sexta-feira, 26 de abril de 2013

EDB 2013 - fevereiro a junho - JOVENS E ADULTOS


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APRESENTAÇÃO

Escrever juntos não significa concordarmos completamente um com o outro. Esta é uma parceria que mostra a nossa diversidade. Desejo que a igreja seja madura para lidar com isso. Faço questão de enfatizar esse detalhe até para reivindicar aos meus companheiros o direito de discordar deles e para conceder-lhes o direito de discordarem de mim.
Estou dizendo isso tudo para que não haja a impressão em nossos leitores de que todos concordamos com tudo o que o outro escreveu, e para que não haja a impressão de que vamos brigar quando discordarmos.
O que nenhum de nós gostamos é daquela discordância por nada, só por discordar. Quanto a discordância com argumentos, é sempre bem vinda, nos faz pensar, refletir, rever conceitos até.
Nós quatro (eu, pr. Marcos, pr. Daniel e Pedro Paim) escrevemos livremente. Não dei uma “linha teológica” para os companheiros seguirem a risca, e não mexi nos textos deles, a não ser para fazer a edição estritamente necessária tendo em vista os espaços, e todos foram comunicados disso.
Louvo a Deus por termos em nossa igreja recursos humanos capacitados para a produção de nossas lições, e pela disponibilidade de cada um. Claro, resta-nos respeitar o estilo individual de cada um deles. Eu, particularmente, entendo que devemos fazer teologia numa linguagem simples, popular, gostosa de se ler, sem o academicismo e sem a seriedade dos teólogos clássicos. E meus companheiros também deram o máximo de si para se aproximarem de nosso povo com uma linguagem simples. E isso é uma belezura.
Bons estudos para todos.
Para qualquer esclarecimento, procure os autores das respectivas lições. Todos estamos disponíveis.
Abraços para os abraçáveis. Beijos para os beijáveis. E vamos nessa.


Isac Machado de Moura


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LIÇÃO 01                                               17 FEV

O DISCIPULADO CRISTÃO E O PROPÓSITO DE DEUS PARA A IGREJA – Pr. Marcos Castro

I TIMÓTEO 1
3 Partindo eu para a Macedônia, roguei-lhe que permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas que não mais ensinem doutrinas falsas, 4 e que deixem de dar atenção a mitos e genealogias intermináveis, que causam controvérsias em vez de promoverem a obra de Deus, que é pela fé. 5 O objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. 6 Alguns se desviaram dessas coisas, voltando-se para discussões inúteis, 7 querendo ser mestres da lei, quando não compreendem nem o que dizem nem as coisas acerca das quais fazem afirmações tão categóricas. 8 Sabemos que a lei é boa, se alguém a usa de maneira adequada.

Em toda Bíblia, podemos facilmente perceber que Deus, em tudo, tem um propósito definido. Não seria diferente nessa maravilhosa carta do apóstolo Paulo ao amado Timóteo, seu filho na fé, seu discípulo. Encontramos, nesse trecho das escrituras, o apóstolo se ocupando do discipulado, que é um processo contínuo e progressivo, que tem seu início no indivíduo (discípulo), mas que alcança toda a comunidade, proporcionando conhecimento relacionado a uma vida prática.
Nas primeiras linhas da carta, fica evidente a preocupação de Paulo com isso. Ele usa  grande parte desse capítulo para alinhar o conhecimento teórico à prática cotidiana. Ele exorta primeiro a Timóteo, depois dá exemplo de alguns que se desviaram desse propósito, vivendo uma fé subjetiva, ou seja, fé de particular interpretação e que até os dias de hoje é raramente prática, não tendo uma proposta de mudança de vida.
Esse, talvez, seja o maior desafio da igreja em todos os tempos: vencer a subjetividade da fé, se desviar de uma fé teórica, dos debates ou discussões inúteis,  em prol de uma fé viva, prática, experimentada por cada membro, sempre a luz dos princípios eternos de Deus.
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E por falar de princípios eternos, encontramos um em particular no texto: “A obra de Deus é feita pela fé!” Não estamos anulando, com isso, o espírito investigativo, a leitura, a busca do aperfeiçoamento da fé através da teoria, mas segundo esse e outros textos, a fé é um ingrediente majoritário na obra de Deus. Analisemos alguns textos:
Hebreus 11: 1 Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. 6 Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem deEle se aproxima precisa crer que Ele existe e que recompensa aqueles que o buscam.
Esse texto tem a função primordial de definir o conceito de fé, mas também a de torná-lo prático e vivencial.
Gálatas 3: 9 Assim, os que são da fé são abençoados juntamente com Abraão, homem de fé.
Esse texto faz menção de Abraão que, pela sua fé, foi reconhecido por Deus como justo. Mesmo sem que ele tivesse qualquer informação precisa a respeito de quem o havia chamado e a respeito da missão em si, ele obedeceu e foi fazer a obra que Deus tinha designado para que ele fizesse.
Tiago 2:  14 De que adianta meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo?
Nesse texto, o autor  não anula a importância da fé, antes ele a vincula intimamente com a prática. Os conceitos adquiridos da nossa fé precisam estar em ação.
Mateus 25: 18 Mas o que tinha recebido um talento saiu, cavou um buraco no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor. 26 O senhor respondeu: ‘Servo mau e negligente! Você sabia que eu colho onde não plantei e junto onde não semeei?
Nessa parábola, Jesus comunica a ideia de que nem sempre saber a respeito de alguma coisa resolve a situação. O servo conhecia o seu Senhor, sabia o que deveria fazer e não fez, e por isso recebeu uma repreensão severa.
Através desses textos e mais nosso texto base de I Timóteo entendemos que “o saber” faz parte da nossa missão. Não é tudo, mas é uma parte importante.
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Duas outras conclusões nós podemos extrair da carta de Paulo:
I – Onde há muita teoria forma-se um ambiente propício a heresias (falsas doutrinas), controvérsias e dissensões.
Paulo alerta a Timóteo de que a falação interminável contabiliza mais prejuízo do que ganho. Uma boa observação a ser feita é sobre os debates bíblicos que ouvimos nas rádios ou assistimos em alguns canais de TV. Mesmo que os temas sejam diferentes, o enredo é sempre o mesmo: dois ou três grupos de diferentes opiniões sobre o assunto, em algum momento uma discussão mais acalorada, e ao final um mediador enrolado com tantas teorias, e a pressão do tempo que o leva a terminar invariavelmente o programa de maneira atabalhoada e inconclusa, ou seja, ânimos exaltados no estúdio e vidas confusas em casa, sem que possam ser edificadas em algo prático.
Ainda que saibamos que uma boa conversa nos ajuda a desenvolver a nossa fé, quem ministra a palavra deve sempre proporcionar um ambiente de edificação mútua. Mas para que isso aconteça são necessários muito cuidado, planejamento e domínio do assunto por parte do mediador ou facilitador. É necessário também uma linha comum de ação para que a missão do grande grupo seja beneficiada com o que se propõe ensinar. Existe em todo bom ministério um fluxo como de um rio que deve ser respeitado sob pena de impor aos membros desse grupo um esforço sobre humano de nadar contra a correnteza.
O apóstolo se preocupou, pois tanto seu discípulo, como aquela igreja tinham uma missão a cumprir. Para Timóteo, um jovem pastor, em um ministério difícil devido às circunstâncias que o envolvia, a última coisa que ele precisava era de um ambiente interno tumultuado que contribuísse para frear os planos de Deus para a igreja. Não pode ser diferente em nossos dias; temos muitos irmãos convivendo conosco em níveis de maturidade e funções diferentes, precisamos, então,  proporcionar um fluxo de ensino e prática o mais natural possível para seu desenvolvimento pessoal e ministerial.
II – O muito saber pode proporcionar mais soberba do que amor.
Ao longo da história da igreja, nos deparamos com muitos personagens que se destacaram tanto por uma coisa como por outra, ou seja, esse é um risco real e iminente que os membros da igreja correm.
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Lembro-me, com saudades, do irmão que me discipulou no início da minha carreira com Cristo; alguém manso, amoroso, que dominava as escrituras como poucos, que mesmo tendo sido forjado como crente na Assembleia de Deus, conseguia se adaptar muito bem ao ambiente batista em que nos encontrávamos, e acima de tudo, era um exemplo de simplicidade e humildade. Nunca o vi se posicionando unilateralmente em qualquer assunto, muito embora fossem visíveis e notórias as suas convicções pessoais sobre as escrituras. Aquele homem tinha um compromisso inegociável: edificar as vidas que estavam sob seus cuidados no grupo de comunhão, e no que diz respeito a mim e a minha esposa, ele conseguiu, deixou uma marca importantíssima na nossa história.
Se sabemos que Deus tem um propósito especial para cada ministério local, devemos sempre buscar contribuir para que seja feita a vontade de Deus; o que passar disso será um desvio. De todos os membros do corpo, cada um em suas atribuições, se espera uma fé consciente e sincera, e uma ação conjunta. Numa equipe bem ajustada, todo individualismo, seja ideológico ou prático, se torna um perigoso desvio de propósito, pois em meio a tanta qualificação individual, o que de fato se espera são experiências reais de êxito e vitórias na causa comum; caso contrário, ficará evidente que aquilo que dizemos saber não passa de teorias frágeis que não passam na prova do fogo que depura toda a inverdade e impureza e que trás a tona o que temos de mais precioso.
“Se alguém constrói sobre esse alicerce, usando ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, sua obra será mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo, que provará a qualidade da obra de cada um”. I Coríntios 3.12-13.
“Não se enganem. Se algum de vocês pensa que é sábio segundo os padrões desta era, deve tornar-se "louco" para que se torne sábio”. 
I Coríntios 3.18.

SEJAMOS LOUCOS POR FAZER A VONTADE DE DEUS!



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LIÇÃO 02                                               24 FEV

O DISCIPULADO CRISTÃO E A VOCAÇÃO DE FAZER DISCÍPULOS     –     Pr. Marcos Castro

I TIMÓTEO 2

8 Sabemos que a lei é boa, se alguém a usa de maneira adequada. 9 Também sabemos que ela não é feita para os justos, mas para os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreverentes, para os que matam pai e mãe, para os homicidas, 10 para os que praticam imoralidade sexual e os homossexuais, para os sequestradores, para os mentirosos e os que juram falsamente; e para todo aquele que se opõe à sã doutrina. 11 Essa sã doutrina se vê no glorioso evangelho que me foi confiado, o evangelho do Deus bendito.  12 Dou graças a Cristo Jesus, nosso Senhor, que me deu forças e me considerou fiel, designando-me para o ministério, 13 a mim que anteriormente fui blasfemo, perseguidor e insolente; mas alcancei misericórdia, porque o fiz por ignorância e na minha incredulidade; 14 contudo, a graça de nosso Senhor transbordou sobre mim, juntamente com a fé e o amor que estão em Cristo Jesus. 15 Esta afirmação é fiel e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior. 16 Mas, por isso mesmo alcancei misericórdia, para que em mim, o pior dos pecadores, Cristo Jesus demonstrasse toda a grandeza da sua paciência, usando-me como um exemplo para aqueles que nele haveriam de crer para a vida eterna.
A cada dia o Senhor nos mostra o valor do nosso resgate eterno. Ele em sua sabedoria e graça fez convergir a sua vontade e a submissão de homens e mulheres santos, que atendendo ao clamor do mundo e ao ide de Jesus, se aproximaram de nós com um discurso novo e transformador, nos levando a  tomar a melhor decisão de nossas vidas: a de nos reconciliar com um Deus, que embora não precisasse de nós, nos chamou a reconciliação. Nisso se resume, em grande parte, a missão da igreja: a multiplicação.
“Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos”. Jo 15.8.
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Ao compartilhar sua história com Timóteo, o apóstolo continua a lembrá-lo de que nosso Deus tem muitos propósitos na vida da igreja, e um deles é proporcionar a salvação a todos quanto creem.
"Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Jo 3.16.
Percebemos, no texto, Paulo emocionado, narrando a sua história antes e depois da graça  tê-lo alcançado. Quando estudamos sobre esse extraordinário servo de Deus, também vamos identificar pessoas que foram de suma importância em seu processo de fé, homens e mulheres que se dispuseram a ser alavanca para a sua vida, que veio a se tornar uma das maiores expressões do evangelho em todos os tempos. Ananias, ao ser convocado por Jesus para abençoar  Paulo, lembrou-se de quem ele era e temeu, mas acatou o chamado de Cristo e foi - Atos 9.17. Barnabé foi o único entre os de Jerusalém que se aproximou e discipulou Paulo; todos os outros temiam por suas próprias vidas - Atos 9.27.
Mas algo inusitado faz parte da história de Paulo: seu ardor missionário. Desde muito cedo ele entendeu que a graça o alcançou de maneira tão irresistível, que outros deveriam usufruir do favor de Deus através de sua própria vida. Em Atos 9, o novo crente, cheio da consciência de fé e prática, já começa a dividir sua pouca experiência de fé com muitos, a ponto de incomodar desde muito cedo as autoridades, que antes, juntamente com ele, perseguiam e matavam os cristãos.
22 Todavia, Saulo se fortalecia cada vez mais e confundia os judeus que viviam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo.
28 Assim, Saulo ficou com eles, e andava com liberdade em Jerusalém, pregando corajosamente em nome do Senhor.
Precisamos nos sentir desafiados por dois aspectos importantes da vida de Paulo: sua consciência de “doulos” (escravo), que o levou a entender que foi chamado para servir; e a sua consciência livre de condenação, pois ele instruía a seus discípulos sobre fundamentos não só teóricos, mas dava mostras de uma vida prática intensa, proporcionando aos seus discípulos mais do que noções básicas, mas um exemplo real de como fazer.
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O texto que estamos estudando começa com uma lista enorme de “pessoas” com as quais nos deparamos no nosso cotidiano. A cada dia se apresentam mais e mais dos que, sem Deus, vão perecendo em seus problemas e mazelas espirituais e humanas, sem que recebam sequer um alento em tempos difíceis.
Somos os detentores de um discurso poderoso para salvar os que se perdem, mas está provado que o povo de Deus, na atualidade, se especializou em obras dentro de quatro paredes. Nos detemos em lugares seguros onde a exposição e o debate bíblico fique sob nosso controle pessoal. Por isso mesmo que o apóstolo escreve para seu discípulo amado: “Sabemos que a lei é boa, se alguém a usa de maneira adequada”. Não é adequado que retenhamos o poder transformador entre nós, que manifestemos suas propriedades salvadoras entre os que já estão seguros; mas na maior parte de nossa vida é isso que fazemos. Talvez isso explique por que tantos cristãos ainda estejam tão imaturos, por não terem experimentado, a não ser no primeiro amor, a eficácia de um evangelho pleno.
As estatísticas apontam um número ao mesmo tempo alarmante e desafiador. Os cristãos que experimentam a salvação pessoal e que dividem essas experiências, ainda que de maneira muito simples, com outros, e os veem também crescer na graça e no conhecimento de Deus, são os mais saudáveis e estáveis membros das igrejas. Basta olhar para a liderança da maioria das igrejas, pessoas que mesmo sobrecarregadas, cheias de atribuições, que deveriam ser divididas com outros que estão nos bancos aos domingos, um fervor espiritual que se traduz em evangelismo, cuidado com pessoas carentes e necessitadas e uma grande contribuição no processo de multiplicação da igreja local. Os outros são os consumidores, semelhantes aos do capitalismo, que levados pelo sistema ou pelo modelo de igreja, preferem explorar uns poucos, a se adaptarem para discipular a maioria.
É preciso pensar seriamente nesse assunto. Mais do que pensar, precisamos proporcionar um meio eficaz para que a igreja de Deus e para que a igreja local possa, assim como Paulo, Barnabé, Timóteo, Spurgeon, Wesley, e tantos outros, fluir na missão de dar frutos e muitos frutos. Ao pensarmos em quantidade não devemos voltar nosso coração para enchermos nossos templos, mas sim para desabitar o mais rápido
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possível, o inferno, que trabalha muito intensamente para tragar as vidas dos homens e das mulheres relacionadas no texto que estamos estudando:
“Também sabemos que ela não é feita para os justos, mas para os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreverentes, para os que matam pai e mãe, para os homicidas,  para os que praticam imoralidade sexual e os homossexuais, para os sequestradores, para os mentirosos e os que juram falsamente; e para todo aquele que se opõe à sã doutrina.”
Sinceramente, creio que dois fatores contribuem juntamente para certa inércia na missão da igreja atual, e ambos estão relacionados à graça.
I – Quando a igreja passa a contar com suas próprias forças para alcançar os seus próprios objetivos, ela se torna ineficaz em sua missão de fazer discípulos.
...contudo, a graça de nosso Senhor transbordou sobre mim, juntamente com a fé e o amor que estão em Cristo Jesus.
II – Quando o indivíduo esquece ou desconhece a sua vocação interior, e que a graça de Deus nos aperfeiçoa para o serviço de Deus, esse crente não vai ao encontro dos perdidos.
Dou graças a Cristo Jesus, nosso Senhor, que me deu forças e me considerou fiel, designando-me para o ministério.
É preciso lembrar que ainda existe uma igreja lá fora para ser alcançada (Jo 10.16), talvez em igual número ou ainda maior do que a que hoje existe, quem sabe? Mas o fato é que para que isso aconteça, nós temos que nos dedicar ao discipulado pessoal e direto, assumindo a responsabilidade que nos foi dada junto com a graça, junto com a nossa salvação.
“Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus” II Coríntios 5:18.20.
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LIÇÃO 03                                               03 MAR

