LIÇÃO 18 19/10/08
HEBREUS
As questões de autoria e destino da epístola aos Hebreus são problemas insolutos. A opinião tradicional tem sido que Hebreus é corretamente denominada, e que foi escrita para uma comunidade de cristãos judeus, provavelmente em Roma (13:24), que diante de perseguição ameaçadora (10:32; 12:4; 13:18,19,23), estava se afastando de Cristo e retornando ao Judaísmo. Contudo, não há nenhuma referência a controvérsia judaico-cristã.
Parece normal que diante de muita pressão, as pessoas recuem ou revejam valores e crenças, especialmente quando não se tem total convicção desses valores ou dessas crenças. O lance então é termos convicção de nossa fé e argumentos para defendê-la diante das mais diversas situações. No caso específico do jovem estudante, eu costumo dizer que o cabra que entra evangélico numa faculdade e sai de lá tão evangélico quanto entrou está pronto para encarar qualquer parada. O meio universitário é muito gostoso, muito belezudo mesmo, porém as pressões são terríveis, as tentações são muitas, mas se há convicção da fé e dos princípios, tudo fluirá muito bem. Citei apenas um exemplo de tantos outros possíveis. Foi mais ou menos isso que aconteceu com aquela turma a quem a epístola, originalmente, se destina, só que ali a pressão tinha status de perseguição com violações dos direitos humanos e tudo.
DESTINATÁRIOS E OBJETIVOS
HEBREUS
As questões de autoria e destino da epístola aos Hebreus são problemas insolutos. A opinião tradicional tem sido que Hebreus é corretamente denominada, e que foi escrita para uma comunidade de cristãos judeus, provavelmente em Roma (13:24), que diante de perseguição ameaçadora (10:32; 12:4; 13:18,19,23), estava se afastando de Cristo e retornando ao Judaísmo. Contudo, não há nenhuma referência a controvérsia judaico-cristã.
Parece normal que diante de muita pressão, as pessoas recuem ou revejam valores e crenças, especialmente quando não se tem total convicção desses valores ou dessas crenças. O lance então é termos convicção de nossa fé e argumentos para defendê-la diante das mais diversas situações. No caso específico do jovem estudante, eu costumo dizer que o cabra que entra evangélico numa faculdade e sai de lá tão evangélico quanto entrou está pronto para encarar qualquer parada. O meio universitário é muito gostoso, muito belezudo mesmo, porém as pressões são terríveis, as tentações são muitas, mas se há convicção da fé e dos princípios, tudo fluirá muito bem. Citei apenas um exemplo de tantos outros possíveis. Foi mais ou menos isso que aconteceu com aquela turma a quem a epístola, originalmente, se destina, só que ali a pressão tinha status de perseguição com violações dos direitos humanos e tudo.
DESTINATÁRIOS E OBJETIVOS
As pessoas a quem esta epístola foi enviada estavam plenamente familiarizadas com o Antigo Testamento e com o seu sistema sacrificial. Tinham sido postas em contato com o Evangelho e ouvido a pregação de homens que haviam sido testemunhas da vida de Jesus
e que possuíam os dons do Espírito (Hb 2:3,4). Eles próprios haviam sido crentes inabaláveis, suportando a perseguição psicológica e física por amor da sua nova fé (10:32-34). Certamente, não eram novos convertidos.
O autor escreve a fim de aconselhar contra a apostasia. Este propósito fica claro nas várias passagens de exortação espalhadas pelo livro. O escritor tenta assegurar a lealdade dos seus leitores a Cristo através da linha de argumento de que as bênçãos que vieram aos homens em Cristo são superiores a tudo o que precedeu.
VISÃO GERAL DA EPÍSTOLA
A cosmovisão (visão de mundo) básica de Hebreus tem sido bastante debatida. Há, nesta epístola, um duplo dualismo:
1. um dualismo do superior e do inferior – o verdadeiro mundo celestial e o transitório mundo terreno;
2. um dualismo escatológico: o mundo presente e o mundo vindouro.
ÊNFASE NA HUMANIDADE DE JESUS
Hebreus destaca a humanidade de Jesus. Ele mostrou a mesma natureza daqueles que veio salvar (2:14). Ele teve que ser semelhante a eles em todos os sentidos (2:17). Como eles, ele sofreu e foi tentado (2:18). Hebreus enfatiza a ausência de pecado em Jesus, mas ele foi tentado de todos os modos como os outros homens (4:15). Seus sofrimentos foram reais, arrancaram dele clamor e lágrimas (5:7). Sua humanidade era real; ele teve que aprender o significado da obediência (5:8). Hebreus mostra Cristo entrando no lugar santo, no céu, através do seu próprio sangue (9:12,23,24).
Gente, é incoerente falarmos de dor quando nunca sentimos dor; falar de perda quando nunca experimentamos essa sensação; falarmos de traição ou abandono, quando não vimos isso de perto. Pois é, Jesus teve e tem moral pra falar disso tudo, para agir nisso tudo, já que experimentou isso tudo. Então, ele sabe da nossa dor, dos nossos sentimentos, e um detalhe muito importante, ele jamais nos abandona, jamais. Vejam que coisa mais fofa é dita em Salmos
27:10: “Porque se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá.” É lindo de mais esse texto. Isso quer dizer que ele nunca vai nos deixar na mão no meio do deserto, mesmo que tenhamos que atravessar um supostamente sozinhos. Nunca. Ouviram? Quer dizer, leram? Nunca.
A DIVINDADE DE JESUS
A designação favorita de Hebreus para Cristo é Filho de Deus (1:2,5; 4:14; 5:5; 6:6; 7:3). Como o Filho, ele é o herdeiro de todas as coisas (1:2). Como o Filho de Deus, ele participa da deidade, é preexistente. Os anjos o adoram (1:6). Hebreus ainda chama Jesus de Deus, aplicando a ele o Salmo 45:1-8. A divindade de Cristo é também vista no uso do termo Senhor (Kurios). Várias vezes são citadas passagens do Velho Testamento, em que Deus é mencionado como o Senhor (7:21; 8:8,11; 10:16,30).
