 Co 5:10b; Rm 4:13; 1:8; Cl 1:6; Ef 2:12);

A humanidade, a totalidade da sociedade humana que habita a terra (2 Co 1:12; 4:13; 1:27; Rm 3:19; 3:6; 11:15; 2 Co 5:19).

Ainda hoje se usa, com freqüência, a palavra mundo, muitas vezes no sentido de corrupção da sociedade. Bom, é um fato que em algumas situações não tem muito a ver. Por exemplo: Quando alguém diz que o fulaninho (essa palavra é do Éder) estava ouvindo música do mundo, nós entendemos que ele estava ouvindo música popular, mas de fato não faz muito sentido, pois todas as músicas são do mundo, ou seja, nossos compositores e cantores evangélicos são pessoas deste mundo também. Ou não? Os caras são apenas dotados de um dom especial. Eu não posso dizer, por outro lado, que os artistas populares compõem sob inspiração demoníaca. Eles também têm o mesmo dom. O que muda é o foco, a motivação, o objetivo.


LIÇÃO 12

PODERES ESPIRITUAIS NOS ESCRITOS PAULINOS


O arquiinimigo de Deus é um espírito mau, às vezes, chamado de Diabo (Ef 4:27; 6:11; 1 Tm 3:7), mas geralmente, de Satanás, o príncipe das potestades do ar (Ef 2:2), o deus deste século (2 Co 4:4), cujo objetivo é cegar as mentes dos homens para que eles não apreendam o poder salvador do evangelho. Ele é o tentador, que procura, através da aflição, desviar os crentes do evangelho (1 Ts 3:5), obstruir os servos de Deus em seus ministérios (1 Ts 2:18), e que cria falsos apóstolos com o objetivo de perverterem a verdade do evangelho (2 Co 11:14), que está sempre tentando derrotar o povo de Deus (Ef 6:11,12,16) e que é até mesmo capaz de praticar seus ataques sob a forma de sofrimentos corporais aos servos escolhidos de Deus (2 Co 12:7). O objetivo principal de Satanás é frustrar os propósitos da redenção por parte de Deus e, no fim deste século, o poder satânico estará encarnado num homem de iniqüidade que se empenhará num esforço final em destruir a obra de Deus e em levar os homens à adoração do mal (2 Ts 2:4-10). Contudo, a sentença de Satanás está assegurada: Deus o esmagará sob os pés dos santos (Rm 16:20).

EXPRESSÕES USADAS POR PAULO PARA NOMEAR AS FILEIRAS DE ESPÍRITOS ANGÉLICOS

Potestade ou domínio (1 Co 15:24; Ef 1:21; Cl 2:10);
Potestades e principados (Ef 1:21; Cl 2:10);
Poder: 1 Co 15:24; Ef 1:21;
Poderes: Rm 8:38;
Tronos, soberanias: Cl 1:16;
Dominadores deste mundo tenebroso: Ef 6:12;
Hostes espirituais da iniqüidade nas regiões celestes: Ef 6:12;
Poder das trevas: Cl 1:13;
Todo nome que se nomeia: Ef 1:21;

CONSCIÊNCIA

Além de ter a responsabilidade de cultuar a Deus, o homem também tem a responsabilidade de fazer o bem por causa da consciência. Deus implantou em todos os homens um instinto que lhes dá um senso do que é certo e do que é errado (Rm 2:14,15).

PECADO

A natureza do pecado pode ser observada a partir de um estudo de diversas palavras usadas por Paulo, traduzidas como:

Impiedade (Rm 1:18);
Transgressão (Rm 2:23; 5:14, 15; 4:25);;
Iniqüidade, impureza (Rm 6:19);
Desobediência (Rm 5:19; 2 Co 10:6).