O DISCIPULADO CRISTÃO E OS PAPÉIS –     Pr. Marcos Castro

I TIMÓTEO 3
“... escrevo-te estas coisas para que, se eu demorar, saibas como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e alicerce da verdade”. I Timóteo 3.15.
No que diz respeito à fé e à prática do cristianismo, o papel de cada indivíduo e de todos os crentes é de vital importância para uma vida em comunidade cristã. O texto acima está inserido no final do que chamamos de um assunto ou sentença, e por esse motivo, trabalharemos os papéis de cada crente ali descrito, baseados nessa sentença final do capítulo três.
Nesta  carta a Timóteo, Paulo trata da qualificação pessoal ou individual de quem serve na igreja. Qualificação não é o mesmo que qualidade ou capacidade, mas é, segundo Paulo, um pré-requisito. Estando nós afeitos a esse pequeno detalhe, precisamos estar atentos a outro pormenor muito especial: o autor desmembra o assunto direcionando sua instrução a Timóteo, tratando dos indivíduos de ambos os sexos, homens e mulheres. Isto fica evidente quando ele convoca a igreja a orar (2.1) e não especifica o gênero (se é homem ou mulher); em seguida, ele trata da condição da mulher na igreja (2.9), em seguida volta-se para algo relacionado ao homem (3.2), e assim ele faz durante toda a sequência.  Esses detalhes todos irão nos ajudar a entender melhor o contexto desse pequeno, mas muito importante pedaço das escrituras eternas. É prudente esclarecer que até esse ponto nenhuma conclusão ou tendência está sendo defendida; a proposta é analisarmos à luz do texto o papel nosso de cada dia, homens, mulheres, toda gente, todos em igual grau de consideração e estima por parte do Senhor, de Paulo e da  nossa PIB em Unamar. É honesto também admitir que devido a palpitação que o assunto causa, precisamos citar quais tendências são mais relevantes no que diz respeito ao papel da mulher na igreja.

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A primeira que analisaremos, e mais atual,  é fruto de movimentos humanistas, como o Renascimento (século 16) e Iluminismo (século 18), que juntos atribuíram uma maior importância à dignidade, aspirações e capacidades humanas, tendo grande influência também na igreja através de um novo método de interpretação das escrituras (método histórico crítico), que tinha entre outras máximas, a de explorar mais profundamente o contexto cultural da época em que cada texto havia sido escrito. Alguns teólogos conhecidos como contemporâneos ou liberais são acusados por outros mais tradicionais de privilegiarem mais o contexto social do que a cultura bíblica como um todo (concordância bíblica onde um texto esclarece outro), dando muito mais ênfase às culturas locais, sociais e contemporâneas de cada livro e autor. Mas também se admite que independente dessas acusações ou do método usado, a intenção parece ter sido a de valorizar o ser humano e, no caso da carta a Timóteo, a mulher em especial, pois lançando esse olhar menos teórico e mais prático e usual, abriram-se maiores possibilidades para o sexo feminino tão desvalorizado e subjugado no contexto antigo.
A segunda tendência se considera “a ortodoxa” (forma original), ou seja, baseada em uma tradição de submissão mais rígida às escrituras e a forma de interpretá-la (método histórico gramatical), tal qual na reforma protestante. Esses teólogos, por sua vez, são acusados pelos mais atuais de desvalorizarem, por exemplo, o papel da mulher na igreja, oprimindo-as sob a bandeira da rigidez usual na aplicação das doutrinas bíblicas por estes defendidas.
Voltando nosso olhar agora para o texto, vamos analisá-lo sob a ótica mais tradicional e antiga, isso porque a mais contemporânea tem sua base teórica fundada mais em aspectos sociais e culturais e, portanto, menos complexos para análise do que o método rígido, pois toda  sociedade atual está muito mais impregnada desses conceitos de liberdade, valorização e aspirações humanas, e os colocando em pé de igualdade entre ambos os sexos do que dos preceitos mais duros da teologia histórica tradicional.
1)     A postura da mulher na sua missão: Assim como no capítulo 2, v. 8, Paulo cobra um comportamento digno do homem para que pudesse exercitar a sua fé, nos dois versículos seguintes (2.9-10), ele está exortando as mulheres a uma vida exemplar e que seja baseada em virtudes pessoais e não em adornos exteriores.
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Isso, porém, não parece ser uma proibição para o uso de certos penteados, adereços ou vestimentas, mas antes parece ser uma instrução para que a vaidade, que é exterior, não as exalte mais do que a virtude interior: com decência, modéstia e discrição”.

2)     A mulher e o ensino público das escrituras: Nos versos 10 a 14, reside a maior controvérsia cristã a respeito do exercício do ministério da palavra de Deus por mulheres a partir da idade moderna; sim, só a partir dos movimentos modernos esse problema tomou proporções maiores, portanto, considerações culturais mais relevantes não são as do texto ou da época ou lugar (Éfeso) que Timóteo pastoreava. Pelo menos no que diz respeito a esse texto, não se encontra facilmente uma justificativa consistente a respeito das questões sociais da época, mas a cultura atual e a valorização feminina contemporânea têm discutido veementemente esse tema. A tradição histórica antiga aponta para um arrebanhamento de mulheres para fortalecimento da causa desses rebeldes dos quais Paulo tratou no capítulo 1, e isso pode, em parte, explicar essa recomendação tão forte do apóstolo.
Mas outro fator goza de mais prestígio entre os tradicionais, algo que eles chamam de preceitos eternos ou fundamentos eternos que percorreram todo ciclo da história bíblica, imutáveis, e de um desses ele faz uso e aplica a esta realidade. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva”.
Esse quadro pintado por Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, é muito anterior à cultura de Éfeso, assim como também muito anterior ao atual contexto social em que vivemos, portanto sufoca dentro dessa análise qualquer teoria contemporânea, pois dá plena autoridade bíblica para o argumento de que a mulher é alguém separada por Deus para auxilio do homem na missão comum, cada um no seu papel. O dicionário de português não favorece muito as mulheres quando explica a palavra submissão, mas o sentido original não é de desvalorização ou subjugamento, mas sim de alguém que apóia e que complementa o homem, e é indispensável a ele mesmo, sendo ele o cabeça da família. Ler Efésio 5.22-28.

Se o português não nos ajuda, no original grego o sentido é mais claro: 
Submissão: é um termo militar grego que significa “organizar [divisões de tropa] numa forma militar sob o comando de um líder”.
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Em uso não militar, era “uma atitude voluntária de ceder, cooperar, assumir responsabilidade, e levar uma carga”. Sendo assim não há nenhum motivo de vergonha ou descrédito para a mulher, antes uma causa nobre e agradável aos olhos de Deus.

3) A mulher e a missão nobre da maternidade: É impressionante como nossa tendência para focar no menos importante se demonstra nesse texto. Para alguns, esse versículo é uma redução da vida da mulher, como se fosse pouca coisa ser responsável por conceber e dar à luz  uma criança. Existem outros aspectos importantíssimos também que estão relacionados à formação da criança, como, por exemplo: a presença constante da mãe no dia a dia delas produz um amadurecimento mais consistente devido a fatores como diálogo, a troca de afeto, a educação presencial e influenciadora, entre tantos outros, que, sem dúvida, melhora e prepara a criança desde cedo para uma vida em comunidade mais interativa e participativa.
Em última análise, é preciso pensar que no que diz respeito ao papel da mulher na vida comum, no lar e na igreja, não se pode resumir em se ela pode ou não ser pastora, ou se pode ou não ensinar em público, mas sim em como ela pode ser melhor aproveitada na causa do evangelho para ter uma participação efetiva e produtiva a despeito de títulos, cargos ou atribuições.
Contra fatos não existem argumentos. Nas nossas igrejas, podemos perceber características importantíssimas que as mulheres têm e que contribuem muito para a edificação das mesmas. Mulheres que ensinam em nossas EBD’s com graça e rara sabedoria. Precisamos de fato entender que a questão não é de capacidade ou habilidades específicas apenas, mas mesmo nos casos de grande sucesso, como na participação feminina no mercado de trabalho, se sabe que existe um prejuízo agregado quando alguns preceitos para nós inegociáveis são esquecidos, desconsiderados ou menosprezados. Algumas mulheres  têm colocado a sua missão de mãe e de esposa em segundo plano, e isso em nome de uma carreira, titulo ou posição social que lhes dê satisfação e projeção. Não que os homens estejam isentos de responsabilidades, mas essa atitude tem sido conjuntamente responsável pelo processo de fragmentação da família, mesmo a cristã. O homem falha como líder e sacerdote do lar e a mulher em querer substituí-lo naquilo que não foi chamada a fazer. Deus sempre valorizou as mulheres e nós devemos em obediência a Ele continuar a amá-las e valorizá-las, mas se seguimos o preceito bíblico de liderança, ambos, homens e mulheres, usufruiremos do maior prêmio que alguém pode almejar, e com satisfação plena, a salvação eterna em Cristo. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação.
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LIÇÃO 04                                               10 MAR

O DISCIPULADO CRISTÃO E A FORMAÇÃO DA LIDERANÇA –     Pr. Marcos Castro

I TIMÓTEO 3

1Fiel é a Palavra: Se alguém anela chegar ao ofício de pastor superintendente, intensamente deseja uma excelente obra; ... 13 Os que servirem bem alcançarão uma excelente posição e grande determinação na fé em Cristo Jesus”. I Timóteo 3.
A proposta dessa lição não é de deter-se em meros detalhes, que embora sejam relevantes e de necessária observação, reduziriam nosso foco ao cumprimento de ordenanças e não nos desafiaria a ampliarmos nossos horizontes para uma melhor formação daqueles que serão referência para a igreja, os líderes. Nós poderíamos apenas pensar sobre cada atributo pessoal listado pelo apóstolo, que serviu e ainda serve de referencial para nós, mas nossa intenção é ampliá-los, pois estamos vivendo um momento especial como igreja, muitos chegando a nossa comunidade, alguns através da primeira experiência de fé em Cristo, mas uma grande maioria de irmãos que estão vindo de lugares e realidades eclesiásticas (igrejas) diferentes, e de contextos diferentes de vida e história. Nós cremos que é preciso alinhar nossos focos para que a nossa missão como igreja do Senhor em Unamar seja cumprida. Nada será realmente fácil, mas sem um plano de capacitação bem elaborado, visando melhor preparar a todos, membros, líderes e futuros líderes, certamente nossa missão se tornará um tanto mais árdua.