FÉ E VIDA CRISTÃ
Em Hebreus, o pré-requisito básico para a vida cristã é a fé (11:1,6; 12:2). A título de exemplo de fé e encorajamento aos destinatários da epístola, o autor apresenta, no capítulo 11, uma lista de heróis da fé, além de um conceito muito belezudo, muito lindo, muito fofo de fé: “certeza das coisas que se esperam, convicção de fatos que se não vêem.”
DATA
A epístola foi escrita já na segunda geração de cristãos (2:1-4) e decorrido um considerável intervalo após a conversão dos destinatários (5:12), os quais já haviam se esquecido dos “dias passados” (10:32) e os seus dirigentes tinham morrido (13:7). Timóteo tinha estado na prisão (13:23), porém continuava vivo, sendo posto em liberdade. As referências ao sacerdócio indicam que o templo ainda estava de pé (foi destruído no ano 70), embora não andasse muito distante a abolição das instituições judaicas (12:27). A perseguição era iminente (10:32-36; 12:4). O texto combina com a situação no final dos anos 60, quando a igreja em Roma receava a perseguição, estando próxima a queda da comunidade judaica.
LIÇÃO 19 26/10/08
TIAGO
Em adição a Hebreus, o Novo Testamento contém várias cartas menores, que são chamadas de “católicas” (universais). Com exceção de II e III João, são dirigidas à igreja em geral.
O autor se refere a Jesus como o “Senhor Jesus Cristo” (1:1) e “Senhor da Glória” (2:1). Esta epístola foi escrita por Tiago, irmão de Jesus, de Jerusalém, a judeus cristãos que estavam sendo oprimidos por seus compatriotas.
O propósito de Tiago é, em geral, prático. É impossível concluir, a partir do conteúdo da epístola, que ele estava interessado em Teologia. Tiago escreve para encorajar companheiros judeus cristãos que, em sua maior parte, vinham do nível mais baixo da sociedade e estavam sendo oprimidos por judeus ricos. Não há uma evidência clara de que estavam sofrendo perseguição por serem cristãos.
Assim, temos aqui uma preocupação social com a desigualdade. Penso que a igreja pode contribuir bastante para reduzir as desigualdades sociais existentes em sua membrezia e até mesmo na comunidade em que está inserida, e vejo isso como uma de suas funções. Desigualdade social nada tem a ver com fé. Dessa forma, considero uma incoerência do ponto de vista cristão, a defesa de que se um irmão não prospera é por falta de fé. Ora, vivemos num país de desigualdades absurdas. O Chico Buarque tem uma frase linda sobre isso. Comentando uma fotografia de Sebastião Salgado, ele diz: “o berço da desigualdade está na desigualdade do berço.” Na foto em questão, um bebê dorme embaixo de uma mesa, num chão sem piso, sobre alguns panos, e aquela imagem, senhores, não é uma questão de fé. Aliás, insisto: a igreja pode contribuir para reduzir cenas como aquela retratada pelo Salgado.
IGREJA, SINAGOGA E VIDA CRISTÃ
Tiago revela pouco sobre a estrutura da igreja; usa o termo judaico “sinagoga” para designar o ajuntamento cristão (2:2); ele se refere a anciãos da igreja (5:14) e os instrui quanto aos deveres pastorais: visitar os doentes e ungi-los com óleo; isso deve ser acompanhado pela confissão dos pecados (5:16).
Quanto à vida cristã, está “claramente implícito” em Tiago que o crente vive em tensão entre o já e o não ainda. Pela vontade divina, nasce de novo e se torna uma das pessoas redimidas de Deus (1:18), com a palavra de Deus implantada no coração (1:21). Apesar deste fato, o crente está sujeito tanto à tentação ao pecado de vários tipos como à pressão das provações (1:2), que podem fazer com que se desvie da fé (5:19); contudo, ele espera a manifestação de Cristo, quando herdará o Reino de Deus (2:5) e receberá a vida eterna (1:12).
É claro que as tentações ocorrerão exatamente no “ponto fraco” de cada um. Assim, é importante reconhecermos nossas limitações e fugirmos das tentações, conscientes de que não somos super homens ou super mulheres e de que estamos sim no grupo de risco. Por outro lado, também não rola insistir naquela velha história de que a carne é fraca e por isso pecamos. A carne é realmente fraca, mas o auto-controle existe. Muita coisa negativa atribuída ao sobrenatural pode, tranquilamente, ser posta na conta da falta de vergonha na cara.
FÉ E OBRAS
Tiago apresenta um problema teológico. A princípio, parece contradizer a doutrina paulina da justificação, cujo centro é a absolvição divina inteiramente através da graça, baseada na fé, sem as obras da Lei. Nenhum ser humano será justificado diante de Deus por obras da Lei (Rm 3:20). Tiago parece contradizer Paulo: “Que proveito há, meus irmãos, se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura, essa fé poderá salvá-lo?... Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (2:14-18). É provável que Tiago esteja refutando as perversões da doutrina paulina (e não a própria doutrina paulina). Por outro lado, compreendemos que a fé para a salvação é ativa, portanto, incapaz de não produzir obras. Visto assim, o pensamento de um pode complementar o do outro, acrescentando a idéia de que a fé salvadora não é estática, mas dinâmica e que produz boas obras.
Nada indica que Tiago se opusesse ao ensino de Paulo por questões de princípio. Como lemos em Gálatas 2:9-10, manteve comunhão com este. Além disso, em Atos, o seu comportamento não foi de um antagonista, esforçando-se, inclusive, para dissipar todas as suspeitas dos judeus quanto a verdadeira atitude paulina. Por outro lado, é bastante provável que tivesse receio de que com a libertação do sistema da lei, passasse a haver um comportamento desleixado, descuidado, que desonrasse o bom nome dos cristãos.
A epístola de Tiago foi escrita a fim de promover uma vida ética prática, razão pela qual Paulo também escreveu as suas. Assim, embora houvesse alguma divergência no foco de suas epístolas (um destaca obras, outro destaca fé), ambos querem chegar ao mesmo lugar.