Tanto para os gentios como para os judeus, a raiz do pecado não se encontra nos atos pecaminosos, mas numa vontade pervertida, rebelde. Isto encontra apoio da visão de Paulo, do homem como “carne” – o homem em oposição rebelde a Deus.
Um dos conceitos mais bonitinhos que já vi de pecado é “tudo aquilo de fazemos escondido ou que tentamos esconder de alguém.” Acho um conceito fofo porque aquilo que temos certeza que está de acordo com a conduta cristã não tentamos esconder, fazemos abertamente sem o menor problema.

A LEI

Paulo não considera a Lei apenas como um padrão divino para a conduta humana, embora reconheça sua origem divina e seus méritos positivos (Rm 7:12,14). Ele reconhece, todavia, que por causa da fraqueza e pecaminosidade humana, ela torna-se um instrumento de condenação (Rm 5:13), ira (Rm 4:15) e morte (Rm 7:9).
A vida sob a Lei é uma servidão da qual o homem precisa libertar-se através da graça de Deus.

JESUS É O SENHOR

A designação predominante e mais característica para Jesus é SENHOR, não apenas nas epístolas de Paulo, mas também no Cristianismo gentio em geral.
Os homens chegaram à comunidade da igreja através da crença na ressurreição e confessando Jesus Cristo como Senhor (Rm 10:9). O centro da proclamação paulina é Cristo como Senhor (2 Co 4:5). A importância desta confissão, nas igrejas paulinas, é demonstrada em 1 Co 12:3. Aqui, o apóstolo não quer dizer que é impossível pronunciar estas palavras (Jesus Cristo é o Senhor) a não ser através da inspiração do Espírito Santo (veja Mt 7:21). O que ele quer dizer, de fato, é que uma confissão sincera do credo cristão mostra que quem fala está motivado pelo Espírito Santo. Aqui, portanto, está a marca mais óbvia do crente, a confissão de que Cristo é o Senhor: 1 Co 1:2. Confira: At 9:14,21; 22:16; 2 Tm 2:22.

JUSTIFICAÇÃO E RECONCILIAÇÃO

Paulo emprega muitos termos para demonstrar a obra de Cristo. Um dos mais importantes, que domina as epístolas ao Gálatas e Romanos, é justificação. A idéia é declarar justo e não transformar em justos. É a declaração de Deus, o justo juiz, de que o homem que crê em Cristo, embora possa ser pecador, é justo – é visto como sendo justo, porque, em Cristo, ele chegou a um relacionamento justo com Deus (Rm 8:33,34).
Reconciliação é uma doutrina estreitamente aliada à da justificação. A justificação é absolvição do pecador de todo pecado; a reconciliação é a restauração do homem justificado ao relacionamento com Deus (2 Co 5:19; Rm 5:10; Cl 1:21,22; Ef 2:15,16). A reconciliação é, então, a obra de Deus, e o homem, o objeto. O homem não pode se reconciliar com Deus; ele tem que ser reconciliado com Deus através da ação divina.



LIÇÃO 13

A PSICOLOGIA PAULINA


O texto de 1 Ts 5:23 sugere uma visão tricotomista do homem: espírito, alma e corpo. Alguns estudiosos, porém, entendem que Paulo apresentou uma dicotomia (alma e corpo), onde alma e espírito fundem-se num único elemento. Já outros estudiosos entendem que termos como corpo, alma e espírito não são diferentes faculdades separáveis do homem, mas modos diferentes de encarar o homem no seu todo.