Bispos, diáconos, presbíteros, mestres e pastores juntos em prol do discipulado
Em outro tempo certamente já estudamos o significado de cada termo acima, e sabemos que não existe de fato um consenso a respeito disso, mas existe sim uma coisa comum a todos que coopera para o funcionamento da igreja: cuidar de pessoas.
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Nestas palavras, encontramos atribuições específicas como: administrar, servir, presidir, liderar, ensinar, prestar assistência, direcionar, etc. e todas estas coisas compõem a vida da comunidade cristã conjuntamente. O texto do capítulo 3 inteiro orienta a Timóteo e a nós todos sobre a integridade do obreiro de Jesus. A integridade está intimamente ligada a aspectos morais, a dignidade de alguém que foi chamado a influenciar positivamente pessoas a quem se quer proporcionar a salvação; eles são nossos alvos vivos. Da sociedade se extrai a matéria prima da igreja, pedras brutas que conhecem bem de perto as mazelas e os pecados que as cercam e que as influenciam. O que elas menos precisam e querem ver em nós são as marcas e atitudes comuns a elas mesmas. Ninguém que está longe de Cristo se achegará a Ele se ver em nós, a “igreja indivíduo”, qualquer característica do mundanismo que elas conhecem, vivem e experimentam em seu cotidiano. Segundo Paulo, a carreira cristã em suas mais diversas atribuições e cargos é algo excelente, e essa palavra tem uma aura de pureza e indica um brilho especial a quem deseja servir a Deus. Mas talvez a grande questão em nossos dias seja saber se é possível manter esse nível de pureza entre os que nos lideram, ou afirmar que aqueles que, no decorrer da história de cada igreja, de fato, foram levantados com tal nível de integridade, ou ainda saber se existem hoje homens e mulheres que tenham tal grau de integridade. Certamente a resposta não seria positiva, o que não chega a ser algo tão alarmante assim; primeiro porque precisamos lembrar-nos da nossa inclinação natural para o mal (Romanos 7.19-21). O que não é admissível é a igreja não criar mecanismos de aperfeiçoamento e cura que possibilitem a todos serem confrontados de uma maneira didática em primeira fase, pessoal direta em segunda fase e disciplinadora num terceiro momento (Mateus 18.15-18). A esse conjunto de ações nós podemos chamar de discipulado. Quando nos envolvemos uns com os outros em um nível de influência mútua, a tendência natural é depurarmos as nossas próprias imperfeições e pecados, pois sempre teremos bons referenciais.
Está provado que o ritual tradicionalista de disciplina a partir de um cabeça, que normalmente era o pastor da igreja, só serviu para apagar focos de incêndio, mas o grande estrago já havia acontecido longe dos olhares dos vigias que num passado próximo não contribuíam diretamente na ação de extinção do grande incêndio causado pelo pecado na igreja.
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Outra prática comum entre as igrejas mais tradicionalistas (diferente de tradicionais) era o processo de escolha que havia para preenchimento dos cargos e funções, até mesmo a forma como eram escolhidos os pastores delas. De uma forma ritualista, muito atrelada a interesses pessoais e de grupos de poder, deixando em segundo plano componentes importantíssimos, como preparo, aptidão, dom e principalmente a vontade de Deus. Hoje, graças a uma revolução da simplicidade, é cada vez mais natural o processo de levantamento de líderes para o serviço real; a prontidão e disponibilidade pessoal está mais a frente no processo, juntamente com um trilho de treinamento que visa dar segurança tanto para o candidato com para a igreja local. O resultado disso é uma festa cada vez que um novo obreiro é levantado para servir a Cristo entre nós, conosco e por nós.
Sob as qualidades que Paulo relacionou a um obreiro de Deus incide um peso maior do que o da letra. Vejamos como é isto:
Irrepreensível e ter boa reputação perante os de fora: Às vezes nos preocupamos muito em passar uma boa imagem dentro da igreja e isso pode evidenciar vaidade e não transparência; nosso alvo são os incrédulos.
Não apegado ao dinheiro nem a lucros desonestos: Muitas das nossas desculpas para o pouco envolvimento na causa da igreja são um meio de esconder nossas inclinações carnais e materiais, afinal “tempo é dinheiro”.
Prudentes e pacíficos: Pecamos fácil no falar, sem discernir a ocasião, as pessoas e o lugar. Falamos demais e causamos muitas dificuldades. O nosso agir deve ser sempre cautelosamente medido, como o de quem monta uma fileira de pedras de dominós, não nos anulando, mas se formos comedidos e cautelosos, provamos que somos conciliadores e reconciliadores.
Deve governar bem sua própria família: Em tempos em que a família está em declínio, apesar da sua importância nas escrituras e relevância para a sociedade, a relação marido e mulher saneada e filhos submetidos ao amor e controle dos seus pais é um grande referencial para a sociedade em queda.

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Sóbrios, respeitados e experientes: Vivemos na era da informação; não existem mais pessoas ingênuas no mundo em que vivemos, daí a necessidade dessas características que ajudam o líder a fazer uma leitura do mundo, ganhar um status junto à comunidade e saber lidar com as situações da vida.

Confiáveis e de palavra: Temos que contar com líderes que não façam-nos pensar em usar de mecanismos de controle de ações e de caráter; precisamos sim de homens e mulheres comprometidos e verdadeiros.

Não dado ao vinho ou a violência: O domínio próprio é algo inseparável do fruto do espírito, e um líder deve exercitar todo dom espiritual. Nada pode dominá-lo; esse tal deve manter seus desejos em sujeição constante.

Hospitaleiro e apto a ensinar: Percebemos uma relação íntima entre uma coisa e outra; é impossível transferir ensinamentos espirituais a distância; amar gente, se relacionar com pessoas deve ser uma faceta indispensável de todo mestre; caso contrário, ele se torna um livro, que só edifica se procurado, então fica ali naquela estante empoeirada sem sentido de vida.


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LIÇÃO 05                                               17 MAR

O DISCIPULADO CRISTÃO E O CUIDADO MÚTUO  –     Pr. Marcos Castro

I TIMÓTEO 5
Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente”. I Timóteo 5.8.
“Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé”. Gálatas 6.10.
Quando pensamos acerca de cuidado mútuo, rapidamente relacionamos com ajuda material. Devido à prática comum das igrejas, a palavra “cuidado” ficou prejudicada em seu significado, tendo seu sentido diminuído e, junto com este, a sua aplicação.
Todo capítulo 5 vem tratar sobre cuidado em vários níveis. Como disse nosso mestre, “nem só de pão viverá o homem”. Paulo inicia a sua orientação ao seu discípulo, instruindo-o a manter um diálogo firme, mas cordial, onde o respeito aos idosos e aos jovens fosse exercitado, levando em consideração suas particularidades. Existem estudos que revelam o descontentamento dos idosos devido ao tratamento que recebem dos mais moços. Normalmente, age-se impacientemente com os anciãos, sem considerar suas limitações físicas e, muitas vezes, emocionais. Apesar do texto tratar de uma relação entre irmãos em Cristo, a estatística mostra que é justamente em família que esses maus tratos são mais frequentes.
Já no trato com os mais jovens, o discurso é sempre mais castrador e repreensivo, não se levando em conta fatores importantes, como a formação do caráter e alguns aspectos da personalidade. Existe uma rispidez natural de tratamento entre os próprios jovens e adolescentes e também entre os adultos e eles, especialmente em relação aos meninos. Gestos mais brutos, tapas e empurrões às vezes substituem um cumprimento formal por palavras e gestos como o abraço ou o aperto de mãos.
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Já as meninas, invariavelmente, se retraem mais devido ao assédio natural do homem, de qualquer idade, que, às vezes, aproveita de um contato natural para cometer alguns abusos, e isso dificulta um relacionamento fraternal nos primeiros contatos, pois para elas é necessário usar de cautela e estudar o comportamento e as atitudes do homem, para depois se abrir ao diálogo e ao relacionamento fraternal.
Paulo está exortando Timóteo, um jovem, mas também uma autoridade da igreja, a fugir dessas práticas, estimulando-o a estabelecer sempre um contato intenso, mas respeitoso com todos. Nós, como imitadores de Cristo e de Paulo, precisamos tornar comum esse hábito entre nós, pois é grande o interesse que o mundo tem sobre nossos jovens e adolescentes. Os de fora os consideram presas fáceis e investem pesado para conquistá-los e, consequentemente, distraí-los na vida espiritual. Paulo muda a direção do texto quando aborda o assunto das viúvas da igreja. É interessante como desde sempre estivemos cercados por perigos sutis, e Paulo nos alerta acerca de mais um deles. Às vezes, achamos que a viuvez em si é pré-requisito para a ação social, mas assim como em Éfeso, nos nossos dias temos que estar atentos às condições a que as viúvas estão submetidas. Normalmente a liderança de igreja não está preparada para lidar com essa situação melindrosa; por isso tem crescido entre nós o hábito de delegar essa função a pessoas com formação em assistência social, pois invariavelmente esses irmãos e irmãs são dotados dos dons espirituais necessários para atuar nessa frente, tais como, discernimento, socorro, misericórdia.
Mas se uma viúva tem filhos ou netos, que estes aprendam primeiramente a colocar a sua religião em prática, cuidando de sua própria família e retribuindo o bem recebido de seus pais e avós, pois isso agrada a Deus”. I Timóteo 5.4.
Infelizmente, tais medidas acabam sendo necessárias e devem fazer parte do processo de discipulado da igreja, porque, caso contrário, podem revelar desvios de conduta como o descrito no trecho a seguir:
Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente”. I Timóteo 5.8.
Dentro desse panorama, o apóstolo abre precedentes para que as viúvas jovens refaçam suas vidas, que não permaneçam no desânimo e na tristeza da viuvez ou envolvidas com situações que as desmoralize, tais quais, fofocas e dificuldades de ordem sexual.
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A igreja deve estar pronta a amparar socialmente todos os carentes, seja de coisas materiais básicas ou de amparo espiritual e emocional afetivo. Precisamos lembrar sempre que igreja é relacionamento entre o homem e Deus em primeira instância e uns com os outros; isso caracteriza uma igreja cristã. “...e tinham tudo em comum...” Atos 2.42-47.
Paulo exorta a seu discípulo acerca de outro cuidado, muitas vezes, esquecido no meio da congregação, o cuidado com a liderança. Estes que estão sempre dispostos a suprir as necessidades alheias, que investem tempo e energia para ver seus irmãos e liderados em melhores condições de vida não podem ser excluídos desse contexto de ajuda mútua.
Mas em tempos de teologia da prosperidade, com tantos líderes que ostentam uma vida muito acima do padrão daqueles que ele lidera, vivendo às custas do povo, que humilde e inocentemente acata o discurso desafiador do seu pastor em busca de um padrão de vida melhor e, na maioria das vezes, se frustra. Nós, meros mortais, também temos acesso à informação, ou seja, a Bíblia não nos deixará expostos a tais práticas sórdidas e mesquinhas, que visam somente o enriquecimento ilícito e a ganância de uns poucos, que vivem de explorar o próximo.
“É necessário que eles sejam silenciados, pois estão arruinando famílias inteiras, ensinando coisas que não devem, e tudo por ganância”.Tito 1.11
Por outro lado, esses fatos não podem servir de argumento para a igreja tirar dos líderes fiéis desse tempo o direito de terem suas vidas e ministérios valorizados pelos seus dons, pelo trabalho árduo e pela eficácia ministerial, cuja base teórica e prática é a Bíblia, que ele ensina, prega e exorta a ser praticada para a perfeita edificação do corpo. Muitas igrejas têm estado atentas a essa questão; algumas têm estabelecido fórmulas para ajustes das remunerações ou para defini-las a fim de preservar os ministros, evitando entre outras coisas, os desgastes das votações em plenária pública acerca das finanças dos obreiros. Outras congregações, porém, se calam, impondo uma pressão desnecessária aos seus líderes, desconforto este que se transfere para a família, saúde e até mesmo para o desempenho ministerial de alguém que como nós é digno de remuneração condizente com a função e o trabalho executados.
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As igrejas de médio e grande porte certamente sofrem menos com esse problema, pois tanto a saúde financeira dos membros e da própria igreja, como um maior grau de esclarecimento  evita que tal fato ocorra, mas é muito triste ver a situação de outros ministérios, que sob a justificativa do tamanho do rebanho, tem obrigado  muitos homens de Deus a buscar seu sustento fora da igreja para não expor suas famílias a privações desnecessárias.
“Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino, pois a Escritura diz: "Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal", e "o trabalhador merece o seu salário"I Timóteo 5.16-17.
Mas o respeito aos pastores e líderes são se resume a questões financeiras, mas a uma submissão bíblica que passa por todos os aspectos das relações humanas. É muito comum ouvirmos comentários surgirem acerca do bom desempenho de um ministro do evangelho, mas são muito mais frequentes os ataques direcionados a eles, sejam bons ou maus obreiros. Isso se deve a importância do cargo; a investidura pastoral, por exemplo, está na berlinda sempre; a sociedade sabe que existem pastores e “pastores”, assim como em outras profissões ou atribuições existem os que, pelo seu mau comportamento, denigrem a imagem de uma classe inteira. O hábito de generalizar é muito mais comum do que deveria. Há um entendimento ou uma expectativa de que tais homens e mulheres não errem, e quando isso acontece surge sempre um frisson, os burburinhos se tornam intensos e o prejuízo contabilizado no Reino de Deus é enorme.
Paulo ensina como agir em casos em que a honra do ministério e a dignidade da igreja esteja em xeque. É necessário instaurar um inquérito sério, imparcial, cujo processo de investigação e de levantamento de testemunhas seja em ambiente sereno e sigiloso; mas após a apuração dos fatos, que as providências tomadas se tornem públicas, dentro do limite da lei, sempre a fim de dar ao ministro ou ao ministério o devido valor ou repreensão, para que a prática, tendo sido boa, surta efeito edificador na igreja e na sociedade, mas tendo sido má, torne notória a justiça de Deus entre nós.
“Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus". Mateus 5.20.
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LIÇÃO 06                                               24 MAR