É um fato que se eu tenho uma fé salvadora, sentirei a necessidade de produzir boas obras. Essas duas coisas estão interligadas. Parece incoerente falar de fé quando não produzo nada. Seria uma fé egoísta. É como se você estudasse a balde e não compartilhasse esse conhecimento com ninguém ou não tentasse mudar nada. “De que me adianta conhecer, se não posso mudar?” Todas as obras de madre Tereza de Calcutá teve como motivação uma fé imensa e um imenso amor pelo outro, pelo próximo, se preferir assim. Tiago diz que “a religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.” (1:27)
LIÇÃO 20 02/11/08
AS DUAS EPÍSTOLAS DE PEDRO
I PEDRO
A epístola declara ter sido escrita pelo apóstolo Pedro (1:1), um “ancião” que foi testemunha ocular dos sofrimentos de Cristo (5:1). Certamente, foi enviada de Roma – designada como Babilônia (5:13) – antes da perseguição de Nero. Parte substancial da carta foi escrita para encorajar os cristãos diante da perseguição nas mãos da população pagã (4:12; 5:9), com a possibilidade de estarem enfrentando perseguição oficial pelo fato de serem cristãos (4:15), o que aconteceu nos dias desse imperador. A carta é dirigida “aos peregrinos na dispersão”, nas províncias da Ásia (1:1), mas está claro que estes são gentios (2:10; 4:3). Provavelmente, trata-se de uma carta circular, assim como Efésios.
O contraste entre o mundo mal, hostil a Cristo e, portanto, aos crentes (4:4; 1:14,18; 2:11), e o céu é particularmente forte e desempenha um papel essencial no pensamento de Pedro.
Pedro vê a Igreja como o verdadeiro Israel. O antigo Israel tropeçou perante aquele a quem Deus designou que fosse o alicerce de seu templo espiritual (2:5,8,9).
Não há nenhuma referência à Ceia do Senhor e apenas uma ao batismo (3:21).
Quanto à vida cristã, há duas ênfases notáveis. A primeira é a firmeza no sofrimento. Sofrer é uma experiência normal do crente, porque o mundo, para ele, é uma terra estranha. O sofrimento (por causa de Cristo) deve ser suportado firme e pacientemente, até com regozijo, pois ocorre sob a mão providencial de Deus, traz bênçãos consigo e fornece a certeza da partilha da glória futura de Cristo (4:13). Trazendo isso para a nossa vida prática, precisamos diferenciar esse sofrer por amor a Cristo de um suposto sofrer por bobagens nossas. Vamos imaginar que um companheiro nosso trabalhe numa determinada empresa e, justamente na hora do expediente, resolva ler a Bíblia. Esse cabra é advertido e então comenta com os colegas que está sendo perseguido por ser evangélico, por extensão, por amor a Cristo. É claro que não se trata disso. Ele não foi contratado para ler a Bíblia, portanto, não está rolando perseguição alguma; simplesmente está se cobrando dele uma postura profissional. Também acho interessante lembrar aqui que nós, cristãos evangélicos, não somos os únicos beneficiados com a liberdade de culto estabelecida em nossa Constituição. No Brasil, toda a diversidade religiosa é contemplada com essa liberdade. Isso significa dizer que não podemos apoiar, achar bonitinho ou interessante atitudes fanáticas como daquele grupo que invadiu e quebrou um templo do Candomblé, no Rio de Janeiro. Oxente, então a liberdade de culto só serve pra gente? Então é lícito promover a perseguição de outros grupos, justo nós, que um dia fomos perseguidos?
A segunda é a do bom comportamento (2:15,20; 3:6,17). Este “fazer o bem” não se refere às boas obras do legalismo judaico, mas envolve uma conduta justa, em contraste com a pecaminosidade pagã (4:2).
II PEDRO
A autoria é atribuída a Simão Pedro (1:1), que foi testemunha ocular da majestade de Jesus, em sua transfiguração (1:16-18). Foi escrita pelo apóstolo pouco antes da sua morte (1:14). O intervalo entre as duas epístolas é pequeno.
A ocasião para a escrita da carta determina o seu conteúdo. O propósito desta carta é bastante diferente em relação à primeira. II Pedro foi escrita para alertar seus leitores contra falsos mestres (2:1,2). Estes eram mestres dentro da igreja, que se afastaram da fé (2:21), provavelmente, gnósticos, que declaravam ter acesso especial à verdade divina. Falavam de liberdade (2:19), todavia como libertação da disciplina cristã e liberdade para darem livre vazão aos seus apetites corporais.
2 Pedro é de especial interesse por causa da doutrina a respeito da Escritura. O apóstolo enfatiza a primazia da norma da verdade apostólica. Segundo ele, a verdade é um “mandamento santo”, entregue à Igreja através dos apóstolos (3:2; 1:20-21). Pedro compara a verdade da Escritura com as “fábulas” dos gnósticos (1:16), ressaltando a força da primeira e a fragilidade da segunda.
Esta epístola nos fornece a mais antiga referência ao fato de que a Igreja apostólica tinha os escritos de Paulo (pelo menos, alguns deles) como Escritura (3:16) ao compará-los com as Escrituras do Velho Testamento.
Observando o conteúdo de II Pedro, concluímos que um dos principais erros doutrinários dos gnósticos era a negação da escatologia cristã fundamental e da vinda do Senhor. Esta pode ser a única razão por que Pedro dedica tanta atenção a escatologia (leia atentamente o capítulo 3).