CORPO – No Velho Testamento é usado no sentido de carne, termo que indica a fragilidade do homem em relação a Deus. Assim, ser carnal é uma fraqueza, coisa que Deus não possui e este fato é que faz distinção entre Deus e os homens (Gn 6:3; Is 31:3). A palavra grega para corpo é soma (1 Co 13:3; 9:27), que não representa algo mau em si mesmo, contudo pode tornar-se um obstáculo à manifestação de Deus. A prova de que o corpo não é mau em si mesmo é que ele será glorificado, redimido (Rm 8:23).
Em relação ao corpo, Paulo declara em seus escritos:

O corpo é uma parte integrante do homem, embora mortal (Rm 6:12; 8:11; 2 Co 4:11; Rm 7:24), por este motivo pode tornar-se instrumento do pecado (Rm 6:6,12; 8:13);

O corpo tem de ser mantido em sujeição. Como é mortal e capaz de pecar, o corpo deve ser disciplinado para que evitemos que ele ganhe domínio sobre a vida espiritual do homem. A verdadeira vida se encontra no “homem interior”, que quando é estimulado, recebe energia através do Espírito de Deus;

O autocontrole sobre o corpo é obtido através da consagração a Deus (Rm 12:1,2). O crente deve reconhecer que seu corpo é habitação do Espírito de Deus (1 Co 6:18-20). O crente é membro do corpo de Cristo (1 Co 6:15).

Os próprios corpos dos crentes serão redimidos no dia da salvação consumada (Rm 8:23; Fp 3:21).

ALMA - A palavra designa a vitalidade ou o princípio de vida do homem (Gn2:7 – “fôlego de vida”). Dessa forma, a palavra pode ser entendida como sentimentos, paixões, vontade e até mesmo a mentalidade do homem; daí se conclui o fato da palavra alma significar em alguns contextos o próprio ser humano.
A aplicação do sentido grego de alma refere-se ao homem como pessoa pensante, que age e sente. Fazer a vontade de Deus de coração (Ef 6:6) é servir a Deus com todo o ser e personalidade. Dentro do contexto grego alma e espírito não são sinônimos, mas se referem a vida interior do homem.

ESPÍRITO – O termo é usado para falar do homem em relação a Deus, enquanto alma refere-se ao homem em relação a si próprio e a outros seres humanos. A esfera do Espírito Santo é a humanidade e é com o espírito do homem que o Espírito de Deus se ocupa amplamente. É com o espírito que o homem serve a Deus (Rm 1:9), que pode entrar em união com o Senhor (1 Co 6:17).
O espírito é a dimensão interior do homem, contudo devemos buscar a santificação do corpo e do espírito (1 Co 7:34; 2 Co 7:1). O Espírito Santo concede vida ao espírito do homem (Rm 8:10,11). O espírito do cristão é marcado, circuncidado (Rm 2:29).

A NOVA VIDA EM CRISTO

A nova vida em Cristo está resumida no clássico enunciado de Paulo (2 Co 5:17). A partir da conversão, todos os desejos e apetites do homem (até então não-regenerado) passaram e foram substituídos por um conjunto de desejos e apetites inteiramente novo (Gl 1:4; Rm 12:2; Ef 2:10,15; Cl 3:9,10).