O DISCIPULADO CRISTÃO E A FIDELIDADE ÀS ESCRITURAS     –     Pr. Marcos Castro

I TIMÓTEO 6
“Timóteo, guarde o que lhe foi confiado. Evite as conversas inúteis e profanas e as ideias contraditórias do que é falsamente chamado conhecimento; professando-o, alguns se desviaram da fé...”. I Timóteo 6.20-21.
Ao analisarmos o contexto em que o evangelho está inserido em nossos dias, podemos explicar a sua tendência. Quando Paulo escreve a Timóteo, ele estava fazendo o mesmo exercício, lendo o contexto de Éfeso e situando o seu discípulo e aquela igreja no tempo e no espaço. Tratava-se de um contexto muito parecido com o nosso, onde a rigidez das formas e regras não eram bem aceitas, e desde os primeiros filósofos, a relatividade imperava. Nos nossos dias,  de igual modo, a liberdade de pensamento e expressão estão em alta e o argumento é a valorização do homem. Mas Paulo, sabedor de todo esse contexto, faz sua oposição, e usa as escrituras como contraponto dessa realidade, que embora tenha uma aparente beleza, guarda o maior perigo que ameaça a igreja desde seu início: a “subjetividade”, ou,  traduzindo para uma linguagem mais comum: “eu acho que...”.
Com esses ensinos do apóstolo, podemos entender o principal papel da liderança cristã ao longo dos tempos: “fazer uma leitura precisa do mundo e instruir os cristãos como viver pelos princípios das escrituras, pois eles são eternos e sempre contemporâneos”.
Mas talvez isso possa ser um exercício não muito fácil, pois o próprio evangelho acompanhou a tendência ao subjetivismo. Aquela que era absoluta, a Bíblia, agora também já é tida como relativa, ou seja, talvez a aplicação desses princípios não sejam eternos em termos de cumprimento, mas só no sentido de existência, ou seja: isso funcionava assim naquele tempo; os tempos são outros agora, e é preciso tornar o antigo mais atual.
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A isso alguns chamam de contextualização, mas segundo a própria Bíblia ensina, trata-se de desvio da fé, ou da sã doutrina.
“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência;” I Timóteo 4.1-2.
Por contextualização a igreja deve considerar os métodos de aplicação, ou seja, a forma, mas nunca o conteúdo, e em todo tempo, através de uma liderança atenta e bem experimentada na filosofia, psicologia e outras ciências sociais, mas principal e inegociavelmente nas escrituras, para que possa promover o ensino bíblico, pois para isso fomos chamados. Alguns entre nós temos condenado o aprofundamento da igreja nas ciências chamadas humanas, o que é um posicionamento extremo a ser evitado. Nomes como Aristóteles, Platão, Nietzsche, Durkheim, Freud, Foucault, Descarte, Kant, Marx, Rousseau, Feuerbach e muitos outros contribuíram e muito, não para propagação do evangelho, pois todos de fato foram opositores ferrenhos da sã doutrina, mas certamente ajudaram a testar a fé dos grandes homens de Deus, que aprovados, sustentaram e continuam a sustentar o senhorio intelectual criador, provedor e dominador absoluto de Deus em Cristo. O que esses grandes homens fizeram contribuiu muito para nos levar ao real conhecimento de quem somos e de quem é Deus.
Um desafio e tanto para todo líder cristão é definir a sã doutrina, aliás, essa matéria é muito intrigante e tem alimentado os debates teológicos ao longo da história. Devido as tendência que surgiram, algumas boas e outras nem tanto, existe um único fator que as credenciam como evangelho verdadeiro.
“Você, porém, homem de Deus, fuja de tudo isso e busque a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão”. I Timóteo 6.11.
O texto acima esclarece que a sã doutrina não se evidencia em teorias, ideias ou pensamentos, mas na prática diária daquilo que se diz crer. Uma característica comum a todos os grandes pensadores é a de não se preocuparem em dar soluções prontas para os problemas da humanidade, de não influenciarem pessoas segundo padrões pré-definidos, mas antes dar à liberdade de ação um valor acima de qualquer outro bem, ou seja, uma supervalorização dos conceitos e uma total falta
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de comprometimento com ações práticas ou direcionamentos que produzam qualquer mudança de vida prática. Já o evangelho, ao contrário, tem a proposta de direcionar todo homem, primeiro ao conhecimento de Deus, e depois a submissão a sua vontade soberana, exercitada em amor. Ao homem cabe reconhecer em Deus e na sua providência graciosa o único referencial de vida possível para o seu bem estar e felicidade, mas este ideal se opõe a tudo que se ensina no mundo e nas ciências humanas. Por elas o homem está no controle e Deus é só mais uma teoria ou conceito abstrato sobre o qual a humanidade deve meditar a respeito. Paulo, apesar de letrado e culto, era extremamente prático; seus ensinos também assim são, e dessa forma ele finaliza essa sua valiosa instrução a Timóteo e a nós como seus discípulos amados. Ele se preocupa em exortar aos trabalhadores e escravos cristãos a viver a sã doutrina, ou seja, pregá-la não só por palavras, mas por ação, mesmo em sujeição e situações de extrema humilhação. Segundo suas palavras, existe uma eficácia muito maior no discipulado quando vivemos o evangelho pagando o preço em nós mesmos, nos submetendo até mesmo, se preciso for, a situações incômodas e humilhantes, para que sejamos de fato reconhecidos como filhos de Deus, alcançados pelo amor e pela graça de Jesus.
“Diante de Deus, que a tudo dá vida, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos fez a boa confissão, eu lhe recomendo: Guarde este mandamento imaculado, irrepreensível, até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo,” I Timóteo 6.13-14.
Ao ricos,  ele conclama que sejam instruídos a dependerem de Deus e a rejeitarem o orgulho natural a todo aquele que se vê suprido em todas as suas necessidades materiais. Temos lido muitas histórias interessantes de homens e mulheres, que embora ricos, se lamentaram muito de não poderem comprar de volta sua saúde perdida, seus filhos nas drogas e a própria felicidade, pois depositaram toda sua expectativa de vida no dinheiro e na riqueza construída; o final de muitos desses é de angústia e dor, e de uns poucos, de arrependimento e experiência com Deus. Alguns sabendo da sua condição finita edificam fundações para promoverem melhores condições para aqueles que padecem do mesmo mal ou enfermidade, mas por motivações que não os farão herdar a paz eterna, apenas por boa ação ou por saberem que não poderão usufruir dos favores da herança acumulada ou na tentativa de serem recompensados num futuro incerto por boas obras, quem sabe?
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Percebemos que a dependência humana é muito maior do que o próprio homem pode dar conta. Apesar de toda tentativa da ciência, de todas as teorias dos grandes pensadores, de toda autovalorização propagada e de todo recurso material angariado, o homem não se sustenta sem Deus. Ainda que não se possa provar isso ou a própria existência divina nos termos científicos, todos nós veremos e conheceremos o Seu Poder Eterno quando Jesus novamente estiver diante de toda humanidade para, tendo julgado, salvar alguns e condenar  outros a maior de todas as tragédias humanas, o inferno e a separação eterna de Deus.
“Dessa forma, eles acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida”. I Timóteo 6.19.
Chegamos ao fim desse estudo, que tem por título o discipulado cristão não por acaso, pois foi isso que Paulo fez na vida de Timóteo: primeiro o alcançou e conquistou sua confiança; depois  ensinou-lhe as doutrinas básicas para sua salvação; mais tarde, o fundamentou naquilo que ele mesmo chamou de todo conselho de Deus, a sã doutrina, e então o enviou à prática e ao serviço cristão, com a missão simples de cuidar dos seus irmãos, que viviam um estágio anterior ao seu, ou seja, precisavam ser feitos discípulos, serem ensinados, exortados a perseverança e a prática da religião verdadeira em Jesus Cristo.
Portanto mais do que simplesmente conhecermos um pouco mais da Bíblia ou de Paulo ou de Timóteo ou da cultura e do contexto de Éfeso, nosso objetivo é de nos preparar melhor para os desafios da vida cristã. Num mundo que vive sob tanta influência intelectual, o que a humanidade menos precisa é de conceitos ou teorias, que ela mesma conhece como “fábulas do cristianismo”, e isso ocorre porque nós, a igreja desse século, também temos sido muito mais teórica e conceitual do que prática. Nossos valores morais, no geral, não são condizentes com nossos atos; o comportamento da igreja contemporânea não representa o que de fato é o evangelho.
Portanto amados irmãos, saiamos das nossas salas de aula e de conferências para dar a experimentar ao mundo aquilo que Paulo chama de “O Poder de Deus”, uma palavra viva e eficaz que é capaz de levar o mais inteligente dos homens, ou o mais rico dos homens, ou ainda o mais amargurado e desamparado ser humano à esperança e a paz que excede todo e qualquer entendimento (ciência) humano.

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LIÇÃO 07                                               31 MAR

SE LIGA AÍ TIMÓTEO: MEDO E MINISTÉRIO ECLESIÁTICO NÃO COMBINAM! –     Prof. Isac

II TIMÓTEO 1

1 - PAULO, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus,
2 - A Timóteo, meu amado filho: Graça, misericórdia, e paz da parte de Deus Pai, e da de Cristo Jesus, Senhor nosso.
5 - Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti.
6 - Por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos.
7 - Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.
8 - Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso SENHOR, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus,
9 - Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos;
10 - E que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho;
11 - Para o que fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios.
12 - Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia.
13 - Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus.
14 - Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós.
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Antigamente, nos dias de Paulo, as cartas gregas seguiam um padrão bastante rígido: nome do remetente, nome do destinatário, e uma breve saudação. Embora se utilize desse padrão, Paulo inovou, desenvolvendo um estilo próprio. Então, nesta segunda carta, assim como na primeira, e em tantas outras, ele enfatiza que é apóstolo de Cristo e não apenas um representante da igreja local. Ele começa, portanto, falando um pouco dele próprio, e depois passa a encher a bola de Timóteo, seu filho na fé, seu discípulo, e, neste momento da vida, seu braço direito. Paulo dá uma moral a Timóteo para que ele permaneça firme em sua fé, para que permaneça fiel, citando, inclusive, a piedade que ele herdou da família. É como se ele estivesse dizendo a Timóteo: “Bichinho, lembre-se da fé que herdou da sua família, do quanto foram fiéis ao Senhor, e seja também.  Lembre-se de sua ordenação ao ministério pastoral, inclusive pela imposição de minhas próprias mãos; e por fim lembre-se que essa parada de medo, de temor, de fragilidade são incompatíveis com o ministério. Você é um cabra arretado, um sujeito forte, e precisa permanecer assim. Ói, você vai sofrer um bocadinho, mas é assim mesmo, enfrente as dificuldades. Não entre nessa paranóia evangélica brasileira (herança norteamericana) de que Deus nos chama somente para as belezuras. Veja o meu caso. Tenho momentos de belezuras, mas o Senhor me chamou para o martírio. Não se envergonhe disso, bichin. Não fique acanhado porque o seu líder está preso. Estou sim, mas não que tenha cometido crimes contra a sociedade, estou preso pelo evangelho, e por esta causa, tudo vale a pena.”
O medo, meus irmãos e minhas irmãs, nos congela. É bom lembrar que a sensação de medo muitas vezes é necessária para nos impedir de fazer determinadas coisas que envolvem riscos desnecessários. Mas quando ele nos paralisa, aí já não serve. Se você tem medo de ser avaliado o tempo todo, se tem medo de críticas, medo de ser incompreendido, injustiçado, rotulado, então o ministério eclesiástico é incompatível para você. E não estou falando apenas de ministério pastoral, mas de qualquer ministério.
Todos nós convivemos com o medo, mas precisamos vencê-lo. Vamos ler um texto lindo do nosso poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, intitulado CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO, e vamos refletir um bocadinho sobre isso, antes de tocarmos o bonde:

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“Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
            Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços;
            não cantaremos o ódio porque esse não existe,
            existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro:
            o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
            o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas.
            Cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
            cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
            depois morreremos de medo
            e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas”.
Era esse medo aí que Paulo não queria que Timóteo sentisse, um medo que deixa os abraços mais frios, mais distantes ou até inexistentes; um medo de não se envolver com as pessoas para não se decepcionar, um medo de amar. Drummond fala de pessoas tão medrosas, tão medrosas, que mesmo depois da morte, nascerão sobre seus túmulos flores amarelas de medo.
Essa orientação de Paulo a Timóteo sobre ser forte me lembra bastante as palavras de Deus para Josué, no Velho Testamento. Vamos comparar:

JOSUÉ 1

6 - Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria.
7 - Tão somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que andares.
8 - Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido.
Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o SENHOR teu Deus é contigo, por onde quer que andares.
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EU SEI EM QUEM TENHO CRIDO – verso 12

Esta certeza de Paulo é fundamental para o seu ministério e para o ministério de qualquer um de nós, a convicção de em quem cremos, e no que cremos. Tanto no caso de Josué quanto no caso de Timóteo, a orientação é a mesma: “Não se aparte do livro. Segue as orientações nele registradas. Nada de ficar tomando decisões a partir, simplesmente, de supostas revelações, nada de sair por aí consultando os ‘videntes evangélicos’. Leia, busque a orientação de Deus. Nada de medo. Seja forte. Estarei contigo”.
Companheiros e companheiras, eu não acredito no bom desempenho ministerial de ninguém que não seja um leitor. As pessoas que não leem falam sobre o quê? Pregam sobre o quê? E as pessoas que ouvem entendem o quê? O chamado ministerial é por conta de Deus, claro, mas a preparação para exercer esse chamado fica por nossa conta. Como foi dito para Josué: “não se aparte do livro”. E como foi dito para Timóteo: “conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido.” Sem conhecimento, qualquer liderança fracassa. O líder precisa ter compromisso com a verdade libertadora do evangelho: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” – João 8:32


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LIÇÃO 08                                               07 ABR

OBREIRO APROVADO, MARTÍRIOS E BELEZURAS –     Prof. Isac Machado de Moura

II TIMÓTEO 2

1 - TU, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus.
2 - E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.
3 - Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo.
4 - Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.
9 - Por isso sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa.
10 - Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna.
11 - Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos;
13 - Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.
15 - Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
16 - Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade.
22 - Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor.

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Aqui, Paulo reforça a necessidade de que Timóteo, seu filho na fé, e agora seu colega de ministério, se fortaleça na graça de Deus.  Ele recomenda que tudo aquilo que Timóteo ouviu dele, na presença de várias testemunhas, aplique no seu ministério. Provavelmente, Paulo se refere ao que disse no dia do batismo, ou mais provavelmente, da ordenação de Timóteo ao ministério pastoral. E acrescenta que ele precisa compartilhar seu conhecimento, sua experiência com outros homens aplicados ao ministério do ensino para que estes se tornem multiplicadores daquilo que ensinou, ou seja, do evangelho apostólico. Paulo chega a usar a expressão “meu evangelho” se referindo não a um evangelho particular seu, mas ao evangelho de Cristo, que é o tema de sua pregação, de seu ensino.  Claro que outros “evangelhos”, outras “teologias” rondavam as igrejas, e Paulo chega a citar nominalmente dois companheiros que andavam pregando algo em contrário em relação ao evangelho de Cristo, e com esse ensino estavam criando uma ansiedade nas pessoas, uma vez que afirmavam que a ressurreição “geral” já havia acontecido. Paulo orienta então que determinadas polêmicas não são úteis para a maturidade espiritual das pessoas, e criam confusão. Timóteo deve, portanto, manter distância desse tipo de coisas. Não é que temas polêmicos devam ser evitados, é que algumas coisas não valem a pena serem discutidas em público ou defendidas como verdade única, absoluta. Por exemplo, um debate sobre “livre arbítrio” e “predestinação” pode, certamente, ser uma coisa muito positiva e enriquecedora, desde que ambas as partes não se achem donas da verdade. Levar as pessoas a pensar sempre é positivo, mas dizer, por exemplo, que o único batismo válido é aquele feito por imersão, para alguém que acabou de se converter na igreja presbiteriana, é uma bobagem que vai atrapalhar muito mais que ajudar. É mais ou menos de algo assim que Paulo está falando.
O “não embaraçar-se com negócios desta vida”, no verso 4, não quer dizer que aqueles que são chamados para o ministério não possam ter uma atividade profissional fora da igreja. Tem a ver sim com qualquer coisa que “atrapalhe” a realização do seu ministério. A ideia da dedicação de tempo integral para os pastores é plausível, mas nem todos que se dizem de tempo integral, infelizmente, se dedicam de tempo integral. De qualquer forma, a questão aqui, no verso 4, não é essa.

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Embora preso, e, de certa forma “envergonhado” por isso, Paulo diz que a Palavra de Deus não está presa junto com ele. Ela continuava e continua alcançando as pessoas.  Os versos 10 e 19 são usados, com frequência, pelos companheiros calvinistas, que defendem a predestinação. E faz sentido o que dizem a partir desses textos. Mas ainda assim prefiro acreditar que  a partir do sacrifício de Cristo, que foi por toda a humanidade e não por uma parte dela, todos nós fomos predestinados e escolhidos para a salvação. Quanto ao 19, “o Senhor conhece os que são seus”, nenhuma dificuldade. Ele nos conhece, assim como o conhecemos. Sobre isso é bom dar uma olhadinha em João 3:16 (“todo aquele que nele crê...”); At 16:31 (“crê...e serás salvo...).
A ideia de morrer e viver, no verso 11, certamente está relacionada ao batismo nas águas e não, nesse caso, a um chamado para o martírio. Na simbologia do batismo, quando imergimos, é como se estivéssemos sendo sepultados junto com Cristo; e quando emergimos, ressuscitamos junto com ele, uma nova criatura, portanto.
DEUS PERMANECE FIEL –  verso 13
A fidelidade de Deus para conosco, assim como o Seu amor, é absolutamente incondicional, independe de nós. Não podemos usar isso para justificar nossos pecados, mas por outro lado, não podemos ignorar que nenhum pecado, por maior que seja, é maior que a graça de Deus. Ele não nos ama menos quando erramos, quando pecamos. O Seu amor continua com a mesma intensidade. A necessidade de punir, de “excluir” tem uma demanda social. É a igreja que pune, já que é um grupo social e que precisa dar satisfações a comunidade interna e externa, conforme o caso. E essa punição não deveria significar abandono ou afastamento das pessoas. Deus jamais nos exclui. Ele nos ama, apesar de nós.
OBREIRO APROVADO...QUE NÃO TEM DE QUE SE ENVERGONHAR....
Essa orientação é muito linda, muito intensa. Em nosso contexto brasileiro, volta e meia somos surpreendidos com notícias de um obreiro que transportava dinheiro indevido em local impróprio; de um obreiro envolvido com milícia; de um obreiro que abandonou o ministério e se envolveu com política partidária ou, pior ainda, que se envolveu com política partidária sem abandonar o ministério, e que, de bônus, está envolvido em corrupção e por aí vai. Quantos obreiros poderão, no fim dos seus ministérios ou em algum momento dele, fazer o que esse cara fez? Me refiro a Josué (I Samuel 12:3): “Eis-me aqui; testificai contra mim perante o SENHOR, e perante o seu ungido, a quem o boi tomei, a quem o jumento tomei, e a quem defraudei, a quem tenho oprimido, e de cuja mão tenho recebido suborno e com ele encobri os meus olhos, e vo-lo restituirei.”
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No fim do seu ministério, esse cabra reúne o povo e o desafia dessa forma. Eta! Sujeito arretado! Obreiro aprovado, que não tem do que se envergonhar. Tem que ter muita segurança, muita moral pra fazer isso. Que seja esse o modelo para todos nós, obreiros, ministros da igreja de Deus.

AS PAIXÕES DA MOCIDADE – verso 22
Este versículo tem ligação direta com I Tm 4:12. Claro que numa primeira leitura do verso 22, somos tentados a achar que Paulo está se referindo a sexualidade de Timóteo, aos desejos da juventude, mas não parece ser essa a ideia central. Quando associamos com 4:12  e com 6:11 da primeira epístola, fica mais claro que a intenção é que Timóteo, enquanto líder e jovem, se liberte da intolerância, do temperamento explosivo, do apego às coisas materiais, tornando-se maduro, justo, tolerante, e obtendo, assim, o respeito de seus liderados. Qualquer líder muito jovem está mais exposto a determinadas tentações que não se limitam àquelas que envolvem sexo.
É como se Paulo estivesse dizendo ao seu pupilo: “cara, você é bom, mas não seja auto-suficiente, mesmo que seja tentado a isso. Ao invés disso,  ‘segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor’. Ou seja, dialogue, companheiro. Você não é dono da igreja, simplesmente está a serviço dela. Não ache que pode resolver tudo por decreto. Aí tem gente que pensa diferente de você, mas que quer a mesma coisa, o bem estar da igreja de Deus. Ouça esses caras, converse, dialogue. Fuja da tentação de liderar por decreto. É mais fácil, porém está longe do ideal”
No contexto evangélico brasileiro, muitas “lideranças” têm governado (liderado?) por “decretos canônicos” inquestionáveis. Para garantir a inquestionabilidade de suas decisões recorrem ao tradicional “cuidado, com o ungido de Deus”. Esta frase tornou-se um amuleto para espantar aquelas criaturas “possuídas pelo espírito de rebeldia”, que é um jeito medieval de se referir a quem deseja maiores detalhes, a quem deseja o porquê de uma decisão. Esses líderes não aprenderam com Paulo, evidentemente, aprenderam com os nossos ditadores dos anos 60 e 70. Questionou, discordou? Então  espanca, tortura, prende, mata, oculta o cadáver. Se pensa diferente, mata! A orientação paulina a Timóteo é: “se pensa diferente, dialogue.”  O diálogo, companheiros e companheiras nos enobrece. Não se trata de sempre vencer o outro com nossos argumentos. Se trata de ouvi-lo, compreendê-lo, respeitá-lo, mesmo que continuemos pensando diferente. Diálogo sempre. Decreto nunca.

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LIÇÃO 09                                               14 ABR

O EVANGELHO DE VERDADE, OS FALSOS MESTRES E OS TEMPOS DO FIM –    Prof. Isac

II TIMÓTEO 3
1 - SABE, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
2 - Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos,
3 - Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons,
4 - Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,
5 - Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.
6 - Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências;
7 - Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade.
8 - E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé.
9 - Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles.
10 - Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência,
11 - Perseguições e aflições tais quais me aconteceram em Antioquia, em Icônio, e em Listra; quantas perseguições sofri, e o SENHOR de todas me livrou;
12 - E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições.
13 - Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados.
14 - Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido,
15 - E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus.
16 - Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça;
17  Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.
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Neste capítulo, Paulo faz uso de uma literatura apocalíptica para apresentar a Timóteo uma breve descrição dos últimos dias que antecederão a volta de Cristo, que, diga-se de passagem, era esperada para aqueles dias. Essa apresentação apocalíptica mistura-se ao que acontecia na sociedade de Éfeso naquele momento. Essa lista de coisas horrorosas, de adjetivos depreciativos segue atualizada. Vivemos entre pessoas assim, e alguns de nós somos assim, dignos de pelo menos um adjetivo desses aí. Amantes de si mesmo temos um monte de gente. São os egoístas. Aqueles para quem o outro é apenas o outro. Os implacáveis são aqueles que não sabem dialogar, aqueles que estão sempre certos e todos os outros errados, aqueles que não sabem ouvir. Muitas das criaturas de Éfeso, dos dias de Timóteo detinham tais adjetivos, mas mantinham a aparência de piedade (santidade), davam até a impressão de que acreditavam na graça de Deus, mas negavam a eficácia dela. Se aproveitavam da aceitação que conquistavam na comunidade para perverter o povo, indo às casas, inclusive.
Segundo minha assessoria para assuntos de grego, essa expressão “mulheres néscias” originalmente seria o equivalente a “mulherinhas”, um diminutivo irônico, de teor negativo, para referir-se a mulheres que por falta de conhecimento se deixavam levar por qualquer novidade doutrinária.  Essas mulheres eram, na minha concepção, pessoas do bem, porém mal informadas, e mal informadas porque o conhecimento lhes fora negado mesmo por muito tempo. Então elas eram ávidas pelo saber. O problema é que não tinham discernimento para separar o ensino apostólico do ensino herético. Elas se abriam para qualquer novidade, tornando-se, portanto, presas fáceis. Então Paulo em sua “delicadeza” no trato com as mulheres, registra que elas “aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade”. Ou seja, hoje aprendiam com Timóteo, mas se amanhã fossem visitadas por essa turma que Paulo critica, elas passavam a seguir aqueles ensinos.
Na sequência, Paulo se volta para os homens, os corruptores, no caso, os falsos mestres, e traça um paralelo entre eles e os mágicos de Faraó. Esses nomes, Janes e Jambres, não constam na narrativa do Velho Testamento, mas constavam de outras literaturas conhecidas de Timóteo, interlocutor da carta. Paulo tenta tranquilizar seu pupilo, dizendo para ficar alerta, porém tranquilo, uma vez que os falsos mestres que andavam minando o trabalho apostólico não irão a frente, que seriam desmascarados, assim como aconteceu com os tais mágicos de Faraó.

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No verso 10, Paulo cita seu modelo, seu exemplo, para Timóteo, lembrando de que é mesmo isso que ele deve seguir. Quando ele fala em “minha doutrina”, está falando em “minha teologia”, está falando no ensino apostólico. Então é essa teologia que Timóteo precisa viver e ensinar; é o modelo de vida do seu mestre, Paulo, que ele deve seguir; é a fé em Cristo que ele deve professar, e isso independente de perseguições. Na sequência, Paulo registra que todos aqueles que seguem a Cristo de verdade, sofrerão perseguições. Não tomemos, irmãs e irmãos, isso como modelo de vitimização para os nossos dias. Hoje, fazermos o discurso de que somos vítimas dessa sociedade ou do governo, é bobagem. Nós, brasileiros, vivemos um clima de liberdade religiosa tão pleno, que muitos de nós não estamos sabendo desfrutar, e estamos achando que essa liberdade só deve se aplicar aos cristãos, o que é um equívoco. Dizer que a sociedade hoje nos persegue não faz sentido. Dizer que a legislação que trata de barulho nas igrejas é perseguição religiosa é desconhecer o direito do outro, de quem não está dentro da igreja. Dizer que o governo nos “persegue” quando oficializa a passeata gay ou os direitos homossexuais, é desconhecer que o estado é laico. Aliás, é bom lembrar que o mesmo governo petista “perseguidor de cristãos” que oficializou a passeata gay, oficializou também a “marcha para Jesus” através da Lei Federal 12.025/2009. Aliás, se a tal marcha para Jesus foi proposta pela nossa bancada evangélica para fazer frente a passeata gay, alguma coisa está bastante errada. Quero acreditar que não tenha sido essa a intenção. Também não quero acreditar que tenha sido para auto-promoção de algumas personalidades políticas evangélicas. Estou “viajando”. A intenção foi promover o evangelho de Cristo. Deve ter sido.
Mais uma vez, no verso 13, Paulo fala dos homens maus, e diz que eles irão de mal para pior, reforçando, na sequência, que Timóteo deve permanecer naquilo que aprendeu. Ele recorre ainda ao que Timóteo aprendeu desde a sua infância, ressaltando o conhecimento do mesmo e a importância dos seus mestres. A questão aqui é o que sabe, e com quem aprendeu. As credenciais, a autoridade de quem ensina é fundamental nesse processo.
Ensinar, queridos e queridas, é levar as pessoas a descobrirem determinadas coisas que já estão dentro delas, talvez adormecidas, e que precisam apenas ser despertadas. Não é apenas transmitir conhecimento, é também transmitir valores, princípios, exemplos, afeto.
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É apresentar as diversas possibilidades, os pontos de vista diversos sobre determinado tema, e não apenas o ponto de vista do mestre. Por fim, me desculpem, mas em 19 anos de magistério profissional e 26 de magistério cristão, ainda não aprendi a ensinar sem dar minha opinião. Nós que ensinamos, que pregamos, somos formadores de opinião. Contribuímos para que o outro, a quem servimos, tire suas próprias conclusões diante dos mais diversos temas. Não sei fazer isso sem dar minha própria opinião. Aliás, vejam se não é isso que Paulo está fazendo com Timóteo. O tempo todo o apóstolo emite sua opinião, até mesmo em relação a determinadas pessoas das quais até os nomes ele cita. Parece que ensinar também é isso.
Esse negócio do ensinador emitir sua opinião é tão comum na prática, tão comum no texto bíblico, que Paulo chega a abusar desse recurso, e aceitamos como canônico aquilo que o próprio Paulo está dizendo que é apenas a opinião dele: “...Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe...” A opinião dele segue pelos versículos seguintes, e aceitamos como texto canônico. Mas ele é Paulo, né? Ele pode. Ok.
16  - Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça;
A Escritura, que é divinamente inspirada, é proveitosa para ENSINAR, ARGUMENTAR (redarguir), para CORRIGIR, para INSTRUIR em justiça. Não aparece na lista paulina verbos como: manipular, aterrorizar, impor medo, condenar.
Paulo está dizendo ao seu pupilo, em outras palavras, que a Bíblia precisa ser sua regra de fé e prática, que seu ensino precisa partir dela, que sua vida precisa refleti-la, que ele precisa ensinar sem abrir mão do senso de justiça, que precisa ensinar a própria justiça para os seus seguidores, e toda justiça precisa partir do pressuposto de que somos todos iguais.
Voltando rapidinho a questão das mulheres, essas questões citadas por Paulo, tanto na primeira epístola quanto nesta, não são suficientes para afirmar que mulheres não podem ser pastoras. Claro que podem. Não há argumentos bíblicos para impedir que sejam. Há sim argumentos masculinos (no Cristianismo, os homens sempre mandaram) que denotam um certo medo de concorrência. Nada mais que isso.