Ao longo de sua história, a igreja sempre sofreu com a presença de falsos ensinadores e hoje continua assim. Há sempre um bisonho ensinando umas “novidades” e há sempre outros bisonhos seguindo esses caras. Os ensinadores se comportam dessa forma, normalmente, levando em conta seus próprios interesses e os seguidores os acompanham por acharem o máximo “qualquer vento de doutrina”, como diz o apóstolo, por não terem uma fé estruturada, por não terem amadurecido. Acho inconcebível que alguém abrace uma fé, uma religião e não leia sua literatura sagrada. Acho estranho demais o fato de a maioria dos cristãos (católicos e evangélicos) não ler a Bíblia regularmente e ao mesmo tempo referir-se a esse livro como sua regra de fé. Como regra se o cabra não lê? A maioria do nosso povo constrói o seu conhecimento bíblico simplesmente ouvindo sermões. Nada contra se ouvir sermões, mas tudo contra tomá-los como regra de fé. Aí por conta dessa pouca familiaridade com a Bíblia como um todo, temos que aturar as caixinhas de promessa, as Bíblias abertas em Salmos 91, 121 ou 23, as consultas mágicas da suposta “vontade de Deus” a partir da abertura aleatória da Bíblia. Uai, se eu conheço a Bíblia, se a leio, não vou precisar dessas “simpatias” para consultar a vontade de Deus, pois ela já está revelada pra nós nas páginas da Bíblia Sagrada, nossa regra de fé.
LIÇÃO 21 09/11/08
A EPÍSTOLA DE JUDAS
SOBRE O AUTOR
De acordo com a tradição, Judas é o irmão de Jesus (Mt 13:55), que só se tornou crente após a ressurreição de Cristo (Jo 7:5; At 1:14), e cujo irmão, Tiago, se tornou líder da igreja primitiva (At 15:13; Gl 1:19). A data provável está entre os anos 70 e 80 da era cristã.
JUDAS E II PEDRO
Há pouca coisa de interesse teológico em Judas que não se encontre em II Pedro. Judas dirige-se ao mesmo problema dos gnósticos libertinos, como o faz II Pedro, e escreve para encorajar seus leitores a lutarem por uma fé ortodoxa (v.3). Falsos mestres chegaram à Igreja, e “negam o nosso único Soberano e Senhor Jesus Cristo (v.4), rejeitam toda autoridade e ultrajam os anjos (v.8), são escarnecedores (v.18) do caminho cristão aceito”. Judas não diz que eles escarneceram da idéia da segunda vinda de Cristo (2 Pe 3:3,4). Eles proclamam especial iluminação do Espírito, mas são, na verdade, destituídos do Espírito (v.19). Seu erro se manifesta na licenciosidade sexual (v. 4 e 12). Judas, como 2 Pedro, enfatiza o juízo escatológico destes apóstatas (v.14). Está claro, a partir da referência às predições dos apóstolos, que Judas, como 2 Pedro, deve ter sido escrito bem tarde, na era apostólica (v.17).
PONTOS DE INTERESSE TEOLÓGICO
Os dois itens de interesse teológico são a referência aos “anjos que não guardaram o seu principado” (v.6) e o uso que o escritor faz da literatura apócrifa. Ele faz citação verbalmente de “Enoque, o sétimo depois de Adão” (v.14), palavras (ipsis literis) encontradas no apocalipse de Enoque (1 Enoque – livro apócrifo). Judas tem o livro de Enoque como um escrito de grande valor, mas ele não o chama de Escritura.
É provável que Judas tenha feito uso de um outro livro apócrifo, a Assunção de Moisés, no verso 9. Embora este livro esteja perdido, para nós, tanto Clemente quanto Orígenes supunham que Judas estava usando-o (ambos estavam familiarizados com esse apócrifo). Não está claro que Judas tenha usado este livro por considerá-lo Escritura inspirada.
Estes dois exemplos de uso de literatura não-canônica não são únicos. Paulo faz uso de um “midrash” rabínico (1 Co 10:4) sobre a pedra que seguia os israelitas no deserto. Ele até cita um poeta pagão, em seu discurso em Atenas (At 17:28; 1 Co 15:33). Ele cita os mágicos que resistiram a Moisés, como Janes e Jambres (2 Tm 3:8), provavelmente extraindo-os de uma fonte não-canônica.
CONTEÚDO
Judas anunciou que seu propósito era incitar os leitores “a batalha pela fé que uma vez foi dada aos santos” (3). A causa desta emergência era a infiltração nas fileiras cristãs de homens que “convertem em dissolução a graça de Deus e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo” (4).
A heresia é definida da mesma forma que em II Pedro, sendo, porém, mais detalhada. As pessoas tinham se afastado tanto dos princípios cristãos que já não observavam restrições e já não possuíam padrões morais fixos. Tudo era relativo, rolava uma especulação intelectual ociosa, e já não se falava em deveres.
Aliás, isso me lembra uma situação bastante atual e preocupante. Sabe aquele garoto que te aborda no sinal de trânsito ou dentro do ônibus e diz: “eu poderia está matando, roubando, me drogando, mas estou aqui vendendo esse doce”. Pois é, é como se ele estivesse dizendo: compre esse doce, eu estou quebrando seu galho, poderia matá-lo, roubá-lo. Esse garoto, na verdade, não está me fazendo nenhum favor, me quebrando nenhum galho, ele precisa vender e precisa ser honesto. Até aí, tudo mais ou menos bem, mas o que me preocupa de fato é que esse discurso chegou às igrejas em declarações do tipo: “essas pessoas poderiam estar matando, roubando, se prostituindo, se drogando, mas estão aqui na igreja.” Estão aqui porque querem estar, estão aqui porque entenderam a chamada divina, não estão me fazendo favor algum. Se quiserem matar, roubar, se prostituir, se drogar, que o façam, embora seja uma pena para eles próprios, para a família, para a sociedade e para a igreja. Esse tipo de discurso pode fazer o cara pensar o seguinte: já estou fazendo muito de estar na igreja, tudo o que eu fizer, a igreja tem que aceitar porque eu poderia ser um cara do mal. Eu quero que os caras entendam o chamado divino e estejam aqui porque querem estar de verdade e não porque estão me fazendo um favor porque não estão. É como se o cara estivesse barganhando com a igreja e a igreja sendo permissiva com ele. Isso seria cristianismo? Precisamos convencer o nosso povo, os nossos jovens em especial, de que não estão aqui por causa de a ou b, mas porque optaram por estar aqui. É claro que são bem-vindos, mas se quiserem partir, não sou eu que vou impedi-los. De qualquer forma, ouvir que poderiam estar matando, roubando, se prostituindo, mas estão aqui, sempre me aborrece de verdade. Você já parou pra pensar onde estaria agora, no momento em que lê esse texto, se não tivesse sido alcançado pelo evangelho?
Só mais uma coisinha: numa discussão, o cabra diz ao outro: só não te dou um soco porque sou crente. Esse cabra não está transformado de fato. A vontade de dar o soco está presente. Ele não está controlando essa vontade por convicção, mas por adequação ao momento. Isso não seria similar ao legalismo judaico?
LIÇÃO 22 16/11/08
AS EPÍSTOLAS DE JOÃO
O autor destas epístolas é o mesmo do quarto Evangelho. Todas estas obras foram produzidas, certamente, na mesma época e no mesmo local, ambos indeterminados, e enviadas às igrejas asiáticas pelos fins do primeiro século, quando a separação entre igreja e sinagoga já era definitiva.
O ROMPIMENTO COM O JUDAÍSMO
O rápido crescimento da igreja gentílica, independente do Judaísmo tanto por tradição como por convicção, só podia conduzir a uma brusca e definitiva separação. Os membros da igreja judaica continuavam apegados à observância da lei, embora confiassem em Jesus, o Messias, para sua salvação. A tensão entre judeus e gentios, que se manifestou nos primeiros trinta anos da história cristã, tornou-se maior à medida que as igrejas de todo o mundo de então rivalizavam com as sinagogas em número de membros e em crescimento. A rejeição judaica da mensagem cristã chegou a um ponto tal, que até o apóstolo Paulo abandonou todas as esperanças de um arrependimento nacional. Embora tivesse declarado que “eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne” (Rm 9:3), posteriormente afastou-se deles, dizendo: “Seja-vos, pois, notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios e eles a ouvirão” (At 28:28).
OBJETIVOS DOS ESCRITOS JOANINOS
A partir de uma análise de 1 João 1:1 e de João 20:31, concluímos que o Evangelho foi escrito para despertar a fé, e a primeira epístola para estabelecer a certeza. As duas cartas seguintes podem ter sido escritas como “cartas de cobertura”, sendo uma destinada a uma igreja a que João se refere como “senhora eleita” (2 Jo 1), e a outra a Gaio, o pastor (3 Jo 1). A intenção destas era transmitir notas particulares de conselho e saudação, enquanto que o corpo principal de ensinamento vinha contido no Evangelho e na primeira epístola.
I JOÃO tem por objetivo apressar seus leitores a provar “se os espíritos vêm de Deus” (4:1), ou seja, é preciso avaliar os pronunciamentos carismáticos de todos os “profetas”, tendo como parâmetro a norma da tradição cristã, no centro da qual está a realidade da encarnação de Cristo (4:2,3), questionada pelos cismáticos, os quais, em seus ensinos, negavam que Cristo veio em carne, confundindo, assim, os membros da igreja, aos quais a epístola é dirigida com o claro objetivo de esclarecer a questão.
O ensino combatido por João nesta epístola defendia que o espírito é bom, a matéria má, e que as duas coisas não podem ter uma relação duradoura juntos. Assim, a salvação consiste em fugir do domínio da matéria para o domínio do espírito, através do conhecimento (gnosis), mediante o qual o homem pode erguer-se acima das cadeias terrenas da matéria e ascender à apreensão celestial da verdade. Uma outra heresia corrente era o docetismo, oriunda da anterior, que fazia do Jesus humano um mero fantasma, uma ilusão, que parecia surgir perante o homem, mas que não tinha existência real.
João afirma que o Cristo que ele pregava era audível, visível e tangível (1:1), e que quem nega o Pai e o Filho é antiCristo (2:22), além de declarar que “todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus” (4:2,3).
II JOÃO é destinada a uma determinada igreja, “à senhora eleita, e a seus filhos” (v.1), a fim de instruí-la a não dar hospitalidade, como era o costume, a um alegado mestre cristão itinerante que não proclama a verdadeira doutrina (8-11). Tais não são verdadeiros profetas, mas embusteiros, porque “não confessam que Jesus Cristo veio em carne” (v.7).
III JOÃO foi escrita para orientar a um certo Gaio como lidar com Diótrefes (v.9), um cismático. Não está claro se seu separatismo se devia ao fato de ter aderido ao ensino gnóstico ou a questões pessoais, o que é mais provável.
Ao se deparar especialmente com a heresia gnóstica do conhecimento exclusivo (questionamento da encarnação de Cristo, etc..), João não ataca os falsos mestres, como acontece em II Pedro. Sua preocupação não é apenas polêmica, mas também pastoral. Ele está preocupado em encorajar seus leitores a se apegarem a uma fé cristã consistente e a viver, consistentemente, com uma verdadeira conduta cristã.
Embora João use uma linguagem dualística (luz e trevas; Deus e o mundo), ele não é dualístico no pensamento, mas está centralizado na tradição cristã. Sua teologia está estruturada no dualismo do passado e do futuro – o já e o não ainda. O âmago do evangelho é algo que a igreja possui “desde o princípio” (2:7). Foi isto que ocorreu no evento histórico de Jesus Cristo. Aqui João usa a mesma teologia do Logos que aparece no Evangelho, embora a epístola fale do “Verbo da vida” (1:1). Este verbo divino, como o Logos de João 1:1, era “desde o princípio”, fazendo-se, contudo, manifesto na História, na pessoa de Jesus. João enfatiza a realidade histórica objetiva da encarnação (1:1-3).
A epístola, assim como o Evangelho (Jo 3:3), fala da entrada na vida cristã como um novo nascimento, sendo-se gerado por Deus, tendo-se a semente de Deus implantada em seu interior (2:29; 3:9; 4:7; 5:1,4,18). Por novo nascimento e implante da semente divina, João quer dizer, claramente, algo mais do que uma nova relação. Isto significa uma nova dinâmica, um novo poder, que entrou na personalidade humana, o que se reflete numa mudança de conduta. Permanecer em Cristo significa também permanecer na verdadeira tradição cristã, uma coisa que os gnósticos não fizeram (2:14,24,27; 4:16; 3:24).
A ética de João é a mesma encontrada no Evangelho (Jo 13:34), o novo mandamento do amor (2:15; 4:2,10; 3:11; 2:7,8).
LIÇÃO 23 23/11/08
O APOCALIPSE
O Apocalipse encerra o cânon e a história do Novo Testamento. Independente de ter sido ou não o último a ser escrito, é final no seu pensamento, pois encerra a expectativa de uma igreja que havia sido lançada no mundo como uma instituição e que aguardava, ansiosamente, que a sua missão se consumasse. É o único livro do Novo Testamento dedicado inteiramente à profecia. Praticamente todo o seu simbolismo está relacionado com imagens e símbolos presentes nos livros proféticos do Antigo Testamento, sendo, grande parte do seu conteúdo, preditivo. O autor declara que o mensageiro que lhe trouxe a última visão viera do Senhor, “o Deus dos santos profetas, (que) enviou o Seu anjo para mostrar aos Seus servos as coisas que hão de acontecer” (22:6), e no versículo seguinte fala na “profecia deste livro”.
As condições em que o livro foi escrito podem ser razoavelmente deduzidas do seu conteúdo. Destinava-se às sete igrejas da província da Ásia, que já existiam há bastante tempo, experimentando um crescimento espiritual seguido de declínio.
Nas cartas a estas igrejas encontram-se indícios de que a perseguição era iminente, ou já havia começado. A igreja de Esmirna ia sofrer e teria “uma tribulação de dez dias” (2:10). Antipas sofrera o martírio em Pérgamo (2:13); Filadélfia seria guardada da hora da tentação (3:10). Mesmo que estas passagens sejam interpretadas como referindo-se a acontecimentos futuros, a atmosfera do Apocalipse é de hostilidade e opressão.
Na parte principal do livro, a fome, a guerra, a peste, a pressão econômica e a perseguição são consideradas como os fenômenos típicos do seu cenário.
Restam poucas dúvidas de que Roma imperial constituiu o modelo do poder do estado que o Apocalipse pintou como inimigo do Cristianismo. A besta que tinha “poder sobre toda a tribo, e língua e nação” (13:7) tinha o seu antítipo no domínio universal de Roma sob os Césares. O “sinal” que os homens seriam obrigados a trazer para comprarem ou venderem (13:16,17) era o termo indicado para indicar o selo imperial estampado em testamentos, contratos, contas de venda e outros documentos a fim de dar-lhes valor legal. A prostituta chamada “Grande Babilônia”, embriagada com o sangue dos santos e mártires, estava sentada sobre sete montes (17:9), número idêntico ao das colinas de Roma.
Quer o Apocalipse deva ser definitivamente interpretado como aplicável a Roma ou não, fato é que os primeiros leitores assim entenderam.
DATA DO LIVRO
Prevalecem duas correntes de pensamento quanto à época e às circunstâncias em que foi escrito. Um grupo o atribui aos dias de Nero, quando o incêndio de Roma resultou em grande perseguição aos cristãos. O número místico 666 (13:18) seria o total dos valores numéricos das letras hebraicas com que se escreve NERON CAESAR, sendo a personagem do texto em questão, o próprio Nero. Assim, o livro teria sido escrito numa data recuada, antes de João escrever os evangelhos e as três epístolas.
Outro grupo situa o livro em finais do primeiro século (81-96), no período de Domiciano. Muito embora nos dias desse imperador não tenha havido uma perseguição generalizada, como nos dias de Nero, sua insistência em ser adorado como uma divindade e a tirania crescente da sua ditadura puseram-no em oposição ao crescimento do Cristianismo, constituindo o presságio do aparecimento das condições sociais, econômicas e religiosas que o Apocalipse profetizara.
O Apocalipse representa uma testemunha da hostilidade crescente surgida entre a Igreja e o estado romano. Em finais do primeiro século, os cristãos encontravam-se na defensiva em toda a parte, já percebendo claramente o efeito das palavras de Jesus: “Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece” (Jo 15:19).
OBJETIVOS DO LIVRO
O Apocalipse foi escrito para encorajar as igrejas, que sentiam esta hostilidade crescente, e para alertar os cristãos descuidados e negligentes, tentados a resvalar para uma conformidade fácil com o mundo.
Outro objetivo é apresentar uma revelação dos eventos que ocorrerão no final dos tempos e no estabelecimento do Reino de Deus. A teologia básica do livro, portanto, é sua escatologia. Ele declara ser uma profecia das coisas que brevemente têm que acontecer (1:2,3), cujo evento central é a segunda vinda de Cristo (1:7).
AUTOR
O autor, como ele mesmo diz, chamava-se João e fora testemunha ocular das coisas que descrevera (1:1,2). Encontrava-se em Patmos, uma ilha rochosa ao largo da costa da Grécia, onde encontrava-se encarcerado em função da sua fé (1:9). Ali foi-lhe dada a visão que descreveu, tendo-lhe sido ordenado que a transmitisse às sete igrejas da Ásia (1:10), com as quais estava familiarizado.
ESQUEMA BÁSICO DO LIVRO
PRIMEIRA VISÃO (1:9 – 3:22) – Cristo exaltado e suas cartas às sete igrejas.
SEGUNDA VISÃO (4:1 – 16:21) – Retrata o trono celestial com um livro selado com sete selos na mão de Deus, o qual só pode ser aberto pelo Leão da tribo de Judá, que é o Cordeiro de Deus sacrificado. O tema central aqui é o conflito entre Deus e Satanás.
TERCEIRA VISÃO (17:1 – 21:8) – A grande prostituta, Babilônia, a grande cidade que tem domínio sobre todos os reis da terra (17:18). O julgamento e a destruição da Babilônia são, então, anunciados (18:1-24), seguidos por um hino de louvor por sua destruição (19:1-5). O restante da terceira visão retrata a vitória final de Deus sobre os poderes do mal.
ÚLTIMA VISÃO (21:9 – 22:5) – Retrata a Jerusalém celestial, que é a Noiva, a esposa do Cordeiro.
EPÍLOGO (22:6-21) – Convida os homens a receberem a dádiva da vida por parte de Deus (22:17).
LIÇÃO 24 30/11/08
MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE
1. Interpretação Preterista – Trata o livro como um exemplo típico do gênero de literatura apocalíptica. Apocalipses são “panfletos para tempos ruins”, que aparecem em tempos de perseguição e mal inusitados com o objetivo de encorajar um povo em apuros. A solução para os problemas é encontrada na opinião de que Deus entregou este século aos poderes do mal, mas breve intervirá para destruir o mal e estabelecer seu Reino.
A mensagem dos apocalipses é dirigida aos seus próprios contemporâneos e, de modo algum, contém profecias do futuro, mas apenas pseudo-profecias baseadas na própria história. Assim, essa interpretação preterista supõe que o Apocalipse foi produzido para uma igreja que estava encarando a ameaça da medonha perseguição nas mãos de Roma, talvez na província da Ásia, onde o culto ao imperador florescia. Logo, a Besta é um dos imperadores romanos e o Falso Profeta é o culto de adoração ao imperador. O autor assegura, aos cristãos, que mesmo que apareça um grande martírio, Cristo retornará brevemente, destruirá Roma e estabelecerá seu Reino na terra.
De acordo com esse método, o simbolismo do Apocalipse relaciona-se unicamente com os acontecimentos da época em que foi escrito. Nada do simbolismo dos selos, das trombetas e das taças tem qualquer relação com o futuro. Ao falar do julgamento futuro, o escritor exprimia, simplesmente, a sua indignação moral perante os abusos do seu tempo. Relaciona o Apocalipse com o pensamento e com os acontecimentos históricos da época em que foi escrito, mas não dá margem a qualquer elemento profético.
2. Método Histórico – Esta interpretação, aceita pelos Reformadores, vê, no Apocalipse, uma profecia da história da Igreja. Eventos específicos, nações e personagens, que se enquadrem nos selos, nas trombetas, nas taças, etc., são buscados na história eclesiástica. A mais importante identificação, nesta interpretação, é a da Besta e do Falso Profeta com o papado em seus aspectos político e religioso. Assim, os símbolos descrevem, seqüencialmente, os grandes acontecimentos: os selos representam a dissolução do Império Romano; a erupção de gafanhotos do abismo representa as invasões islâmicas. Os defensores desse método, como os reformadores e diversos pregadores contemporâneos, nunca foram unânimes com relação ao significado dos símbolos.
3. Método Simbólico ou Idealista – Um dos métodos mais atraentes é o que vê, no Apocalipse, apenas símbolos dos poderes espirituais atuando no mundo. A mensagem do livro é a garantia aos santos sofredores do triunfo final de Deus, sem a predição de eventos concretos, nem no passado nem no futuro. A objeção a esta opinião é que o gênero de literatura apocalíptica sempre usava simbolismo apocalíptico para descrever os eventos da História, e temos que esperar que o Apocalipse compartilhe pelo menos desta característica com os outros livros deste caráter. Esse método considera o Apocalipse, unicamente, um quadro simbólico da luta constante entre o bem e o mal; entre o Cristianismo e o Paganismo. Assim, “o Apocalipse não significa uma revelação dos mistérios futuros do fim do mundo, do milênio ou do dia do juízo. Tampouco significa, primariamente, uma revelação das glórias do céu ou da beatitude dos remidos. Denota, antes, uma revelação do Deus infinito, poderoso para salvar; um descortinar, para consolo e inspiração do povo de Deus, do poder avassalador de um Salvador onipotente...”(Raimond Calkins). O método idealista tem a vantagem de chamar a atenção do leitor para a verdade ética e espiritual do livro e não para os aspectos discutíveis do seu simbolismo. Por outro lado, tende a reduzir o valor desse simbolismo como veículo de profecia. A sua “espiritualização” retira do Apocalipse todo o seu valor preditivo, separando-o de qualquer consumação histórica definida. O dia do juízo, segundo esta teoria, acontece sempre que se decide um grande problema moral, não é um ponto culminante em que um Cristo sobrenatural sobe a um trono invisível.
4. Interpretação Futurista Extrema / Dispensacionalismo – Interpreta o Apocalipse considerando sua premissa dispensacionalista de dois programas divinos diferentes: um para Israel e um para a Igreja. Todos os selos, todas as trombetas e taças pertencem à grande tribulação. Considerando que esta é a hora da “angústia para Jacó” (Jr 30:7), tem a ver com Israel e não com a Igreja. Nos capítulos 2 e 3, a Igreja é vista na terra, mas a palavra “igreja” não ocorre mais no livro, a não ser em 22:16. Os vinte e quatro anciãos vistos ao redor do trono de Deus são tidos como a igreja, transportada e recompensada (4:4). Logo, o arrebatamento da Igreja tem que ocorrer em 4:1, e o povo de Deus na terra são os judeus, doze mil de cada uma das doze tribos (7:1-8), que proclamam o “evangelho do Reino” durante a tribulação e ganham uma grande hoste de gentios (7:9-17). A Besta é o chefe do Império Romano, que será restaurado nos últimos dias. A profecia em Daniel 9:27 é também entendida como se referindo ao chefe deste império restaurado. Os últimos sete anos começarão com um pacto entre a Besta (o anti-Cristo) e Israel, o qual será rompido pela própria Besta após três anos e meio e, então, enfurecida, perseguirá os judeus. O grande conflito, no Apocalipse, se dará entre o anti-Cristo e Israel, não entre o anti-Cristo e a Igreja. Visto que os capítulos 4 a 19 têm a ver com o período de tribulação, somente os capítulos 2 e 3 têm a ver com a era da Igreja.As sete igrejas representam sete períodos sucessivos da história eclesiástica, sendo o período final o da apostasia e da apatia espiritual, ponto de vista contestado por teólogos contemporâneos.
Segundo esse método, os três primeiros capítulos do Apocalipse aplicam-se ao tempo em que o livro foi escrito ou, então, que as sete igrejas da Ásia representam sete épocas na história da Igreja, estabelecendo uma ligação entre a era apostólica e o regresso de Cristo. Até aí, os futuristas são históricos. A partir de 4:1: “...as coisas que depois destas devem acontecer”, afirmam apresentar acontecimentos que terão lugar num período chamado de Grande Tribulação, mesmo antes do regresso de Cristo, a qual se prolongará por um período de três e meio a sete anos. Os acontecimentos previstos para este período são interpretados da forma mais literal possível.