O CASAMENTO

Embora o próprio Paulo fosse celibatário e considerasse o celibato um dom de Deus, que todos deveriam desejar, reconhecia que nem todos os homens possuíam esse dom e recomenda que os homens se casem em vez de se abrasarem em desejos sexuais insatisfeitos (1 Co 7:9). É claro que essa recomendação sugere uma visão nada legal do casamento (para satisfação sexual). Todavia, mais a frente, o mesmo Paulo aconselha o altruísmo e a doação dentro dos laços matrimoniais, de forma que nem o marido nem a mulher devem impedir o prazer sexual do outro (1 Co 7:4,5), muito pelo contrário, cada um deve preocupar-se em satisfazer o outro. De novo, uma vinculação direta entre casamento e sexo. O sexo, aliás, não é apresentado aqui como uma forma de procriação apenas, como a igreja defendeu durante muito tempo, mas de mútuo prazer. É claro que nenhum casamento baseado exclusivamente no sexo vai muito longe. Tem que rolar, acima de tudo, o companheirismo, a compreensão, o carinho, o amor. O sexo virá como bênção de Deus coroando tudo isso, ou seja, ele não pode ser o objetivo maior de um casamento, embora seja parte importante.
Fora do casamento, não deve rolar. O princípio da proibição continua sendo o mesmo, mas precisamos ter a sensibilidade de entender que o contexto vem se modificando. Vou me explicar melhor: antigamente, podia se falar nessa proibição com mais tranqüilidade e certeza de que o sexo não rolaria antes do ritual do casamento, porque os caras e as meninas com 15 anos já estavam se casando (casamentos arrumados pelas famílias). Depois, temos outra situação: não tínhamos toda essa exposição de corpos nus ou seminus nas capas de revistas, na televisão e ao vivo, então era mais fácil segurar a onda, já que o homem é visual. Agora, o contexto é mais complexo: a galera aos 25 anos, com seus hormônios fervilhando, ainda não se casou, estão preocupados e preocupadas em terminar a faculdade, com suas carreiras e não querem se casar ainda. Além disso, tudo está à mostra. Assim, manter-se casto num monastério, afastado de tudo e de todos, sem contato com o sexo oposto é moleza, mas aqui na vida real não é tão fácil assim. Até mesmo as meninas evangélicas dificultam a vida casta dos meninos com seus decotes, suas roupas coladas ao corpo,suas mini-saias, enfim, é difícil. Vejam bem: eu só disse que é difícil e que o contexto é outro, eu não disse que o princípio cristão do sexo exclusivamente dentro do casamento tenha mudado, portanto, se comportem.



LIÇÃO 14

BREVE ANÁLISE DAS CARTAS DE PAULO NA ORDEM EM QUE FORAM ESCRITAS (PROVAVELMENTE)


1. Aos GÁLATAS

Esta epístola não foi escrita como um trabalho de história contemporânea. Constituiu um protesto contra a distorção do Evangelho de Cristo. A verdade essencial da justificação pela fé em vez de pelas obras da lei fora obscurecida pela insistência dos judaizantes em como os crentes em Cristo deviam guardar a lei, se esperavam ser perfeitos perante Deus. Quando Paulo tomou conhecimento de que esta doutrina começava a penetrar nas igrejas gálatas, afastando-as do seu patrimônio de liberdade, escreveu o protesto apaixonado contido nesta epístola, em 48 ou 49d.C., provavelmente antes do Concílio de Jerusalém, sendo assim, o mais antigo dos escritos paulinos.
O tom do livro é de polêmica e indignação: “Ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro Evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (1:8), expressando a censura de Paulo ao gálatas pela aceitação do erro legalístico.
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós... para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito”(3:13,14).
Os livros de Gálatas e de Tiago têm em comum o mesmo contexto, a questão judaizante, e ilustram os dois aspectos do Cristianismo que desde o princípio parecem ter entrado em conflito: a fé e as obras.

2. I TESSALONICENSES

As duas cartas aos Tessalonicenses pertencem, cronologicamente, ao período em que Paulo esteve em Corinto, em 51 d.C.. O intervalo entre ambas é de poucos meses, tendo sido escritas enquanto Paulo se encontrava ocupado no ministério em Acaia.
Esta primeira carta foi escrita com base no relatório fornecido por Timóteo em Corinto, incluindo o nome deste e o de Silas na saudação.
CONTEÚDO: louvor pela firmeza dos tessalonicenses perante a perseguição dos judeus e correção de certos erros e mal-entendidos surgidos no meio deles em relação ao regresso de Cristo (5:4 – compare com Mt 24:43; Lc 12:39,40).
Os problemas abordados nesta epístola são totalmente diferentes dos mencionados em Gálatas. Aqui, encontramos as dificuldades dos convertidos gentios e não dos crentes judeus. As questões da fornicação e da ociosidade (4:1-12) tinham muito menos possibilidades de surgirem numa comunidade judaica, uma vez que a lei, gravada no espírito das crianças judias desde cedo, resolvia antecipadamente tais problemas. O mesmo não acontecia com os gentios, para os quais as relações sexuais eram determinadas, principalmente, pelo prazer e pela conveniência. Apesar dos moralistas pagãos imporem certos limites à licenciosidade, não falavam com um “assim diz o Senhor” cheio de autoridade.
O texto de 4:13-18 foi escrito, certamente, para atender a preocupação dos tessalonicenses em relação aos que morriam. Eles acreditavam que o Senhor voltaria, mas tinham dúvidas quanto ao que aconteceria com os mortos. Quanto ao momento da volta de Cristo (5:1-11), Paulo esclarece que se permanecessem despertos e ativos, aguardando numa boa esse regresso, seriam preservados da ira e nada teriam a temer.

