01
APRESENTAÇÃO
Escrever juntos não significa
concordarmos completamente um com o outro. Esta é uma parceria que mostra a
nossa diversidade. Desejo que a igreja seja madura para lidar com isso. Faço
questão de enfatizar esse detalhe até para reivindicar aos meus companheiros o
direito de discordar deles e para conceder-lhes o direito de discordarem de
mim.
Estou dizendo isso tudo para que
não haja a impressão em nossos leitores de que todos concordamos com tudo o que
o outro escreveu, e para que não haja a impressão de que vamos brigar quando
discordarmos.
O que nenhum de nós gostamos é
daquela discordância por nada, só por discordar. Quanto a discordância com
argumentos, é sempre bem vinda, nos faz pensar, refletir, rever conceitos até.
Nós quatro (eu, pr. Marcos, pr.
Daniel e Pedro Paim) escrevemos livremente. Não dei uma “linha teológica” para
os companheiros seguirem a risca, e não mexi nos textos deles, a não ser para
fazer a edição estritamente necessária tendo em vista os espaços, e todos foram
comunicados disso.
Louvo a Deus por termos em nossa
igreja recursos humanos capacitados para a produção de nossas lições, e pela
disponibilidade de cada um. Claro, resta-nos respeitar o estilo individual de
cada um deles. Eu, particularmente, entendo que devemos fazer teologia numa
linguagem simples, popular, gostosa de se ler, sem o academicismo e sem a
seriedade dos teólogos clássicos. E meus companheiros também deram o máximo de
si para se aproximarem de nosso povo com uma linguagem simples. E isso é uma belezura.
Bons estudos para todos.
Para qualquer esclarecimento,
procure os autores das respectivas lições. Todos estamos disponíveis.
Abraços para os abraçáveis.
Beijos para os beijáveis. E vamos nessa.
Isac Machado de Moura
02
LIÇÃO 01 17
FEV
O DISCIPULADO CRISTÃO
E O PROPÓSITO DE DEUS PARA A IGREJA – Pr. Marcos Castro
I
TIMÓTEO 1
3 Partindo eu para a Macedônia, roguei-lhe que permanecesse em
Éfeso para ordenar a certas pessoas que não mais ensinem doutrinas falsas, 4 e que deixem de dar atenção a mitos e
genealogias intermináveis, que causam controvérsias em vez de promoverem a obra
de Deus, que é pela fé. 5 O objetivo desta instrução é o amor que
procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. 6 Alguns se desviaram dessas coisas,
voltando-se para discussões inúteis, 7 querendo
ser mestres da lei, quando não compreendem nem o que dizem nem as coisas acerca
das quais fazem afirmações tão categóricas. 8 Sabemos que
a lei é boa, se alguém a usa de maneira adequada.
Em toda Bíblia, podemos
facilmente perceber que Deus, em tudo, tem um propósito definido. Não seria
diferente nessa maravilhosa carta do apóstolo Paulo ao amado Timóteo, seu filho
na fé, seu discípulo. Encontramos, nesse trecho das escrituras, o apóstolo se
ocupando do discipulado, que é um processo contínuo e progressivo, que tem seu
início no indivíduo (discípulo), mas que alcança toda a comunidade,
proporcionando conhecimento relacionado a uma vida prática.
Nas primeiras
linhas da carta, fica evidente a preocupação de Paulo com isso. Ele usa grande parte desse capítulo para alinhar o
conhecimento teórico à prática cotidiana. Ele exorta primeiro a Timóteo, depois
dá exemplo de alguns que se desviaram desse propósito, vivendo uma fé
subjetiva, ou seja, fé de particular interpretação e que até os dias de hoje é
raramente prática, não tendo uma proposta de mudança de vida.
Esse, talvez,
seja o maior desafio da igreja em todos os tempos: vencer a subjetividade da
fé, se desviar de uma fé teórica, dos debates ou discussões inúteis, em prol de uma fé viva, prática, experimentada
por cada membro, sempre a luz dos princípios eternos de Deus.
03
E por falar de princípios eternos,
encontramos um em particular no texto: “A
obra de Deus é feita pela fé!” Não estamos anulando, com isso, o espírito
investigativo, a leitura, a busca do aperfeiçoamento da fé através da teoria,
mas segundo esse e outros textos, a fé é um ingrediente majoritário na obra de
Deus. Analisemos alguns textos:
Hebreus 11: 1 Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das
coisas que não vemos. 6 Sem fé é impossível agradar a Deus,
pois quem deEle se aproxima precisa crer que Ele existe e que recompensa
aqueles que o buscam.
Esse texto tem a função primordial
de definir o conceito de fé, mas também a de torná-lo prático e vivencial.
Gálatas 3: 9 Assim, os que são
da fé são abençoados juntamente com Abraão, homem de fé.
Esse texto faz menção de Abraão que, pela sua fé, foi reconhecido
por Deus como justo. Mesmo sem que ele tivesse qualquer informação precisa a
respeito de quem o havia chamado e a respeito da missão em si, ele obedeceu e
foi fazer a obra que Deus tinha designado para que ele fizesse.
Tiago 2: 14 De que adianta meus
irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo?
Nesse texto, o autor não anula a importância da fé, antes ele a
vincula intimamente com a prática. Os conceitos adquiridos da nossa fé precisam
estar em ação.
Mateus 25: 18 Mas
o que tinha recebido um talento saiu, cavou um buraco no chão e escondeu o
dinheiro do seu senhor. 26 O senhor respondeu: ‘Servo mau e
negligente! Você sabia que eu colho onde não plantei e junto onde não semeei?
Nessa parábola, Jesus comunica a ideia
de que nem sempre saber a respeito de alguma coisa resolve a situação. O servo
conhecia o seu Senhor, sabia o que deveria fazer e não fez, e por isso recebeu
uma repreensão severa.
Através desses textos e mais nosso
texto base de I Timóteo entendemos que “o
saber” faz parte da nossa missão. Não é tudo, mas é uma parte importante.
04
Duas outras conclusões
nós podemos extrair da carta de Paulo:
I – Onde há muita teoria forma-se um ambiente propício a heresias
(falsas doutrinas), controvérsias e dissensões.
Paulo alerta a Timóteo de que a
falação interminável contabiliza mais prejuízo do que ganho. Uma boa observação
a ser feita é sobre os debates bíblicos que ouvimos nas rádios ou assistimos em
alguns canais de TV. Mesmo que os temas sejam diferentes, o enredo é sempre o
mesmo: dois ou três grupos de diferentes opiniões sobre o assunto, em algum
momento uma discussão mais acalorada, e ao final um mediador enrolado com
tantas teorias, e a pressão do tempo que o leva a terminar invariavelmente o
programa de maneira atabalhoada e inconclusa, ou seja, ânimos exaltados no
estúdio e vidas confusas em casa, sem que possam ser edificadas em algo
prático.
Ainda que saibamos que uma boa
conversa nos ajuda a desenvolver a nossa fé, quem ministra a palavra deve
sempre proporcionar um ambiente de edificação mútua. Mas para que isso aconteça
são necessários muito cuidado, planejamento e domínio do assunto por parte do
mediador ou facilitador. É necessário também uma linha comum de ação para que a
missão do grande grupo seja beneficiada com o que se propõe ensinar. Existe em
todo bom ministério um fluxo como de um rio que deve ser respeitado sob pena de
impor aos membros desse grupo um esforço sobre humano de nadar contra a
correnteza.
O apóstolo se preocupou, pois tanto
seu discípulo, como aquela igreja tinham uma missão a cumprir. Para Timóteo, um
jovem pastor, em um ministério difícil devido às circunstâncias que o envolvia,
a última coisa que ele precisava era de um ambiente interno tumultuado que
contribuísse para frear os planos de Deus para a igreja. Não pode ser diferente
em nossos dias; temos muitos irmãos convivendo conosco em níveis de maturidade
e funções diferentes, precisamos, então, proporcionar um fluxo de ensino e prática o
mais natural possível para seu desenvolvimento pessoal e ministerial.
II – O muito saber pode proporcionar mais soberba do que amor.
Ao longo da história da igreja, nos
deparamos com muitos personagens que se destacaram tanto por uma coisa como por
outra, ou seja, esse é um risco real e iminente que os membros da igreja
correm.
05
Lembro-me, com saudades, do irmão
que me discipulou no início da minha carreira com Cristo; alguém manso,
amoroso, que dominava as escrituras como poucos, que mesmo tendo sido forjado
como crente na Assembleia de Deus, conseguia se adaptar muito bem ao ambiente
batista em que nos encontrávamos, e acima de tudo, era um exemplo de
simplicidade e humildade. Nunca o vi se posicionando unilateralmente em
qualquer assunto, muito embora fossem visíveis e notórias as suas convicções pessoais
sobre as escrituras. Aquele homem tinha um compromisso inegociável: edificar as
vidas que estavam sob seus cuidados no grupo de comunhão, e no que diz respeito
a mim e a minha esposa, ele conseguiu, deixou uma marca importantíssima na
nossa história.
Se sabemos que Deus tem um propósito
especial para cada ministério local, devemos sempre buscar contribuir para que
seja feita a vontade de Deus; o que passar disso será um desvio. De todos os
membros do corpo, cada um em suas atribuições, se espera uma fé consciente e
sincera, e uma ação conjunta. Numa equipe bem ajustada, todo individualismo,
seja ideológico ou prático, se torna um perigoso desvio de propósito, pois em
meio a tanta qualificação individual, o que de fato se espera são experiências
reais de êxito e vitórias na causa comum; caso contrário, ficará evidente que
aquilo que dizemos saber não passa de teorias frágeis que não passam na prova
do fogo que depura toda a inverdade e impureza e que trás a tona o que temos de
mais precioso.
“Se alguém constrói
sobre esse alicerce, usando ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou
palha, sua obra será mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada
pelo fogo, que provará a qualidade da obra de cada um”. I Coríntios 3.12-13.
“Não se enganem. Se
algum de vocês pensa que é sábio segundo os padrões desta era, deve tornar-se
"louco" para que se torne sábio”.
I Coríntios 3.18.
I Coríntios 3.18.
SEJAMOS LOUCOS POR FAZER A VONTADE DE DEUS!
06
LIÇÃO 02 24
FEV
O DISCIPULADO CRISTÃO
E A VOCAÇÃO DE FAZER DISCÍPULOS
– Pr. Marcos Castro
I TIMÓTEO 2
8 Sabemos que a lei é boa, se alguém a usa de maneira
adequada. 9 Também
sabemos que ela não é feita para os justos, mas para os transgressores e
insubordinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreverentes,
para os que matam pai e mãe, para os homicidas, 10
para os que praticam imoralidade sexual e os homossexuais, para os
sequestradores, para os mentirosos e os que juram falsamente; e para todo
aquele que se opõe à sã doutrina. 11 Essa
sã doutrina se vê no glorioso evangelho que me foi confiado, o evangelho do
Deus bendito. 12 Dou
graças a Cristo Jesus, nosso Senhor, que me deu forças e me considerou fiel,
designando-me para o ministério, 13 a mim que anteriormente fui blasfemo, perseguidor e
insolente; mas alcancei misericórdia, porque o fiz por ignorância e na minha
incredulidade; 14
contudo, a graça de nosso Senhor transbordou sobre mim, juntamente com a
fé e o amor que estão em Cristo Jesus. 15 Esta afirmação é fiel e digna de toda
aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu
sou o pior. 16 Mas, por isso mesmo alcancei
misericórdia, para que em mim, o pior dos pecadores, Cristo Jesus demonstrasse
toda a grandeza da sua paciência, usando-me como um exemplo para aqueles que
nele haveriam de crer para a vida eterna.
A cada dia o Senhor nos mostra o valor do nosso resgate
eterno. Ele em sua sabedoria e graça fez convergir a sua vontade e a submissão
de homens e mulheres santos, que atendendo ao clamor do mundo e ao ide de
Jesus, se aproximaram de nós com um discurso novo e transformador, nos levando
a tomar a melhor decisão de nossas
vidas: a de nos reconciliar com um Deus, que embora não precisasse de nós, nos
chamou a reconciliação. Nisso se resume, em grande parte, a missão da igreja: a
multiplicação.
“Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim
serão meus discípulos”. Jo 15.8.
07
Ao compartilhar sua história com Timóteo, o apóstolo
continua a lembrá-lo de que nosso Deus tem muitos propósitos na vida da igreja,
e um deles é proporcionar a salvação a todos quanto creem.
"Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para
que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Jo 3.16.
Percebemos, no texto, Paulo emocionado, narrando a sua história
antes e depois da graça tê-lo alcançado.
Quando estudamos sobre esse extraordinário servo de Deus, também vamos
identificar pessoas que foram de suma importância em seu processo de fé, homens
e mulheres que se dispuseram a ser alavanca para a sua vida, que veio a se
tornar uma das maiores expressões do evangelho em todos os tempos. Ananias, ao
ser convocado por Jesus para abençoar Paulo, lembrou-se de quem ele era e temeu, mas
acatou o chamado de Cristo e foi - Atos 9.17. Barnabé foi o único entre os de
Jerusalém que se aproximou e discipulou Paulo; todos os outros temiam por suas
próprias vidas - Atos 9.27.
Mas algo inusitado faz parte da história de Paulo: seu ardor
missionário. Desde muito cedo ele entendeu que a graça o alcançou de maneira
tão irresistível, que outros deveriam usufruir do favor de Deus através de sua
própria vida. Em Atos 9, o
novo crente, cheio da consciência de fé e prática, já começa a dividir sua
pouca experiência de fé com muitos, a ponto de incomodar desde muito cedo as
autoridades, que antes, juntamente com ele, perseguiam e matavam os cristãos.
22 Todavia, Saulo se
fortalecia cada vez mais e confundia os judeus que viviam em Damasco,
demonstrando que Jesus é o Cristo.
28 Assim, Saulo ficou com
eles, e andava com liberdade em Jerusalém, pregando corajosamente em nome do
Senhor.
Precisamos nos sentir desafiados por dois aspectos
importantes da vida de Paulo: sua consciência de “doulos” (escravo), que o
levou a entender que foi chamado para servir; e a sua consciência livre de
condenação, pois ele instruía a seus discípulos sobre fundamentos não só
teóricos, mas dava mostras de uma vida prática intensa, proporcionando aos seus
discípulos mais do que noções básicas, mas um exemplo real de como fazer.
08
O texto que estamos estudando começa com uma lista enorme de
“pessoas” com as quais nos deparamos no nosso cotidiano. A cada dia se
apresentam mais e mais dos que, sem Deus, vão perecendo em seus problemas e
mazelas espirituais e humanas, sem que recebam sequer um alento em tempos
difíceis.
Somos os detentores de um discurso poderoso para salvar os
que se perdem, mas está provado que o povo de Deus, na atualidade, se
especializou em obras dentro de quatro paredes. Nos detemos em lugares seguros
onde a exposição e o debate bíblico fique sob nosso controle pessoal. Por isso mesmo
que o apóstolo escreve para seu discípulo amado: “Sabemos que a lei é boa, se
alguém a usa de maneira adequada”. Não é adequado que retenhamos o
poder transformador entre nós, que manifestemos suas propriedades salvadoras
entre os que já estão seguros; mas na maior parte de nossa vida é isso que
fazemos. Talvez isso explique por que tantos cristãos ainda estejam tão
imaturos, por não terem experimentado, a não ser no primeiro amor, a eficácia
de um evangelho pleno.
