segunda-feira, 10 de junho de 2013

CENAS BÍBLICAS DO NOVO TESTAMENTO - JUNHO A SETEMBRO DE 2013


APRESENTAÇÃO

Queridas companheiras, queridos companheiros, aqui estamos para mais uma série de estudos. Desta vez, uma revista intermediária, entre as duas maiores, já que conseguimos dividir nosso ano letivo em três revistas de estudos, o que representa uma continuidade maior dos temas estudados, e uma economia significativa para a igreja.
Nesta série, são apenas oito lições, abordando  CENAS BÍBLICAS DO NOVO TESTAMENTO; todas tendo Jesus como personagem principal. Procurei dar vida às cenas selecionadas através de uma narrativa entusiasmada e completamente apaixonada. Gostaria que vocês olhassem para as cenas selecionadas com o mesmo olhar de encantamento que tenho diante delas, com a mesma perspectiva encantada de quem narra os fatos nos evangelhos e de quem escreve estas lições que estão em suas mãos. As cenas têm vida por si só, são dinâmicas. O que tentei fazer foi abordá-las utilizando uma linguagem simples, bem longe do academicismo de alguns teólogos  que parecem insistir que a teologia tem um fim em si mesma, e não tem. A teologia só faz sentido se for prática. E para ser prática precisa ser entendida pelo povo. Esse lance de “sacralizar” a linguagem parece ajudar muito pouco na compreensão do texto pelo leitor. E aí volto àquele meu antigo discurso: a linguagem não precisa ser sagrada, o templo não é sagrado, o púlpito não é sagrado, a teologia não é sagrada. Sagradas são as pessoas. E eu escrevo para pessoas. Pessoas que são sagradas para Deus, mas que são absolutamente comuns, que vivem nesse mundo (planeta), que usam uma linguagem informal no dia a dia. Quero atingi-las com o meu texto, quero que compreendam a teologia, que vejam a teologia como algo simples que não precisa ser exposta numa linguagem que para ser compreendida precise que o leitor recorra a um dicionário a cada linha que lê. Tenho  o próprio Jesus como modelo. É utilizando uma linguagem simples que ele consegue ser compreendido pelo povo. Pelos religiosos de sua época nem tanto. Mas pelo povo sim. Tenho a maior inveja dele. Não faço questão de ser entendido pelos “religiosos” elitizados. Se o povo compreender “minha teologia”, estarei feliz pra caramba. Bons estudos!
Isac Machado de Moura

LIÇÃO 01 - 30 DE JUNHO DE 2013

JESUS NO GETSÊMANI

MATEUS 26

36  Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar.
37  E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito.
38  Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo.
39  E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.
40  E, voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora pudeste velar comigo?
41  Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.
42  E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade.
43  E, voltando, achou-os outra vez adormecidos; porque os seus olhos estavam pesados.
44  E, deixando-os de novo, foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras.


Esta é uma das minhas cenas bíblicas preferidas. Claro que é uma cena forte, pesada mesmo, mas eu gosto dela porque expõe grandemente a natureza humana do Deus-homem, do homem-Deus. O Cristo está consciente do que acontecerá a partir dali, e mesmo tendo clareza, o tempo todo, dos acontecimentos, nesse momento ele está aflito.


Nas próximas horas, nos próximos dias, sabe que experimentaria muitas sensações complexas: traição, prisão, abandono, condenação, tortura, morte. E então, apela ao pai, mesmo sabendo que precisará enfrentar tudo aquilo. É como se naquele momento estivesse sendo traído por sua natureza humana. A natureza divina está pronta, sabe tudo o que virá, mas a natureza humana teme por todas as dores que experimentará a partir dali, e então ele “apela”. No refrão de uma lindíssima letra de música, Chico Buarque mistura essa angústia do Cristo com a sua agonia no momento da crucificação e  com a dor do povo brasileiro oprimido pela ditadura militar da década de sessenta e seguintes: “Pai, afasta de mim esse cálice, / pai, afasta de mim esse cálice,/ pai, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue...” É a dor do Cristo misturada a dor do povo. Povo que o Cristo amou, e pelo qual morreu.


“Minha alma está cheia de tristeza até a morte...” Ele leva consigo um grupo de discípulos mais próximos para que orem também, para velarem com ele. Mas os discípulos dormem. Estão cansados. Os olhos ficam pesados. E dormem. Por mais que doa dizer isso: “o problema não era deles”. Muitas vezes até nos envolvemos com os problemas dos nossos irmãos. Mas não a ponto de vivê-los como nossos. Quando o sono bate, dormimos. Quem estava angustiado era o Cristo. Ele esperava compaixão dos discípulos, mas não rolou. Compaixão, segundo nosso irmão Leonardo Boff, é a capacidade de sentir a dor do outro. É mais que ser solidário. Os discípulos foram solidários, mas não conseguiram ter compaixão, foram vencidos pelo cansaço. O Cristo está angustiado, ora, anda de um lado para o outro, volta para os discípulos e eles estão dormindo.

Você já deve ter passado por um Getsêmani. E é bastante provável que neste seu Getsêmani você tenha descoberto grandes amigos, que velaram com você o tempo topo. E também é provável que tenha descoberto que alguns grandes amigos não eram tão amigos assim e não conseguiram viver a compaixão. Você deve ter se frustrado e se surpreendido neste seu Getsêmani. Cristo frustrou-se. Ele esperava mais dos seus discípulos, dos seus amigos, e eles não corresponderam. “Então nem uma hora pudeste velar comigo?” Quantas horas você esperava que o seu amigo velasse por você, com você? E quantas horas você está disposto a velar por ele, com ele?

A narrativa de Marcos sobre este mesmo episódio é bastante similar a de Mateus. Lucas, porém, acrescenta dois detalhes não citados por esses dois evangelistas, embora tais versículos não sejam encontrados em alguns  manuscritos antigos (Lucas 22):

43  - E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.
44 - E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.

Na narrativa de Lucas, já que Jesus não pode contar com o envolvimento integral dos discípulos, um anjo aparece em cena para confortá-lo. E Jesus, em agonia, profundamente angustiado, ora mais intensamente. Sua pressão sobe imensamente, vasos sanguíneos se rompem e seu suor se transforma em gotas de sangue. Talvez tenhamos aqui o relato mais detalhado de um médico, Lucas, que não conviveu com Jesus, que não estava presente nesse momento, mas que produziu seu evangelho a partir dos relatos de terceiros (Lucas 1):


05

1 - TENDO, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram,
2 - Segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra,
Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio;

João não dá detalhes sobre o episódio do Getsêmani, nem mesmo cita este nome, refere-se apenas a um jardim que o Cristo costumava frequentar com os seus discípulos, onde foi preso.























06
07 DE JULHO DE 2013



PALESTRA PARA OS PAIS:


FACILITANDO O DIÁLOGO COM OS FILHOS.
Ronaldo Serafim (pastor, psicólogo e deão da Faculdade Batista Macaense).