3. II TESSALONICENSES

Esta segunda epístola foi escrita para combater a idéia incorreta de que o dia de Cristo se encontrava já muito perto (2:2). Alguns tessalonicenses tinham se enamorado de tal forma da idéia de que a vinda do Senhor os podia libertar dos males e das tensões deste mundo, que abandonaram o trabalho para aguardar o aparecimento do Libertador. Estavam, assim, desarticulados do resto da igreja e dependiam de outros para se manterem (3:6-11). Paulo incita esse grupo a ganhar seu pão e tratar da sua vida.
Mais ou menos como no contexto dessa epístola, temos hoje umas figuras assim no meio evangélico, cujo objetivo é “abandonar o trabalho material e trabalhar somente para o Senhor” como se o seu trabalho não fosse também obra do Senhor, como se ele não tivesse uma missão lá no seu local de trabalho.

LIÇÃO 15

A CORRESPONDÊNCIA CORÍNTIA


4. I CORÍNTIOS

A igreja em Corinto constituía, pela sua instabilidade, um problema espinhoso para Paulo. Composta em grande parte por gentios pouco familiarizados com o Antigo Testamento e cujos antecedentes religiosos e morais eram o oposto exato dos princípios cristãos, era preciso muito ensino para levá-los à maturidade espiritual (1 Co 3:1-3).
Esta primeira carta deve ter sido escrita em 55 d.C., no auge do seu ministério em Éfeso. Antes dela, houve uma outra carta para esta comunidade, cujo conteúdo não conhecemos, pois perdeu-se. O apóstolo cita esta carta perdida em 1 Co 5:9: “Já por carta vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem.” A reação a esta carta perdida foi muito insatisfatória. Apolo e Cefas tinham-se retirado para outro campo e a igreja, privada de direção capacitada, se perdera na confusão. Bom, aí então três membros da igreja (Estefanas, Fortunato e Acaico) trouxeram um donativo a Paulo e também uma carta contendo determinadas perguntas para as quais os coríntios desejavam respostas, dadas por Paulo nesta carta (1 Coríntios).

CONTEÚDO: Em conteúdo, bem como em estilo, trata-se da mais variada de todas as epístolas paulinas. Os assuntos abordados vão da divisão às finanças, e do decoro à observância da doutrina da ressurreição. Diversos recursos literários conhecidos na arte de escrever são empregados nesta carta: a lógica, o sarcasmo, a imploração, a censura, a poesia, a narrativa, a exposição. Enfim, é como se o escritor estivesse conversando pessoalmente com os anciãos da igreja.
Esta primeira carta aos coríntios reflete bem o conflito que teve lugar quando a experiência e os ideais cristãos de conduta se chocaram com os conceitos e com as práticas do mundo pagão.
Esta carta é organizada de acordo com os itens que os coríntios perguntaram ao apóstolo, ou seja, ele vai respondendo na ordem em que as perguntas foram feitas.

5. II CORÍNTIOS

Esta carta difere de 1 Coríntios por tratar de assuntos pessoais mais do que de ensinamentos doutrinários ou de problemas de ordem eclesiástica. Paulo, o homem, é bastante enfatizado, revelando os seus sentimentos e desejos, bem como suas antipatias, ambições e obrigações.