As estatísticas apontam um número ao mesmo tempo alarmante e
desafiador. Os cristãos que experimentam a salvação pessoal e que dividem essas
experiências, ainda que de maneira muito simples, com outros, e os veem também
crescer na graça e no conhecimento de Deus, são os mais saudáveis e estáveis
membros das igrejas. Basta olhar para a liderança da maioria das igrejas,
pessoas que mesmo sobrecarregadas, cheias de atribuições, que deveriam ser
divididas com outros que estão nos bancos aos domingos, um fervor espiritual
que se traduz em evangelismo, cuidado com pessoas carentes e necessitadas e uma
grande contribuição no processo de multiplicação da igreja local. Os outros são
os consumidores, semelhantes aos do capitalismo, que levados pelo sistema ou
pelo modelo de igreja, preferem explorar uns poucos, a se adaptarem para
discipular a maioria.
É preciso pensar seriamente nesse assunto. Mais do que
pensar, precisamos proporcionar um meio eficaz para que a igreja de Deus e para
que a igreja local possa, assim como Paulo, Barnabé, Timóteo, Spurgeon, Wesley,
e tantos outros, fluir na missão de dar frutos e muitos frutos. Ao pensarmos em
quantidade não devemos voltar nosso coração para enchermos nossos templos, mas
sim para desabitar o mais rápido
09
possível,
o inferno, que trabalha muito intensamente para tragar as vidas dos homens e das
mulheres relacionadas no texto que estamos estudando:
“Também sabemos que ela não é feita para os justos,
mas para os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores, para
os profanos e irreverentes, para os que matam pai e mãe, para os homicidas, para os que praticam imoralidade
sexual e os homossexuais, para os sequestradores, para os mentirosos e os que
juram falsamente; e para todo aquele que se opõe à sã doutrina.”
Sinceramente, creio que dois fatores contribuem juntamente
para certa inércia na missão da igreja atual, e ambos estão relacionados à
graça.
I – Quando a igreja passa a contar com
suas próprias forças para alcançar os seus próprios objetivos, ela se torna
ineficaz em sua missão de fazer discípulos.
...contudo, a graça de nosso Senhor transbordou sobre
mim, juntamente com a fé e o amor que estão em Cristo Jesus.
II – Quando o indivíduo esquece ou
desconhece a sua vocação interior, e que a graça de Deus nos aperfeiçoa para o
serviço de Deus, esse crente não vai ao encontro dos perdidos.
Dou graças a Cristo Jesus, nosso Senhor, que me deu
forças e me considerou fiel, designando-me para o ministério.
É preciso lembrar que ainda existe uma igreja lá fora para
ser alcançada (Jo 10.16), talvez em
igual número ou ainda maior do que a que hoje existe, quem sabe? Mas o fato é
que para que isso aconteça, nós temos que nos dedicar ao discipulado pessoal e
direto, assumindo a responsabilidade que nos foi dada junto com a graça, junto
com a nossa salvação.
“Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou
consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou
seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em
conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação. Portanto,
somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por
nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com
Deus” II Coríntios 5:18.20.
10
LIÇÃO 03 03
MAR
O DISCIPULADO CRISTÃO
E OS PAPÉIS – Pr. Marcos Castro
I TIMÓTEO 3
“... escrevo-te estas coisas para que, se eu demorar,
saibas como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo,
coluna e alicerce da verdade”. I Timóteo 3.15.
No
que diz respeito à fé e à prática do cristianismo, o papel de cada indivíduo e de todos os crentes é de vital importância para
uma vida em comunidade cristã. O texto acima está inserido no final do que
chamamos de um assunto ou sentença, e por esse motivo, trabalharemos os papéis
de cada crente ali descrito, baseados nessa sentença final do capítulo três.
Nesta
carta a Timóteo, Paulo trata da
qualificação pessoal ou individual de quem serve na igreja. Qualificação não é o mesmo que
qualidade ou capacidade, mas é, segundo Paulo, um pré-requisito. Estando nós
afeitos a esse pequeno detalhe, precisamos estar atentos a outro pormenor muito
especial: o autor desmembra o assunto direcionando sua instrução a Timóteo,
tratando dos indivíduos de ambos os sexos, homens e mulheres. Isto fica evidente
quando ele convoca a igreja a orar (2.1) e não especifica o gênero (se é homem
ou mulher); em seguida, ele trata da condição da mulher na igreja (2.9), em
seguida volta-se para algo relacionado ao homem (3.2), e assim ele faz durante
toda a sequência. Esses detalhes todos
irão nos ajudar a entender melhor o contexto desse pequeno, mas muito
importante pedaço das escrituras eternas. É prudente esclarecer que até esse
ponto nenhuma conclusão ou tendência está sendo defendida; a proposta é
analisarmos à luz do texto o papel nosso de cada dia, homens, mulheres, toda
gente, todos em igual grau de consideração e estima por parte do Senhor, de
Paulo e da nossa PIB em Unamar. É honesto
também admitir que devido a palpitação que o assunto causa, precisamos citar
quais tendências são mais relevantes no que diz respeito ao papel da mulher na
igreja.
11
A
primeira que analisaremos, e mais atual,
é fruto de movimentos humanistas, como o Renascimento (século 16) e Iluminismo
(século 18), que juntos atribuíram
uma maior importância à dignidade, aspirações e capacidades humanas, tendo grande
influência também na igreja através de um novo método de interpretação das
escrituras (método histórico crítico), que tinha entre outras máximas, a de
explorar mais profundamente o contexto cultural da época em que cada texto
havia sido escrito. Alguns teólogos conhecidos como contemporâneos ou liberais
são acusados por outros mais tradicionais de privilegiarem mais o contexto
social do que a cultura bíblica como um todo (concordância bíblica onde um
texto esclarece outro), dando muito mais ênfase às culturas locais, sociais e
contemporâneas de cada livro e autor. Mas também se admite que independente
dessas acusações ou do método usado, a intenção parece ter sido a de valorizar
o ser humano e, no caso da carta a Timóteo, a mulher em especial, pois lançando
esse olhar menos teórico e mais prático e usual, abriram-se maiores
possibilidades para o sexo feminino tão desvalorizado e subjugado no contexto
antigo.
A
segunda tendência se considera “a ortodoxa” (forma original), ou seja, baseada
em uma tradição de submissão mais rígida às escrituras e a forma de interpretá-la
(método histórico gramatical), tal qual na reforma protestante. Esses teólogos,
por sua vez, são acusados pelos mais atuais de desvalorizarem, por exemplo, o
papel da mulher na igreja, oprimindo-as sob a bandeira da rigidez usual na
aplicação das doutrinas bíblicas por estes defendidas.
Voltando
nosso olhar agora para o texto, vamos analisá-lo sob a ótica mais tradicional e
antiga, isso porque a mais contemporânea tem sua base teórica fundada mais em
aspectos sociais e culturais e, portanto, menos complexos para análise do que o
método rígido, pois toda sociedade atual
está muito mais impregnada desses conceitos de liberdade, valorização e
aspirações humanas, e os colocando em pé de igualdade entre ambos os sexos do
que dos preceitos mais duros da teologia histórica tradicional.
1) A postura
da mulher na sua missão: Assim como
no capítulo 2, v. 8, Paulo cobra um comportamento digno do homem para que
pudesse exercitar a sua fé, nos dois versículos seguintes (2.9-10), ele está
exortando as mulheres a uma vida exemplar e que seja baseada em virtudes
pessoais e não em adornos exteriores.
12
Isso, porém, não parece ser uma proibição
para o uso de certos penteados, adereços ou vestimentas, mas antes parece ser
uma instrução para que a vaidade, que é exterior, não as exalte mais do que a
virtude interior: “com decência, modéstia e discrição”.
2) A mulher e
o ensino público das escrituras: Nos
versos 10 a 14, reside a maior controvérsia cristã a respeito do exercício do
ministério da palavra de Deus por mulheres a partir da idade moderna; sim, só a
partir dos movimentos modernos esse problema tomou proporções maiores, portanto,
considerações culturais mais relevantes não são as do texto ou da época ou
lugar (Éfeso) que Timóteo pastoreava. Pelo menos no que diz respeito a esse
texto, não se encontra facilmente uma justificativa consistente a respeito das
questões sociais da época, mas a cultura atual e a valorização feminina
contemporânea têm discutido veementemente esse tema. A tradição histórica
antiga aponta para um arrebanhamento de mulheres para fortalecimento da causa
desses rebeldes dos quais Paulo tratou no capítulo 1, e isso pode, em parte,
explicar essa recomendação tão forte do apóstolo.
Mas outro fator goza
de mais prestígio entre os tradicionais, algo que eles chamam de preceitos
eternos ou fundamentos eternos que percorreram todo ciclo da história bíblica,
imutáveis, e de um desses ele faz uso e aplica a esta realidade. “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de
autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi
formado Adão, depois Eva”.
Esse
quadro pintado por Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, é muito anterior à
cultura de Éfeso, assim como também muito anterior ao atual contexto social em
que vivemos, portanto sufoca dentro dessa análise qualquer teoria
contemporânea, pois dá plena autoridade bíblica para o argumento de que a
mulher é alguém separada por Deus para auxilio do homem na missão comum, cada
um no seu papel. O dicionário de português não favorece muito as mulheres
quando explica a palavra submissão, mas o sentido original não é de
desvalorização ou subjugamento, mas sim de alguém que apóia e que complementa o homem, e é indispensável a ele mesmo, sendo ele o cabeça da
família. Ler Efésio 5.22-28.
Se o
português não nos ajuda, no original grego o sentido é mais claro:
Submissão: é um termo militar
grego que significa “organizar [divisões de tropa] numa forma militar sob o
comando de um líder”.
13
Em uso não militar, era “uma atitude
voluntária de ceder, cooperar, assumir responsabilidade, e levar uma carga”. Sendo assim não há nenhum motivo de
vergonha ou descrédito para a mulher, antes uma causa nobre e agradável aos
olhos de Deus.
3) A mulher e a missão
nobre da maternidade:
É impressionante como nossa tendência para focar no menos importante se
demonstra nesse texto. Para alguns, esse versículo é uma redução da vida da mulher,
como se fosse pouca coisa ser responsável por conceber e dar à luz uma criança. Existem outros aspectos
importantíssimos também que estão relacionados à formação da criança, como, por
exemplo: a presença constante da mãe no dia a dia delas produz um amadurecimento
mais consistente devido a fatores como diálogo, a troca de afeto, a educação
presencial e influenciadora, entre tantos outros, que, sem dúvida, melhora e
prepara a criança desde cedo para uma vida em comunidade mais interativa e
participativa.
Em
última análise, é preciso pensar que no que diz respeito ao papel da mulher na
vida comum, no lar e na igreja, não se pode resumir em se ela pode ou não ser
pastora, ou se pode ou não ensinar em público, mas sim em como ela pode ser
melhor aproveitada na causa do evangelho para ter uma participação efetiva e
produtiva a despeito de títulos, cargos ou atribuições.
Contra
fatos não existem argumentos. Nas nossas igrejas, podemos perceber
características importantíssimas que as mulheres têm e que contribuem muito
para a edificação das mesmas. Mulheres que ensinam em nossas EBD’s com graça e
rara sabedoria. Precisamos de fato entender que a questão não é de capacidade
ou habilidades específicas apenas, mas mesmo nos casos de grande sucesso, como
na participação feminina no mercado de trabalho, se sabe que existe um prejuízo
agregado quando alguns preceitos para nós inegociáveis são esquecidos,
desconsiderados ou menosprezados. Algumas mulheres têm colocado a sua missão de mãe e de esposa
em segundo plano, e isso em nome de uma carreira, titulo ou posição social que
lhes dê satisfação e projeção. Não que os homens estejam isentos de
responsabilidades, mas essa atitude tem sido conjuntamente responsável pelo
processo de fragmentação da família, mesmo a cristã. O homem falha como líder e
sacerdote do lar e a mulher em querer substituí-lo naquilo que não foi chamada
a fazer. Deus sempre
valorizou as mulheres e nós devemos em obediência a Ele continuar a amá-las e
valorizá-las, mas se seguimos o preceito bíblico de liderança, ambos, homens e
mulheres, usufruiremos do maior prêmio que alguém pode almejar, e com
satisfação plena, a salvação eterna em Cristo. Salvar-se-á,
porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na
santificação.
14
LIÇÃO 04 10
MAR
O DISCIPULADO CRISTÃO
E A FORMAÇÃO DA LIDERANÇA – Pr.
Marcos Castro
I TIMÓTEO 3
“1Fiel é a Palavra: Se alguém anela chegar ao ofício de
pastor superintendente, intensamente deseja uma excelente obra; ... 13 Os que servirem bem alcançarão
uma excelente posição e grande determinação na fé em Cristo Jesus”. I Timóteo 3.
A
proposta dessa lição não é de deter-se em meros detalhes, que embora sejam
relevantes e de necessária observação, reduziriam nosso foco ao cumprimento de
ordenanças e não nos desafiaria a ampliarmos nossos horizontes para uma melhor
formação daqueles que serão referência para a igreja, os líderes. Nós
poderíamos apenas pensar sobre cada atributo pessoal listado pelo apóstolo, que
serviu e ainda serve de referencial para nós, mas nossa intenção é ampliá-los,
pois estamos vivendo um momento especial como igreja, muitos chegando a nossa
comunidade, alguns através da primeira experiência de fé em Cristo, mas uma
grande maioria de irmãos que estão vindo de lugares e realidades eclesiásticas
(igrejas) diferentes, e de contextos diferentes de vida e história. Nós cremos
que é preciso alinhar nossos focos para que a nossa missão como igreja do
Senhor em Unamar seja cumprida. Nada será realmente fácil, mas sem um plano de
capacitação bem elaborado, visando melhor preparar a todos, membros, líderes e
futuros líderes, certamente nossa missão se tornará um tanto mais árdua.
Bispos, diáconos, presbíteros,
mestres e pastores juntos em prol do discipulado
Em
outro tempo certamente já estudamos o significado de cada termo acima, e
sabemos que não existe de fato um consenso a respeito disso, mas existe sim uma
coisa comum a todos que coopera para o funcionamento da igreja: cuidar de pessoas.