PALESTRA PARA ADOLESCENTES E JOVENS:

FACILITANDO O DIÁLOGO COM OS PAIS:




07

LIÇÃO 02 - 14 DE JULHO DE 2013

MARIA MADALENA – DISCÍPULA DE JESUS - E A CENA DA RESSURREIÇÃO

JOÃO - CAPÍTULO 20

E NO primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro.
11  E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-se para o sepulcro.
12  E viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.
13  E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.
14  E, tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus.
15  Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.
16  Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer, Mestre).
17  Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.
18  Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que ele lhe dissera isto.

Vou começar reafirmando o título desta lição: Maria Madalena foi uma discípula de Jesus. E uma das mais próximas. Amava-o, cuidava dele, seguia-o de perto.

Quando o corpo do mestre foi retirado da Cruz, seguiu José de Arimatéia, para ver aonde o sepultaria, e foi a primeira a vê-lo após a ressurreição. 
Duas injustiças são cometidas em relação a ela: uma é de associar o seu nome a uma mulher prostituta. Segundo o relato bíblico, era endemoninhada e não prostituta. O Cristo a libertou  de sete demônios, conforme relato de Marcos e de Lucas. Outra injustiça é a pouca importância que se dá ela enquanto discípula de Jesus.
Mc 16:9 - E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios.
Lc 8:2  - E algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios;
3 - E Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com seus bens.


“A narrativa de João nos transmite uma impressão viva dos eventos e a agitação interior de Maria Madalena. Considerando a pouca informação que temos sobre ela, é surpreendente como percebemos com uma impressão vívida a sua personalidade cheia de vitalidade.”  (João – Introdução e Comentário – F. F. Bruce – Vida Nova – pág. 326)

Antes do episódio da crucificação, temos uma única informação sobre ela: que fora liberta de sete demônios, o que indica, possivelmente, alguns distúrbios mentais.  Segundo o relato de Lucas (acima), após liberta, passou a integrar um grupo de mulheres que ajudaram no ministério de Jesus, com os seus bens, durante a sua passagem pela Galiléia (Mc 15:40, 41).

Mateus, Marcos e Lucas falam dela também no episódio da crucificação:


Mateus 27: 55 - E estavam ali, olhando de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galiléia, para o servir;
56 - Entre as quais estavam Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
Marcos 15: 40 - E também ali estavam algumas mulheres, olhando de longe, entre as quais também Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé;
41 - As quais também o seguiam, e o serviam, quando estava na Galiléia; e muitas outras, que tinham subido com ele a Jerusalém.
João 19: 25 - E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria mulher de Clopas, e Maria Madalena.

Lucas, embora não cite o nome, também faz menção a essas mulheres que acompanharam a crucificação.

Lc 23:49 - E todos os seus conhecidos, e as mulheres que juntamente o haviam seguido desde a Galiléia, estavam de longe vendo estas coisas.

Ou seja, os quatro evangelistas falam de Maria Madalena acompanhando o Cristo a partir da Galiléia e até sua crucificação e, posteriormente, registram sua presença na cena da ressurreição.

A narrativa de João, porém, é especial em relação a ela, talvez por terem sido tão próximos, pelos laços de amizade que os uniam. João é considerado o “discípulo amado”. Maria Madalena, então, torna-se muito próxima a ele; ela quer estar mais próxima do mestre, cuidar dele. E nem mesmo a dureza da cena da crucificação a separa dele. Ela permanece até o final da cena. Mais que isso. Ela quer saber aonde vão sepultá-lo. E segue José de Arimatéia. Queria saber onde seria sepultado. Terminado o sábado, tinha a intenção de ir lá “preparar o corpo” dele, tinha providenciado unguentos.

Mas quando chega lá, encontra a pedra que fechava o túmulo removida. Em sua ansiedade de mulher, de discípula do Cristo, de amiga, sai correndo para avisar aos discípulos mais chegados. Fala do ocorrido para Pedro e João, e eles vão correndo para o túmulo. João está tenso com o relato. É mais jovem que Pedro. Então corre na frente. Logo depois chega Pedro. Entram no túmulo, observam tudo e voltam para casa. Maria Madalena insiste em ficar ali, como quem espera um milagre, como quem espera ainda uma confirmação. Não está satisfeita com o corpo desaparecido. Ela ainda tem alguma fé. Deve ter ficado ali relembrando as palavras de Jesus. Ela o esperava. Então ela resolve entrar no túmulo. Está chorando. Ausência, saudade, expectativa, fé. Depara-se com dois anjos. Eles falam com ela. Está tão “atormentada” que parece nem se assustar com a presença deles. Imagino que tenham falado algo como “para de chorar e dar uma olhadinha atrás de você.” Ela olha, e vê Jesus. Mas está sob forte emoção. Não o reconhece de imediato. Imagina tratar-se do jardineiro e pede que diga para onde levou o corpo. Então Jesus a chama pelo nome. Ela reconhece a voz, o tom da voz. A voz do seu mestre, do seu pastor (“a ovelha conhece a voz do seu pastor”). A adrenalina corre pelo seu corpo. Ela corre para ele. Consigo visualizar essa cena. Quer abraçá-lo. O seu senhor, o seu amigo. Ele pede para que segure a onda. “Ainda não, Maria...não me toque ainda, ainda preciso subir para o meu pai...mas volto....avisa a galera...você está aqui, Maria...você não desistiu...você acreditou, Maria..., lembrou das minhas palavras e ficou me esperando...que vontade de te abraçar, Maria...mas ainda não...vai avisar a turma, vai..” E Maria vai correndo contar a todos.
Ah meus irmãos e minhas irmãs, saio desse “transe” dessa narrativa (me transportei para lá), já irritado com os acontecimentos posteriores. Maria Madalena era mulher. E somente por isso o seu testemunho da ressurreição do Cristo não teve tanto ibope.

O testemunho válido na pregação primitiva foi o de Pedro, que chegou depois no evento da ressurreição. Maria Madalena acompanhou tudo, todos os detalhes, mas era mulher, e o testemunho público de uma mulher tinha importância quase zero naquela sociedade. Celso, escritor romano anti-cristão, escreve que a narrativa da ressurreição foi baseada na alucinação de uma mulher histérica. Quanta injustiça com a nossa Madá! Quanta injustiça com o sexo feminino ao longo da história cristã! E com o tempo foi se minimizando, se apagando a importância dessa mulher espetacular que foi Maria Madalena, para a história do Cristianismo. João dá tanta moral pra ela que em sua narrativa ele nem cita as outras mulheres.  Ele quer que ela seja a protagonista da cena. Posteriormente, João estabelece seu ministério apostólico em Éfeso, onde também (e não deve ter sido por coincidência), se estabelece Maria Madalena. Mas ela some completamente do cenário cristão. Ah, mas teve a felicidade, tirou uma onda que poucos puderam tirar, de estar pertinho do Cristo, de andar com ele, de cuidar dele, de estar com ele até a crucificação e de acompanhar cada detalhe da ressurreição. É linda essa mulher! Um espetáculo! Uma fofa! Uma discípula! Uma apóstola  não reconhecida como tal!