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LIÇÃO 10                                               21 ABR

COMBATENDO O BOM COMBATE ... GUARDANDO A FÉ... - Prof. Isac M. Moura

II TIMÓTEO 4

1 - CONJURO-TE, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino,
2 - Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.
3 - Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;
4 - E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.
5 - Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.
6 - Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo.
7 - Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.
8 - Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.
9 - Procura vir ter comigo depressa,
10  Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia.
11 - Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério.
12 -Também enviei Tíquico a Éfeso.
13 - Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos.
14 - Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras.
15  -Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras.
16 - Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado.
17 - Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão.

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Neste capítulo, o apóstolo Paulo continua apresentando a Timóteo um quadro desolador. Ele fala de um tempo, próximo, em que as pessoas não mais suportariam a sã doutrina. Elas teriam comichão no ouvido, ou seja, teriam “coceira” por coisas mais fáceis, por coisas que desejariam ouvir. E diante disso, o apóstolo orienta o jovem pastor a insistir na pregação da palavra, no ensino do evangelho apostólico que havia recebido, na sã doutrina.
Todos os meus leitores e ouvintes sabem perfeitamente que não sou dado a tradições, mas nem por isso acho que o novo esteja sempre certo, que seja sempre o melhor. Há muitas coisas aproveitáveis nas tradições, assim como nas novidades, nas modernidades. A questão toda é saber dosar, administrar, pegar o que há de melhor nas tradições e nas novidades, mas sem negociar os princípios eternos da Palavra de Deus.  Paulo, naquele tempo, já tinha forte preocupação com isso. Ele não queria que a igreja em Éfeso corresse o risco de abraçar todas as novidades em detrimento da sã doutrina. Nada substitui a sã doutrina, o conhecimento bíblico. Assim como no contexto em que o apóstolo escreve, hoje também vivenciamos um tempo em que as novidades, as historinhas, as fábulas, o enriquecimento fácil e milagroso proposto pela teologia da prosperidade vem tomando o lugar da sã doutrina em muitas comunidades evangélicas. Então é como se as pessoas escolhessem o que querem ouvir. Elas não querem ouvir sermões reflexivos, sermões expositivos, elas querem ouvir sermões de prosperidade; adoram ouvir coisinhas a que chamam de “ministrações”, do tipo: “o melhor de Deus está por vir”, “aquilo em que você tocar, será seu”, “tome posse”, “Deus tem um projeto tão bonito para você que seus vizinhos vão morrer de inveja”, “você será restituído de tudo aquilo que o diabo te tomou”, e por aí vai. Então elas choram, se emocionam, mas não experimentam nenhuma transformação. É uma “doutrina”, uma “teologia”, um “evangelho” descartável, apenas para aquele momento. Pouco depois da tal ministração mágica, tudo volta ao que era antes. É secar as lágrimas e tocar o bonde.

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Isso, companheiros e companheiras, passa bem longe do que Paulo chama de “sã doutrina”. São “fábulas”, contos de fadas, auto-ajuda, qualquer coisa, mas em hipótese alguma, sã doutrina. Pregue a sã doutrina e tenha uma pequena comunidade; pregue as fábulas, as “ministrações mágicas” e tenha uma comunidade numericamente grande, mas sem qualidade, sem conhecimento, sem argumentos para defender sua fé. Amanhã ouvirão outras coisas, outras novidades, e lá estarão essas pessoas.
Quando Paulo fala para Timóteo ser sóbrio, equilibrado, ele está pensando em bebida mesmo, em vinho forte. Está orientando-o para que não se embriague, para que faça uso do vinho apenas conforme a orientação contida em  1 Tm 5:23. Na sequência, a orientação é para que se prepare para, em nome do ministério, sofrer as aflições. Até porque pouco tempo depois, ele teria que seguir sozinho, uma vez que o apóstolo sente que sua morte se aproxima.

COMBATI O BOM COMBATE...

Esta referência nada tem a ver com qualquer aspecto militar. Paulo não está falando de guerra. Está falando de uma competição atlética, uma luta romana, provavelmente, comparando isso a luta diária para anunciar o evangelho. E por falar nisso, vamos refletir um pouquinho sobre uma das “novidades” da igreja evangélica brasileira: a linguagem de guerra. Parece que muitos de nossos irmãos compositores, cantores, ministros optaram por deixar de lado a mensagem de amor do evangelho de Cristo, a mensagem da graça ilimitada de Deus, e resolveram explorar até o limite da encheção de..., quer dizer, até a exaustão, a linguagem de guerra do Velho Testamento, do período anterior a graça de Deus em Cristo. Podemos começar com “nosso general é Cristo”, lá dos anos 80 ou 90 e seguirmos até hoje e nos surpreenderemos com a ideia de vingança gospel, combate militar gospel, batalha espiritual, “aquele que luta as nossas guerras” e por aí vai.

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Nada contra o Velho Testamento, texto potencialmente judaico; mas tudo a favor do evangelho de Cristo, da mensagem de amor e de graça do Novo Testamento. Gaste um tempinho durante a sua semana, faça uma releitura dos quatro evangelhos e procure, com uma lupa, essa linguagem bélica nas palavras de Jesus. Depois compartilhe comigo e com a sua classe. Se você prefere as ideias de vingança de Davi, tudo bem. Encha-nos a paciência com musiquinhas de guerra. Eu, porém,  prefiro a graça dos evangelhos. “Sim, eu amo a mensagem da cruz... té morrer eu a vou proclamar...”
Daí pra frente, a carta toma um tom ainda mais pessoal. Paulo vai citando nomes de pessoas que lhes causaram problemas, de pessoas que ele quer ver, de pessoas que o abandonaram. É notório um certo ressentimento em suas palavras. Nada pode ser pior, para um ser humano, que a sensação de abandono, de pouca importância. Às vezes, infelizmente, a igreja se comporta como uma empresa. Então, enquanto estamos produzindo, enquanto estamos ativos, servindo em nossos respectivos ministérios, somos pessoas fofas. Aí um dia adoecemos (aquelas doenças de longa duração) ou “caímos” (aqueles pecados “capitais”), pronto, nos tornamos “leprosos”, vamos sendo esquecidos gradativamente, sendo banidos da comunidade dos “santos pecadores”, sendo abandonados. E aí os anos de trabalho, de dedicação ao ministério, de tudo o que produzimos em prol da comunidade já não têm nenhuma importância. E isso, claro, dói bastante. Paulo está sentindo-se abandonado por muitos. Ele não cometeu “nenhum crime”, mas está preso. Não é confortável ser amigo de um preso, estar muito junto de um preso. Daí o abandono. Além do tempo de espera. Para os livres, a vida seguia seu fluxo, e alguns foram cuidar de suas vidas, meteram o pé. Outros foram designados pelo próprio Paulo para alguma tarefa.  O apóstolo está entristecido, mas vive a expectativa de ver Timóteo antes de partir. Somente Lucas permanece com ele, e ele se alegra com isso. A presença de um amigo nos momentos de dor, solidão, incompreensão é tudo de bom. Paulo visualiza sua partida, sua coroa: “...levarei eu também minha cruz té por uma coroa trocar...” “Combati o bom combate, encerrei  a carreira, guardei a fé. Desde agora a coroa da justiça me está guardada...”




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LIÇÃO 11                                               28 ABR

A EPÍSTOLA DO APÓSTOLO PAULO A FILEMON     –    Pr. Daniel Albuquerque Velozo

INTRODUÇÃO
Falar sobre mensagens deixadas pelo apóstolo Paulo, creio ser muito difícil, pois ele era um filósofo, poliglota (falava quatro idiomas), e tinha duas cidadanias; era um homem mais intrépido do que o apóstolo Pedro, pois ele mesmo chama a atenção de Pedro em público. Paulo não era igual aos demais apóstolos, pois em seu encontro com o mestre, ele começa já caindo do cavalo, para nos mostrar que só o Senhor pode levantar um homem cego.
Filemon é a única carta “particular” de Paulo, no sentido de que não foi oficialmente dirigida a uma congregação ou a um superintendente responsável, mas sim a uma determinada pessoa, e tratou unicamente do problema especial que o apóstolo queria considerar com esse irmão cristão, o aparentemente abastado Filemom, que residia na cidade de Frígia de Colossos, bem no coração da Ásia Menor.
A carta foi mui provavelmente escrita por volta de 60-61 a.C, visto que, com certeza, o apóstolo Paulo já pregara em Roma o tempo suficiente para fazer conversos. Também, visto que, no versículo 22, ele expressa esperança de ser libertado, podemos entender que a carta foi escrita depois dele já estar preso por algum tempo. Parece que estas três cartas, uma para Filemom e aquelas para as congregações de Éfeso e Colossos, foram encaminhadas por meio de Tíquico e Onésimo. Ef. 6.21, 22; Cl. 4.7-9.
Que o Apóstolo Paulo foi o escritor de Filemom torna-se evidente no primeiro versículo, onde ele é mencionado por nome Fm 1.1.
Ela não contém instrução alguma direta referente a doutrina ou conduta cristã. O seu valor principal encontra-se no quadro que nos oferece do funcionamento prático da doutrina cristã na vida diária e da relação do Cristianismo com os problemas sociais.
O Apóstolo Paulo tinha advertido os proprietários de escravos sobre sua responsabilidade para com eles. Além disso, ele apresentou esses escravos como responsáveis seres morais que deviam temer a Deus.
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Em Filemom, o apóstolo Paulo não condenou a escravidão, mas apresentou Onésimo como um irmão cristão, em vez de um escravo. Quando um proprietário pode se referir a um escravo como um irmão, o escravo chegou a uma posição em que o título jurídico de escravo não tem mais sentido.  A igreja primitiva não atacou diretamente a escravidão, mas estabeleceu as bases para um novo relacionamento entre proprietário e escravo. Paulo tentou unir Filemom e Onésimo com o amor cristão de modo que a emancipação seria necessária. Somente após a exposição à luz do Evangelho é que a instituição da escravidão poderia morrer.

APLICAÇÃO PARA HOJE

Apesar da carta a Filemom ser bem pequena, ela apresenta uma série de ensinos preciosos ao relacionamento cristão. Um destes ensinos é que a distância não apaga conflitos entre dois irmãos em Cristo. Todos os crentes em Jesus não podem deixar pendentes problemas de relacionamento. Além disso, o perdão deve ser um testemunho público. Assim como Paulo enviou uma carta de perdão pessoal, mas ela estava endereçada a igreja, o crente deve ter a humildade de compartilhar com a igreja o perdão.
A carta a Filemom aborda  a igualdade de todos diante de Deus. Mesmo nos relacionamentos de autoridade e subordinação, o vínculo deve ser o amor em Jesus Cristo. Portanto, amor e perdão devem fazer parte dos relacionamentos, mesmo quando um deve ser submisso ao outro.
A mais breve das epístolas que integram o corpo de escritos paulinos e o Novo Testamento, a epístola de Filemom, pode ser considerada também como uma espécie de “bilhete” no qual o apóstolo Paulo tenta de forma persuasiva ajudar nas relações de Senhor/Escravo, não ausentando o caráter de epístola, que tem como característica sua leitura comunitária (o problema de Filemom foi a conhecimento de todos da comunidade, ao menos pela epístola de Paulo).
Filemom era um cristão da comunidade de Colossos, provavelmente uma pessoa de posses (o fato de ter escravos permite tal ideia), e de destaque na comunidade (v. 4, 7).  Onésimo, escravo fugido de Filemom, cometera uma ato injusto contra o seu senhor (v. 18), ato do qual não se sabe o que especificamente, e fugira.
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Este escravo teve um encontro com o apóstolo Paulo, no qual ele relatou toda a situação. Tal encontro pode ter sido com Paulo na prisão ou apenas uma tentativa de refúgio na companhia do apóstolo. Paulo pede a Filemom que receba Onésimo novamente como seu escravo em qualidade de irmão (v. 16) e como se fosse o próprio apóstolo (v. 17).

Escrita - Origem
Percebe-se um cuidado com os nomes colossenses citados por Paulo nesta epístola (Cl. 4.7-17). Percebe-se também que Paulo se encontra prisioneiro (v. 1, 9, 10, 23). Logo esta epístola foi escrita na mesma época de Colossenses.
Argumenta-se que foi o próprio Paulo quem escreveu o bilhete a Filemom, o que descarta a ideia de que ele tenha sido um prisioneiro algemado, mesmo quando cita em sua epístola aos colossenses (Cl. 4.3, 4, 18). O apóstolo Paulo talvez se referisse às algemas devido a impossibilidade de pregar tal como ele queria, uma vez que ele estava preso como que por algemas.
 Sustenta-se a ideia de que Paulo estivesse preso como um homem em “livre custódia”, tal como era em Roma (At. 28.30-31), o que lhe concedia certos privilégios, e um deles era ensinar pessoalmente ou por cartas, mas com algumas restrições.

Provavelmente seu lugar de aprisionamento era em ou perto de Éfeso. Isso é sustentado por dois trechos bíblicos: um é o fato de Paulo pedir aos colossenses, através da carta a Filemom, que preparassem para ele uma pousada porque parecia a ele que logo  seria solto (v. 22), e também por parecer congruente com seus planos na ocasião de seu ministério efésio (At. 19-20).

Segundo registros, o apóstolo Paulo nunca visitou a região de Colossos após sua partida de Éfeso. A situação de sua prisão e soltura fez com que ele se sentisse meio incomodado de voltar a tal região. Então ele prossegue com seu ardente plano de pregar em Roma (At. 20.16, 17; Fm. 23).

Uma vez em Roma, os planos do Apóstolo Paulo era continuar viagem até a Espanha. Devido esse desejo nasce outra hipótese, porém mais inconstante da origem da escrita do “bilhete” a Filemom.
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Segundo estudiosos, Paulo ainda estava em Roma quase de partida para a Espanha quando encontrou-se com Onésimo, quando este fugia para Roma procurando anonimato na cidade Imperial, o que seria um refúgio e início de vida para ele. Todavia este acabou se encontrando com Paulo, causando uma grande mudança nos planos do apóstolo.

Talvez Paulo tenha repensado sobre a forte e falsa doutrina a que Colossos estava sendo apresentada. Paulo pode ter revisado seu itinerário quanto à visita ao vale do Lico.
Ainda segundo estudiosos, mais uma indicação de que a epístola tenha nascido em Roma é o fato de Lucas e Marcos estarem na lista de Paulo (v.24). Lucas estava com Paulo em Roma e não se tem indícios de que ele esteve em Éfeso. Marcos é tradicionalmente associado com Roma, não com Éfeso. Porém não se pode afirmar com tanta certeza de que tal epístola foi escrita em Roma, baseando-se apenas no silêncio das maiores informações ou no vácuo de ligação entre elas. Logo, esta linha de evidência, considerada indecisiva e neutra, não caminha mais além do que isto.


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LIÇÃO 12                                               12 MAI

CONVERSÃO –  Pr. Daniel Albuquerque Velozo
O objetivo da carta é claramente revelado: durante a sua primeira prisão em Roma, o apóstolo Paulo tinha grande liberdade de pregar o Reino de Deus. Entre os que ouviram a sua pregação achava-se Onésimo, um escravo fugitivo da casa de Filemom, amigo de Paulo. Em resultado, Onésimo tornou-se cristão, e Paulo decidiu, com o consentimento de Onésimo, enviá-lo de volta a Filemom. Foi nessa ocasião, também, que Paulo escreveu cartas às congregações em Éfeso e Colossos. Em ambas, deu bons conselhos a escravos cristãos e a donos de escravos sobre como proceder corretamente nessa relação. (Ef. 6.5-9; Cl. 3.22-4.1). Foi uma carta escrita a próprio punho, algo incomum para Paulo. (Fm. 19) Este toque pessoal contribuiu muito para dar peso à sua súplica.
Onésimo ainda era propriedade de Filemom, e Paulo escreveu para suavizar o seu regresso ao seu mestre. Onésimo tornou-se um cristão (Fm. 10) como resultado da testificação de Paulo, o qual queria que Filemom aceitasse Onésimo como um irmão em Cristo e não meramente como um escravo.
GRAÇA E LEI
Talvez em nenhum lugar do Novo Testamento a distinção entre lei e graça seja tão bem retratada. Tanto a lei romana como a lei mosaica do Antigo Testamento deram a Filemom o direito de punir um escravo fugitivo que era considerado propriedade. Entretanto, o pacto da graça através do Senhor Jesus permitiu que o senhor e seu escravo desfrutassem de um companheirismo baseado na igualdade dentro do Corpo de Cristo. Empregadores, líderes políticos, executivos de corporações e pais e mães de família podem seguir o espírito do ensinamento de Paulo ao tratar os funcionários cristãos, companheiros de trabalho e membros da família como membros do Corpo de Cristo.
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Os cristãos na sociedade moderna não devem ver ajudantes como instrumentos para ajudá-los a alcançar suas ambições, mas como irmãos e irmãs em Cristo que devem receber um tratamento amável. Além disso, todos os líderes cristãos devem reconhecer que terão que prestar contas a Deus pelo tratamento daqueles que trabalham para eles, quer os ajudantes sejam cristãos ou não.
O fato do Apóstolo Paulo deixar claro para Filemom que ele o restituirá em tudo (v. 18) demonstra mais que a possibilidade de furto, uma vez que as leis romanas deixavam claro que quem acolhesse um escravo fugitivo assumiria o montante de cada dia de trabalho perdido a ser entregue ao seu dono.
Também parece que Onésimo conhecia bem as leis que regiam  Roma. Uma delas dizia que um escravo fugido poderia encontrar repouso na casa de um amigo ou familiar. Contudo, alguns estudiosos não aceitam devido à passagem do v. 13 onde Paulo transparece a outra parte da lei romana que dizia que um escravo deveria ser vendido para pagamento das despesas do seu antigo dono.
Paulo queria ter Onésimo ao seu lado, todavia com o prévio consentimento de Filemom.
A liberdade do escravo era tão oficializável como o ato de torná-lo escravo. Ao fugir, o escravo poderia comprar sua liberdade, depositando nos altares dos deuses romanos determinadas quantias, as quais eram transferidas pelos sacerdotes destes templos ao seu antigo senhor à medida que este escravo comprava sua liberdade.
Nos templos de Apolo e Delfos era possível ler os nomes dos escravos que estes deuses libertavam. Mas o ato do perdão era algo mais complicado. Paulo usara de pensamentos repletos de revolução intelectual e cultural ao pedir a Filemom que o aceitasse sem maldades, como irmão, enquanto que ele, segundo os costumes da época, poderia prendê-lo e depois castigá-lo com brutalidade. Até mesmo a crucificação era aceita.
Sendo assim, Paulo não procura forçar Filemom com palavras. Antes ele procura trabalhar o coração de Filemom com os ensinos cristãos que ele possui, deixando claro que prejuízos financeiros ele não terá (v. 19), usando com ele tom suave no argumentar (v. 8, 9) e esperando uma atitude que brote do coração de Filemom (v. 14). Portanto Paulo não o força a nada.
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COMPAIXÃO CRISTÃ

Na época do apóstolo Paulo, havia cerca de 6 milhões de escravos no império romano, e a sua sorte, em geral, era a de miséria.
Considerados como propriedade de seus amos, estavam completamente a mercê deles. Não tinham direitos legais. Pela mínima ofensa podiam ser açoitados, mutilados, crucificados ou entregues às feras.

A epístola toma um ar de corrente da compaixão cristã (v. 12) com uma lembrança bem usada por Paulo de certa dívida de Filemom para com ele (v. 19) em prol da vida de Onésimo, que significa “proveitoso, útil”. A epístola possui notas características como "em nome do amor" (v. 9), "reanima-me o coração em Cristo" (v. 20), "recebe-o como se fosse a mim mesmo" (v. 17) e "sabendo que farás mais do que estou pedindo" (v. 21), deixando um ar de confiança e certeza de que seus pedidos serão atendidos. E não há como não dizer que tais pedidos não foram realizados, porque se não o fossem, com certeza, a epístola não teria sido preservada em Colossos tal como foi.

CARACTERÍSTICAS DIGNAS DE LOUVOR - REFLEXÃO PARA A ATUALIDADE

Apesar desta epístola não apresentar questões doutrinárias, como as demais epístolas paulinas, o “bilhete” a Filemom possui uma mensagem bastante forte no quesito dos relacionamentos pessoais.  No século I, a escravidão fazia parte do círculo natural da vida. Ninguém pensava em aboli-la. O Novo Testamento foi e é muito criticado pelo fato de não ter tido voz ativa contra a escravidão, e isso é fato.

A Epístola de Filemom é um "tapa de luva" quando se fala de relacionamentos entre pessoas de status diferentes na sociedade. Nesta epístola, não é difícil perceber como  o apóstolo Paulo coloca Filemom e Onésimo no mesmo nível diante de Deus. Ambos servem a Cristo, logo são tratados imparcialmente por Deus, que os vê como iguais.
Nesta demonstração de igualdade é que Paulo continua trabalhando seu ideal de servidão a Deus como pode ser visto nas demais epístolas (Gl. 3.28; Cl. 3.11; 1 Co. 7.20-24). A escravidão, pelo menos para Paulo, se torna algo inútil diante da grande mensagem de salvação do Evangelho.

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Todavia, Paulo não repreende tal prática, mas deixa pistas para reflexões do tipo "quem tem ouvidos ouça" ou "quem tem coração reflita".
No versículo 16, encontramos a suma da epístola. Paulo apela para que Filemom veja seu escravo não somente como tal, mas como seu irmão em Cristo, o que era extremamente difícil, uma vez que escravos não eram vistos como pessoas, mas como mão-de-obra, ferramenta viva.
Tal apelo leva os cristãos de hoje a repensarem sua posição social, mesmo que nos dias de hoje não se veja mais escravidão como antes. Paulo coloca que trabalho e vida social não fogem às leis evangélicas, o que deve ser refletido nos dias de hoje. Um (a) empregado (a) nunca deve ser oprimido(a) sem que antes a consciência do seu (sua) chefe passe por uma reflexão; e vice-versa. Nunca o (a) empregado (a) deve agir sem meditar no evangelho para a consequente ação posterior em seu posto social e profissional. E não só nestas áreas da sociedade, mas em todas deve-se ter tal meditação.

O PODER DO EVANGELHO NA SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS SOCIAIS - SOMOS UM EM CRISTO
Vale lembrar que todos são escravos do evangelho. E mesmo escravos do evangelho conseguem se ver livres no próprio evangelho, no qual todos são apenas um, os quais lutam para apenas um, Nosso Senhor Jesus Cristo. A Ele a dívida de gratidão deve ser sempre paga em amor ao próximo; dívida que não se extingue; dívida que não é por troca pela salvação; nem por pagamento, mas pela provocação de se amar onde o amor não é aceito e muito menos possível.
Num mundo de insanidade, a insanidade divina de se desejar algo impossível, contudo cativante, se torna o melhor dos convites, o qual, por milagre, torna-se o impossível mais praticável e desejado do mundo, indo contra qualquer razão ou status.

REFLEXÃO

Creio que Onésimo (proveitoso, útil) somos nós, que por vez ou outra fugimos da presença de Deus e nos dirigimos para determinados  lugares, achando que o Senhor não nos verá.
Creio, Também, que o Apóstolo Paulo representa o Senhor Jesus, que foi o pagador de nossas dívidas, nos redimindo de nossos pecados.

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LIÇÃO 13                                               19 MAI

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE TITO
Pr. Daniel Albuquerque Velozo

Escritor: Paulo
Lugar da Escrita: Macedônia
Data da Epistola Pastoral: 61-64 a.C
Creta: é uma ilha do Mar Mediterrâneo, pertencente à Grécia e ao continente europeu.

Paulo deve ter escrito a carta entre seu primeiro e segundo encarceramento em Roma. O peso da evidência em favor da autenticidade da carta a Tito é o mesmo que o das cartas contemporâneas a Timóteo, os três livros bíblicos muitas vezes chamados de “cartas pastorais” de Paulo. O estilo de escrita é similar.

Tito era um crente grego. Ensinado e discipulado pelo apóstolo Paulo, permaneceu diante dos líderes da Igreja em Jerusalém como um exemplo vivo do que Cristo estava fazendo entre os gentios (Gl. 2. 1-3). Como Timóteo, foi um dos confiáveis companheiros de viagem de Paulo e um dos seus amigos mais íntimos. Mais tarde tornou-se embaixador especial de Paulo (II Co. 7.5-16) e no final, o supervisor das igrejas em Creta.

Lenta e cuidadosamente, o apóstolo Paulo transformou Tito em um cristão maduro e um líder responsável. A carta a Tito foi um passo neste processo de discipulado. Do mesmo modo que fez com Timóteo, O apóstolo Paulo instruiu Tito sobre como organizar e liderar as igrejas.

O Apóstolo começa com uma saudação e uma introdução mais longa do que as habituais, esboçando a progressão da liderança: o ministério de Paulo (1.1-3), as responsabilidades de Tito (1.4,5) e os líderes que Tito designaria e treinaria (1.5). Paulo então lista qualificações pastorais (1. 6-9) e contrasta os presbíteros fiéis com os falsos líderes e mestres (1. 10-16).
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Em seguida, Paulo enfatiza a importância das boas obras na vida do cristão, dizendo a Tito como se relacionar com pessoas de variadas faixas etárias na igreja (2.2-6). Ele exorta Tito a ser um bom exemplo de um crente maduro (2.7,8) e a ensinar com coragem e convicção (2.9-15). Discute então as responsabilidades gerais dos cristãos na sociedade: Tito deveria lembrar as pessoas sobre estas responsabilidades (3. 1-8) e deveria evitar discussões que trouxessem divisão (3.9-11). Paulo conclui com saudações pessoais (3.12-15).
A carta de Paulo a Tito é breve, porém é um vínculo importante no processo de discipulado, ajudando um jovem a tornar-se um líder da igreja. Ao ler esta carta pastoral, você aumentará seu conhecimento em relação à organização e à vida da Igreja Primitiva, e encontrará princípios para estruturar as igrejas contemporâneas, e aprenderá também como ser um líder cristão responsável.
FALSIDADE CRETENSE
Os cretenses eram imorais e preguiçosos. O trabalho seria difícil para Tito. Havia em Creta muitas cidades e, consequentemente, muitas igrejas, as quais podem ter sido fundadas por Paulo, conforme nos parece pela epístola. Entretanto, algumas podem ter surgido pela ação de judeus convertidos no dia de Pentecostes (At. 2.11).
“Paulo, escravo de Deus e Apóstolo de Jesus Cristo . . . a Tito, filho genuíno segundo a fé partilhada em comum.” (Tt. 1.1,4).  Assim começa a carta de Paulo a seu colaborador e companheiro de longa data, Tito, a quem ele deixara na ilha de Creta para organizar melhor as congregações. Tito tinha uma grande tarefa nas mãos nesta ilha, que se dizia ser a antiga morada do “pai dos deuses e dos homens”. A falsidade de seu povo era notória, de modo que Paulo até mesmo citou o próprio profeta deles, como dizendo: “Os cretenses são sempre mentirosos, feras prejudiciais, glutões desempregados.” (1.12).
Os cretenses dos dias de Paulo foram também assim descritos: “O caráter do povo era volúvel, insincero e briguento; eram dados à avareza, à licenciosidade, à falsidade e à bebedice, em grau pouco comum; e parece que os judeus que se estabeleceram entre eles ultrapassaram os nativos na imoralidade”.
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Foi em tal ambiente que as congregações de Creta surgiram; assim, era especialmente necessário os cristãos repudiarem a impiedade e os desejos mundanos e viverem com bom juízo, justiça e devoção piedosa, como Paulo exortara (2.12).
A CAMINHADA DE TITO
O livro de Tito em si pouco informa sobre a associação de Paulo e Tito. Das referências a Tito nas outras cartas de Paulo, porém, podem-se colher muitas informações. Tito, que era grego (como falado anteriormente), acompanhou muitas vezes a Paulo e, pelo menos uma vez, foi com ele a Jerusalém. (Gl. 2.1-5). Paulo refere-se a ele como “parceiro meu e colaborador”. Foi a Tito que Paulo enviara a Corinto depois de ter escrito de Éfeso a sua primeira carta aos Coríntios. Na sua estada em Corinto, Tito estava ligado à coleta que se fazia para os irmãos em Jerusalém, e, subsequentemente, retornou, a mando de Paulo, para completar a coleta. Foi na viagem de retorno a Corinto, depois de seu encontro com Paulo em Macedônia, que Tito foi usado para levar a segunda carta de Paulo aos Coríntios.  II Co. 8.16-24; 2.13; 7.5-7. Embora fosse grego, seu nome vem do latim e significa "louvável". As referências a Tito no Novo Testamento apresentam seu itinerário ministerial:
1) Paulo o trata como "filho na fé", dando a entender que sua conversão se deu mediante a pregação do apóstolo. Paulo demonstra ligação espiritual e fraternal com Tito.
2) Tito acompanhou Paulo na viagem a Jerusalém e esteve presente no concílio de Atos 15, embora não tenha sido mencionado naquele livro.
3) Tito trabalhou em Corinto e levou relatório para Paulo sobre a situação da igreja.
4) Trabalhou também em Creta. Foi encontrar-se com Paulo em Nicópolis. Trabalhou também na Dalmácia. De acordo com a tradição, Tito se estabeleceu em Creta, ficando ali até a sua velhice.
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Depois de ter sido solto de sua primeira prisão em Roma, o apóstolo Paulo outra vez se associou com Timóteo e Tito durante os anos finais de seu ministério. Isto parece ter incluído o serviço em Creta, Grécia e Macedônia. Por fim, fala-se de Paulo ir a Nicópolis, no noroeste da Grécia, onde, pelo que parece, foi preso e levado a Roma para seu encarceramento final e execução. Foi durante a visita a Creta que o apóstolo deixara Tito ali para que corrigisse as coisas defeituosas e fizesse designações de anciãos numa cidade após outra, em harmonia com as instruções que dera a Tito. Parece que a carta de Paulo foi escrita pouco depois que ele deixou Tito em Creta, mui provavelmente de Macedônia. (Tt. 1.5; 3.12; 1 Tm. 1.3;2 Tm. 4.13,20). Parece ter servido a um objetivo similar ao de I Timóteo, a saber, incentivar o colaborador de Paulo e dar-lhe apoio abalizado em seus deveres.
Presbíteros: Protetores da Congregação
A esperança de vida eterna do cristão é certa! No começo de sua carta ao seu filho espiritual Tito, o apóstolo Paulo afirmou que ele labutava na esperança de vida eterna (1.2). Ele estava contando com a promessa de Deus feita antes do mundo começar. Essa promessa é certa porque é incompatível com a natureza justa de Deus mentir.
Paulo identificou tanto sua posição como seu ministério. Ele era um apóstolo, mas demonstrou sua humildade, descrevendo-se como um servo (1:1). Estava confiada a Paulo a pregação da mensagem divina que espalharia a fé e o conhecimento de Deus (1:1-3).
Paulo tinha deixado Tito na ilha de Creta com instruções para que pusesse em ordem certas coisas naquelas igrejas. Explicitamente, Tito tinha que completar a indicação de presbíteros nessas igrejas (1.5). Paulo relacionou as qualificações de presbíteros para que Tito pudesse ajudar os cristãos dessas congregações a escolher homens capazes de fazerem este trabalho. Os presbíteros também eram chamados “bispos” e lhes era designado o trabalho de pastorear o rebanho de Deus, (vamos comparar Tt. 1.5-7 com At. 20.17,28). Podemos concluir que um presbítero é um pastor!
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LIÇÃO 14                                               26 MAI

MINISTROS DE DEUS X FALSOS MESTRES
Pr. Daniel Albuquerque Velozo
Ministros de Deus
"Por esta causa te deixei em Creta". Se em algum momento Tito se sentisse incomodado com os problemas das igrejas e do povo de Creta, deveria então se lembrar das palavras do Apóstolo. "Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem o que ainda resta". Não devemos reclamar daquilo que faz parte do propósito de Deus para nós. A situação em Creta poderia não ser muito confortável para Tito, mas se tudo estivesse bem, sua presença não seria necessária.Tito recebeu a incumbência de constituir ministros. Observamos nisso a capacidade de Tito e confiança do Apóstolo Paulo em sua pessoa.
Os falsos mestres
Paulo demonstra constante preocupação com os falsos mestres e a saúde doutrinária das igrejas. Entre esses, estavam "os da circuncisão" (1.10,14). Tal expressão designava os judaizantes, aqueles que queriam impor a lei judaica sobre os gentios convertidos ao Cristianismo.
O Apóstolo Paulo instrui Tito a como tratar o herege, o qual deveria ter oportunidade, através de admoestações. Contudo, isso também teria um limite: "Depois da primeira e segunda admoestação, evita-o". Não devemos perder o nosso tempo com discussões infindáveis sobre questões polêmicas. Se não chegarmos a um acordo rapidamente, então não permitamos que isso vire contenda (3.9). O Apóstolo Paulo instruiu Tito, no capítulo um, a auxiliar as igrejas da ilha de Creta a identificar e  escolher presbíteros. Uma das responsabilidades de tais homens seria confrontar indivíduos que estavam desencaminhando outros pelos seus ensinamentos de fábulas judaizantes e mandamentos dos homens.
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Enquanto essas pessoas professavam que “conheciam” Deus, elas negavam sua própria afirmação por sua desobediência.
Vivendo por Sã Doutrina
Paulo ordena a Tito que ensine, em contraste, como as pessoas devem comportar-se. Ele se refere a este tipo de ensinamento como “sã doutrina” porque, se seguida, ela levará os cristãos a manterem a saúde espiritual. Paulo aborda a conduta e as responsabilidades dos cristãos nas bases de idade, sexo e emprego. Primeiro, ele descreve o papel dos mais velhos, e então das mais velhas (2.2-3). Ele esmiúça as responsabilidades das mulheres mais jovens, observando que as mulheres mais velhas deveriam ensiná-las (2.4-5). A seguir, ele passa aos moços em geral, no versículo 6, e a Tito, especialmente no versículo 7. Finalmente, ele conclui esta parte descrevendo a conduta apropriada dos servos (2.9-10).
Ainda que suas instruções dadas a um grupo obviamente não sejam totalmente diferentes daquelas dadas a outro grupo, Paulo aborda necessidades específicas e tentações (por exemplo, roubo entre servos; falta de submissão entre viúvas, integridade entre jovens).
Um motivo forte para se comportarem de acordo com a sã doutrina era evitar qualquer ocasião para os incrédulos acusarem os discípulos de impiedade (2.5,8). Em vez de fazerem com que a Palavra de Deus fosse difamada pela conduta pecaminosa, os cristãos poderiam “adornar” a doutrina de Cristo através de sua obediência (2.10).
Assim como ocorre em várias epístolas, o Apóstolo Paulo apresenta instruções práticas para a vida cristã. Ele se refere a várias classes de pessoas que faziam parte da igreja. Sabendo que o povo de Creta era imoral e preguiçoso, os convertidos deveriam ter um padrão de comportamento diferente. Como sempre, Paulo dedica parte de sua epístola para reforçar o ensinamento a respeito dos fundamentos da fé cristã.

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A universalidade da graça divina é vista claramente: "a todos os homens". Esse texto é um dos que derrubam a teoria da predestinação absoluta para a salvação ou para a perdição.
Paulo continua observando em geral por que os cristãos deveriam viver de acordo com a sã doutrina (2.11-14). Deus demonstrou sua graça para com a humanidade enviando seu Filho para morrer na cruz. Jesus morreu para redimir os homens de sua iniquidade, assim provendo para ele próprio um povo especial, purificado e zeloso das boas obras. (Ef. 5.25-27). A mensagem do evangelho é que podemos tornar-nos parte deste povo especial se quisermos deixar a impiedade e as paixões pecaminosas do mundo e viver de acordo com a sã doutrina.
Obreiros do Bem, Salvos pela Graça
O apóstolo Paulo nos lembra de nossa conduta passada. “Éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros” (3.3). A bondade e o amor de Deus foi manifestado quando salvou os homens pecadores como Paulo e aqueles com os quais Tito trabalhava. Contudo, esta divina misericórdia tem consequências. Deus não salvou os homens para que eles continuassem na sua conduta pecaminosa. Tito é mandado lembrar seus irmãos de que o comportamento deles como cristãos precisa ser muito diferente do passado (3.1-2). Observe que a conduta ordenada nestes versículos é diretamente oposta a que é descrita no versículo 3. Ao invés de odiar aos outros ou agir com maldade, os cristãos têm que ser pacíficos e gentis com as pessoas, evitando falar mal delas.
Uma das acusações feitas contra os cristãos nas perseguições romanas do II e III séculos era que eles eram desleais ao governo. Esta acusação era feita porque os cristãos não queriam adorar o imperador. Contudo, os cristãos estariam entre os melhores cidadãos em qualquer país, porque se submetiam voluntariamente ao governo, por causa de Cristo (Rm. 13.1-7).

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O valor das boas obras, ou frutos do cristão, também, é visto de forma clara. Não se trata apenas de obras de caridade, mas ações justas de modo geral. A salvação é pela graça e pelo amor de Deus, mas as boas obras acompanham a salvação. É o testemunho diário do cristão.
A carta de Paulo foi necessária, porque Tito estava enfrentando muita oposição na igreja em Creta. Por isso que ele enviou uma carta de incentivo e orientações de como proceder numa igreja de crentes mundanos.
A leitura da carta a Tito ensina que a melhor resposta aos conflitos dentro da igreja é a prática das boas obras, com o bom testemunho cristão. Um crente nunca deve se envolver em assuntos ou conversas que produzam desavenças e nem desobediência, mas “ser padrão de boas obras. No ensino, mostrar integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado” (2:7,8).
Ainda que Paulo ressalte a necessidade dos cristãos estarem prontos para fazerem boas obras (1.16; 2.7,14; 3.1,8,14), ele não quer que ninguém pense que sua salvação resultou de suas obras de justiça (3.5). Somos justificados pela graça através da lavagem espiritual cumprida no batismo (1 Pe. 3.21; Ef. 1.7; At. 22.16; Ap. 1.5; Rm. 6.3-4). Não merecemos a herança que nos é dada, a vida eterna (3.7).
Enquanto os cristãos precisam buscar boas obras, precisam evitar discussões tolas e contendas que não edificam. Precisam também ser cuidadosos com os irmãos facciosos. Estes indivíduos devem ser admoestados uma e duas vezes e, se não se arrependerem, os irmãos devem evitá-los (3.9-11).
Paulo termina sua carta a Tito com alguns pedidos pessoais referentes aos seus companheiros no trabalho. Ele pede a Tito para ir encontrá-lo em Nicópolis, onde ele passaria o inverno. Mesmo nestas recomendações finais, ele salienta a importância das boas obras (3.14).



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LIÇÃO 15                                               02 JUN

CONCLUSÃO REFLEXIVA
Pr. Daniel Albuquerque Velozo

O vazio produzido pela morte de um líder forte pode arruinar um movimento, organização ou instituição. Tendo sido dependentes da habilidade, estilo, e personalidade desse líder, associados e subordinados passam a se debater ou competir pelo controle. Logo a eficiência e a vitalidade são perdidas, e o declínio surge no horizonte.

Este padrão se repete frequentemente nas igrejas. Grandes oradores e ensinadores reúnem discípulos, e logo floresce uma igreja viva, vigorosa e efetiva. Vidas são transformadas e pessoas são conduzidas ao Reino de Deus. Mas quando esse líder parte ou morre, leva consigo o vigor e o ânimo da organização.

Muitas pessoas se reuniram para ouvir o ensino do Apóstolo Paulo. Educado, articulado, motivado, e cheio do Espírito Santo, este homem de Deus proclamou fielmente as Boas Novas por todo o Império Romano; vidas foram transformadas e igrejas iniciadas. Mas o Apóstolo sabia que a Igreja deveria ser edificada em Cristo, não em qualquer outra pessoa. Ele sabia que no final não estaria presente para edificar, encorajar, disciplinar e ensinar. Então treinou jovens pregadores para que assumissem a liderança nas igrejas após sua partida. Paulo exortou a centrarem suas vidas e sua pregação na Palavra de Deus (II Tm. 3. 16,17), e a treinarem outros para que o ministério tivesse continuidade (II Tm. 2.2).
O Apóstolo Paulo exige ordem na igreja e um viver correto em uma ilha conhecida pela preguiça, glutonaria, mentira e maldade.


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Os cristãos devem ser auto-disciplinados como indivíduos e devem ser ordeiros como pessoas que formam um corpo, a Igreja do Senhor.

Precisamos obedecer a esta mensagem em nossos dias, quando a disciplina não é respeitada ou recompensada pela nossa sociedade. Embora outros possam não apreciar nossos esforços, devemos viver uma vida íntegra, obedecer aos nossos líderes, ao governo e falar com prudência. Devemos viver unidos e pacificamente na igreja e sermos exemplos vivos de nossa fé para a sociedade contemporânea.


UMA VIDA ÍNTEGRA

As Boas Novas de salvação ensinam que não podemos ser salvos pelo fato de vivermos uma vida íntegra ou boa; somos salvos somente pela fé em Jesus Cristo. Mas o Evangelho transforma a vida das pessoas, de forma que no final elas também passam a fazer boas obras. Nosso serviço não nos salvará, mas somos salvos para servir.
Uma vida íntegra ou boa é um testemunho do poder do Evangelho. Como cristãos, devemos ter compromisso e disciplina para servir.
Estamos colocando nossa fé em ação servindo aos outros?


CARÁTER

A responsabilidade de Tito em Creta era designar presbíteros para manter a organização e a disciplina adequadas; por esta razão, Paulo listou as qualidades necessárias aos presbíteros. A conduta de cada um deles em seus lares revelava sua idoneidade para o serviço na igreja.
Não é suficiente ser educado ou um seguidor leal para ser um líder de acordo com o padrão de Cristo.

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É necessário ter autocontrole, idoneidade espiritual e moral, e caráter cristão. Quem você é importa tanto quanto o que você pode fazer.


RELACIONAMENTOS NA IGREJA

O ensino na igreja deve ser direcionado a vários grupos. Os cristãos mais velhos devem ensinar e ser exemplos para homens e mulheres mais jovens. As pessoas de todas as idades e de todos os grupos ou classes sociais têm uma lição a aprender e um papel a desempenhar.
Uma vida íntegra e relacionamentos corretos acompanham uma doutrina correta.
Trate seu relacionamento com os outros cristãos como um processo de crescimento abundante de sua fé.


CIDADANIA

A epístola fala das relações na igreja, na família, no trabalho e na sociedade. Em todos esses lugares existe o conceito de autoridade e governo. O Evangelho afetará todas as áreas da vida do homem/mulher de Deus.
Os cristãos devem ser bons cidadãos na sociedade, e não apenas na igreja. Devem, também, obedecer às autoridades constituídas e trabalhar honestamente.
A maneira como nós cumprimos os nossos deveres cívicos é um testemunho para um mundo observador. Tanto nossa vida na comunidade quanto nosso viver na igreja devem refletir o amor de Cristo.