15
Nestas
palavras, encontramos atribuições específicas como: administrar, servir,
presidir, liderar, ensinar, prestar assistência, direcionar, etc. e todas estas
coisas compõem a vida da comunidade cristã conjuntamente. O texto do capítulo 3
inteiro orienta a Timóteo e a nós todos sobre a integridade do obreiro de
Jesus. A integridade está intimamente ligada a aspectos morais, a dignidade de
alguém que foi chamado a influenciar positivamente pessoas a quem se quer
proporcionar a salvação; eles são nossos alvos vivos. Da sociedade se extrai a
matéria prima da igreja, pedras brutas que conhecem bem de perto as mazelas e os
pecados que as cercam e que as influenciam. O que elas menos precisam e querem
ver em nós são as marcas e atitudes comuns a elas mesmas. Ninguém que está
longe de Cristo se achegará a Ele se ver em nós, a “igreja indivíduo”, qualquer característica do mundanismo que elas
conhecem, vivem e experimentam em seu cotidiano. Segundo Paulo, a carreira
cristã em suas mais diversas atribuições e cargos é algo excelente, e essa
palavra tem uma aura de pureza e indica um brilho especial a quem deseja servir
a Deus. Mas talvez a grande questão em nossos dias seja saber se é possível
manter esse nível de pureza entre os que nos lideram, ou afirmar que aqueles
que, no decorrer da história de cada igreja, de fato, foram levantados com tal
nível de integridade, ou ainda saber se existem hoje homens e mulheres que
tenham tal grau de integridade. Certamente a resposta não seria positiva, o que
não chega a ser algo tão alarmante assim; primeiro porque precisamos
lembrar-nos da nossa inclinação natural para o mal (Romanos 7.19-21). O que não é admissível é a igreja não criar
mecanismos de aperfeiçoamento e cura que possibilitem a todos serem
confrontados de uma maneira didática em primeira fase, pessoal direta em
segunda fase e disciplinadora num terceiro momento (Mateus 18.15-18). A esse conjunto de ações nós podemos chamar de
discipulado. Quando nos envolvemos uns com os outros em um nível de influência
mútua, a tendência natural é depurarmos as nossas próprias imperfeições e
pecados, pois sempre teremos bons referenciais.
Está
provado que o ritual tradicionalista de disciplina a partir de um cabeça, que
normalmente era o pastor da igreja, só serviu para apagar focos de incêndio,
mas o grande estrago já havia acontecido longe dos olhares dos vigias que num
passado próximo não contribuíam diretamente na ação de extinção do grande
incêndio causado pelo pecado na igreja.
16
Outra
prática comum entre as igrejas mais tradicionalistas (diferente de tradicionais)
era o processo de escolha que havia para preenchimento dos cargos e funções,
até mesmo a forma como eram escolhidos os pastores delas. De uma forma
ritualista, muito atrelada a interesses pessoais e de grupos de poder, deixando
em segundo plano componentes importantíssimos, como preparo, aptidão, dom e
principalmente a vontade de Deus. Hoje,
graças a uma revolução da simplicidade, é cada vez mais natural o processo
de levantamento de líderes para o serviço real; a prontidão e disponibilidade
pessoal está mais a frente no processo, juntamente com um trilho de treinamento
que visa dar segurança tanto para o candidato com para a igreja local. O
resultado disso é uma festa cada vez que um novo obreiro é levantado para
servir a Cristo entre nós, conosco e por nós.
Sob
as qualidades que Paulo relacionou a um obreiro de Deus incide um peso maior do
que o da letra. Vejamos como é isto:
Irrepreensível e ter boa reputação perante os de fora: Às vezes nos preocupamos muito em passar uma boa imagem
dentro da igreja e isso pode evidenciar vaidade e não transparência; nosso alvo
são os incrédulos.
Não apegado ao dinheiro nem a lucros desonestos: Muitas das nossas
desculpas para o pouco envolvimento na causa da igreja são um meio de esconder
nossas inclinações carnais e materiais, afinal “tempo é dinheiro”.
Prudentes e pacíficos: Pecamos fácil no
falar, sem discernir a ocasião, as pessoas e o lugar. Falamos demais e causamos
muitas dificuldades. O nosso agir deve ser sempre cautelosamente medido, como o
de quem monta uma fileira de pedras de dominós, não nos anulando, mas se formos
comedidos e cautelosos, provamos que somos conciliadores e reconciliadores.
Deve governar bem sua própria família: Em tempos em que a
família está em declínio, apesar da sua importância nas escrituras e relevância
para a sociedade, a relação marido e mulher saneada e filhos submetidos ao amor
e controle dos seus pais é um grande referencial para a sociedade em queda.
17
Sóbrios, respeitados e experientes: Vivemos na era da informação; não
existem mais pessoas ingênuas no mundo em que vivemos, daí a necessidade dessas
características que ajudam o líder a fazer uma leitura do mundo, ganhar um
status junto à comunidade e saber lidar com as situações da vida.
Confiáveis e de palavra: Temos que contar com líderes que não façam-nos pensar em
usar de mecanismos de controle de ações e de caráter; precisamos sim de homens
e mulheres comprometidos e verdadeiros.
Não dado ao vinho ou a violência: O domínio próprio é algo inseparável do fruto do
espírito, e um líder deve exercitar todo dom espiritual. Nada pode dominá-lo;
esse tal deve manter seus desejos em sujeição constante.
Hospitaleiro e apto a ensinar: Percebemos uma relação íntima entre uma coisa e
outra; é impossível transferir ensinamentos espirituais a distância; amar
gente, se relacionar com pessoas deve ser uma faceta indispensável de todo
mestre; caso contrário, ele se torna um livro, que só edifica se procurado, então
fica ali naquela estante empoeirada sem sentido de vida.
18
LIÇÃO 05 17
MAR
O DISCIPULADO CRISTÃO
E O CUIDADO MÚTUO – Pr. Marcos Castro
I TIMÓTEO 5
“Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria
família, negou a fé e é pior que um descrente”. I Timóteo 5.8.
“Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem
a todos, especialmente aos da família da fé”. Gálatas 6.10.
Quando
pensamos acerca de cuidado mútuo, rapidamente relacionamos com ajuda material.
Devido à prática comum das igrejas, a palavra “cuidado” ficou prejudicada em
seu significado, tendo seu sentido diminuído e, junto com este, a sua
aplicação.
Todo
capítulo 5 vem tratar sobre cuidado em vários níveis. Como disse nosso mestre, “nem só de pão viverá o homem”. Paulo
inicia a sua orientação ao seu discípulo, instruindo-o a manter um diálogo
firme, mas cordial, onde o respeito aos idosos e aos jovens fosse exercitado,
levando em consideração suas particularidades. Existem estudos que revelam o
descontentamento dos idosos devido ao tratamento que recebem dos mais moços. Normalmente,
age-se impacientemente com os anciãos, sem considerar suas limitações físicas e,
muitas vezes, emocionais. Apesar do texto tratar de uma relação entre irmãos em
Cristo, a estatística mostra que é justamente em família que esses maus tratos
são mais frequentes.
Já
no trato com os mais jovens, o discurso é sempre mais castrador e repreensivo,
não se levando em conta fatores importantes, como a formação do caráter e
alguns aspectos da personalidade. Existe uma rispidez natural de tratamento
entre os próprios jovens e adolescentes e também entre os adultos e eles,
especialmente em relação aos meninos. Gestos mais brutos, tapas e empurrões às
vezes substituem um cumprimento formal por palavras e gestos como o abraço ou o
aperto de mãos.
19
Já
as meninas, invariavelmente, se retraem mais devido ao assédio natural do
homem, de qualquer idade, que, às vezes, aproveita de um contato natural para
cometer alguns abusos, e isso dificulta um relacionamento fraternal nos
primeiros contatos, pois para elas é necessário usar de cautela e estudar o
comportamento e as atitudes do homem, para depois se abrir ao diálogo e ao
relacionamento fraternal.
Paulo
está exortando Timóteo, um jovem, mas também uma autoridade da igreja, a fugir
dessas práticas, estimulando-o a estabelecer sempre um contato intenso, mas
respeitoso com todos. Nós, como imitadores de Cristo e de Paulo, precisamos
tornar comum esse hábito entre nós, pois é grande o interesse que o mundo tem
sobre nossos jovens e adolescentes. Os de fora os consideram presas fáceis e
investem pesado para conquistá-los e, consequentemente, distraí-los na vida
espiritual. Paulo muda a direção do texto quando aborda o assunto das viúvas da
igreja. É interessante como desde sempre estivemos cercados por perigos sutis,
e Paulo nos alerta acerca de mais um deles. Às vezes, achamos que a viuvez em
si é pré-requisito para a ação social, mas assim como em Éfeso, nos nossos dias
temos que estar atentos às condições a que as viúvas estão submetidas.
Normalmente a liderança de igreja não está preparada para lidar com essa
situação melindrosa; por isso tem crescido entre nós o hábito de delegar essa
função a pessoas com formação em assistência social, pois invariavelmente esses
irmãos e irmãs são dotados dos dons espirituais necessários para atuar nessa
frente, tais como, discernimento, socorro, misericórdia.
“Mas se uma viúva tem filhos ou netos, que estes aprendam primeiramente a
colocar a sua religião em prática, cuidando de sua própria família e
retribuindo o bem recebido de seus pais e avós, pois isso agrada a Deus”. I Timóteo 5.4.
Infelizmente,
tais medidas acabam sendo necessárias e devem fazer parte do processo de
discipulado da igreja, porque, caso contrário, podem revelar desvios de conduta
como o descrito no trecho a seguir:
“Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria
família, negou a fé e é pior que um descrente”. I Timóteo 5.8.
Dentro
desse panorama, o apóstolo abre precedentes para que as viúvas jovens refaçam
suas vidas, que não permaneçam no desânimo e na tristeza da viuvez ou
envolvidas com situações que as desmoralize, tais quais, fofocas e dificuldades
de ordem sexual.
20
A
igreja deve estar pronta a amparar socialmente todos os carentes, seja de
coisas materiais básicas ou de amparo espiritual e emocional afetivo.
Precisamos lembrar sempre que igreja é relacionamento entre o homem e Deus em
primeira instância e uns com os outros; isso caracteriza uma igreja cristã. “...e
tinham tudo em comum...” Atos 2.42-47.
Paulo
exorta a seu discípulo acerca de outro cuidado, muitas vezes, esquecido no meio
da congregação, o cuidado com a liderança. Estes que estão sempre dispostos a
suprir as necessidades alheias, que investem tempo e energia para ver seus
irmãos e liderados em melhores condições de vida não podem ser excluídos desse
contexto de ajuda mútua.
Mas
em tempos de teologia da prosperidade, com tantos líderes que ostentam uma vida
muito acima do padrão daqueles que ele lidera, vivendo às custas do povo, que
humilde e inocentemente acata o discurso desafiador do seu pastor em busca de
um padrão de vida melhor e, na maioria das vezes, se frustra. Nós, meros
mortais, também temos acesso à informação, ou seja, a Bíblia não nos deixará
expostos a tais práticas sórdidas e mesquinhas, que visam somente o enriquecimento
ilícito e a ganância de uns poucos, que vivem de explorar o próximo.
“É necessário que eles sejam silenciados, pois estão
arruinando famílias inteiras, ensinando coisas que não devem, e tudo por
ganância”.Tito 1.11
Por
outro lado, esses fatos não podem servir de argumento para a igreja tirar dos
líderes fiéis desse tempo o direito de terem suas vidas e ministérios
valorizados pelos seus dons, pelo trabalho árduo e pela eficácia ministerial,
cuja base teórica e prática é a Bíblia, que ele ensina, prega e exorta a ser
praticada para a perfeita edificação do corpo. Muitas igrejas têm estado
atentas a essa questão; algumas têm estabelecido fórmulas para ajustes das
remunerações ou para defini-las a fim de preservar os ministros, evitando entre
outras coisas, os desgastes das votações em plenária pública acerca das
finanças dos obreiros. Outras congregações, porém, se calam, impondo uma
pressão desnecessária aos seus líderes, desconforto este que se transfere para
a família, saúde e até mesmo para o desempenho ministerial de alguém que como
nós é digno de remuneração condizente com a função e o trabalho executados.
21
As
igrejas de médio e grande porte certamente sofrem menos com esse problema, pois
tanto a saúde financeira dos membros e da própria igreja, como um maior grau de
esclarecimento evita que tal fato
ocorra, mas é muito triste ver a situação de outros ministérios, que sob a
justificativa do tamanho do rebanho, tem obrigado muitos homens de Deus a buscar seu sustento
fora da igreja para não expor suas famílias a privações desnecessárias.
“Os presbíteros que lideram bem a igreja
são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o
ensino, pois a Escritura diz:
"Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal", e "o
trabalhador merece o seu salário"I Timóteo 5.16-17.
Mas o respeito aos pastores e líderes são se resume a questões
financeiras, mas a uma submissão bíblica que passa por todos os aspectos das
relações humanas. É muito comum ouvirmos comentários surgirem acerca do bom
desempenho de um ministro do evangelho, mas são muito mais frequentes os
ataques direcionados a eles, sejam bons ou maus obreiros. Isso se deve a
importância do cargo; a investidura pastoral, por exemplo, está na berlinda
sempre; a sociedade sabe que existem pastores e “pastores”, assim como
em outras profissões ou atribuições existem os que, pelo seu mau comportamento,
denigrem a imagem de uma classe inteira. O hábito de generalizar é muito mais
comum do que deveria. Há um entendimento ou uma expectativa de que tais homens
e mulheres não errem, e quando isso acontece surge sempre um frisson, os
burburinhos se tornam intensos e o prejuízo contabilizado no Reino de Deus é
enorme.
Paulo ensina como agir em casos em que a honra do ministério e a dignidade
da igreja esteja em xeque. É necessário instaurar um inquérito sério,
imparcial, cujo processo de investigação e de levantamento de testemunhas seja
em ambiente sereno e sigiloso; mas após a apuração dos fatos, que as
providências tomadas se tornem públicas, dentro do limite da lei, sempre a fim
de dar ao ministro ou ao ministério o devido valor ou repreensão, para que a
prática, tendo sido boa, surta efeito edificador na igreja e na sociedade, mas
tendo sido má, torne notória a justiça de Deus entre nós.
“Pois eu lhes digo que se a justiça de
vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum
entrarão no Reino dos céus". Mateus
5.20.
22
LIÇÃO 06 24
MAR
O DISCIPULADO CRISTÃO
E A FIDELIDADE ÀS ESCRITURAS – Pr. Marcos Castro
I TIMÓTEO 6
“Timóteo, guarde o que lhe foi
confiado. Evite as conversas inúteis e profanas e as ideias contraditórias
do que é falsamente chamado conhecimento; professando-o, alguns se
desviaram da fé...”. I Timóteo 6.20-21.
Ao
analisarmos o contexto em que o evangelho está inserido em nossos dias, podemos
explicar a sua tendência. Quando Paulo escreve a Timóteo, ele estava fazendo o
mesmo exercício, lendo o contexto de Éfeso e situando o seu discípulo e aquela
igreja no tempo e no espaço. Tratava-se de um contexto muito parecido com o
nosso, onde a rigidez das formas e regras não eram bem aceitas, e desde os
primeiros filósofos, a relatividade imperava. Nos nossos dias, de igual modo, a liberdade de pensamento e
expressão estão em alta e o argumento é a valorização do homem. Mas Paulo,
sabedor de todo esse contexto, faz sua oposição, e usa as escrituras como
contraponto dessa realidade, que embora tenha uma aparente beleza, guarda o
maior perigo que ameaça a igreja desde seu início: a “subjetividade”, ou, traduzindo para uma linguagem mais comum: “eu acho que...”.
Com
esses ensinos do apóstolo, podemos entender o principal papel da liderança
cristã ao longo dos tempos: “fazer uma
leitura precisa do mundo e instruir os cristãos como viver pelos princípios das
escrituras, pois eles são eternos e sempre contemporâneos”.
Mas
talvez isso possa ser um exercício não muito fácil, pois o próprio evangelho
acompanhou a tendência ao subjetivismo. Aquela que era absoluta, a Bíblia,
agora também já é tida como relativa, ou seja, talvez a aplicação desses
princípios não sejam eternos em termos de cumprimento, mas só no sentido de
existência, ou seja: isso funcionava assim naquele tempo; os tempos são outros
agora, e é preciso tornar o antigo mais atual.
23
A
isso alguns chamam de contextualização, mas segundo a própria Bíblia ensina,
trata-se de desvio da fé, ou da sã doutrina.
“Mas o Espírito expressamente diz
que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos
enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam
mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência;” I Timóteo 4.1-2.
Por contextualização a igreja deve
considerar os métodos de aplicação, ou seja, a forma, mas nunca o conteúdo, e
em todo tempo, através de uma liderança atenta e bem experimentada na
filosofia, psicologia e outras ciências sociais, mas principal e
inegociavelmente nas escrituras, para que possa promover o ensino bíblico, pois
para isso fomos chamados. Alguns entre nós temos condenado o aprofundamento da
igreja nas ciências chamadas humanas, o que é um posicionamento extremo a ser
evitado. Nomes como Aristóteles, Platão, Nietzsche, Durkheim, Freud, Foucault,
Descarte, Kant, Marx, Rousseau, Feuerbach e muitos outros contribuíram e muito,
não para propagação do evangelho, pois todos de fato foram opositores ferrenhos
da sã doutrina, mas certamente ajudaram a testar a fé dos grandes homens de
Deus, que aprovados, sustentaram e continuam a sustentar o senhorio intelectual
criador, provedor e dominador absoluto de Deus em Cristo. O que esses grandes
homens fizeram contribuiu muito para nos levar ao real conhecimento de quem
somos e de quem é Deus.
Um desafio e tanto para todo líder
cristão é definir a sã doutrina, aliás, essa matéria é muito intrigante e tem
alimentado os debates teológicos ao longo da história. Devido as tendência que
surgiram, algumas boas e outras nem tanto, existe um único fator que as
credenciam como evangelho verdadeiro.
“Você, porém, homem
de Deus, fuja de tudo isso e busque a justiça, a piedade, a fé, o amor, a
perseverança e a mansidão”. I Timóteo 6.11.
O texto acima esclarece que a sã
doutrina não se evidencia em teorias, ideias ou pensamentos, mas na prática
diária daquilo que se diz crer. Uma característica comum a todos os grandes
pensadores é a de não se preocuparem em dar soluções prontas para os problemas
da humanidade, de não influenciarem pessoas segundo padrões pré-definidos, mas
antes dar à liberdade de ação um valor acima de qualquer outro bem, ou seja, uma
supervalorização dos conceitos e uma total falta
24
de comprometimento com ações
práticas ou direcionamentos que produzam qualquer mudança de vida prática. Já o
evangelho, ao contrário, tem a proposta de direcionar todo homem, primeiro ao
conhecimento de Deus, e depois a submissão a sua vontade soberana, exercitada
em amor. Ao homem cabe reconhecer em Deus e na sua providência graciosa o único
referencial de vida possível para o seu bem estar e felicidade, mas este ideal
se opõe a tudo que se ensina no mundo e nas ciências humanas. Por elas o homem
está no controle e Deus é só mais uma teoria ou conceito abstrato sobre o qual
a humanidade deve meditar a respeito. Paulo, apesar de letrado e culto, era
extremamente prático; seus ensinos também assim são, e dessa forma ele finaliza
essa sua valiosa instrução a Timóteo e a nós como seus discípulos amados. Ele
se preocupa em exortar aos trabalhadores e escravos cristãos a viver a sã
doutrina, ou seja, pregá-la não só por palavras, mas por ação, mesmo em sujeição
e situações de extrema humilhação. Segundo suas palavras, existe uma eficácia
muito maior no discipulado quando vivemos o evangelho pagando o preço em nós
mesmos, nos submetendo até mesmo, se preciso for, a situações incômodas e
humilhantes, para que sejamos de fato reconhecidos como filhos de Deus,
alcançados pelo amor e pela graça de Jesus.
“Diante de Deus,
que a tudo dá vida, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos fez a
boa confissão, eu lhe recomendo: Guarde este mandamento imaculado, irrepreensível,
até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo,” I
Timóteo 6.13-14.
Ao ricos, ele conclama que sejam instruídos a dependerem
de Deus e a rejeitarem o orgulho natural a todo aquele que se vê suprido em
todas as suas necessidades materiais. Temos lido muitas histórias interessantes
de homens e mulheres, que embora ricos, se lamentaram muito de não poderem
comprar de volta sua saúde perdida, seus filhos nas drogas e a própria
felicidade, pois depositaram toda sua expectativa de vida no dinheiro e na
riqueza construída; o final de muitos desses é de angústia e dor, e de uns
poucos, de arrependimento e experiência com Deus. Alguns sabendo da sua condição
finita edificam fundações para promoverem melhores condições para aqueles que
padecem do mesmo mal ou enfermidade, mas por motivações que não os farão herdar
a paz eterna, apenas por boa ação ou por saberem que não poderão usufruir dos
favores da herança acumulada ou na tentativa de serem recompensados num futuro
incerto por boas obras, quem sabe?
25
Percebemos que a dependência humana
é muito maior do que o próprio homem pode dar conta. Apesar de toda tentativa
da ciência, de todas as teorias dos grandes pensadores, de toda autovalorização
propagada e de todo recurso material angariado, o homem não se sustenta sem
Deus. Ainda que não se possa provar isso ou a própria existência divina nos
termos científicos, todos nós veremos e conheceremos o Seu Poder Eterno quando
Jesus novamente estiver diante de toda humanidade para, tendo julgado, salvar
alguns e condenar outros a maior de
todas as tragédias humanas, o inferno e a separação eterna de Deus.
“Dessa forma, eles
acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de
vir, e assim alcançarão a verdadeira vida”. I Timóteo 6.19.
Chegamos ao fim desse estudo, que
tem por título o discipulado cristão não por acaso, pois foi isso que Paulo fez
na vida de Timóteo: primeiro o alcançou e conquistou sua confiança; depois ensinou-lhe as doutrinas básicas para sua
salvação; mais tarde, o fundamentou naquilo que ele mesmo chamou de todo
conselho de Deus, a sã doutrina, e então o enviou à prática e ao serviço
cristão, com a missão simples de cuidar dos seus irmãos, que viviam um estágio
anterior ao seu, ou seja, precisavam ser feitos discípulos, serem ensinados,
exortados a perseverança e a prática da religião verdadeira em Jesus Cristo.
Portanto mais do que simplesmente
conhecermos um pouco mais da Bíblia ou de Paulo ou de Timóteo ou da cultura e do
contexto de Éfeso, nosso objetivo é de nos preparar melhor para os desafios da
vida cristã. Num mundo que vive sob tanta influência intelectual, o que a
humanidade menos precisa é de conceitos ou teorias, que ela mesma conhece como “fábulas
do cristianismo”, e isso ocorre porque nós, a igreja desse século, também temos
sido muito mais teórica e conceitual do que prática. Nossos valores morais, no
geral, não são condizentes com nossos atos; o comportamento da igreja
contemporânea não representa o que de fato é o evangelho.
Portanto amados irmãos, saiamos das
nossas salas de aula e de conferências para dar a experimentar ao mundo aquilo
que Paulo chama de “O Poder de Deus”,
uma palavra viva e eficaz que é capaz de levar o mais inteligente dos homens,
ou o mais rico dos homens, ou ainda o mais
amargurado e desamparado ser humano à esperança e a paz que excede todo e
qualquer entendimento (ciência) humano.
26
LIÇÃO 07 31
MAR
SE LIGA AÍ TIMÓTEO:
MEDO E MINISTÉRIO ECLESIÁTICO NÃO COMBINAM! – Prof. Isac
II TIMÓTEO 1
1 - PAULO, apóstolo de Jesus Cristo, pela
vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus,
2 - A Timóteo, meu amado filho: Graça,
misericórdia, e paz da parte de Deus Pai, e da de Cristo Jesus, Senhor nosso.
5 - Trazendo à memória a fé não fingida
que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e
estou certo de que também habita em ti.
6 - Por cujo motivo te lembro que
despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos.
7 - Porque Deus não nos deu o espírito
de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.
8 - Portanto, não te envergonhes do
testemunho de nosso SENHOR, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes
participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus,
9 - Que nos salvou, e chamou com uma
santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito
e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos;
10 - E que é manifesta agora pela aparição de nosso
Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a
incorrupção pelo evangelho;
11 - Para o que fui constituído pregador, e apóstolo, e
doutor dos gentios.
12 - Por cuja causa padeço também isto,
mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que
é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia.
13 - Conserva o modelo das sãs palavras
que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus.
14 - Guarda o bom depósito pelo Espírito
Santo que habita em nós.
27
Antigamente, nos dias de Paulo, as
cartas gregas seguiam um padrão bastante rígido: nome do remetente, nome do
destinatário, e uma breve saudação. Embora se utilize desse padrão, Paulo
inovou, desenvolvendo um estilo próprio. Então, nesta segunda carta, assim como
na primeira, e em tantas outras, ele enfatiza que é apóstolo de Cristo e não
apenas um representante da igreja local. Ele começa, portanto, falando um pouco
dele próprio, e depois passa a encher a bola de Timóteo, seu filho na fé, seu
discípulo, e, neste momento da vida, seu braço direito. Paulo dá uma moral a
Timóteo para que ele permaneça firme em sua fé, para que permaneça fiel,
citando, inclusive, a piedade que ele herdou da família. É como se ele
estivesse dizendo a Timóteo: “Bichinho, lembre-se da fé que herdou da sua
família, do quanto foram fiéis ao Senhor, e seja também. Lembre-se de sua ordenação ao ministério
pastoral, inclusive pela imposição de minhas próprias mãos; e por fim lembre-se
que essa parada de medo, de temor, de fragilidade são incompatíveis com o
ministério. Você é um cabra arretado, um sujeito forte, e precisa permanecer
assim. Ói, você vai sofrer um bocadinho, mas é assim mesmo, enfrente as
dificuldades. Não entre nessa paranóia evangélica brasileira (herança
norteamericana) de que Deus nos chama somente para as belezuras. Veja o meu
caso. Tenho momentos de belezuras, mas o Senhor me chamou para o martírio. Não
se envergonhe disso, bichin. Não fique acanhado porque o seu líder está preso.
Estou sim, mas não que tenha cometido crimes contra a sociedade, estou preso
pelo evangelho, e por esta causa, tudo vale a pena.”
O medo, meus irmãos e minhas irmãs,
nos congela. É bom lembrar que a sensação de medo muitas vezes é necessária
para nos impedir de fazer determinadas coisas que envolvem riscos
desnecessários. Mas quando ele nos paralisa, aí já não serve. Se você tem medo
de ser avaliado o tempo todo, se tem medo de críticas, medo de ser
incompreendido, injustiçado, rotulado, então o ministério eclesiástico é
incompatível para você. E não estou falando apenas de ministério pastoral, mas
de qualquer ministério.
Todos nós convivemos com o medo, mas
precisamos vencê-lo. Vamos ler um texto lindo do nosso poeta mineiro Carlos
Drummond de Andrade, intitulado CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO, e vamos
refletir um bocadinho sobre isso, antes de tocarmos o bonde:
28
“Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os
abraços;
não cantaremos o ódio porque esse
não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e
nosso companheiro:
o medo grande dos sertões, dos
mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das
mães, o medo das igrejas.
Cantaremos o medo dos ditadores, o
medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo
de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão
flores amarelas e medrosas”.
Era esse medo aí que Paulo não
queria que Timóteo sentisse, um medo que deixa os abraços mais frios, mais
distantes ou até inexistentes; um medo de não se envolver com as pessoas para
não se decepcionar, um medo de amar. Drummond fala de pessoas tão medrosas, tão
medrosas, que mesmo depois da morte, nascerão sobre seus túmulos flores
amarelas de medo.
Essa orientação de Paulo a Timóteo
sobre ser forte me lembra bastante as palavras de Deus para Josué, no Velho
Testamento. Vamos comparar:
JOSUÉ 1
6 - Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este
povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria.
7 - Tão somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para
teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés te ordenou;
dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que
prudentemente te conduzas por onde quer que andares.
8 - Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes
medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo
quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás
bem sucedido.
9 Não to mandei eu? Esforça-te, e tem
bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o SENHOR teu Deus é contigo, por
onde quer que andares.
29
EU SEI
EM QUEM TENHO CRIDO – verso 12
Esta certeza de Paulo é fundamental
para o seu ministério e para o ministério de qualquer um de nós, a convicção de
em quem cremos, e no que cremos. Tanto no caso de Josué quanto no caso de Timóteo,
a orientação é a mesma: “Não se aparte do livro. Segue as orientações nele
registradas. Nada de ficar tomando decisões a partir, simplesmente, de supostas
revelações, nada de sair por aí consultando os ‘videntes evangélicos’. Leia,
busque a orientação de Deus. Nada de medo. Seja forte. Estarei contigo”.
Companheiros e companheiras, eu não
acredito no bom desempenho ministerial de ninguém que não seja um leitor. As
pessoas que não leem falam sobre o quê? Pregam sobre o quê? E as pessoas que
ouvem entendem o quê? O chamado ministerial é por conta de Deus, claro, mas a
preparação para exercer esse chamado fica por nossa conta. Como foi dito para
Josué: “não se aparte do livro”. E como foi dito para Timóteo: “conserva o
modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido.” Sem conhecimento, qualquer
liderança fracassa. O líder precisa ter compromisso com a verdade libertadora
do evangelho: “conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará.” – João 8:32
30
LIÇÃO 08 07
ABR
OBREIRO APROVADO,
MARTÍRIOS E BELEZURAS – Prof. Isac Machado
de Moura
II TIMÓTEO 2
1 - TU, pois, meu
filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus.
2 - E o que de
mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam
idôneos para também ensinarem os outros.
3 - Sofre, pois,
comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo.
4 - Ninguém que
milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o
alistou para a guerra.
9 - Por isso
sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não
está presa.
10 - Portanto,
tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação
que está em Cristo Jesus com glória eterna.
11 - Palavra fiel
é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos;
13 - Se formos
infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.
15 - Procura
apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar,
que maneja bem a palavra da verdade.
16 - Mas evita os
falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade.
22 - Foge também
das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que,
com um coração puro, invocam o Senhor.
31
Aqui, Paulo reforça a necessidade de que Timóteo,
seu filho na fé, e agora seu colega de ministério, se fortaleça na graça de
Deus. Ele recomenda que tudo aquilo que
Timóteo ouviu dele, na presença de várias testemunhas, aplique no seu
ministério. Provavelmente, Paulo se refere ao que disse no dia do batismo, ou
mais provavelmente, da ordenação de Timóteo ao ministério pastoral. E
acrescenta que ele precisa compartilhar seu conhecimento, sua experiência com
outros homens aplicados ao ministério do ensino para que estes se tornem
multiplicadores daquilo que ensinou, ou seja, do evangelho apostólico. Paulo
chega a usar a expressão “meu evangelho” se referindo não a um evangelho
particular seu, mas ao evangelho de Cristo, que é o tema de sua pregação, de
seu ensino. Claro que outros
“evangelhos”, outras “teologias” rondavam as igrejas, e Paulo chega a citar
nominalmente dois companheiros que andavam pregando algo em contrário em
relação ao evangelho de Cristo, e com esse ensino estavam criando uma ansiedade
nas pessoas, uma vez que afirmavam que a ressurreição “geral” já havia
acontecido. Paulo orienta então que determinadas polêmicas não são úteis para a
maturidade espiritual das pessoas, e criam confusão. Timóteo deve, portanto,
manter distância desse tipo de coisas. Não é que temas polêmicos devam ser
evitados, é que algumas coisas não valem a pena serem discutidas em público ou
defendidas como verdade única, absoluta. Por exemplo, um debate sobre “livre
arbítrio” e “predestinação” pode, certamente, ser uma coisa muito positiva e
enriquecedora, desde que ambas as partes não se achem donas da verdade. Levar
as pessoas a pensar sempre é positivo, mas dizer, por exemplo, que o único
batismo válido é aquele feito por imersão, para alguém que acabou de se
converter na igreja presbiteriana, é uma bobagem que vai atrapalhar muito mais
que ajudar. É mais ou menos de algo assim que Paulo está falando.
O “não embaraçar-se com negócios
desta vida”, no verso 4, não quer dizer que aqueles que são chamados para o
ministério não possam ter uma atividade profissional fora da igreja. Tem a ver
sim com qualquer coisa que “atrapalhe” a realização do seu ministério. A ideia
da dedicação de tempo integral para os pastores é plausível, mas nem todos que
se dizem de tempo integral, infelizmente, se dedicam de tempo integral. De
qualquer forma, a questão aqui, no verso 4, não é essa.
32
Embora preso, e, de certa forma
“envergonhado” por isso, Paulo diz que a Palavra de Deus não está presa junto
com ele. Ela continuava e continua alcançando as pessoas. Os versos 10 e 19 são usados, com frequência,
pelos companheiros calvinistas, que defendem a predestinação. E faz sentido o
que dizem a partir desses textos. Mas ainda assim prefiro acreditar que a partir do sacrifício de Cristo, que foi por
toda a humanidade e não por uma parte dela, todos nós fomos predestinados e
escolhidos para a salvação. Quanto ao 19, “o Senhor conhece os que são seus”,
nenhuma dificuldade. Ele nos conhece, assim como o conhecemos. Sobre isso é bom
dar uma olhadinha em João 3:16 (“todo aquele que nele crê...”); At 16:31
(“crê...e serás salvo...).
A ideia de morrer e viver, no verso
11, certamente está relacionada ao batismo nas águas e não, nesse caso, a um
chamado para o martírio. Na simbologia do batismo, quando imergimos, é como se
estivéssemos sendo sepultados junto com Cristo; e quando emergimos, ressuscitamos
junto com ele, uma nova criatura, portanto.
DEUS
PERMANECE FIEL – verso 13
A fidelidade de Deus para conosco,
assim como o Seu amor, é absolutamente incondicional, independe de nós. Não
podemos usar isso para justificar nossos pecados, mas por outro lado, não
podemos ignorar que nenhum pecado, por maior que seja, é maior que a graça de
Deus. Ele não nos ama menos quando erramos, quando pecamos. O Seu amor continua
com a mesma intensidade. A necessidade de punir, de “excluir” tem uma demanda
social. É a igreja que pune, já que é um grupo social e que precisa dar
satisfações a comunidade interna e externa, conforme o caso. E essa punição não
deveria significar abandono ou afastamento das pessoas. Deus jamais nos exclui.
Ele nos ama, apesar de nós.
OBREIRO
APROVADO...QUE NÃO TEM DE QUE SE ENVERGONHAR....
Essa orientação é muito linda, muito
intensa. Em nosso contexto brasileiro, volta e meia somos surpreendidos com
notícias de um obreiro que transportava dinheiro indevido em local impróprio;
de um obreiro envolvido com milícia; de um obreiro que abandonou o ministério e
se envolveu com política partidária ou, pior ainda, que se envolveu com política
partidária sem abandonar o ministério, e que, de bônus, está envolvido em
corrupção e por aí vai. Quantos obreiros poderão, no fim dos seus ministérios
ou em algum momento dele, fazer o que esse cara fez? Me refiro a Josué (I
Samuel 12:3): “Eis-me aqui; testificai contra mim perante o SENHOR, e perante o
seu ungido, a quem o boi tomei, a quem o jumento tomei, e a quem defraudei, a
quem tenho oprimido, e de cuja mão tenho recebido suborno e com ele encobri os
meus olhos, e vo-lo restituirei.”
33
No fim do seu ministério, esse cabra
reúne o povo e o desafia dessa forma. Eta! Sujeito arretado! Obreiro aprovado,
que não tem do que se envergonhar. Tem que ter muita segurança, muita moral pra
fazer isso. Que seja esse o modelo para todos nós, obreiros, ministros da
igreja de Deus.
AS
PAIXÕES DA MOCIDADE – verso 22
Este versículo tem ligação direta
com I Tm 4:12. Claro que numa primeira leitura do verso 22, somos tentados a achar
que Paulo está se referindo a sexualidade de Timóteo, aos desejos da juventude,
mas não parece ser essa a ideia central. Quando associamos com 4:12 e com 6:11 da primeira epístola, fica mais
claro que a intenção é que Timóteo, enquanto líder e jovem, se liberte da
intolerância, do temperamento explosivo, do apego às coisas materiais,
tornando-se maduro, justo, tolerante, e obtendo, assim, o respeito de seus
liderados. Qualquer líder muito jovem está mais exposto a determinadas
tentações que não se limitam àquelas que envolvem sexo.
É como se Paulo estivesse dizendo ao
seu pupilo: “cara, você é bom, mas não seja auto-suficiente, mesmo que seja
tentado a isso. Ao invés disso, ‘segue a
justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o
Senhor’. Ou seja, dialogue, companheiro. Você não é dono da igreja,
simplesmente está a serviço dela. Não ache que pode resolver tudo por decreto.
Aí tem gente que pensa diferente de você, mas que quer a mesma coisa, o bem
estar da igreja de Deus. Ouça esses caras, converse, dialogue. Fuja da tentação
de liderar por decreto. É mais fácil, porém está longe do ideal”
No contexto evangélico brasileiro,
muitas “lideranças” têm governado (liderado?) por “decretos canônicos”
inquestionáveis. Para garantir a inquestionabilidade de suas decisões recorrem
ao tradicional “cuidado, com o ungido de Deus”. Esta frase tornou-se um amuleto
para espantar aquelas criaturas “possuídas pelo espírito de rebeldia”, que é um
jeito medieval de se referir a quem deseja maiores detalhes, a quem deseja o
porquê de uma decisão. Esses líderes não aprenderam com Paulo, evidentemente,
aprenderam com os nossos ditadores dos anos 60 e 70. Questionou, discordou?
Então espanca, tortura, prende, mata,
oculta o cadáver. Se pensa diferente, mata! A orientação paulina a Timóteo é:
“se pensa diferente,
dialogue.” O diálogo, companheiros e
companheiras nos enobrece. Não se trata de sempre vencer o outro com nossos
argumentos. Se trata de ouvi-lo, compreendê-lo, respeitá-lo, mesmo que
continuemos pensando diferente. Diálogo sempre. Decreto nunca.
34
LIÇÃO 09 14
ABR
O EVANGELHO DE
VERDADE, OS FALSOS MESTRES E OS TEMPOS DO FIM – Prof. Isac
II TIMÓTEO 3
1 - SABE, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão
tempos trabalhosos.
2 - Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos,
presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos,
profanos,
3 - Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores,
incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons,
4 - Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos
deleites do que amigos de Deus,
5 - Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia
dela. Destes afasta-te.
6 - Porque deste número são os que se introduzem pelas
casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de
várias concupiscências;
7 - Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao
conhecimento da verdade.
8 - E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim
também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e
réprobos quanto à fé.
9 - Não irão, porém, avante; porque a todos será
manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles.
10 - Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de
viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência,
11 - Perseguições e aflições tais quais me aconteceram em
Antioquia, em Icônio, e em Listra; quantas perseguições sofri, e o SENHOR de
todas me livrou;
12 - E também todos os que piamente querem viver em
Cristo Jesus padecerão perseguições.
13 - Mas os homens maus e enganadores irão de mal para
pior, enganando e sendo enganados.
14 - Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de
que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido,
15 - E que desde a tua meninice sabes as sagradas
Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo
Jesus.
16 - Toda a Escritura é divinamente inspirada, e
proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em
justiça;
17 Para que o
homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.
35
Neste capítulo, Paulo faz uso de uma
literatura apocalíptica para apresentar a Timóteo uma breve descrição dos
últimos dias que antecederão a volta de Cristo, que, diga-se de passagem, era
esperada para aqueles dias. Essa apresentação apocalíptica mistura-se ao que
acontecia na sociedade de Éfeso naquele momento. Essa lista de coisas
horrorosas, de adjetivos depreciativos segue atualizada. Vivemos entre pessoas
assim, e alguns de nós somos assim, dignos de pelo menos um adjetivo desses aí.
Amantes de si mesmo temos um monte de gente. São os egoístas. Aqueles para quem
o outro é apenas o outro. Os implacáveis são aqueles que não sabem dialogar,
aqueles que estão sempre certos e todos os outros errados, aqueles que não
sabem ouvir. Muitas das criaturas de Éfeso, dos dias de Timóteo detinham tais
adjetivos, mas mantinham a aparência de piedade (santidade), davam até a
impressão de que acreditavam na graça de Deus, mas negavam a eficácia dela. Se
aproveitavam da aceitação que conquistavam na comunidade para perverter o povo,
indo às casas, inclusive.
Segundo minha assessoria para assuntos
de grego, essa expressão “mulheres néscias” originalmente seria o equivalente a
“mulherinhas”, um diminutivo irônico, de teor negativo, para referir-se a
mulheres que por falta de conhecimento se deixavam levar por qualquer novidade
doutrinária. Essas mulheres eram, na
minha concepção, pessoas do bem, porém mal informadas, e mal informadas porque
o conhecimento lhes fora negado mesmo por muito tempo. Então elas eram ávidas
pelo saber. O problema é que não tinham discernimento para separar o ensino
apostólico do ensino herético. Elas se abriam para qualquer novidade,
tornando-se, portanto, presas fáceis. Então Paulo em sua “delicadeza” no trato
com as mulheres, registra que elas “aprendem sempre, e nunca podem chegar ao
conhecimento da verdade”. Ou seja, hoje aprendiam com Timóteo, mas se amanhã
fossem visitadas por essa turma que Paulo critica, elas passavam a seguir aqueles
ensinos.
Na sequência, Paulo se volta para os
homens, os corruptores, no caso, os falsos mestres, e traça um paralelo entre
eles e os mágicos de Faraó. Esses nomes, Janes e Jambres, não constam na
narrativa do Velho Testamento, mas constavam de outras literaturas conhecidas
de Timóteo, interlocutor da carta. Paulo tenta tranquilizar seu pupilo, dizendo
para ficar alerta, porém tranquilo, uma vez que os falsos mestres que andavam
minando o trabalho apostólico não irão a frente, que seriam desmascarados,
assim como aconteceu com os tais mágicos de Faraó.
36
No verso 10, Paulo cita seu modelo, seu
exemplo, para Timóteo, lembrando de que é mesmo isso que ele deve seguir.
Quando ele fala em “minha doutrina”, está falando em “minha teologia”, está
falando no ensino apostólico. Então é essa teologia que Timóteo precisa viver e
ensinar; é o modelo de vida do seu mestre, Paulo, que ele deve seguir; é a fé
em Cristo que ele deve professar, e isso independente de perseguições. Na
sequência, Paulo registra que todos aqueles que seguem a Cristo de verdade,
sofrerão perseguições. Não tomemos, irmãs e irmãos, isso como modelo de
vitimização para os nossos dias. Hoje, fazermos o discurso de que somos vítimas
dessa sociedade ou do governo, é bobagem. Nós, brasileiros, vivemos um clima de
liberdade religiosa tão pleno, que muitos de nós não estamos sabendo desfrutar,
e estamos achando que essa liberdade só deve se aplicar aos cristãos, o que é
um equívoco. Dizer que a sociedade hoje nos persegue não faz sentido. Dizer que
a legislação que trata de barulho nas igrejas é perseguição religiosa é
desconhecer o direito do outro, de quem não está dentro da igreja. Dizer que o
governo nos “persegue” quando oficializa a passeata gay ou os direitos
homossexuais, é desconhecer que o estado é laico. Aliás, é bom lembrar que o
mesmo governo petista “perseguidor de cristãos” que oficializou a passeata gay,
oficializou também a “marcha para Jesus” através da Lei Federal 12.025/2009.
Aliás, se a tal marcha para Jesus foi proposta pela nossa bancada evangélica
para fazer frente a passeata gay, alguma coisa está bastante errada. Quero
acreditar que não tenha sido essa a intenção. Também não quero acreditar que
tenha sido para auto-promoção de algumas personalidades políticas evangélicas.
Estou “viajando”. A intenção foi promover o evangelho de Cristo. Deve ter sido.
Mais uma vez, no verso 13, Paulo fala
dos homens maus, e diz que eles irão de mal para pior, reforçando, na
sequência, que Timóteo deve permanecer naquilo que aprendeu. Ele recorre ainda
ao que Timóteo aprendeu desde a sua infância, ressaltando o conhecimento do
mesmo e a importância dos seus mestres. A questão aqui é o que sabe, e com quem
aprendeu. As credenciais, a autoridade de quem ensina é fundamental nesse
processo.
Ensinar, queridos e queridas, é levar as
pessoas a descobrirem determinadas coisas que já estão dentro delas, talvez
adormecidas, e que precisam apenas ser despertadas. Não é apenas transmitir
conhecimento, é também transmitir valores, princípios, exemplos, afeto.
37
É apresentar as diversas possibilidades,
os pontos de vista diversos sobre determinado tema, e não apenas o ponto de
vista do mestre. Por fim, me desculpem, mas em 19 anos de magistério
profissional e 26 de magistério cristão, ainda não aprendi a ensinar sem dar
minha opinião. Nós que ensinamos, que pregamos, somos formadores de opinião.
Contribuímos para que o outro, a quem servimos, tire suas próprias conclusões
diante dos mais diversos temas. Não sei fazer isso sem dar minha própria
opinião. Aliás, vejam se não é isso que Paulo está fazendo com Timóteo. O tempo
todo o apóstolo emite sua opinião, até mesmo em relação a determinadas pessoas
das quais até os nomes ele cita. Parece que ensinar também é isso.
Esse negócio do ensinador emitir sua
opinião é tão comum na prática, tão comum no texto bíblico, que Paulo chega a
abusar desse recurso, e aceitamos como canônico aquilo que o próprio Paulo está
dizendo que é apenas a opinião dele: “...Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão
tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe...” A
opinião dele segue pelos versículos seguintes, e aceitamos como texto canônico.
Mas ele é Paulo, né? Ele pode. Ok.
16 - Toda
a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir,
para corrigir, para instruir em justiça;
A Escritura, que é divinamente
inspirada, é proveitosa para ENSINAR, ARGUMENTAR (redarguir), para CORRIGIR,
para INSTRUIR em justiça. Não aparece na lista paulina verbos como: manipular,
aterrorizar, impor medo, condenar.