LIÇÃO 03 - 21 DE JULHO DE 2013

O BOM SAMARITANO


LUCAS 10

25  E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
26  E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?
27  E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
28  E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.
29  Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?
30  E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
31  E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
32  E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo.
33  Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;
34  E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;
35  E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.
36  Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
37  E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.


Essa ilustração (parábola) está entre as mais  lindas dos evangelhos. Jesus utiliza bastante este recurso literário, sempre com a intenção de tornar prática e compreensível determinada verdade.  Aqui temos um doutor da lei perguntando a Jesus o que deveria fazer para ser salvo. Jesus pede que ele diga o que leu na Lei sobre isso. Ele reproduz as palavras do Velho Testamento. E Jesus diz a ele: “oxente, esse menino, então você já sabe a resposta. Basta você praticar isso que acabou de dizer: amar a Deus e ao próximo.” O sujeito insiste. Segundo Lucas, ele queria pôr Jesus à prova. Então pergunta a Jesus: “...mas quem é meu próximo?” Então Jesus recorre a esta linda parábola.
Bom, para entendermos melhor esta ilustração com um “samaritano”, vamos relembrar quem eram esses caras (os samaritanos).

Vocês lembram que  no Velho Testamento houve um momento em que os dois filhos de Salomão brigaram e dividiram o reino de Israel em Reino do Norte e Reino do Sul? Pois é, o Reino do Norte tinha sua sede em Samaria e o Reino do Sul tinha sua sede em Judá. Pois bem, tempos depois, a Assíria invadiu Israel, primeiro o Reino do Norte e depois o do Sul. Então... aí o primeiro grupo que o governo  assírio levou para o cativeiro foi o pessoal de Samaria.  A cidade ficou vazia e alguns povos de outras áreas foram morar lá, formando, então, o povo samaritano (2 Rs 17:24; Ed 4:2,9,10). Por discordarem de certos pontos de vista religiosos , separaram-se dos judeus (de Judá) e fundaram seu próprio culto no Monte Gerizim, hoje, na Cisjordânia (Palestina).  Foi aí que tudo começou e até os dias de Cristo eles não se falavam; daí, por exemplo,  a estranheza daquela mulher diante de um homem judeu que puxou assunto com ela.

Jesus era um Judeu, assim como o seu público, nesta cena. E o cara que faz a pergunta é um doutor da lei judaica. Para este sujeito e para o povo que ouvia Jesus, “samaritano” era sinônimo de gentalha, de gente ruim, de inimigos.

Por isso mesmo, Jesus recorre ao exemplo do samaritano. Agora, observe bem quem são os outros personagens. O primeiro que passa pelo homem ferido é um sacerdote, um líder religioso judeu. Devia estar com pressa, indo para as suas “obrigações religiosas”. Ele vê o homem ferido, mas vai para a outra calçada (tinha calçada na cena?). Provavelmente estava preocupado em cumprir sua “agenda de domingo”, como escreve “minha” Stephanie, em nosso livro “Igreja 10Cartável”. Para ele e para muitos de nós, nada é mais urgente, nada é mais importante que o templo e seus rituais, nem mesmo as pessoas. Então como muitos de nós faríamos, ele deve ter acalmado sua própria consciência dizendo que alguém, com mais tranquilidade, com mais tempo, passaria depois. Talvez ele também tenha feito uma rápida oração do tipo: “Senhor, ajuda esse cara aí...parece que ele está mal...manda um anjo aí pra dar uma moral a ele.”  E foi embora “adorar a Deus”.  Logo depois, vem um levita. Estava atrasado para o ensaio. Tinha que ir para a EBD, que seria antes do ensaio. E em todo o mundo cristão os levitas gostam de estudar para poderem ministrar com convicção às pessoas. Depois dessa ironiazinha, preciso abrir um parêntese  aqui para elogiar os nossos “levitas” da PIB-Unamar. Todos os domingos, se não todos, a maioria está efetivamente presente em nossa Classe de Músicos, estudando a Bíblia, juntamente com todas as outras classes com o objetivo de conhecerem mais a Palavra e, consequentemente, ministrarem ao nosso povo com excelência. Como dizia Lutero, “um povo é aquilo que canta”. Então quem ministra louvor em forma de música precisa estar convicto daquilo que fala. Fechando parêntese. Bom, os nossos levitas, teriam socorrido o cara. Tenho certeza. Estariam dispensados da EBD e do ensaio. Porque quando ajudamos o próximo, também aprendemos e também louvamos a Deus.

Mas o levita do exemplo de Jesus não fez isso. Aliás, no texto bíblico, levita refere-se a qualquer trabalhador do templo, não apenas aos músicos.  A origem da palavra é a tribo de Levi, no Velho Testamento, que foi separada para prestar serviços religiosos no templo, para cuidar do templo. Feito este esclarecimento, voltemos para o levita da parábola. Ele viu o cara ferido, mas meteu o pé. Também deve ter feito uma daquelas orações bestas que tem como objetivo simplesmente aliviar a consciência: “Senhor, se não tivesse com tanta pressa para te louvar, eu ajudaria esse cara. Ele parece mal. Mas eu me atrasaria para a realização da tua obra.” Queridos e queridas, nada é mais urgente que o próximo. Logo depois, vem uma terceira pessoa: um samaritano. Contextualizando, vem um funkeiro argentino, naturalizado norte-americano, torcedor do Flamengo, simpatizante do Islã, guerrilheiro, que está ilegal em Israel. Era mais ou menos assim que o auditório de Jesus via um samaritano. É exatamente esse cara que olha para o ferido, que usa uma camiseta do Vasco, e sente COMPAIXÃO dele.
“COMPAIXÂO – capacidade de sentir a dor do outro”, segundo Leonardo Boff.
E sentir compaixão não significa apenas sentir peninha e lamentar pela dor do outro. Significa sentir a dor dele. O cara era um judeu vascaíno, mas antes de ser isso, era um ser humano. E é isso que  o flamenguista-argentino-norteamericano-guerrilheiro-simpatizante do Islã vê primeiro: “ali está um ser humano ferido.” Ali mesmo, ele faz os primeiros socorros, o colocou sobre seu cavalo, reduziu a velocidade de sua viagem, procurou a cidadezinha mais próxima, Unamar dos Caldeus, onde havia uma pousada, e se hospedou com ele; cuidou dele, trocou-lhe a camiseta de imediato. Ninguém é de ferro. E passou a noite velando seu sono. No dia seguinte precisava partir, mas não podia deixar o ferido à sua própria sorte. Então paga mais duas diárias. Acredita ser o tempo necessário para sua recuperação.