Ponto de Vista Futurista Moderado – O Apocalipse afirma representar a consumação do propósito redentor de Deus, contendo tanto o juízo quanto a salvação. Um dos principais problemas na interpretação desse livro é a relação entre os selos, as trombetas e as taças. Na solução deste problema pode estar a chave para a interpretação do livro. As sete cartas são endereçadas a sete igrejas históricas que representam a Igreja como um todo. Os selos representam as forças, na história, qualquer que seja a sua duração, pelas quais Deus elabora seus propósitos de redenção e julgamento na história, conduzindo-a ao fim. Os eventos que começam com o capítulo sete estão no futuro e cumprirão a disposição final da vontade divina para a história humana.
LIÇÃO 25 14/12/08
PARTICULARIDADES DO LIVRO
1. O PROBLEMA DO MAL – O Apocalipse prevê um curto período de terrível mal na história, no fim dos tempos. Como Mateus 24:15 e 2 Tessalonicenses 2:3, ele fala de um personagem maligno que será, satanicamente, inspirado e autorizado, que abertamente desafia a Deus e exige que os homens o adorem, em vez de adorarem a Deus. Será permitido a ele empreender uma guerra contra a Igreja, e ele exercerá poder sobre o mundo inteiro (Ap 13:1-10). O esforço de Satanás de destruir o Messias é frustrado (12:4,5). Em lugar disso, ele próprio é destituído de seu poder, como resultado de um conflito espiritual, figurado como uma batalha entre o Dragão e Miguel (veja: Ap 12:10-12; Lc 10:17; Mt 12:28,29).
2. A VISITAÇÃO DA IRA – O Apocalipse retrata algo que não é ensinado em nenhum outro lugar da Bíblia: os juízos antecipatórios que serão lançados por Deus sobre os homens (16:1). As dores são dirigidas contra os homens que trazem o sinal da Besta e adoram sua imagem (16:2). Nesta última hora terrível, os homens terão que tomar uma posição: terão que ficar de um lado ou de outro. O martírio pode aguardar aqueles que seguem o Cordeiro, mas a ira de Deus aguarda aqueles que se submetem à Besta.
3. A VINDA DO REINO – A vinda do Reino de Deus é mostrada em duas situações: a destruição do mal e a bênção da vida eterna. A destruição do mal ocorre em vários estágios. A segunda vinda de Cristo (19:11-16) tem como propósito básico a destruição do mal. Sua vinda é tratada em termos de guerra antiga. Ele cavalga um cavalo de batalha e usa vestes manchadas de sangue. Ele é acompanhado pelos exércitos dos céus, aparentemente, anjos, todavia eles não participam do conflito. Sua única arma é uma espada afiada, oriunda de sua boca – sua palavra direta e simples. Não se trata de uma conquista militar. Sua vitória sobre o mal está no poder de sua palavra. Ele falará e a vitória será sua. O estado final do Reino de Deus é um novo céu e uma nova terra, o que expressa uma teologia da criação que permeia toda a Bíblia (Ap 21:1; Is 11:6-9; Jl 3:18; Am 9:13-15; Is 65:17,20; 66:22). O centro da nova terra é a cidade santa, a nova Jerusalém, retratada como a Noiva do Cordeiro, magnificamente vestida (21:9-11). A descrição da cidade é altamente simbólica. Entre seus habitantes estão os redimidos, tanto do Velho Testamento (21:12), como do Novo Testamento (21:14). Veja também: 21:22; 22:1,2,4.
E assim termina a Bíblia, com uma sociedade redimida vivendo numa nova terra purificada de todo o mal, com Deus habitando entre o seu povo.
O MILÊNIO E AS TEORIAS MILENIAIS
“Milênio é o período de mil anos em que Cristo reinará sobre a Terra, dando cumprimento às alianças abraâmica e davídica, bem como à nova aliança. É chamado também de reino dos céus (Mt 6:10), reino de Deus (Lc 19:11), reino de Cristo (Ap 11:15), a regeneração (Mt 19:28), tempos de refrigério (At 3:19) e o mundo por vir (Hb 2:5).
Seu Cabeça será Cristo (Ap 19:16). Seu caráter, um reino espiritual que produzirá paz, eqüidade, justiça, prosperidade e glória (Is 11:2-5). Sua capital será Jerusalém (Is 2:3).
Durante este período satanás estará acorrentado, sendo liberto ao seu final para liderar uma revolta final contra Cristo (Ap 20). Satanás será derrotado e lançado definitivamente no lago de fogo.”
POSIÇÃO PÓS-MILENISTA: a segunda vinda de Cristo se dará depois do Milênio. A parte final da Era da Igreja (os seus últimos mil anos) é o Milênio, que será uma época de paz e abundância promovida pelos esforços da Igreja. Depois disso, Cristo virá. Em seguida, haverá uma ressurreição generalizada, o juízo final e a eternidade. Segundo esta visão, Apocalipse 20 será cumprido num reino terreno , estabelecido pelos esforços da Igreja.
POSIÇÃO AMILENISTA: a segunda vinda de Cristo se dará no fim da época da Igreja e não existe um Milênio na terra. Num sentido restrito, a presente condição dos justos no céu é o Milênio e não há ou haverá um Milênio terrestre. A Era da Igreja terminará num tempo de convulsão, Cristo voltará, haverá ressurreição e juízo gerais e, depois, a eternidade. As promessas feitas a Israel são cumpridas na Igreja. Apocalipse 20 descreve a cena das almas no céu durante o período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo.
POSIÇÃO PRÉ-MILENISTA: a segunda vinda de Cristo acontecerá antes do Milênio. A Era da Igreja termina no tempo da Tribulação, Cristo volta à terra, estabelece e dirige seu reino por mil anos, ocorrem a ressurreição e o juízo dos não-salvos e depois vem a eternidade. Apocalipse 20 é interpretado literalmente. Entre os pré-milenistas não há unanimidade quanto ao tempo em que vai acontecer o arrebatamento.
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