Paulo está dizendo ao seu pupilo, em
outras palavras, que a Bíblia precisa ser sua regra de fé e prática, que seu
ensino precisa partir dela, que sua vida precisa refleti-la, que ele precisa
ensinar sem abrir mão do senso de justiça, que precisa ensinar a própria
justiça para os seus seguidores, e toda justiça precisa partir do pressuposto
de que somos todos iguais.
Voltando rapidinho a questão das
mulheres, essas questões citadas por Paulo, tanto na primeira epístola quanto
nesta, não são suficientes para afirmar que mulheres não podem ser pastoras. Claro
que podem. Não há argumentos bíblicos para impedir que sejam. Há sim
argumentos masculinos (no Cristianismo, os homens sempre mandaram) que denotam
um certo medo de concorrência. Nada mais que isso.
38
LIÇÃO 10 21
ABR
COMBATENDO O BOM
COMBATE ... GUARDANDO A FÉ... - Prof. Isac M. Moura
II TIMÓTEO 4
1 - CONJURO-TE, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus
Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino,
2 - Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de
tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.
3 - Porque virá tempo em que não suportarão a sã
doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme
as suas próprias concupiscências;
4 - E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às
fábulas.
5 - Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a
obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.
6 - Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de
sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo.
7 - Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a
fé.
8 - Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a
qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também
a todos os que amarem a sua vinda.
9 - Procura vir ter comigo depressa,
10 Porque Demas
me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para
Galácia, Tito para Dalmácia.
11 - Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o
contigo, porque me é muito útil para o ministério.
12 -Também enviei Tíquico a Éfeso.
13 - Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em
casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos.
14 - Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o
Senhor lhe pague segundo as suas obras.
15 -Tu, guarda-te
também dele, porque resistiu muito às nossas palavras.
16 - Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes
todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado.
17 - Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que
por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei
livre da boca do leão.
39
Neste
capítulo, o apóstolo Paulo continua apresentando a Timóteo um quadro desolador.
Ele fala de um tempo, próximo, em que as pessoas não mais suportariam a sã
doutrina. Elas teriam comichão no ouvido, ou seja, teriam “coceira” por coisas
mais fáceis, por coisas que desejariam ouvir. E diante disso, o apóstolo
orienta o jovem pastor a insistir na pregação da palavra, no ensino do
evangelho apostólico que havia recebido, na sã doutrina.
Todos
os meus leitores e ouvintes sabem perfeitamente que não sou dado a tradições,
mas nem por isso acho que o novo esteja sempre certo, que seja sempre o melhor.
Há muitas coisas aproveitáveis nas tradições, assim como nas novidades, nas
modernidades. A questão toda é saber dosar, administrar, pegar o que há de
melhor nas tradições e nas novidades, mas sem negociar os princípios eternos da
Palavra de Deus. Paulo, naquele tempo,
já tinha forte preocupação com isso. Ele não queria que a igreja em Éfeso
corresse o risco de abraçar todas as novidades em detrimento da sã doutrina.
Nada substitui a sã doutrina, o conhecimento bíblico. Assim como no contexto em
que o apóstolo escreve, hoje também vivenciamos um tempo em que as novidades,
as historinhas, as fábulas, o enriquecimento fácil e milagroso proposto pela
teologia da prosperidade vem tomando o lugar da sã doutrina em muitas
comunidades evangélicas. Então é como se as pessoas escolhessem o que querem
ouvir. Elas não querem ouvir sermões reflexivos, sermões expositivos, elas
querem ouvir sermões de prosperidade; adoram ouvir coisinhas a que chamam de “ministrações”,
do tipo: “o melhor de Deus está por vir”, “aquilo em que você tocar, será seu”,
“tome posse”, “Deus tem um projeto tão bonito para você que seus vizinhos vão
morrer de inveja”, “você será restituído de tudo aquilo que o diabo te tomou”,
e por aí vai. Então elas choram, se emocionam, mas não experimentam nenhuma
transformação. É uma “doutrina”, uma “teologia”, um “evangelho” descartável,
apenas para aquele momento. Pouco depois da tal ministração mágica, tudo volta
ao que era antes. É secar as lágrimas e tocar o bonde.
40
Isso,
companheiros e companheiras, passa bem longe do que Paulo chama de “sã doutrina”.
São “fábulas”, contos de fadas, auto-ajuda, qualquer coisa, mas em hipótese
alguma, sã doutrina. Pregue a sã doutrina e tenha uma pequena comunidade;
pregue as fábulas, as “ministrações mágicas” e tenha uma comunidade
numericamente grande, mas sem qualidade, sem conhecimento, sem argumentos para
defender sua fé. Amanhã ouvirão outras coisas, outras novidades, e lá estarão
essas pessoas.
Quando
Paulo fala para Timóteo ser sóbrio, equilibrado, ele está pensando em bebida
mesmo, em vinho forte. Está orientando-o para que não se embriague, para que
faça uso do vinho apenas conforme a orientação contida em 1 Tm 5:23. Na sequência, a orientação é para
que se prepare para, em nome do ministério, sofrer as aflições. Até porque
pouco tempo depois, ele teria que seguir sozinho, uma vez que o apóstolo sente
que sua morte se aproxima.
COMBATI O BOM COMBATE...
Esta
referência nada tem a ver com qualquer aspecto militar. Paulo não está falando
de guerra. Está falando de uma competição atlética, uma luta romana, provavelmente,
comparando isso a luta diária para anunciar o evangelho. E por falar nisso,
vamos refletir um pouquinho sobre uma das “novidades” da igreja evangélica
brasileira: a linguagem de guerra. Parece que muitos de nossos irmãos
compositores, cantores, ministros optaram por deixar de lado a mensagem de amor
do evangelho de Cristo, a mensagem da graça ilimitada de Deus, e resolveram
explorar até o limite da encheção de..., quer dizer, até a exaustão, a
linguagem de guerra do Velho Testamento, do período anterior a graça de Deus em
Cristo. Podemos começar com “nosso general é Cristo”, lá dos anos 80 ou 90 e
seguirmos até hoje e nos surpreenderemos com a ideia de vingança gospel,
combate militar gospel, batalha espiritual, “aquele que luta as nossas guerras”
e por aí vai.
41
Nada contra o Velho Testamento, texto potencialmente
judaico; mas tudo a favor do evangelho de Cristo, da mensagem de amor e de
graça do Novo Testamento. Gaste um tempinho durante a sua semana, faça uma
releitura dos quatro evangelhos e procure, com uma lupa, essa linguagem bélica
nas palavras de Jesus. Depois compartilhe comigo e com a sua classe. Se você
prefere as ideias de vingança de Davi, tudo bem. Encha-nos a paciência com
musiquinhas de guerra. Eu, porém,
prefiro a graça dos evangelhos. “Sim, eu amo a mensagem da cruz... té
morrer eu a vou proclamar...”
Daí pra frente, a carta toma um tom ainda mais pessoal.
Paulo vai citando nomes de pessoas que lhes causaram problemas, de pessoas que
ele quer ver, de pessoas que o abandonaram. É notório um certo ressentimento em
suas palavras. Nada pode ser pior, para um ser humano, que a sensação de
abandono, de pouca importância. Às vezes, infelizmente, a igreja se comporta
como uma empresa. Então, enquanto estamos produzindo, enquanto estamos ativos,
servindo em nossos respectivos ministérios, somos pessoas fofas. Aí um dia
adoecemos (aquelas doenças de longa duração) ou “caímos” (aqueles pecados
“capitais”), pronto, nos tornamos “leprosos”, vamos sendo esquecidos
gradativamente, sendo banidos da comunidade dos “santos pecadores”, sendo
abandonados. E aí os anos de trabalho, de dedicação ao ministério, de tudo o
que produzimos em prol da comunidade já não têm nenhuma importância. E isso,
claro, dói bastante. Paulo está sentindo-se abandonado por muitos. Ele não
cometeu “nenhum crime”, mas está preso. Não é confortável ser amigo de um
preso, estar muito junto de um preso. Daí o abandono. Além do tempo de espera.
Para os livres, a vida seguia seu fluxo, e alguns foram cuidar de suas vidas,
meteram o pé. Outros foram designados pelo próprio Paulo para alguma
tarefa. O apóstolo está entristecido,
mas vive a expectativa de ver Timóteo antes de partir. Somente Lucas permanece
com ele, e ele se alegra com isso. A presença de um amigo nos momentos de dor,
solidão, incompreensão é tudo de bom. Paulo visualiza sua partida, sua coroa:
“...levarei eu também minha cruz té por uma coroa trocar...” “Combati o bom
combate, encerrei a carreira, guardei a
fé. Desde agora a coroa da justiça me está guardada...”
42
LIÇÃO 11 28
ABR
A EPÍSTOLA DO APÓSTOLO
PAULO A FILEMON – Pr. Daniel Albuquerque Velozo
INTRODUÇÃO
Falar sobre mensagens deixadas pelo
apóstolo Paulo, creio ser muito difícil, pois ele era um filósofo, poliglota (falava
quatro idiomas), e tinha duas cidadanias; era um homem mais intrépido do que o
apóstolo Pedro, pois ele mesmo chama a atenção de Pedro em público. Paulo não
era igual aos demais apóstolos, pois em seu encontro com o mestre, ele começa
já caindo do cavalo, para nos mostrar que só o Senhor pode levantar um homem
cego.
Filemon é a única carta “particular” de Paulo, no sentido de
que não foi oficialmente dirigida a uma congregação ou a um superintendente
responsável, mas sim a uma determinada pessoa, e tratou unicamente do problema
especial que o apóstolo queria considerar com esse irmão cristão, o
aparentemente abastado Filemom, que residia na cidade de Frígia de Colossos,
bem no coração da Ásia Menor.
A carta foi mui provavelmente escrita por volta de 60-61 a.C,
visto que, com certeza, o apóstolo Paulo já pregara em Roma o tempo suficiente
para fazer conversos. Também, visto que, no versículo 22, ele expressa
esperança de ser libertado, podemos entender que a carta foi escrita depois
dele já estar preso por algum tempo. Parece que estas três cartas, uma para
Filemom e aquelas para as congregações de Éfeso e Colossos, foram encaminhadas
por meio de Tíquico e Onésimo. Ef. 6.21, 22; Cl. 4.7-9.
Que o Apóstolo Paulo foi o escritor de Filemom torna-se
evidente no primeiro versículo, onde ele é mencionado por nome Fm 1.1.
Ela não contém instrução alguma direta referente a doutrina
ou conduta cristã. O seu valor principal encontra-se no quadro que nos oferece
do funcionamento prático da doutrina cristã na vida diária e da relação do Cristianismo
com os problemas sociais.
O
Apóstolo Paulo tinha advertido os proprietários de escravos sobre sua
responsabilidade para com eles. Além disso, ele apresentou esses escravos como
responsáveis seres morais que deviam temer a Deus.
43
Em
Filemom, o apóstolo Paulo não condenou a escravidão, mas apresentou Onésimo
como um irmão cristão, em vez de um escravo. Quando um proprietário pode se
referir a um escravo como um irmão, o escravo chegou a uma posição em que o
título jurídico de escravo não tem mais sentido. A igreja primitiva não atacou diretamente a
escravidão, mas estabeleceu as bases para um novo relacionamento entre
proprietário e escravo. Paulo tentou unir Filemom e Onésimo com o amor cristão
de modo que a emancipação seria necessária. Somente após a exposição à luz do
Evangelho é que a instituição da escravidão poderia morrer.
APLICAÇÃO PARA HOJE
Apesar da carta a Filemom ser bem pequena, ela apresenta uma
série de ensinos preciosos ao relacionamento cristão. Um destes ensinos é que a
distância não apaga conflitos entre dois irmãos em Cristo. Todos os
crentes em Jesus não podem deixar pendentes problemas de relacionamento. Além
disso, o perdão deve ser um testemunho público. Assim como Paulo enviou uma
carta de perdão pessoal, mas ela estava endereçada a igreja, o crente deve ter
a humildade de compartilhar com a igreja o perdão.
A carta a Filemom aborda
a igualdade de todos diante de Deus. Mesmo nos relacionamentos de
autoridade e subordinação, o vínculo deve ser o amor em Jesus Cristo. Portanto,
amor e perdão devem fazer parte dos relacionamentos, mesmo quando um deve ser
submisso ao outro.
A mais breve das epístolas que integram o corpo de escritos
paulinos e o Novo Testamento, a epístola de Filemom, pode ser considerada
também como uma espécie de “bilhete” no qual o apóstolo Paulo tenta de forma
persuasiva ajudar nas relações de Senhor/Escravo, não ausentando o caráter de
epístola, que tem como característica sua leitura comunitária (o problema de
Filemom foi a conhecimento de todos da comunidade, ao menos pela epístola de
Paulo).
Filemom era um cristão da comunidade de Colossos,
provavelmente uma pessoa de posses (o fato de ter escravos permite tal ideia),
e de destaque na comunidade (v. 4, 7). Onésimo,
escravo fugido de Filemom, cometera uma ato injusto contra o seu senhor (v.
18), ato do qual não se sabe o que especificamente, e fugira.
44
Este escravo teve um encontro com o apóstolo Paulo, no qual
ele relatou toda a situação. Tal encontro pode ter sido com Paulo na prisão ou
apenas uma tentativa de refúgio na companhia do apóstolo. Paulo pede a Filemom
que receba Onésimo novamente como seu escravo em qualidade de irmão (v. 16) e
como se fosse o próprio apóstolo (v. 17).
Escrita - Origem
Percebe-se um cuidado com os nomes colossenses citados por
Paulo nesta epístola (Cl. 4.7-17). Percebe-se também que Paulo se encontra
prisioneiro (v. 1, 9, 10, 23). Logo esta epístola foi escrita na mesma época de
Colossenses.
Argumenta-se que foi o próprio Paulo quem escreveu o bilhete
a Filemom, o que descarta a ideia de que ele tenha sido um prisioneiro
algemado, mesmo quando cita em sua epístola aos colossenses (Cl. 4.3, 4, 18). O
apóstolo Paulo talvez se referisse às algemas devido a impossibilidade de
pregar tal como ele queria, uma vez que ele estava preso como que por algemas.
Sustenta-se a ideia
de que Paulo estivesse preso como um homem em “livre custódia”, tal como era em
Roma (At. 28.30-31), o que lhe concedia certos privilégios, e um deles era
ensinar pessoalmente ou por cartas, mas com algumas restrições.
Provavelmente seu lugar de aprisionamento era em ou perto de
Éfeso. Isso é sustentado por dois trechos bíblicos: um é o fato de Paulo pedir
aos colossenses, através da carta a Filemom, que preparassem para ele uma
pousada porque parecia a ele que logo seria solto (v. 22), e também por parecer
congruente com seus planos na ocasião de seu ministério efésio (At. 19-20).
Segundo registros, o apóstolo Paulo nunca visitou a região
de Colossos após sua partida de Éfeso. A situação de sua prisão e soltura fez
com que ele se sentisse meio incomodado de voltar a tal região. Então ele
prossegue com seu ardente plano de pregar em Roma (At. 20.16, 17; Fm. 23).
Uma vez em Roma, os planos do Apóstolo Paulo era continuar
viagem até a Espanha. Devido esse desejo nasce outra hipótese, porém mais
inconstante da origem da escrita do “bilhete” a Filemom.
45
Segundo estudiosos, Paulo ainda estava em Roma quase de
partida para a Espanha quando encontrou-se com Onésimo, quando este fugia para
Roma procurando anonimato na cidade Imperial, o que seria um refúgio e início
de vida para ele. Todavia este acabou se encontrando com Paulo, causando uma
grande mudança nos planos do apóstolo.
Talvez Paulo tenha repensado sobre a forte e falsa doutrina
a que Colossos estava sendo apresentada. Paulo pode ter revisado seu itinerário
quanto à visita ao vale do Lico.
Ainda segundo estudiosos, mais uma indicação de que a
epístola tenha nascido em Roma é o fato de Lucas e Marcos estarem na lista de
Paulo (v.24). Lucas estava com Paulo em Roma e não se tem indícios de que ele
esteve em Éfeso. Marcos é tradicionalmente associado com Roma, não com Éfeso.
Porém não se pode afirmar com tanta certeza de que tal epístola foi escrita em
Roma, baseando-se apenas no silêncio das maiores informações ou no vácuo de
ligação entre elas. Logo, esta linha de evidência, considerada indecisiva e
neutra, não caminha mais além do que isto.
46
LIÇÃO 12 12
MAI
CONVERSÃO – Pr. Daniel Albuquerque Velozo
O
objetivo da carta é claramente revelado: durante a sua primeira prisão em Roma,
o apóstolo Paulo tinha grande liberdade de pregar o Reino de Deus. Entre os que
ouviram a sua pregação achava-se Onésimo, um escravo fugitivo da casa de
Filemom, amigo de Paulo. Em resultado, Onésimo tornou-se cristão, e Paulo
decidiu, com o consentimento de Onésimo, enviá-lo de volta a Filemom. Foi nessa
ocasião, também, que Paulo escreveu cartas às congregações em Éfeso e Colossos.
Em ambas, deu bons conselhos a escravos cristãos e a donos de escravos sobre
como proceder corretamente nessa relação. (Ef. 6.5-9; Cl. 3.22-4.1). Foi uma
carta escrita a próprio punho, algo incomum para Paulo. (Fm. 19) Este toque
pessoal contribuiu muito para dar peso à sua súplica.
Onésimo
ainda era propriedade de Filemom, e Paulo escreveu para suavizar o seu regresso
ao seu mestre. Onésimo tornou-se um cristão (Fm. 10) como resultado da
testificação de Paulo, o qual queria que Filemom aceitasse Onésimo como um
irmão em Cristo e não meramente como um escravo.
GRAÇA E LEI
Talvez
em nenhum lugar do Novo Testamento a distinção entre lei e graça seja tão bem
retratada. Tanto a lei romana como a lei mosaica do Antigo Testamento deram a
Filemom o direito de punir um escravo fugitivo que era considerado propriedade.
Entretanto, o pacto da graça através do Senhor Jesus permitiu que o senhor e
seu escravo desfrutassem de um companheirismo baseado na igualdade dentro do
Corpo de Cristo. Empregadores, líderes políticos, executivos de corporações e
pais e mães de família podem seguir o espírito do ensinamento de Paulo ao
tratar os funcionários cristãos, companheiros de trabalho e membros da família
como membros do Corpo de Cristo.
47
Os
cristãos na sociedade moderna não devem ver ajudantes como instrumentos para
ajudá-los a alcançar suas ambições, mas como irmãos e irmãs em Cristo que devem
receber um tratamento amável. Além disso, todos os líderes cristãos devem
reconhecer que terão que prestar contas a Deus pelo tratamento daqueles que
trabalham para eles, quer os ajudantes sejam cristãos ou não.
O fato do Apóstolo Paulo deixar claro para Filemom que ele o
restituirá em tudo (v. 18) demonstra mais que a possibilidade de furto, uma vez
que as leis romanas deixavam claro que quem acolhesse um escravo fugitivo
assumiria o montante de cada dia de trabalho perdido a ser entregue ao seu
dono.
Também parece que Onésimo conhecia bem as leis que regiam Roma. Uma delas dizia que um escravo fugido
poderia encontrar repouso na casa de um amigo ou familiar. Contudo, alguns
estudiosos não aceitam devido à passagem do v. 13 onde Paulo transparece a
outra parte da lei romana que dizia que um escravo deveria ser vendido para
pagamento das despesas do seu antigo dono.
Paulo queria ter Onésimo ao seu lado, todavia com o prévio
consentimento de Filemom.
A liberdade do escravo era tão oficializável como o ato de
torná-lo escravo. Ao fugir, o escravo poderia comprar sua liberdade,
depositando nos altares dos deuses romanos determinadas quantias, as quais eram
transferidas pelos sacerdotes destes templos ao seu antigo senhor à medida que
este escravo comprava sua liberdade.
Nos templos de Apolo e Delfos era possível ler os nomes dos
escravos que estes deuses libertavam. Mas o ato do perdão era algo mais
complicado. Paulo usara de pensamentos repletos de revolução intelectual e
cultural ao pedir a Filemom que o aceitasse sem maldades, como irmão, enquanto
que ele, segundo os costumes da época, poderia prendê-lo e depois castigá-lo
com brutalidade. Até mesmo a crucificação era aceita.
Sendo assim, Paulo não procura forçar Filemom com palavras.
Antes ele procura trabalhar o coração de Filemom com os ensinos cristãos que
ele possui, deixando claro que prejuízos financeiros ele não terá (v. 19),
usando com ele tom suave no argumentar (v. 8, 9) e esperando uma atitude que
brote do coração de Filemom (v. 14). Portanto Paulo não o força a nada.
48
COMPAIXÃO CRISTÃ
Na época do apóstolo Paulo, havia cerca de 6 milhões de
escravos no império romano, e a sua sorte, em geral, era a de miséria.
Considerados como propriedade de seus amos, estavam
completamente a mercê deles. Não tinham direitos legais. Pela mínima ofensa
podiam ser açoitados, mutilados, crucificados ou entregues às feras.
A epístola toma um ar de corrente da compaixão cristã (v.
12) com uma lembrança bem usada por Paulo de certa dívida de Filemom para com
ele (v. 19) em prol da vida de Onésimo, que significa “proveitoso, útil”. A
epístola possui notas características como "em
nome do amor" (v. 9), "reanima-me o coração em Cristo"
(v. 20), "recebe-o como se fosse a mim mesmo" (v. 17) e "sabendo
que farás mais do que estou pedindo" (v. 21), deixando um ar de
confiança e certeza de que seus pedidos serão atendidos. E não há como não
dizer que tais pedidos não foram realizados, porque se não o fossem, com certeza,
a epístola não teria sido preservada em Colossos tal como foi.
CARACTERÍSTICAS
DIGNAS DE LOUVOR - REFLEXÃO PARA A ATUALIDADE
Apesar desta epístola não apresentar questões
doutrinárias, como as demais epístolas paulinas, o “bilhete” a Filemom possui
uma mensagem bastante forte no quesito dos relacionamentos pessoais. No século I, a escravidão fazia parte do
círculo natural da vida. Ninguém pensava em aboli-la. O Novo Testamento foi e é
muito criticado pelo fato de não ter tido voz ativa contra a escravidão, e isso
é fato.
A Epístola de Filemom é um "tapa de
luva" quando se fala de relacionamentos entre pessoas de status diferentes
na sociedade. Nesta epístola, não é difícil perceber como o apóstolo Paulo coloca Filemom e Onésimo no
mesmo nível diante de Deus. Ambos servem a Cristo, logo são tratados
imparcialmente por Deus, que os vê como iguais.
Nesta demonstração de igualdade é que Paulo
continua trabalhando seu ideal de servidão a Deus como pode ser visto nas
demais epístolas (Gl. 3.28; Cl. 3.11; 1 Co. 7.20-24). A escravidão, pelo menos
para Paulo, se torna algo inútil diante da grande mensagem de salvação do
Evangelho.
49
Todavia, Paulo não repreende tal prática, mas
deixa pistas para reflexões do tipo "quem tem ouvidos ouça" ou
"quem tem coração reflita".
No versículo 16, encontramos a suma da epístola.
Paulo apela para que Filemom veja seu escravo não somente como tal, mas como
seu irmão em Cristo, o que era extremamente difícil, uma vez que escravos não
eram vistos como pessoas, mas como mão-de-obra, ferramenta viva.
Tal apelo leva os cristãos de hoje a repensarem
sua posição social, mesmo que nos dias de hoje não se veja mais escravidão como
antes. Paulo coloca que trabalho e vida social não fogem às leis evangélicas, o
que deve ser refletido nos dias de hoje. Um (a) empregado (a) nunca deve ser
oprimido(a) sem que antes a consciência do seu (sua) chefe passe por uma
reflexão; e vice-versa. Nunca o (a) empregado (a) deve agir sem meditar no evangelho
para a consequente ação posterior em seu posto social e profissional. E não só
nestas áreas da sociedade, mas em todas deve-se ter tal meditação.
O PODER
DO EVANGELHO NA SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS SOCIAIS - SOMOS UM EM CRISTO
Vale lembrar que todos são escravos do
evangelho. E mesmo escravos do evangelho conseguem se ver livres no próprio evangelho,
no qual todos são apenas um, os quais lutam para apenas um, Nosso Senhor Jesus
Cristo. A Ele a dívida de gratidão deve ser sempre paga em amor ao próximo;
dívida que não se extingue; dívida que não é por troca pela salvação; nem por
pagamento, mas pela provocação de se amar onde o amor não é aceito e muito
menos possível.
Num mundo de insanidade, a insanidade divina de
se desejar algo impossível, contudo cativante, se torna o melhor dos convites,
o qual, por milagre, torna-se o impossível mais praticável e desejado do mundo,
indo contra qualquer razão ou status.
REFLEXÃO
Creio que Onésimo (proveitoso, útil) somos nós,
que por vez ou outra fugimos da presença de Deus e nos dirigimos para
determinados lugares, achando que o
Senhor não nos verá.
Creio, Também, que o Apóstolo Paulo representa o
Senhor Jesus, que foi o pagador de nossas dívidas, nos redimindo de nossos
pecados.
50
LIÇÃO 13 19
MAI
INTRODUÇÃO AO LIVRO DE TITO
Pr. Daniel Albuquerque Velozo
Escritor: Paulo
Lugar da Escrita: Macedônia
Data da Epistola Pastoral: 61-64 a.C
Creta: é uma ilha do Mar Mediterrâneo,
pertencente à Grécia e ao continente europeu.
Paulo deve ter escrito a carta entre seu
primeiro e segundo encarceramento em Roma. O peso da evidência em favor da
autenticidade da carta a Tito é o mesmo que o das cartas contemporâneas a
Timóteo, os três livros bíblicos muitas vezes chamados de “cartas pastorais” de
Paulo. O estilo de escrita é similar.
Tito era um crente grego. Ensinado e discipulado
pelo apóstolo Paulo, permaneceu diante dos líderes da Igreja em Jerusalém como
um exemplo vivo do que Cristo estava fazendo entre os gentios (Gl. 2. 1-3).
Como Timóteo, foi um dos confiáveis companheiros de viagem de Paulo e um dos
seus amigos mais íntimos. Mais tarde tornou-se embaixador especial de Paulo (II
Co. 7.5-16) e no final, o supervisor das igrejas em Creta.
Lenta e cuidadosamente, o apóstolo Paulo
transformou Tito em um cristão maduro e um líder responsável. A carta a Tito foi
um passo neste processo de discipulado. Do mesmo modo que fez com Timóteo, O apóstolo
Paulo instruiu Tito sobre como organizar e liderar as igrejas.
O Apóstolo começa com uma saudação e uma
introdução mais longa do que as habituais, esboçando a progressão da liderança:
o ministério de Paulo (1.1-3), as responsabilidades de Tito (1.4,5) e os
líderes que Tito designaria e treinaria (1.5). Paulo então lista qualificações
pastorais (1. 6-9) e contrasta os presbíteros fiéis com os falsos líderes e
mestres (1. 10-16).
51
Em seguida, Paulo enfatiza a importância das
boas obras na vida do cristão, dizendo a Tito como se relacionar com pessoas de
variadas faixas etárias na igreja (2.2-6). Ele exorta Tito a ser um bom exemplo
de um crente maduro (2.7,8) e a ensinar com coragem e convicção (2.9-15).
Discute então as responsabilidades gerais dos cristãos na sociedade: Tito
deveria lembrar as pessoas sobre estas responsabilidades (3. 1-8) e deveria
evitar discussões que trouxessem divisão (3.9-11). Paulo conclui com saudações
pessoais (3.12-15).
A carta de Paulo a Tito é breve, porém é um
vínculo importante no processo de discipulado, ajudando um jovem a tornar-se um
líder da igreja. Ao ler esta carta pastoral, você aumentará seu conhecimento em
relação à organização e à vida da Igreja Primitiva, e encontrará princípios
para estruturar as igrejas contemporâneas, e aprenderá também como ser um líder
cristão responsável.
FALSIDADE CRETENSE
Os cretenses eram imorais e preguiçosos. O trabalho
seria difícil para Tito. Havia em Creta muitas cidades e, consequentemente,
muitas igrejas, as quais podem ter sido fundadas por Paulo, conforme nos parece
pela epístola. Entretanto, algumas podem ter surgido pela ação de judeus
convertidos no dia de Pentecostes (At. 2.11).
“Paulo, escravo de Deus e Apóstolo de Jesus Cristo . . . a Tito,
filho genuíno segundo a fé partilhada em comum.” (Tt. 1.1,4). Assim começa a carta de Paulo a seu
colaborador e companheiro de longa data, Tito, a quem ele deixara na ilha de
Creta para organizar melhor as congregações. Tito tinha uma grande tarefa nas
mãos nesta ilha, que se dizia ser a antiga morada do “pai dos deuses e dos
homens”. A falsidade de seu povo era notória, de modo que Paulo até mesmo citou
o próprio profeta deles, como dizendo: “Os cretenses são sempre mentirosos,
feras prejudiciais, glutões desempregados.” (1.12).
Os cretenses dos dias de Paulo foram também assim descritos: “O
caráter do povo era volúvel, insincero e briguento; eram dados à avareza, à
licenciosidade, à falsidade e à bebedice, em grau pouco comum; e parece que os
judeus que se estabeleceram entre eles ultrapassaram os nativos na
imoralidade”.
52
Foi em tal ambiente que as congregações de Creta surgiram; assim,
era especialmente necessário os cristãos repudiarem a impiedade e os desejos
mundanos e viverem com bom juízo, justiça e devoção piedosa, como Paulo
exortara (2.12).
A CAMINHADA DE TITO
O livro de Tito em si pouco informa sobre a associação de Paulo e
Tito. Das referências a Tito nas outras cartas de Paulo, porém, podem-se colher
muitas informações. Tito, que era grego (como falado anteriormente), acompanhou
muitas vezes a Paulo e, pelo menos uma vez, foi com ele a Jerusalém. (Gl.