E ainda recomenda ao moço da pousada para que cuide dele, que lhe forneça tudo o que for necessário, que na volta ele pagaria.  Então Jesus arremata: “E então, doutor, qual desses três te parece o próximo do ferido”. E o cabra responde: “o que teve misericórdia dele.”  Jesus, então, finaliza: “Pois é...faz o mesmo então.” Que cena mais linda! Que ilustração mais linda que Jesus apresenta ali.
Companheiros e companheiras, não importam os detalhes do ferido. Na parábola, Jesus não se preocupou com isso. Ele só deu destaque para as qualificações dos passantes. Antes da religião, antes do time de futebol, antes da origem geográfica ou da classe social, antes da opção sexual, antes de qualquer coisa, existe um ser humano. Precisamos socorrer o ferido porque ele é gente, está machucado, precisa de nós. Tudo o que passar disso é detalhe. O samaritano sabia que o ferido era um judeu. Mas e daí? Ele teve compaixão. Não dá para ouvir ou ler coisas ditas por supostos cristãos, do tipo “bem feito”, porque uma boate pegou fogo;  “teve o que mereceu” porque uma menina funkeira que anda de xortes curtos e apertados ou minissaia foi estuprada. Precisamos condenar a violência em todas as suas formas. Não há justificativa para a violência. Não podemos tolerar coisas como “não foi comigo, o que tenho com isso?”;  coisas como “antes ele do que eu”. Não dá para assistirmos completamente passivos uma nova geração se estapeando nas escolas enquanto outros filmam e publicam na internet e se divertem assistindo. Freud já dizia que “a barbárie é do ser humano”. O ferido da cena bíblica  de hoje foi vítima de assaltantes que já atuavam pelas estradas de Israel nos dias de Jesus. “É preciso amar as pessoas. Como se não houvesse amanhã”. É preciso dar todo o nosso amor hoje, sem se preocupar em deixar umas reservas para amanhã. Amanhã é talvez. Hoje existimos. Hoje pessoas precisam de nós.


LIÇÃO 04 - 28 DE JULHO DE 2013

A CURA DE UM LEPROSO

MARCOS 1

40  E aproximou-se dele um leproso que, rogando-lhe, e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me.
41  E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo.
42  E, tendo ele dito isto, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo.
43  E, advertindo-o severamente, logo o despediu.
44  E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho.
45  Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas, e a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes iam ter com ele.

Gosto demais desta cena por várias razões. Uma delas é a ousadia do cara: ele ousou aparecer num lugar público cheio de pessoas “saudáveis”;  mais que isso, ele ousou dirigir-se a Jesus, falar com ele, pedir sua atenção. E outra coisa bacana é a convicção que ele tinha. Um leproso, naquela sociedade, era alguém que vivia à margem dessa sociedade, completamente banido do arraial. Era lançado à própria sorte. O judaísmo, e mais tarde o cristianismo, entendiam que Deus impunha a lepra sobre pessoas pecadoras (pecados graves e escondidos) para que estas fossem banidas do convívio em sociedade. O entendimento dos chefes religiosos era assim: “Deus mostra pra gente os tais pecadores asquerosos e a gente, enquanto legítimos representantes de Deus expulsa-os de nossa comunidade.”

E assim todos ficavam sabendo  que eles eram pecadores imundos, e quem se aproximasse deles tornava-se  imundo também. Tocar neles nem pensar. Essas pessoas então, não tinham qualquer direito, qualquer regalia; não tinham qualquer sinal de autoestima; abaixavam a cabeça quando viam outro ser humano. “Outro” no modo de dizer, porque não eram tratados como um ser humano. O leproso da cena de hoje ousou. Dirigiu-se a Jesus. E deve até ter sido fácil pra ele, porque a multidão, evidentemente, abriu para se afastar dele. Agora observe que quando ele dirige-se a Jesus, ele demonstra fé, reconhecimento do poder de Jesus e muita humildade. Deve ter falado de cabeça baixa e com medo, suponho: “poxa, Senhor, se você quiser, você pode me livrar dessa lepra...desculpa minha ousadia de falar com o Senhor, mas dá essa moral aí...”  Então Jesus para. Se bem o conheço, deve ter dito ao cara para olhar pra ele, nos olhos dele, e o cara já ficou assustado (“como assim olhar nos olhos dele? Esse cara é doido?”). O coração de Jesus está lotado de COMPAIXÃO. Compaixão não é PENA, é a capacidade de sentir a dor do outro. Jesus imagina-se leproso. Sente a dor do cara, as duas dores: a dor provocada pelas feridas e a dor de existir. Então caminha na direção do cara. Ele assustado. Sem acreditar no que está rolando. Com medo, talvez. Então Jesus olha nos olhos dele e diz: “eu quero que você seja limpo!” Só aí o leproso já sente-se curado (“Se ele disse que quer, então já é certo que ele vai me curar, porque ele pode, claro que pode.”). Jesus pronuncia essas palavras enquanto levanta o braço e para susto do cara e de toda a multidão, Jesus TOCA a sua pele ferida. Ele não está acreditando. Nem a multidão. Jesus acabara de tornar-se imundo de acordo com as leis judaicas. E Jesus não tá nem aí para esse detalhe. Jesus podia ter curado o cara através da palavra, mas ele deliberadamente quis tocá-lo. No “quero” a cura já podia estar concretizada, mas ele queria tocar. Não foi um toque acidental.

Foi um toque de amor, foi um toque pelo fim do preconceito. Ele curou o cara da lepra e quis curar aquelas pessoas do preconceito, mostrando a elas, como fez em vários outros episódios, que os seres humanos são muito mais importantes que os dogmas; ele quis dizer que aquela história de “a lepra é um sinal de Deus para revelar terríveis pecadores que devem ser banidos do arraial” não passava de preconceito, frescura de uma sociedade hipócrita que não queria resolver o problema e sim tirá-lo do seu campo de visão. Jesus tocou o leproso. O cara olha para si mesmo. Seu corpo está limpo, sua pele no lugar, perfeita.  Ele está feliz demais. Comemora. Grita. Pula. Agradece. Aí Jesus se preocupa com toda essa comemoração, mais pelo homem curado do que por ele mesmo: “Xiiuuu....calma aí, irmão...menos...você tá doido? Que barato...você está tão feliz que nem está se lembrando do ritual... você tá esquecendo que somente pode te declarar oficialmente limpo quem te declarou imundo....calma aí...assim você se põe em risco...não é por mim, é por você. Olha só, você vai sair daqui agora, comportado... (Jesus falava isso e o cara com aquela cara de criança que acabou de ver o mar pela primeira vez, numa alegria só, mal ouvindo as palavras dele), vai ao templo, vai se apresentar ao sacerdote, e aí sim poderá dizer o que aconteceu e vai oferecer o sacrifício previsto na lei mosaica. Depois disso, aí sim, pode sair contando pra todo mundo que você está limpo. Por enquanto, vai lá, vai, meu filho...direto para o templo.” O cara ainda dá um último abraço em Jesus, suponho, e sai correndo, pulando, gritando, sem conseguir conter sua alegria. Então imagino que Jesus tenha pensado com seus botões: “...que coisa espetacular, um ser humano curado, feliz...mas acho que essa alegria toda ainda vai me dá problemas... Tudo bem...tomara que não dê problemas a ele, que já teve tantos...” Dito e feito. Claro que isso traria “problemas” pra Jesus, acusações como: “ele tocou publicamente um leproso”.