CONTEÚDO: II Coríntios fornece-nos uma visão bastante detalhada da carreira do apóstolo Paulo. Foi escrita para se defender, não só contra os cristãos ocasionais da igreja em Corinto, mas também contra as calúnias e acusações que os seus inimigos lhe dirigiam onde quer que pregassem.
Eram numerosas as acusações:
Que andava segundo a carne (10:2);
Que era covarde, pois escrevia cartas que reboavam como um trovão, porém pessoalmente era fraco e desprezível (10:10);
Que não defendia a sua dignidade, aceitando o apoio das igrejas, antes se humilhava trabalhando (11:7);
Invocavam o fato dele não ter sido um dos apóstolos originais, sendo destituído, portanto, de condições para ensinar (11:5; 12:11,12);
Insinuavam que gastava em proveito próprio o dinheiro que lhe era confiado (8:20,23).

Ah, já ia esquecendo, boa parte desses acusadores eram cristãos (11:22,23; 3:1).

6. ROMANOS

Esta carta foi enviada, provavelmente, de Corinto. A igreja em Roma era pequena e formada, em sua maioria, de gentios (1:13). Diferente de Coríntios, Romanos não tem por objetivo corrigir erros, mas ensinar a verdade de forma preventiva, inclusive contra os argumentos judaizantes. Trata-se de uma epístola didática.

CONTEÚDO: O tema central de Romanos é a revelação da justiça de Deus ao homem e a aplicação desta à sua necessidade espiritual. Ninguém pode entrar em contato com Deus senão depois de estabelecida uma via de acesso adequada.
Esta carta destina-se especialmente aos gentios. Paulo declarou-se apóstolo dos gentios (1:5) e afirmou que a salvação de Deus era também para os gentios (3:29) e que não há distinção entre judeu e grego no que diz respeito à fé. Esta epístola, portanto, proclama o âmbito universal da salvação.
Romanos funciona como a espinha dorsal da teologia cristã.



LIÇÃO 16

AS EPÍSTOLAS DA PRISÃO (Filipenses, Colossenses, Efésios e Filemon)


As quatro epístolas da prisão foram escritas no período de 56 ou 57 a 60 ou 61. Todas foram escritas no período em que Paulo esteve preso, provavelmente em Roma: Fp 1:12,13; Ef 3:1; 4:1; 6:20; Cl 1:24; Fm 1.

7. FILEMON

Onésimo, escravo de Filemon, comerciante de Colossos, fugira com alguns bens de seu senhor, com destino a Roma, onde se perdeu em meio a multidão daquela grande cidade. De alguma maneira entrou em contato com Paulo, convertendo-se ao Cristianismo (Fm 10).
Consciente da necessidade de compensar o mal que ele tinha causado, Paulo o reenviou ao seu antigo senhor com esta epístola, pedindo-lhe que o recebesse e o perdoasse. O apóstolo assumiu o compromisso de reparar o prejuízo financeiro provocado por Onésimo (Fm 18,19), acrescentando que nutria esperanças de ser logo posto em liberdade, quando pretendia visitar novamente as igrejas.

CONTEÚDO: Apesar de tratar-se de uma epístola muito mais pessoal do que teológica, Filemon apresenta o mais belo quadro do significado do perdão encontrado no Novo Testamento, com todos os seus elementos: a ofensa (11,18), a compaixão (10), a intercessão (10,18,19), a substituição (18,19), a restauração (15) e a elevação para novas relações (16).