2.1-5). Paulo refere-se a ele como “parceiro meu e colaborador”. Foi a Tito que
Paulo enviara a Corinto depois de ter escrito de Éfeso a sua primeira carta aos
Coríntios. Na sua estada em Corinto, Tito estava ligado à coleta que se fazia
para os irmãos em Jerusalém, e, subsequentemente, retornou, a mando de Paulo,
para completar a coleta. Foi na viagem de retorno a Corinto, depois de seu
encontro com Paulo em Macedônia, que Tito foi usado para levar a segunda carta
de Paulo aos Coríntios. II Co. 8.16-24;
2.13; 7.5-7. Embora fosse grego, seu nome vem do latim e
significa "louvável". As referências a Tito no Novo Testamento
apresentam seu itinerário ministerial:
1) Paulo
o trata como "filho na fé", dando a entender que sua conversão se deu
mediante a pregação do apóstolo. Paulo demonstra ligação espiritual e fraternal
com Tito.
2) Tito
acompanhou Paulo na viagem a Jerusalém e esteve presente no concílio de Atos
15, embora não tenha sido mencionado naquele livro.
3) Tito
trabalhou em Corinto e levou relatório para Paulo sobre a situação da igreja.
4)
Trabalhou também em Creta. Foi encontrar-se com Paulo em Nicópolis. Trabalhou
também na Dalmácia. De acordo com a tradição, Tito se estabeleceu em Creta,
ficando ali até a sua velhice.
53
Depois de ter sido solto de sua primeira prisão
em Roma, o apóstolo Paulo outra vez se associou com Timóteo e Tito durante os
anos finais de seu ministério. Isto parece ter incluído o serviço em Creta,
Grécia e Macedônia. Por fim, fala-se de Paulo ir a Nicópolis, no noroeste da
Grécia, onde, pelo que parece, foi preso e levado a Roma para seu
encarceramento final e execução. Foi durante a visita a Creta que o apóstolo
deixara Tito ali para que corrigisse as coisas defeituosas e fizesse
designações de anciãos numa cidade após outra, em harmonia com as instruções
que dera a Tito. Parece que a carta de Paulo foi escrita pouco depois que ele
deixou Tito em Creta, mui provavelmente de Macedônia. (Tt. 1.5; 3.12; 1 Tm.
1.3;2 Tm. 4.13,20). Parece ter servido a um objetivo similar ao de I Timóteo, a
saber, incentivar o colaborador de Paulo e dar-lhe apoio abalizado em seus deveres.
Presbíteros: Protetores da Congregação
A esperança de vida eterna do cristão é certa! No começo de sua
carta ao seu filho espiritual Tito, o apóstolo Paulo afirmou que ele labutava
na esperança de vida eterna (1.2). Ele estava contando com a promessa de Deus
feita antes do mundo começar. Essa promessa é certa porque é incompatível com a
natureza justa de Deus mentir.
Paulo identificou tanto sua posição como seu ministério. Ele era
um apóstolo, mas demonstrou sua humildade, descrevendo-se como um servo (1:1).
Estava confiada a Paulo a pregação da mensagem divina que espalharia a fé e o
conhecimento de Deus (1:1-3).
Paulo tinha deixado Tito na ilha de Creta com instruções para que
pusesse em ordem certas coisas naquelas igrejas. Explicitamente, Tito tinha que
completar a indicação de presbíteros nessas igrejas (1.5). Paulo relacionou as
qualificações de presbíteros para que Tito pudesse ajudar os cristãos dessas
congregações a escolher homens capazes de fazerem este trabalho. Os presbíteros
também eram chamados “bispos” e lhes era designado o trabalho de pastorear o
rebanho de Deus, (vamos comparar Tt. 1.5-7 com At. 20.17,28). Podemos concluir
que um presbítero é um pastor!
54
LIÇÃO 14 26
MAI
MINISTROS DE DEUS X FALSOS MESTRES
Pr. Daniel Albuquerque Velozo
Ministros de Deus
"Por esta causa te deixei em Creta".
Se em algum momento Tito se sentisse incomodado com os problemas das igrejas e
do povo de Creta, deveria então se lembrar das palavras do Apóstolo. "Por
esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem o que ainda
resta". Não devemos reclamar daquilo que faz parte do propósito de Deus
para nós. A situação em Creta poderia não ser muito confortável para Tito, mas
se tudo estivesse bem, sua presença não seria necessária.Tito recebeu a incumbência
de constituir ministros. Observamos nisso a capacidade de Tito e confiança do Apóstolo
Paulo em sua pessoa.
Os falsos mestres
Paulo demonstra constante preocupação com os
falsos mestres e a saúde doutrinária das igrejas. Entre esses, estavam "os
da circuncisão" (1.10,14). Tal expressão designava os judaizantes, aqueles
que queriam impor a lei judaica sobre os gentios convertidos ao Cristianismo.
O Apóstolo Paulo instrui Tito a como tratar o
herege, o qual deveria ter oportunidade, através de admoestações. Contudo, isso
também teria um limite: "Depois da primeira e segunda admoestação,
evita-o". Não devemos perder o nosso tempo com discussões infindáveis
sobre questões polêmicas. Se não chegarmos a um acordo rapidamente, então não
permitamos que isso vire contenda (3.9). O Apóstolo Paulo instruiu Tito, no
capítulo um, a auxiliar as igrejas da ilha de Creta a identificar e escolher presbíteros. Uma das
responsabilidades de tais homens seria confrontar indivíduos que estavam
desencaminhando outros pelos seus ensinamentos de fábulas judaizantes e
mandamentos dos homens.
55
Enquanto essas pessoas professavam que “conheciam” Deus, elas
negavam sua própria afirmação por sua desobediência.
Vivendo por Sã Doutrina
Paulo ordena a Tito que ensine, em contraste, como as pessoas
devem comportar-se. Ele se refere a este tipo de ensinamento como “sã doutrina”
porque, se seguida, ela levará os cristãos a manterem a saúde espiritual. Paulo
aborda a conduta e as responsabilidades dos cristãos nas bases de idade, sexo e
emprego. Primeiro, ele descreve o papel dos mais velhos, e então das mais
velhas (2.2-3). Ele esmiúça as responsabilidades das mulheres mais jovens,
observando que as mulheres mais velhas deveriam ensiná-las (2.4-5). A seguir,
ele passa aos moços em geral, no versículo 6, e a Tito, especialmente no
versículo 7. Finalmente, ele conclui esta parte descrevendo a conduta
apropriada dos servos (2.9-10).
Ainda que suas instruções dadas a um grupo obviamente não sejam
totalmente diferentes daquelas dadas a outro grupo, Paulo aborda necessidades
específicas e tentações (por exemplo, roubo entre servos; falta de submissão
entre viúvas, integridade entre jovens).
Um motivo forte para se comportarem de acordo com a sã doutrina
era evitar qualquer ocasião para os incrédulos acusarem os discípulos de
impiedade (2.5,8). Em vez de fazerem com que a Palavra de Deus fosse difamada
pela conduta pecaminosa, os cristãos poderiam “adornar” a doutrina de Cristo
através de sua obediência (2.10).
Assim como ocorre em várias epístolas, o
Apóstolo Paulo apresenta instruções práticas para a vida cristã. Ele se refere
a várias classes de pessoas que faziam parte da igreja. Sabendo que o povo de
Creta era imoral e preguiçoso, os convertidos deveriam ter um padrão de
comportamento diferente. Como sempre, Paulo dedica parte de sua epístola para
reforçar o ensinamento a respeito dos fundamentos da fé cristã.
56
A universalidade da graça divina é vista
claramente: "a todos os homens". Esse texto é um dos que derrubam a
teoria da predestinação absoluta para a salvação ou para a perdição.
Paulo continua observando em geral por que os cristãos deveriam
viver de acordo com a sã doutrina (2.11-14). Deus demonstrou sua graça para com
a humanidade enviando seu Filho para morrer na cruz. Jesus morreu para redimir
os homens de sua iniquidade, assim provendo para ele próprio um povo especial,
purificado e zeloso das boas obras. (Ef. 5.25-27). A mensagem do evangelho é
que podemos tornar-nos parte deste povo especial se quisermos deixar a
impiedade e as paixões pecaminosas do mundo e viver de acordo com a sã
doutrina.
Obreiros do Bem, Salvos pela Graça
O apóstolo Paulo nos lembra de nossa conduta passada. “Éramos
néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e
prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros”
(3.3). A bondade e o amor de Deus foi manifestado quando salvou os homens
pecadores como Paulo e aqueles com os quais Tito trabalhava. Contudo, esta
divina misericórdia tem consequências. Deus não salvou os homens para que eles
continuassem na sua conduta pecaminosa. Tito é mandado lembrar seus irmãos de
que o comportamento deles como cristãos precisa ser muito diferente do passado
(3.1-2). Observe que a conduta ordenada nestes versículos é diretamente oposta
a que é descrita no versículo 3. Ao invés de odiar aos outros ou agir com
maldade, os cristãos têm que ser pacíficos e gentis com as pessoas, evitando
falar mal delas.
Uma das acusações feitas contra os cristãos nas perseguições
romanas do II e III séculos era que eles eram desleais ao governo. Esta
acusação era feita porque os cristãos não queriam adorar o imperador. Contudo,
os cristãos estariam entre os melhores cidadãos em qualquer país, porque se
submetiam voluntariamente ao governo, por causa de Cristo (Rm. 13.1-7).
57
O valor das boas obras, ou frutos do cristão,
também, é visto de forma clara. Não se trata apenas de obras de caridade, mas
ações justas de modo geral. A salvação é pela graça e pelo amor de Deus, mas as
boas obras acompanham a salvação. É o testemunho diário do cristão.
A carta de Paulo foi necessária, porque Tito estava enfrentando
muita oposição na igreja em Creta. Por isso que ele enviou uma carta de
incentivo e orientações de como proceder numa igreja de crentes mundanos.
A leitura da carta a Tito ensina que a melhor resposta aos
conflitos dentro da igreja é a prática das boas obras, com o bom testemunho
cristão. Um crente nunca deve se envolver em assuntos ou conversas que produzam
desavenças e nem desobediência, mas “ser padrão de boas obras. No ensino,
mostrar integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o
adversário seja envergonhado” (2:7,8).
Ainda que Paulo ressalte a necessidade dos cristãos estarem
prontos para fazerem boas obras (1.16; 2.7,14; 3.1,8,14), ele não quer que
ninguém pense que sua salvação resultou de suas obras de justiça (3.5). Somos
justificados pela graça através da lavagem espiritual cumprida no batismo (1
Pe. 3.21; Ef. 1.7; At. 22.16; Ap. 1.5; Rm. 6.3-4). Não merecemos a herança que
nos é dada, a vida eterna (3.7).
Enquanto os cristãos precisam buscar boas obras, precisam evitar
discussões tolas e contendas que não edificam. Precisam também ser cuidadosos
com os irmãos facciosos. Estes indivíduos devem ser admoestados uma e duas
vezes e, se não se arrependerem, os irmãos devem evitá-los (3.9-11).
Paulo termina sua carta a Tito com alguns pedidos pessoais
referentes aos seus companheiros no trabalho. Ele pede a Tito para ir
encontrá-lo em Nicópolis, onde ele passaria o inverno. Mesmo nestas
recomendações finais, ele salienta a importância das boas obras (3.14).
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LIÇÃO 15 02
JUN
CONCLUSÃO REFLEXIVA
Pr. Daniel Albuquerque Velozo
O vazio produzido pela morte de um líder forte pode arruinar um
movimento, organização ou instituição. Tendo sido dependentes da habilidade,
estilo, e personalidade desse líder, associados e subordinados passam a se
debater ou competir pelo controle. Logo a eficiência e a vitalidade são
perdidas, e o declínio surge no horizonte.
Este padrão se repete frequentemente nas igrejas. Grandes oradores
e ensinadores reúnem discípulos, e logo floresce uma igreja viva, vigorosa e
efetiva. Vidas são transformadas e pessoas são conduzidas ao Reino de Deus. Mas
quando esse líder parte ou morre, leva consigo o vigor e o ânimo da
organização.
Muitas pessoas se reuniram para ouvir o ensino do Apóstolo Paulo.
Educado, articulado, motivado, e cheio do Espírito Santo, este homem de Deus
proclamou fielmente as Boas Novas por todo o Império Romano; vidas foram transformadas
e igrejas iniciadas. Mas o Apóstolo sabia que a Igreja deveria ser edificada em
Cristo, não em qualquer outra pessoa. Ele sabia que no final não estaria
presente para edificar, encorajar, disciplinar e ensinar. Então treinou jovens
pregadores para que assumissem a liderança nas igrejas após sua partida. Paulo
exortou a centrarem suas vidas e sua pregação na Palavra de Deus (II Tm. 3.
16,17), e a treinarem outros para que o ministério tivesse continuidade (II Tm.
2.2).
O Apóstolo Paulo exige ordem na igreja e um viver correto em uma
ilha conhecida pela preguiça, glutonaria, mentira e maldade.
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Os cristãos devem ser auto-disciplinados como indivíduos e devem
ser ordeiros como pessoas que formam um corpo, a Igreja do Senhor.
Precisamos obedecer a esta mensagem em nossos dias, quando a
disciplina não é respeitada ou recompensada pela nossa sociedade. Embora outros
possam não apreciar nossos esforços, devemos viver uma vida íntegra, obedecer
aos nossos líderes, ao governo e falar com prudência. Devemos viver unidos e
pacificamente na igreja e sermos exemplos vivos de nossa fé para a sociedade
contemporânea.
UMA
VIDA ÍNTEGRA
As Boas Novas de salvação ensinam que não podemos ser salvos pelo
fato de vivermos uma vida íntegra ou boa; somos salvos somente pela fé em Jesus
Cristo. Mas o Evangelho transforma a vida das pessoas, de forma que no final
elas também passam a fazer boas obras. Nosso serviço não nos salvará, mas somos
salvos para servir.
Uma vida íntegra ou boa é um testemunho do poder do Evangelho.
Como cristãos, devemos ter compromisso e disciplina para servir.
Estamos colocando nossa fé em ação servindo aos outros?
CARÁTER
A responsabilidade de Tito em Creta era designar presbíteros para
manter a organização e a disciplina adequadas; por esta razão, Paulo listou as
qualidades necessárias aos presbíteros. A conduta de cada um deles em seus
lares revelava sua idoneidade para o serviço na igreja.
Não é suficiente ser educado ou um seguidor leal para ser um líder
de acordo com o padrão de Cristo.
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É necessário ter autocontrole, idoneidade espiritual e moral, e
caráter cristão. Quem você é importa tanto quanto o que você pode fazer.
RELACIONAMENTOS
NA IGREJA
O ensino na igreja deve ser direcionado a vários grupos. Os
cristãos mais velhos devem ensinar e ser exemplos para homens e mulheres mais
jovens. As pessoas de todas as idades e de todos os grupos ou classes sociais
têm uma lição a aprender e um papel a desempenhar.
Uma vida íntegra e relacionamentos corretos acompanham uma doutrina
correta.
Trate seu relacionamento com os outros cristãos como um processo
de crescimento abundante de sua fé.
CIDADANIA
A epístola fala das relações na igreja,
na família, no trabalho e na sociedade. Em todos esses lugares existe o
conceito de autoridade e governo. O Evangelho afetará todas as áreas da vida do
homem/mulher de Deus.
Os cristãos devem ser bons cidadãos na sociedade, e não apenas na
igreja. Devem, também, obedecer às autoridades constituídas e trabalhar
honestamente.
A maneira como nós cumprimos os nossos deveres cívicos é um
testemunho para um mundo observador. Tanto nossa vida na comunidade quanto
nosso viver na igreja devem refletir o amor de Cristo.