“Quem ele pensa que é? Ele disse a um leproso que estava limpo; isso é função do sacerdote...” Então por conta disso, foi impedido de entrar em algumas cidades. Segundo Marcos, nessas situações, ele ficava do lado de fora da cidade, em lugares desertos, e as multidões iam procurá-lo. Ele estava impedido de entrar, mas as multidões não estavam proibidas de sair. Quem controla as multidões? Segundo Lucas, ele se retirava para lugares desertos e orava. Já Matheus, conclui seu relato na cena da cura mesmo.

E OS NOSSOS LEPROSOS?

Ao longo da história cristã, a igreja comportou-se assim: “aquilo que a gente não entende, a gente classifica como coisa do diabo e afasta do nosso olhar.”  Se fez isso com os leprosos, se fez isso com os doentes mentais e com outros grupos. Eu queria dizer que atualmente se faz isso com os homossexuais, mas vou preferir não dizer para não ser rotulado de “defensor dos homossexuais” mais uma vez. Sou defensor, na verdade, dos seres humanos. Defendo, na verdade, que a gente pense, pesquise, se encha do amor de Deus antes de sair pondo tudo na conta do diabo. Existem muitas coisas nesta dimensão em que vivemos que não conseguimos ainda entender, mas isso não significa que sejam necessariamente coisas do diabo. O que está dito na Bíblia que é pecado, é pecado. Tudo bem. Assim é a nossa fé. Mas é esta mesma Bíblia que diz que Deus ama os pecadores. Ele só não curte o pecado. São Francisco de Assis e Santa Clara entenderam, no seu tempo, que lepra e pecado não tinham nada a ver, e mesmo que tivesse, os leprosos continuavam sendo gente. E deram suas vidas num ministério com leprosos. Jesus mostrou isso ao tocar e curar o leproso da cena de hoje. Eu sou um terrível pecador, assim como você que está lendo esse texto. Mas nós dois fomos alcançados pela graça de Deus. Que direito temos, enquanto pecadores, de banir outros pecadores de nosso arraial? Que argumentos vamos usar: nossos pecados são menores? Minha lepra não aparece e a sua aparece? Quem somos nós para classificarmos o nível da lepra das pessoas?


LIÇÃO 05 - 04 DE AGOSTO DE 2013

JESUS NUM BATE-PAPO COM O POVO

MATEUS 5
E JESUS, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;
E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
10  Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
11  Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
12  Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.

Esta cena acontece como sequência de umas andanças de Jesus. Ele acaba de convocar uns discípulos, de curar e libertar um monte de gente, e então percebe que um galerão o segue. Então ele sobe a um monte e de um ponto estratégico discursa para a multidão.

Não é um discurso pomposo, com palavras difíceis. Não é um discurso acadêmico estéreo  e incompreensível; é um discurso feito na linguagem do povo, para o povo. Temos a simplicidade das palavras e a profundidade dos ensinamentos. Daí tiramos uma primeira lição: “falar bem não tem nada a ver com falar difícil.”  E aqui, antes mesmo de entrar no tema central da lição, já tenho que pedir a atenção de vocês para refletirmos sobre aquelas orações públicas “longas”, cheias de palavras de um português que parte do nosso povo desconhece, e com que objetivo: impressionar a Deus? Ele deve rir dessas orações. Deve ficar se perguntando: “será que ele quer mesmo me impressionar com aquelas palavras já em desuso no próprio idioma dele, ou será que ele quer impressionar o meu povo com palavras que talvez ele próprio desconheça o significado”?
Bom, então vamos para a cena de hoje e para alguns comentários não canônicos, portanto questionáveis, que pretendo fazer.

A CENA

Ele não tem microfone. As pessoas não foram convocadas pelo facebook. Mas há uma multidão querendo ouvi-lo. Essa gente vem o acompanhando em suas andanças, vem observando curas, libertações, o carinho com que ele trata o povo, a atenção que dá aos oprimidos, aos necessitados. Muitos desses andarilhos não apenas observaram. Eles próprios foram curados, libertados. Estão felizes na caminhada. Jesus está NO MEIO DO POVO. Não tem seguranças. Ele é um do povo. Não está num papamóvel. Não está num carro. Ele caminha entre o povo como povo. Ah, quando ele para para comer, ele come com o povo, a mesma comida do povo, no mesmo ambiente em que o povo está. Ele não tem privilégios especiais.

Pois bem. Então ele sobe um pouco no monte para tornar-se visível para todos, e manda vê. Ele vai tecendo o seu discurso, listando oito qualidades ou bem aventuranças que seus seguidores precisam ter. Não é para escolherem. Precisam ter todas. É um kit, são qualidades integradas.

  1. O REINO DOS CÉUS É PARA OS POBRES DE ESPÍRITOaqueles que não são orgulhosos, autossuficientes, que não se sentem “os caras”, que se reconhecem dependentes de Deus; que não olham para os irmãos, para o outro como alguém menos capaz que eles. Pobre de espírito, neste contexto, é aquele que entende que precisa de Deus, que precisa do outro.

  1. O REINO DOS CÉUS É PARA OS QUE CHORAM e choram porque têm clareza de que são pecadores; choram porque têm compaixão do outro diante do sofrimento, diante da desigualdade, das injustiças. E estes serão consolados.

  1. O REINO DOS CÉUS É PARA OS MANSOSOs mansos não são aqueles que abaixam a cabeça para tudo e todos ou aqueles que só dizem sim, “que são programados só para dizerem sim...” Mansos são os humildes, os pobres de espírito, aqueles que são gentis no trato com o outro, que não são os donos da razão ou da verdade absoluta; são aqueles que dialogam, como Moisés, como Jesus (MT 11:28,29).

  1. O REINO DOS CÉUS É PARA OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇAAquele que não quer se dar bem explorando o próximo; aquele que não aplica golpes, que não passa um cheque sabendo que não tem fundos para cobri-lo;
que não negocia os serviços já garantidos pelo SUS em troca de votos; aquele que não compra ou vende voto; aquele que não entra para a vida pública com o objetivo de desviar recursos; aquele que quando faz um curso, ele próprio faz sua monografia; aquele que entende que todos somos efetivamente iguais diante das leis e diante de Deus; aquele que não se cala diante das injustiças, que não se omite; que não pega uma câmera para filmar uma briga ou uma desgraça qualquer e postar na internet ao invés de tentar fazer algo para amenizar, para acabar com o problema.

  1. O REINO DOS CÉUS É PARA OS MISERICODIOSOSAqueles que sabendo-se indignos da graça de Deus, não julgam o próximo. Muito pelo contrário, agem com misericórdia, já que todos vivemos a mesma condição de pecador; aqueles que agem como o bom samaritano, estendendo a mão ao necessitado independente de quem ele seja.

  1. O REINO DOS CÉUS É PARA OS LIMPOS DE CORAÇÃOAqueles que são íntegros, transparentes, que agem sempre com retidão; aqueles que se comportam como “meninos”, não alimentando mágoas desnecessárias, rancores, sede de vingança.

  1. O REINO DOS CÉUS É PARA OS PACIFICADORESAqueles que dialogam, que buscam soluções para os conflitos ao invés de botarem mais lenha na fogueira; aqueles que não sentem prazer em fazer ou alimentar fofocas.