8. EFÉSIOS

Esta epístola, a julgar pela ausência de uma saudação específica, foi produzida como uma encíclica endereçada a diversas igrejas, a partir de Éfeso. O mensageiro foi Tíquico, acompanhado por Onésimo (Ef 6:21; Cl 4:7-9).
O tema IGREJA está presente em toda a carta e refere-se a igreja universal, não a uma igreja local. Esta epístola não foi dirigida a noviços na fé cristã, mas a pessoas que já alcançara alguma maturidade e experiências espirituais e que desejavam progredir para um conhecimento e uma vida cristã amplos.
Aqui a igreja é apresentada como um único corpo funcional, constituído por judeus e gentios, equipado com padrões próprios e empenhado num conflito espiritual, tendo como objetivo “a unidade da fé... o conhecimento do Filho de Deus.... a medida da estatura completa de Cristo” (4:13).

9. COLOSSENSES

A heresia de Colossos, que deu origem a esta epístola, foi um acontecimento local, cuja causa encontrava-se na localização geográfica da cidade, situada na rota comercial do oriente, ao longo da qual eram transportados para Roma religiões, cultura e produtos orientais. Os antecedentes religiosos dos Colossenses caracterizavam-se pela sua natureza altamente emotiva e mística. Procuravam alcançar a plenitude de Deus. Assim, quando surgiram entre eles ensinadores com uma filosofia que permitia um conhecimento místico da divindade, sentiram-se arrebatados pelas novas idéias. Entre os seus princípios, encontravam-se a humilhação voluntária, provavelmente mediante práticas ascéticas (2:18,20,21); a adoração dos anjos, que podem ter sido considerados intermediários entre Deus e o homem (2:18); a abstinência de certas comidas e bebidas; e a observância de dias de festa e cerimoniais (2:16). É muito provável que nesses ensinamentos houvesse também elementos do legalismo judaico, resultantes de contatos com a população judaica da Ásia Menor.

10. FILIPENSES

Dentro da igreja de Filipos não parecia haver qualquer cisma ou heresia que exigissem ação disciplinar. As referências aos judaizantes (3:2) retratam mais um perigo potencial do que presente. A linguagem veemente de Paulo não tem por objetivo condenar os erros daquela igreja, mas preveni-la contra eles, incentivando-a a caminhar de uma maneira digna da sua cidadania celeste (3:17-21).
Filipenses é uma carta de agradecimento por favores recebidos e uma expressão da vida cristã pessoal de Paulo.
Aqui Paulo fala muito em alegria. As suas perspectivas em Roma eram sombrias, pois seus inimigos procuravam minar a sua obra e além disso um dos possíveis resultados do seu julgamento poderia ser a execução sumária. Mesmo assim, a epístola não é pessimista. Ele alegrava-se ao lembrar dos filipenses (1:3), por Cristo ser pregado quer em sinceridade, quer em hipocrisia (1:18), pela humildade dos seus seguidores (2:2), pelo seu sacrifício pessoal por amor de Cristo (2:17), pelos donativos e pela boa vontade dos seus amigos (4:10); tudo isso em contraste com o contexto sombrio que tinha em torno de si.


LIÇÃO 17

AS EPÍSTOLAS PASTORAIS (I Timóteo, Tito, II Timóteo)


Não existe qualquer história consecutiva que nos descreva os destinos da Igreja do fim do livro de Atos ao fim do primeiro século.
Os dados biográficos constantes destas epístolas sugerem que Paulo foi absolvido na sua primeira audiência perante o Imperador e que teve depois disso um breve período de ministério em liberdade, quando deve ter escrito estas cartas.
A primeira epístola a Timóteo apresenta Paulo em viagem e ativo, aconselhando o jovem Timóteo quanto aos seus deveres pastorais. Tito apresenta um contexto bastante parecido, e a segunda carta a Timóteo apresenta um encerramento. Parece evidente que o apóstolo não esperava sobreviver ao inverno (2 Tm 4:21). Sua condenação e execução seriam apenas uma questão de tempo. O temperamento de Nero era muito incerto e seriam poucas as probabilidades de ser dispensada mais clemência ao Apóstolo.

11. I TIMÓTEO

Nascido em Listra, filho de um grego com uma judia, Timóteo foi educado nos princípios do judaísmo, tornando-se, desde cedo, conhecedor das Escrituras. Paulo fizera dele seu substituto na sua segunda viagem (At 16:1-3), tornando-se seu companheiro fiel, sempre presente.
Timóteo era confiável, porém não tinha uma personalidade vigorosa. Dava a impressão de imaturidade, apesar dos seus trinta anos, quando Paulo lhe entregara o pastorado de Éfeso (1 Tm 4:12). Era tímido (2 Tm 1:6,7). As epístolas que têm o seu nome tinham por objetivos encoraja-lo e fortalecê-lo para a importantíssima tarefa que Paulo lhe confiara.
A organização da igreja tornara-se mais complexa. As funções tornaram-se fixas e procuradas por alguns que almejavam “status”. Bispos, diáconos e anciãos são todos mencionados, embora o primeiro e o terceiro sejam idênticos. As viúvas sustentadas pela igreja eram “inscritas”, assumindo a comunidade certa responsabilidade pelos serviços sociais (5:9). Os cultos apresentavam certas características regulares: oração de mãos erguidas (2:8), leitura, pregação e ensino (4:13); imposição das mãos para conferir dons espirituais (4:14). À medida em que iam surgindo as novas gerações de convertidos, a teologia da igreja ia se tornando mais “frágil”, mais passivamente aceita, perdendo, gradualmente, sua vitalidade. Em torno de pormenores controversos travavam-se discussões e debates, fazendo com que a heresia representasse um perigo cada vez mais iminente. Daí a preocupação de Paulo em escrever-lhe esta carta.

12. TITO

A situação em Creta era desanimadora. A igreja estava desorganizada e os seus membros tinham um comportamento descuidado. De acordo com o capítulo 2, os homens eram relaxados e descuidados; as mulheres de idade eram fofoqueiras e gostavam de bebericar, enquanto as novas eram ociosas e dadas a episódios amorosos. Talvez a pregação do Evangelho da graça tenha dado aos cretenses a impressão de que a salvação pela fé não tinha relação com uma vida ética e de trabalho. Nesta breve epístola, os crentes são estimulados a praticar boas obras (1:16; 2:7,14; 3:1,8,14). Apesar do apóstolo defender que a salvação não pode ser ganha pela obra (3:5), incentiva os crentes a praticá-las.
Tanto 1 Timóteo quanto Tito foram escritas para aconselhar um substituto que enfrentava problemas emergentes de um pastorado difícil.
Tito, o destinatário desta carta, tinha sido conhecido e companheiro de Paulo durante, aproximadamente, quinze anos. Era um convertido gentio dos primeiros dias em Antioquia. A última referência bíblica sobre ele declara que fora para a Dalmácia (2 Tm 4:10). Parece ter sido dotado de uma personalidade mais forte do que a de Timóteo e, portanto, mais apta a enfrentar a oposição.

13. II TIMÓTEO

O tom geral das epístolas pastorais aponta para uma igreja que travava uma luta de vida ou morte contra a inveja de um Judaísmo frustrado e contra a indiferença corrupta de um paganismo ultrapassado.
A segunda epístola a Timóteo foi a última mensagem do apóstolo aos seus auxiliares e amigos antes de desaparecer de cena. O conteúdo desta última epístola constitui uma apresentação de sentimentos pessoais e de política administrativa; de lembranças e de instrução; de tristeza e confiança. Seu principal objetivo era fortalecer Timóteo para a árdua tarefa que o apóstolo abandonaria em breve. Paulo determinou o padrão pastoral lembrando, primeiramente, a Timóteo a sua própria experiência pessoal, incluindo-o nela: “... que nos salvou e chamou com uma santa vocação segundo o Seu próprio propósito e graça” (1:9). A incumbência final (4:1-6) é clássica, devendo ser, cuidadosamente estudada por todos os candidatos ao ministério.