  1. O REINO DOS CÉUS É PARA OS QUE SOFREM PERSEGUIÇÃO POR CAUSA DA JUSTIÇAAqueles que sofrem por sustentarem sua fé, por não negociarem seus princípios cristãos.
Cuidado para não confundir isso com a “mania de perseguição” de alguns crentes. Coisas do tipo: ler a Bíblia em horário de trabalho, fazer orações ou coisas parecidas. Aí o cabra recebe uma advertência do chefe e diz que está sendo perseguido pela causa de Cristo. Nada a ver. Isso é paranóia. Não é disso que o texto está tratando.

E já que falamos tanto de justiça, de igualdade, de preocupação com o outro, vamos concluir a aula de hoje com um lindíssimo poema de Bertold Brecht:

A INDIFERENÇA

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afetou
Porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.


11 DE AGOSTO DE 2013


DIA DOS PAIS



18 DE AGOSTO DE 2013

VII SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES DE EBD


LIÇÃO 06 - 25 DE AGOSTO DE 2013

JESUS E OS DISCÍPULOS FRUSTRADOS A CAMINHO DE EMAÚS

LUCAS 24

13  E eis que no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús.
14  E iam falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido.
15  E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles.
16  Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem.
17  E ele lhes disse: Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós, e por que estais tristes?
18  E, respondendo um, cujo nome era Cléopas, disse-lhe: És tu só peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias?
19  E ele lhes perguntou: Quais? E eles lhe disseram: As que dizem respeito a Jesus Nazareno, que foi homem profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo;
20  E como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenação de morte, e o crucificaram.
21  E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram.
25  E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!
26  Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?
28  E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe.
29  E eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles.
30  E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão, o abençoou e partiu-o, e lho deu.
31  Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes.

Este é um episódio lindo pós-ressurreição. O Cristo está morto, sepultado. As expectativas dos discípulos estão frustradas. Cada um vai voltando à rotina da vida. Dois estão retornando para Emaús, uma aldeia a vários quilômetros de Jerusalém. Estão conversando sobre os fatos. A tristeza é notória no tom da conversa. Um estranho se aproxima e caminha com eles. Entra na conversa, faz perguntas. Eles ficam surpresos: “em que mundo esse cara vive para não estar sabendo dos acontecimentos?” Mas ainda assim respondem. Estão frustrados com seus líderes religiosos e políticos, e compartilham essa frustração com o “estranho”. Compartilham ainda uma outra frustração: “esperávamos que ele remisse Israel, que ele desse o grito de independência em relação a Roma, mas que nada; hoje já faz três dias que está sepultado, e com ele nossas esperanças...”  Então o “estranho” reage: “Ô criaturas, vocês nunca leram o que os profetas escreveram sobre ele? Era necessário que  morresse, fosse sepultado e assim entrasse em sua glória. Nunca leram sobre isso não?”  Então nesse ponto da conversa, chegam à tal aldeia. O “estranho” sinaliza  que vai seguir a caminhada, talvez para a próxima aldeia. Mas eles o convidam a passar aquela noite com eles, descansar um pouco, para seguir no outro dia. O “estranho” entra. Todos vão fazer a refeição noturna juntos, sentados à mesa, conforme mandava o figurino. Então o “estranho” deixa de ser estranho. Ele revela-se no partir do pão.  Havia algo marcante na forma de Jesus partir o pão. E foi no momento em que fez isso, e somente aí, que os discípulos o reconheceram. Mas aí ele se foi. É possível que fosse um casal, a referência a eles é como “dois discípulos”, e apenas um é nomeado, o homem. E estavam voltando para a casa deles, onde receberam Jesus. Sendo assim ou não, o fato é que nem terminaram de comer. Meteram o pé na estrada novamente, e tudo de novo para Jerusalém. Mas agora estavam eufóricos, tagarelas e com um certo sentimento de culpa por não tê-lo reconhecido.

Chegam a Jerusalém em tempo recorde, e lá encontram os onze reunidos falando sobre a ressurreição. E pouco tempo depois o próprio Cristo aparece diante de todos. Que cena mais espetacular! Que coisa mais fofa!.

QUANDO JESUS É UM ESTRANHO PARA NÓS

Os discípulos que caminhavam para Emaús não conseguiram reconhecer o Cristo de imediato. Estavam preocupados demais com a morte dele, com as consequências. Conversaram com ele sem se dar conta de quem era. Estavam tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Não reconheceram a voz. Se ele estava  morto, seus ouvidos já não estavam sensíveis a voz. Seus sentidos já estavam bloqueados para ele. E quando isso acontece com a gente? Quando nós estamos tão mergulhados em nossos problemas que já não conseguimos ouvir a voz do próprio Cristo tentando nos dizer: “estou aqui bem do seu lado, me ouve um pouquinho, me percebe, me dá algum espaço...” No caso deles, a frustração era maior do que qualquer expectativa.


QUANDO CAMINHAMOS PARA EMAÚS

Muitas vezes, pessoas queridas, caminhamos para “Emaús”. E nessa caminhada, algumas vezes nem temos um companheiro, e falamos apenas com nós mesmos. A frustração da caminhada pode ser tão grande, que sequer enxergamos aqueles que estão, de fato, preocupados com o nosso bem-estar, que estão tentando se aproximar, e caminhar conosco. Outras vezes, já não existem essas pessoas. E vamos falando sozinhos. Um “estranho” se aproxima, pergunta o que temos, mas como já não enxergamos soluções para as dificuldades enfrentadas, mal ouvimos o estranho.  Às vezes ouvimos, mas não escutamos. Ouvir é uma experiência fisiológica, sensorial. Ouvimos porque temos um aparelho auditivo. Escutar é aplicar o ouvido com atenção, é estar atendo para ouvir, é uma experiência voluntária. Escutamos apenas aquilo que queremos escutar.  Aqueles discípulos ouviram o Cristo, mas não conseguiram escutá-lo. Não selecionaram o “escutar” porque estavam certos da morte dele. Não nos dispomos a escutar quem está morto para nós.
Sempre que estiver numa dessas caminhadas solitárias para Emaús, disponha-se a escutar o “estranho” que caminha com você.

QUANDO VOLTAMOS DE EMAÚS... UHUUUU.....
A caminhada para Emaús é bem perturbadora, mas a volta é espetacular. No caso bíblico, os dois discípulos (talvez um casal), voltaram eufóricos. Queriam logo encontrar os amigos, os outros discípulos, e compartilhar os acontecimentos. Nem se importaram com os quilômetros de estrada para voltar, nem se importaram se seriam chamados de loucos, se acreditariam neles ou não. Eles simplesmente partiram. Compartilhar as alegrias é tudo de bom. No caso deles, a razão da alegria era imensa. Mas mesmo que uma alegria, uma conquista pareça pequena, ela precisa ser compartilhada com as pessoas que torciam por nós, que oravam por nós enquanto fazíamos o percurso para Emaús. O caminho de volta é espetacular, cheio de expectativas, de sonhos. No caso deles, no ponto de destino, encontraram novamente o Cristo.

É NO PARTIR DO PÃO QUE O CRISTO É RECONHECIDO
Eu acrescentaria que é no partir do pão que o Cristo é reconhecido em nós. Há muitas pessoas precisando que compartilhemos o nosso pão e estas pessoas verão Cristo em nós. E tudo será uma belezura.


LIÇÃO 07 - 01 DE SETEMBRO DE 2013

QUANDO PEDRO NEGA JESUS

LUCAS 22

31  Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo;
32  Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos.
33  E ele lhe disse: Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte.
34  Mas ele disse: Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces.

MATEUS 26

69  Ora, Pedro estava assentado fora, no pátio; e, aproximando-se dele uma criada, disse: Tu também estavas com Jesus, o galileu.
70  Mas ele negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes.
71  E, saindo para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: Este também estava com Jesus, o Nazareno.
72  E ele negou outra vez com juramento: Não conheço tal homem.
73  E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia.
74  Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E imediatamente o galo cantou.
75  E lembrou-se Pedro das palavras de Jesus, que lhe dissera: Antes que o galo cante, três vezes me negarás. E, saindo dali, chorou amargamente.


JOÃO 21

16  Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
17  Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: SENHOR, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.

Vamos começar a falar desta cena tão tensa, tão pesada, tão cheia de medo e de culpa, através de um poeminha  que acabo de fazer:

Por que Pedro nega Jesus,
horas antes da cruz,
diante de pessoas comuns,
se o Cristo o tinha defendido,
protegido,
poupado,
diante do próprio diabo?
Pedro sentiu-se culpado,
e chorou.
O tempo passou.
E num novo encontro,
Cristo o chama:
- Pedro, você me ama?
- Amo, Senhor!
- Me ama mesmo, Pedrão?
É mesmo meu teu coração,
tua vida?
- É, Senhor, claro que sim!
- Pedrinho, tu amas a mim?
- Amo.
- Então vem cá,
tenho um plano
para a tua vida:
apascenta a minha igreja  querida,
morre por ela, se precisar.
Vou dizer de novo:
viva para servir
ao meu povo.
e nunca volte a me negar;
preciso de você para pastorear,
e nunca vai te faltar
meu incondicional amor.
Três vezes você me negou,
três vezes disse que me ama;
nunca apague essa chama
que arde dentro de você.
Apascente o meu rebanho,
meu amigo;
não  pare diante do perigo,
enfrente,
gaste energia,
consuma noite e dia
para confirmar a fé.


Bem, queridas e queridos, a cena de hoje é bastante tensa. Jesus acaba de ser preso e levado para a canalhada religiosa judaica, cujas ações e hipocrisias ele condenava. Horas antes, numa conversa, nosso Pedrão em mais um dos seus rompantes emotivos diz com  toda a sua convicção que está pronto para seguir a Jesus de pertinho, na prisão e até mesmo na morte.
Ah, as convicções humanas: “posso parar de beber ou de fumar quando quiser”;  “estou com você, pastor, em qualquer situação!”; “se preocupe não, meu irmão, aconteça o que acontecer, eu não vou te deixar”; “até que a morte nos separe”; “seremos amigos para sempre”, “te seguirei na prisão e até na morte” ...e tantas outras convicções. No momento em que essas declarações são feitas, existe mesmo a convicção, as pessoas estão dizendo isso de verdade. Mas e o que acontece depois? Mudanças. Novos episódios. Se as coisas permanecessem exatamente daquele jeito, Pedro não negaria Jesus. Se as coisas acontecessem como estavam na cabeça de Pedro naquele momento, ele, de fato, não negaria Jesus. Mas os cenários mudam. E com eles as convicções.

Então, amigos da PIB-Unamar, estamos de volta. Pois é, Jesus, o Cristo encarnado, olha para Pedro, com profundo carinho, e diz (minha livre tradução): “Ah, bichinho...quanta boa intenção....mas o cenário vai mudar. Você não pode ver, fofo, mas eu posso ver as cenas dos próximos capítulos, até porque participei da elaboração. Daqui a pouco, negão, você vai me negar...e o pior, vai me negar diante de pessoas simples como você, nem será diante de autoridades...mas isso vai ajudar na sua conversão, viu? E depois, bichinho, uma vez convertido, você confirmará a fé de muitos. Eu te assumi diante de Satanás, inclusive, mas você me negará diante de pessoas comuns...”  Suponho que Pedro, com seu temperamento sanguíneo, tenha pirado ao ouvir isso: “Ô, mestre, oxente, tá duvidando da minha fidelidade? Eu encaro qualquer parada pelo Senhor.”  Então imagino Jesus “falando com seus botões”: “Ah...as convicções humanas...o pior é que ele está falando a verdade, mas uma verdade para esse momento...tadinho...Quando o cenário mudar, ele não vai suportar. Eu sei que o danado me ama. E eu amo tanto esse sujeito, mas ele vai me negar...e vai doer tanto nele quanto em mim...tadinho... Na cabeça dele tudo está resolvido, mas e o novo cenário?”  Dito e feito. Jesus está lá passando pelos primeiros interrogatórios. Passa pelo sacerdote, pelo sumo-sacerdote, e lá está Pedro assistindo a tudo.

Alguém olha bem para aquela carinha de Galileu e comenta: “moço, você está com ele, não está?” E o nosso convicto Pedro: “Não sei do que você está falando, criatura! Quem é esse cara?”  Ah, Pedro.... e isso se repete por mais duas vezes, e o galo canta. Em Lucas, temos a impressão de que o galo canta a cada vez que Pedro nega; e em Mateus, que o galo espera a terceira negação e somente aí ele canta. O galo de Mateus queria poupar a voz, então espera para uma cantoria só. Na verdade, não é relevante, se cantou três vezes ou uma, mas que Pedro negou a Cristo três vezes.

E você? Quantas vezes já negou Jesus? Quantas vezes eu já neguei Jesus? Negamos Jesus através de nossas ações, de nossos testemunhos. E assim como Pedro, podemos dizer aqui e agora: “Jamais neguei ou negaria Jesus”.  Pois bem. Essa é a fala. E talvez você, de fato, não vá dizer a alguém “eu não o conheço”. Mas nós negamos a Jesus quando não andamos em conformidade com o evangelho; negamos a Jesus quando abrimos mão de nossos princípios, de nossos valores, porque queremos nos beneficiar naquele momento; negamos a Jesus quando compramos uma monografia pronta para concluir um curso, quando vendemos uma monografia, quando fazemos plágio, quando colamos numa prova, quando compramos um diploma, quando vendemos nosso voto, quando não pensamos no outro; quando tendo condições, nada fazemos para ajudar a combater as desigualdades sociais em nossa comunidade; negamos Jesus quando somos policiais e pedimos suborno; negamos a Jesus quando subornamos um policial; negamos Jesus quando oprimimos outro ser humano; negamos Jesus quando não amamos aquele que é diferente de nós; negamos a Jesus quando apedrejamos outros pecadores, como se não fôssemos um deles também. Que moral temos para condenar a atitude de Pedro? Depois de negar o Cristo, Pedro sente culpa, se arrepende, chora, muda. E nós?

LIÇÃO 08 - 08 DE SETEMBRO DE 2013

JESUS CELEBRA A VIDA NUM CASAMENTO EM CANÁ

JOÃO 2
E, AO terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia; e estava ali a mãe de Jesus.
E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas.
E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho.
Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora.

Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.
E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes.
Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima.
E disse-lhes: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E levaram.
E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo,
10  E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.
11  Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.
Lindíssima cena esta do casamento. Mostra-nos que o Cristo encarnado tinha vida social, divertia-se, não era um alienígena.  Ele mescla ministério e vida social numa boa. Observe no contexto do evangelho de João que ele acaba de recrutar seus discípulos, no capítulo 1. O capítulo 2 começa dizendo que rolou uma festa e que Jesus e seus discípulos também foram convidados.
Maria, a mãe de Jesus, também estava no evento. Sinto muito informar, mas pelo que compreendemos do contexto, Jesus não estava ali para “pregar o evangelho”; ele estava num momento social, se divertindo, relaxado, distraído. Tão distraído que sequer percebe que o vinho havia acabado. É Maria que percebe. Talvez Maria estivesse fazendo parte da organização da festa. E é ela que vai pedir a ele que faça alguma coisa.  Uma festa como esta poderia durar uma semana. O fim do vinho não era nada legal para a reputação da família que oferecia a festa. Então quando Maria percebe que a bebida mais importante das festas judaicas estava no fim, preocupa-se com a família, com os convidados, e vai apelar a Jesus.
Os tradutores do Novo Testamento não foram nada felizes na escolha do vocativo “MULHER” neste contexto. Pra gente, soa como um tratamento desrespeitoso. Não é comum em nossa cultura linguística nos referirmos a nossa mãe dessa forma.  F.F. Bruce, em seu livro “JOÃO – introdução e comentário”, da editora Vida Nova, sugere que esta expressão poderia ser melhor traduzida por “madame”, ou ainda, “minha senhora”. E acrescenta que é a mesma expressão usada por ele na cruz, para novamente, dirigir-se a ela.
Pois bem, mas na sequência, temos um outro problema linguístico para resolver. Aquele  “que tenho eu contigo?” também não parece muito gentil em nosso contexto linguístico e, portanto, incompatível com o carinho que Jesus tinha pelas pessoas, em especial, evidentemente, pela sua mãe. Certamente trata-se de uma “expressão idiomática” e expressões idiomáticas, também chamadas de idiomatismos, se perdem completamente quando se traduz de uma língua para outra. Ainda que se traduza por aproximação, a ideia do original não vem toda. A Bíblia na Linguagem de Hoje traduz por:  “Não é preciso que a senhora me diga o que devo fazer”. Mas ainda não fica muito legal.

E a Bíblia de Jerusalém traduz de uma forma muito autoritária: “Que queres de mim, mulher?” Eu arriscaria uma livre tradução para: “Diga aí, dona Severina, o que a senhora espera de mim, criatura? eu só vim curtir a festa...” (Severina é o nome da minha mãe).
Pois bem, aí Jesus dá uma resposta vaga. Ele não diz o que vai fazer ou deixar de fazer. Mas ela sabe que ele vai fazer alguma coisa. Se eu falasse assim, como registrei acima, olhando bem pra carinha da minha mãe e expressando algum carinho, ela também saberia que faria alguma coisa, com toda certeza. Então, mesmo diante da resposta vaga que ele dá, ela diz aos ajudantes (minha livre tradução): “Por mais estranho que seja o que ele  vai mandar fazer, podem fazer, tá? Vai dar certo.” Essa era a certeza que Maria tinha.
Nessa ocasião aí, Jesus tinha saído de casa havia alguns meses, para dedicar-se completamente ao seu ministério. Maria não tinha dúvida de que ele ia fazer alguma coisa.
Aí vem uma parada muito interessante na sequência. Jesus pede aos ajudantes da festa para que encham umas jarras com a água que estava na entrada da festa. Eram uns “barris” cuja água era usada para os convidados lavarem as mãos, e de repente, para se lavar uma loucinha. Os caras se olham meio assustados, mas se lembram das palavras de Maria: “...sem questionamento....façam o que ele mandar fazer....ele vai fazer alguma coisa...” Os caras obedecem. Enchem as jarras e vão mostrar ao chefe da festa. O cara fica chocado com o vinho que acaba de provar. Nada podia ser servido aos convidados sem passar antes pelo crivo do responsável pela comida e pela bebida da festa. O cara prova a água suja que tinha virado vinho (só Jesus mesmo... parece que ele queria zoar com aquela frescurada toda de purificação dos judeus), não acredita no que está rolando e chama o noivo (minha livre tradução): “Ô seu doido, que parada é essa, véi? Você guardou o melhor vinho para o final da festa?” E, claro, sorridente, manda que sirvam aquele vinho delicioso.
Esse lance do melhor vinho para o início  da festa, e depois o inferior,  é bastante simples de se entender. A galera começava a beber o bom vinho. A festa ia rolando. Bebiam vinho como se fosse suco. Então ficavam de cara cheia. À medida em que ficavam de cara cheia, tornavam-se menos exigentes. Então poderia se servir qualquer coisa.

O quê, Isac Machado, você está dizendo que Jesus estava numa festa onde rolava vinho comum, alcoólico, e tinha gente chapada?
Desculpa, gente, eu não quis dizer somente isso. Eu quis dizer que ele seria muito anormal para aquela cultura se não estivesse bebendo também. Aliás, em outras ocasiões, ele bebeu vinho também. E também era chegado a uma festa com bastante comidinha. Desculpa aí por essa revelação. Tanto que os seus críticos diziam coisas do tipo:
Mateus 11:19 - ... Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores...
Jesus não andava se embriagando, claro, mas ele era um homem normal daquela geração. E o vinho era uma bebida tradicional para aquele povo, diferente do que  pode representar  para a nossa cultura.

Vou finalizar esta lição sobre esta linda cena em que Jesus se mostra como um homem comum que está numa festa se divertindo, celebrando a vida, a alegria de viver, e como Deus capaz de transformar água em vinho, “pedra em pão”, com um trecho de uma linda canção que ouvi muito em minha adolescência, de Álvaro Tito: “Deus transforma a água em vinho/ e espalha a relva no caminho/ e uma noite de agonia, Deus transforma em um dia de alegria.../ Deus transforma a escuridão em luz...” Faltam uns pedacinhos em algum lugar...mas é isso... Deus transforma.


15 DE SETEMBRO DE 2013


PALESTRAS SOBRE SEGURANÇA:

·   Prevenção de incêndio e  acidentes elétricos...


Vários especialistas conversando com os grupos sobre temas de interesse geral.



  
DE 22 DE SETEMBRO A 15 DE NOVEMBRO:


13 LIÇÕES SOBRE HEBREUS. DEPOIS, FÉRIAS.






Nenhum comentário: