JUVENTUDE, ADULTOS (CASADOS), HOMENS E MULHERES
LIÇÃO 1 - 06/02/2011
“TÃO HUMANO ASSIM SÓ PODIA SER DEUS!”
A frase que dá título a lição, dita por J. Stot, dá, de maneira simples, a dimensão da divindade e da humanidade dEle. Ele foi muito humano, muito gente, sempre preocupado com os pobres, sem ignorar, no entanto, as elites, pelas quais também se entregaria em sacrifício vicário.
Poucas pessoas da elite de sua época aparecem em contato com ele na narrativa bíblica, no entanto conhecemos várias pessoas do povo, como a mulher adúltera, a mulher do fluxo de sangue, o coxo do tanque de Betesda, o cego de Jericó e tantos outros. É notória sua opção pelos pobres, seu cuidado com eles, sua preocupação em curá-los, libertá-los. Enfim, humano como ele foi, tinha mesmo que ser Deus.
COMPREENDENDO A MATERIALIZAÇÃO
Como nós, humanos, simples mortais, conseguiríamos compreender Deus em sua totalidade sem a materialização de Cristo? Como entender, em nossa limitação, um ser atemporal, um ser que está presente em todo o universo, em todos os cantos do planeta, mas que não é a natureza? Como compreender um ser divino que não tem a nossa forma? Aí, então, esse ser, esse Deus resolve materializar-se e desce para o planeta Terra. Ele torna-se carne, se torna um de nós, habita entre nós, sente nossas dores, enfrenta nossas tentações, experimenta nossas limitações, morre por nós. É um Deus gente, humano, que nos compreende, que conhece as dificuldades de ser gente. A sua geração esperava que ele libertasse Israel do domínio romano, mas ele não quer libertar um estado, ele quer libertar pessoas: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”; “se pois o filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. Esse Deus-homem está diante do sofrimento humano e resolve intervir, libertando as pessoas de suas doenças, de demônios, do egoísmo, da raiva. Ele não libertou a Palestina, é verdade, mas libertou inúmeras pessoas.
Falando ou silenciando, ele provocou impacto. Quando silenciou diante de Herodes, de Pilatos e do do Sumo-Sacerdote, provocou raiva, afronta. O seu silêncio gritou. Quando falou, em seus momentos finais de vida terrena, na cruz, fenômenos naturais aconteceram. Era Deus, não há dúvida. Era humano, com certeza.
Ao materializar-se, ao tornar-se um humano, um habitante da terra, ele quis nos dizer muitas coisas. Deus estava entre nós e queria estabelecer relacionamentos. Ao optar por um ministério junto aos pobres, ele esperava que seus seguidores também fizessem essa opção. Essa mesma preocupação vamos encontrar nos apóstolos. Pedro, por exemplo, após uma conversa com Paulo, em que os dois resolvem ser o apóstolo da circuncisão (Pedro) e da incircuncisão (Paulo), recomenda a este: “vai, mas não se esqueça dos pobres” (Gálatas 2:10).
E VOCÊ, COMPANHEIRO, COMPANHEIRA, O QUE TEM FEITO, DE FATO, PELOS MENOS FAVORECIDOS?
Orar é importante, mas não é tudo; é preciso agir: “olhos que veem, coração que sente, braços que agem...”
Quando você vê um necessitado, você não precisa apresentá-lo a Deus, queixar-se com Deus. Deus está em você. Você, nesse momento, é os olhos de Deus. Você teve o privilégio de ver. A cena que você viu deve ter ido de sua retina direto para o coração. Você sentiu-se incomodado. Você tem braços. Você é os braços de Deus. Então faça. “Tudo o que te vier às mãos para fazer, faze-o conforme as tuas forças.” (Ec 9:10)
“Não me olhe assim com esse jeito de bom samaritano” – desabafa Clarisse, personagem-título de uma canção de Renato Russo. Assim como Clarisse, as pessoas não querem ser olhadas desse jeito; elas esperam ações, atitudes, e não apenas olhares compadecidos, não apenas orações, não apenas um tapinha no ombro e uma declaração do tipo: “tadinho... quanto sofrimento.... ah, meu Deus...” Isso não ameniza o sofrimento delas, companheiros e companheiras. Você sozinho não conseguiria amenizar a fome de milhões de brasileiros, mas, com certeza, deve conseguir amenizar a de um brasileiro, e esse brasileiro pode estar muito perto de você, e como Clarisse, ele espera de você algo mais que um olhar de bom samaritano.
NOS ESPELHANDO EM JESUS
Ele olhava as pessoas com ar de misericórdia, mas agia imediatamente. Ele nunca agiu com falsas promessas, ele fazia acontecer. Ele tinha compaixão. Compaixão é a capacidade de sentir a dor do outro, de sofrer o sofrimento do outro. Ele sempre teve profundo amor pelas pessoas.
JESUS E A MULHER DO FLUXO DE SANGUE
MATEUS 9
20 - E eis que uma mulher que havia já doze anos padecia de um fluxo de sangue, chegando por detrás dele, tocou a orla de sua roupa;
21 - Porque dizia consigo: Se eu tão-somente tocar a sua roupa, ficarei sã.
22 - E Jesus, voltando-se, e vendo-a, disse: Tem ânimo, filha, a tua fé te salvou. E imediatamente a mulher ficou sã.
MARCOS 5
27 - Ouvindo falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou na sua veste.
28 - Porque dizia: Se tão-somente tocar nas suas vestes, sararei.
29 - E logo se lhe secou a fonte do seu sangue; e sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal.
30 - E logo Jesus, conhecendo que a virtude de si mesmo saíra, voltou-se para a multidão, e disse: Quem tocou nas minhas vestes?
31- E disseram-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou?
32 - E ele olhava em redor, para ver a que isto fizera.
33 - Então a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, temendo e tremendo, aproximou-se, e prostrou-se diante dele, e disse-lhe toda a verdade.
34 - E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai em paz, e sê curada deste teu mal.
Esta mulher sofria com um fluxo de sangue, segundo o registro de Matheus, há doze anos. Ela acreditava que poderia ser curada se tão somente tocasse na roupa de Jesus. Ela segue-o e toca suas vestes. Imediatamente o fluxo de sangue é interrompido e ela é curada. Uma coisa muito interessante nesse registro é o fato de Jesus sentir que virtude saiu dele. Caraca, ele estava no meio de um tumulto danado, mas percebeu que alguém lhe tocara com muita fé e esse toque gerou a cura daquele mal. Os discípulos argumentam: “mas ‘peraí’, companheiro Jesus, esse tumulto danado aqui, um montão de gente se atropelando, se esbarrando e você nos pergunta quem te tocou, só pode estar de brincadeira”. Jesus, então, contra-argumenta: “gente, eu sei que o tumulto é grande, mas não estou falando apenas de esbarrar, estou falando que alguém me tocou com tanta fé, que virtude saiu de mim”. A mulher, então, humildemente, e muito preocupada, se apresenta: “Senhor, fui eu quem te tocou, me perdoe. “ e aí conta toda a sua história. Jesus diz a ela que tudo bem, que ela está curada em função da sua fé. Que encontro mais fofo!
Gente, todo encontro com Jesus surte algum efeito especial. No caso dessa mulher, ela foi curada. Até o momento em que essa mulher do fluxo de sangue se encontra com Jesus, ela não tinha uma experiência pessoal com ele, ela conhecia de ouvir falar. Naquele dia, no entanto, ela viveu sua própria experiência, ela recebeu a cura e passou a ter um compromisso com o Senhor.
Observe que antes de falar da confirmação da cura daquela mulher, Jesus diz a ela que a sua fé a salvara. Não devemos procurar o Senhor simplesmente para conseguirmos uma cura ou qualquer outro bem material. Precisamos procurar o Senhor, buscar uma experiência pessoal com Ele porque o amamos, porque ele morreu por nós. O que recebermos além disso será um carinho especial de Deus para conosco. Dessa forma, no contexto estudado, primeiro “a tua fé te salvou”; depois, “sê curada deste mal”.
Mt 6:33 - Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
LIÇÃO 02 - 13/02/2011
REDESCOBRINDO O CRISTO DOS POBRES E DESVALIDOS
Há determinadas coisas no Cristianismo que me assustam. Há determinadas instituições cristãs que não parecem ter a menor relação com Cristo. Há um Cristianismo paralelo que só pensa em prosperidade. Há um Cristianismo paralelo que só pensa em luxo, em gastos exorbitantes, em réplica do templo de Salomão. Há um cristianismo paralelo que “pensa” missões em congressos, em hotéis de luxo. Há um Cristianismo autêntico preocupado em fazer missões, em evangelizar, em levar pessoas a Cristo. Há um Cristianismo autêntico que contribui para missões e há um Cristianismo paralelo que consome boa parte desses recursos sem que cheguem aos missionários. Há um Cristianismo muito mais preocupado com a beleza do templo de tijolos do que com o bem-estar do templo do Espírito Santo. Esses “cristianismos paralelos” precisam redescobrir o Jesus dos pobres, o Jesus que parava para dar atenção a um deficiente físico que acreditava no milagre do tanque de Betesda e que queria esse milagre, mas não conseguia em função de sua deficiência. Esses cristianismos das elites precisam redescobrir, e com uma certa urgência, um Cristo que ouve os apelos dos menos favorecidos, um Cristo cuja preocupação maior é o ser humano desprovido de recursos. Ele até ouve um Nicodemos, que vai procurá-lo às escondidas, mas é com a mulher samaritana que ele bate o maior papo publicamente, é ao coxo de João 5 que Ele se dirige, antes mesmo de ser solicitado, pois conhecia a necessidade daquele homem. Esse Cristo é o nosso modelo, o Cristo dos desvalidos, o Cristo que nos ensina em Mateus 25:
35 - Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
36 - Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.
37- Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
38 - E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
39 -E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
40 - E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
JESUS E O COXO DO TANQUE DE BETESTA
João 5
2 - Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebraico Betesda, o qual tem cinco alpendres.
3 - Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressicados, esperando o movimento da água.
4 - Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água; e o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.
5 - E estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo.
6 - E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe: Queres ficar são?
7 - O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.
8 - Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito, e anda.
Gente, esse caso aí, nós vamos analisar em forma de poesia, tá? Antes só quero dizer o seguinte: segundo alguns estudiosos, o lance da água que era mexida por um anjo naquele tanque era uma lenda. Na verdade a água se movimentava por conta de um fenômeno físico e não sobrenatural. Como as pessoas acreditavam plenamente no sobrenatural, no anjo que movimentava as águas, ficavam ali aguardando o mover para pular dentro do tanque. O primeiro que entrava, e somente o primeiro, era curado de qualquer enfermidade. Se o cara era deficiente físico não tinha nenhuma chance.
Ao curar esse cara fora do tanque, Jesus, de certa forma, “desmoraliza” o tanque e chama para si a atenção, ou seja, é Cristo que cura, não importa onde ou como, é Ele que tem esse poder. A um cego, ele diz simplesmente: “vê” e a visão do cara é ativada; outro cego, no entanto, ele prefere curar colocando no olho do cara uma mistura de terra com cuspe. No caso do tanque, Ele poderia ter determinado uma movimentação extra das águas, mas preferiu curar o coxo independentemente do tanque.
O MILAGRE DO TANQUE FORA DO TANQUE
(Isac Machado de Moura)
Esquecido por todos,
aquele homem esteve ali
por 38 anos,
como um objeto,
uma coisa,
um ser inanimado,
parte indesejável da paisagem,
como alguém que entrou
para a rotina visual dos transeuntes.
Hoje, ele não estava mais lá,
o que causou estranheza
para uns poucos,
o que nem foi notado pela maioria.
Terá morrido?
Terá acabado seu sofrimento terreno?
Terá se livrado de seu corpo atrofiado,
inerte?
Dizem alguns que após uma estranha e rápida conversa
com um certo homem,
teria juntado suas coisas
e partido.
Como, se ele não andava?
O tal homem teria perguntado,
imaginem só,
se ele queria ser curado.
Que pergunta estranha!
E mais estranha ainda foi a resposta:
sim!
Ora, curado ele terá que trabalhar,
buscar seu próprio sustento;
curado, não será mais merecedor da piedade de todos...
Ainda assim, ele quis ser curado,
e saiu feliz.
Para onde teria ido?
O que vai fazer agora?
Mais de 40 anos de idade,
nenhuma experiência profissional,
nada mais que justifique a compaixão dos outros.
O que fará para viver agora?
Onde vai morar?
Passou ali toda uma vida
esperando o milagre do tanque,
e foi curado fora dele.
Ele disse sim.
Foram trinta e oito anos enfermo.
Com quantos anos terá sido deixado naquele local?
Por quem?
Esquecido por todos!
Trinta e oito anos
e nem por isso acostumara-se,
queria movimentar-se,
caminhar,
arriscar,
aceitou ser curado
sem pensar nas consequências.
Disse sim
e saiu feliz,
saltitante,
pronto para os riscos
de um futuro sem garantias.
O coxo do tanque de Betesda foi descoberto por Jesus e curado por Ele. A igreja contemporânea precisa redescobrir esse Jesus tão preocupado com os pobres, com os renegados pelos governos, com os “mortos sociais” do país. Jesus não bateu apenas um papo, orou por ele, deu um tapinha nas costas e disse que as coisas iam melhorar. Ele curou o cara. Ele agiu. Dizer coisas do tipo “estarei orando por você” é um clichê, um lugar comum, uma declaração vaga de quem na verdade nada vai fazer pela pessoa. É preciso agir, companheiro/a. “Quem tem fome tem pressa” – dizia Betinho.
LIÇÃO 03 - 20/02/2011
REDESCOBRINDO O CRISTO INCOMPREENDIDO PELA ELITE DE SUA ÉPOCA
MATEUS 19
16 - E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?
17 - E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.
18 - Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho;
19 - Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.
20 - Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?
21 - Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.
22 - E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.
23 - Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus.
24 - E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.
25 - Os seus discípulos, ouvindo isto, admiraram-se muito, dizendo: Quem poderá pois salvar-se?
26 - E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.
Esta mesma história é narrada também em Marcos 10. O cara até queria seguir a Jesus, mas ele esbarrava em sua própria riqueza. Ele achou muito pesada a orientação de Cristo quanto a vender suas propriedades e distribuir para os pobres. O cara não conseguia se desprender dos bens materiais. Ele teve um encontro com Cristo, mas não conseguiu mudar sua vida. Para que haja mudança, é preciso não apenas encontrar o Cristo, é preciso também entregar-se a Ele sem reservas, confiar a Ele sua vida, livrar-se daquilo que poderia ser mais importante que Ele. Essa foi a dificuldade do cara: as riquezas eram mais importantes do que o Cristo. Se fosse pobre, esse rapaz não teria encontrado dificuldades de seguir a Jesus. A dificuldade estava em sua grana.
É muito interessante observar o seguinte: esse cabra da narrativa achava que estava abafando, que estava de bola cheia porque guardava os mandamentos, mas Jesus diz pra ele que apenas o fato de guardar os mandamentos ainda não era suficiente, ele precisava de algo mais: pensar no outro, abrir mão de suas riquezas para amenizar as desigualdades sociais. E tinha mais um detalhezinho: feito isso, ele deveria seguir a Jesus sem se preocupar com bens materiais, ou seja, sem colocar seus bens materiais em primeiro plano. Aí ficou puxado pra ele.
Quando Jesus fala na dificuldade de um rico entrar no reino dos céus, ele não está dizendo que uma pessoa que tenha recursos materiais não poderá de jeito nenhum entrar no reino. Ele está dizendo que não entrará no reino qualquer pessoa que ponha seus bens materiais acima dos seres humanos e acima de um encontro genuíno com o Senhor. Ele está dizendo que mais importante que as riquezas são as pessoas e que para seguir a Jesus é preciso se desprender daquilo que é terreno.
Gente, Cristo morreu por todos nós, por todos o seres humanos. Precisamos, então, aceitar seu sacrifício e segui-lo, buscando uma experiência pessoal com ele.
Vou apresentar a seguir um texto de uma amiga dos tempos da Faculdade de Letras (ela era do curso de História), Cida Magalhães, uma criaturinha muito especial; é um dos poemas mais lindos que recebi dela (tínhamos o hábito de compartilhar nossas criações) para pensarmos um pouquinho sobre ele, tá? No momento em que escreveu esse poema, ela era católica, muito atuante na igreja. Hoje, ela é batista. Na análise que Cida faz em seu lindo texto, todos nós, assim como o jovem rico da história de hoje, fomos e somos alvos do amor de Cristo, embora não merecedores, embora “culpados” pela sua morte. Nós não podemos nos salvar, mas Cristo morreu por nós para que fôssemos salvos através dele.
O jovem rico não conseguiu abrir mão de suas riquezas para seguir a Jesus. E você, abriria ou abriu mão de qualquer coisa para segui-Lo? Ou há alguma coisa ainda que te separa de uma vida íntima com Cristo?
EU NA CRUCIFICAÇÃO DE CRISTO
(Cida Magalhães)
Cristo,
eu participei da tua crucificação
quando te glorificava com palavras,
mas em gestos e pensamentos
vivia egoisticamente,
e em meio ao desespero,
me refugiava em ilusões e alegrias passageiras.
Quando eu orava, pedia a paz,
mas não vivia o teu amor...
eu te traí como Judas.
Quando, com meus amigos,
proferi palavras obscenas
em vez de falar dos teus mandamentos;
quando tive a chance de te manifestar,
mas me calei por medo ou timidez;
quando diante da agonia de um irmão,
não levei a tua mensagem...
eu te neguei como Pedro.
Quando diante de um erro,
me omiti
e numa situação que poderia resolver,
cruzei os braços em troca de uma falsa paz;
quando compactuei com uma injustiça
e, sabendo da verdade,
procurei me proteger...
aí fui Pilatos e lavei as mãos.
Quando preferi me divertir
e não fui visitar o meu irmão doente,
solitário, esquecido
e nem lutar pelos que são explorados;
quando optei pelas facilidades
que se apresentavam
ao invés de escolher os teus caminhos...
eu fui o povo e escolhi Barrabás.
Quando via o meu irmão indo à igreja,
estudando a tua Palavra e criticava;
quando o meu irmão vinha me falar de Ti
e eu simplesmente não queria saber...
fui os soldados romanos
e zombei da tua natureza e do teu poder.
Eu te traí, te neguei, te omiti, te desprezei...
Perdão, Cristo!
Foi loucura...
Mas eu também participei da tua crucificação.
Gente, vamos respeitar: que texto lindo! Quantas vezes já fomos Judas, ou Pedro, ou Pilatos, ou o povo, ou os soldados romanos? Quantas vezes somos cristãos evangélicos batistas só de nome? Quantas vezes, assim como aquele cara do texto bíblico em estudo, afirmamos que cumprimos os mandamentos, que temos a Bíblia como nossa regra de fé e nem mesmo a lemos?
Para Deus, meninos e meninas, pouco importa se somos membros de uma igreja evangélica. Isso por si só diz muito pouco. O que importa para Deus são nossas práticas, nossas ações, nossa experiência pessoal com Ele. O rapaz da nossa história de hoje, até teve um encontro com Cristo, mas não conseguiu segui-lo, não viveu uma experiência intensa com ele, não firmou um compromisso com ele. É como aquele cara que vai a igreja regularmente para cumprir tabela, mas não entendeu ainda a razão de ser crente em Jesus Cristo, e ainda está se perguntando: o que me falta? A resposta é simples: falta uma experiência pessoal com o Senhor.
O Cristo que mudou a vida de tantas pessoas foi trocado pelo jovem da nossa história de hoje por suas riquezas. Observamos algumas pessoas em nossas igrejas que não estão prontas para prosperarem (e isso não é mais importante que uma experiência com Deus), que logo que se veem em melhores condições de vida esquecem o próprio Cristo, se afastam da igreja e, consequentemente, da comunhão com os irmãos. Comunhão que tanto valorizavam nos momentos de necessidade. É. Nós também participamos da crucificação do nosso Senhor.
LIÇÃO 04 - 27/02/2011
REDESCOBRINDO O SENTIDO DA ADORAÇÃO ATRAVÉS DE MARIA (IRMÃ DE LÁZARO)
MATEUS 26
6 - E, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso,
7 - Aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, com unguento de grande valor, e derramou-lho sobre a cabeça, quando ele estava assentado à mesa.
8 - E os seus discípulos, vendo isto, indignaram-se, dizendo: Por que é este desperdício?
9 - Pois este unguento podia vender-se por grande preço, e dar-se o dinheiro aos pobres.
10 - Jesus, porém, conhecendo isto, disse-lhes: Por que afligis esta mulher? pois praticou uma boa ação para comigo.
11 - Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre.
12 - Ora, derramando ela este unguento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento.
13 - Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua.
ALABASTRO
Pedra, branca ou clara, translúcida, macia, constituída de gipsita.
“Marta era uma pessoa ativa, preocupada com muitas atividades, e Maria gostava de ficar sentada para pensar, contemplar e meditar (Lc 10:36-42). Depois da ressurreição de Lázaro, Marta manifestou o seu amor servindo um banquete a Jesus, e Maria derramando perfume sobre Ele (Jo 12:2,3). É difícil para a pessoa ativa entender a pessoa contemplativa e vice-versa. Ambas são importantes para o Reino de Deus.”
Esse perfume que Maria derramou sobre Jesus era muito caro, feito de puro nardo, aquela quantidade valia mais de trezentas moedas de prata. Uma moeda de prata era a diária de um operário, então podemos imaginar o valor financeiro daquele perfume, mas precisamos entender que muitas coisas e muitas ações têm um valor especial que nada tem a ver com grana. Assim, para Maria pouco importava o custo daquele perfume, ela queria fazer uma homenagem a Cristo e pronto, era o que importava de fato para ela naquele momento, ela queria adorá-lo. E olha que gesto mais lindo: ela derramou o tal perfume nos pés de Cristo e depois enxugou com seus próprios cabelos. Caraca, que coisa mais linda. Judas, o traidor, questionou o desperdício, alegando que aquele perfume poderia ser vendido e o dinheiro distribuído aos pobres. Jesus, então, sai em defesa de Maria, reconhecendo a importância, a nobreza do seu gesto.
Como já disse, gente, a vida não se resume a grana. Você seria capaz de trair seu melhor amigo ou sua melhor amiga para se dar bem, por algum dinheiro? E um “desconhecido” ou um colega de trabalho com quem você não tenha qualquer intimidade, você trairia por dinheiro, para se dar bem?
Quando você recebe um presente, você leva em conta o valor financeiro desse presente ou a intenção de quem te deu?
Mas voltemos ao lindo gesto de Maria, ao seu encontro especial com Cristo. Vamos lembrar aqui que essa Maria era irmã de Marta e de Lázaro, o cara que Jesus ressuscitou. Era uma família de amigos pessoais de Cristo. Todos eles tiveram encontros marcantes com o Senhor.
Vamos pensar um pouquinho: se você fosse contemporâneo do Cristo materializado, se fosse vizinho dele, você acha que poderia tê-lo como amigo? Vou melhorar a pergunta, adaptando-a à nossa realidade, ao momento em que vivemos: você se considera um amigo de Cristo? Você acha que Ele pode te acompanhar a todos os lugares que você frequenta? Você acha que ele apoiaria a maior parte de suas ações, de suas atitudes, de seu comportamento... por quê? Mais uma perguntinha para reflexão: você acha que adorar o Senhor limita-se a vir para a igreja e cantar musiquinhas animadinhas? Se sua resposta foi negativa, então o que seria adoração?
O gesto de Maria foi tão espontâneo, tão profundo, que Jesus declara no verso 12 que ela estava preparando o corpo dele para o sepultamento. Redescobrir o sentido da adoração através do gesto de Maria significa dizer que adorar é oferecer ao Senhor o que temos de melhor, de mais importante, de mais valioso. É oferecer o nosso Isaque, como fez Abraão. No ano passado, nossa companheira Andréa pregou um lindo sermão sobre esse tema, sobre a entrega do nosso Isaque.
Quer uma dica de adoração, companheiro/a? Encontre alguém necessitado e ajude. A imagem de Deus está em você e no outro, não apenas em você. Quando você faz alguma coisa por alguém, você está adorando (Mateus 25):
35 - Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
36 - Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.
37 - Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
38 - E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
39 - E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
40 - E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Nós podemos redescobrir essa forma linda de adorar o Senhor, fazendo algo pelos desvalidos, pelos nossos irmãos necessitados, e seremos bem aventurados por isso. É como se estivéssemos fazendo pelo próprio Cristo. Maria teve o privilégio de fazer literalmente por Ele, e entrou para a nossa memória. Nosso culto, queridos e queridas, não limita-se ao momento em que estamos no templo. Adoração é permanente, o tempo todo no ar conectados.
Modernamente, temos ouvido falar em CURSOS DE ADORAÇÃO. Quero deixar registrada aqui a minha opinião: é muito esquisito, muito estranho. Adoração pode ser aprendida, então? Pode ser resultado de treinamento? “Os verdadeiros adoradores adoram em espírito e em verdade.” Isso precisa ser espontâneo, né? Não pode ser simplesmente o que estamos chamando de “ministração”, quando alguém num tom de quase choro diz umas palavrinhas bonitinhas para gerar emoções no coletivo, mas tais palavrinhas não vêm do coração, são superficiais, frias e técnicas. Adoração é mais que isso.
LIÇÃO 05 - 13/03/2010
REDESCOBRINDO O SENTIDO DA ADORAÇÃO ATRAVÉS DO DIÁLOGO DE JESUS COM A MULHER SAMARITANA
João 4
5 - Foi, pois, a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José.
6 - E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isto quase à hora sexta.
7 - Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.
9 - Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos).
10 - Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.
11 - Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva?
12 - És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado?
13 - Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede;
14 - Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.
15 - Disse-lhe a mulher: SENHOR, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la.
19 - Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.
20 - Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.
21 - Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
23 - Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
24 - Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
25 - A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo.
26 - Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo.
A Mulher Samaritana, a água da vida e o local para adoração.
Essa história também é lindíssima, e por várias razões. A primeira delas é que Jesus valorizava o ser humano, independente de sexo, de nacionalidade ou de qualquer outro fator. Ele puxa assunto com uma mulher e bate altos papos com ela. Tem um detalhe: essa mulher era samaritana e o clima era muito tenso entre judeus e samaritanos, eles não conversavam, daí o questionamento da mulher: “como pedes de beber a mim que sou mulher samaritana?”, será que você não percebeu que sou samaritana? Como assim? Você não é um judeu?
Jesus não concordava ou aceitava os valores daquela mulher, mas nem por isso deixou de ouvi-la e, aproveitando a oportunidade, explicou-lhe o verdadeiro sentido da adoração. Uma vez nosso Marcelo, numa aula na EBD, disse uma frase muito bonitinha: “a forma correta de se adorar é a sua, a minha, a dele...” Ele quis dizer que não existe um padrão: uns dão pulinhos, outros ficam “congelados”. Como posso querer saber quem está conectado de fato? Quem está ligado? Quem está adorando? É você e Deus, companheiro/a. Esqueça o contexto quando tiver adorando. Vocês me permitem citar Gilberto Gil, numa canção linda de 1980? Obrigado por deixarem. Vejamos uns fragmentos:
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios...
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar.
Para falar com Deus, preciso estar conectado, preciso ficar a sós com Ele, preciso me calar, folgar os nós, me aventurar numa experiência com Ele. Me entregar a essa experiência.
Quem eram, afinal de contas, os samaritanos?
Vocês lembram que no Velho Testamento houve um momento em que os dois filhos de Salomão brigaram e dividiram o reino de Israel em Reino do Norte e Reino do Sul? Pois é, o Reino do Norte tinha sua sede em Samaria e o Reino do Sul tinha sua sede em Judá. Pois bem, tempos depois, a Assíria invadiu Israel, primeiro o Reino do Norte e depois o do Sul. Então... aí o primeiro grupo que o governo assírio levou para o cativeiro foi o pessoal de Samaria. A cidade ficou vazia e alguns povos de outras áreas foram morar lá, formando, então, o povo samaritano (2 Rs 17:24; Ed 4:2,9,10). Por discordarem de certos pontos de vista religiosos , separaram-se dos judeus (de Judá) e fundaram seu próprio culto no Monte Gerizim, hoje, na Cisjordânia (Palestina). Foi aí que tudo começou e até os dias de Cristo eles não se falavam, daí a estranheza daquela mulher diante de um homem judeu que puxou assunto com ela.
VOLTANDO PARA A MULHER SAMARITANA
Pois bem, aquele encontro mudou a vida daquela mulher. É como dizemos atualmente: ela estava na hora certa no lugar certo. Que privilégio, né? Que encontro lindo que ela teve com Jesus.
Ah, quando ela questionou sobre o lugar de adoração, o caso é o seguinte: os samaritanos construíram seu próprio templo para não terem que ir a Judá, e desenvolveram seu próprio sistema de culto. Ela aprendera então, ao longo da vida, que o lugar ideal de adoração era em Samaria. Jesus, por fim, diz a ela que o fundamental da adoração não é o lugar, mas a forma, o como. Então ele arremata dizendo que os verdadeiros adoradores são aqueles que adoram de fato, ou seja, com todas as suas forças, de todo o coração, em espírito e em verdade, e não apenas para cumprir uma formalidade e não apenas com os lábios ou com os beiços, se preferir. Ou seja, não basta você dizer: “eu te adoro, Senhor!”, você precisa ter atitude de adorador, isso precisa vir do coração.
Só mais uma coisinha: parece que foi uma opção de Cristo encontrar-se com a Samaritana. Ele não precisava fazer aquele caminho. Levando-se em conta onde ele estava antes e para onde queria ir, havia um caminho mais curto, mas ele optou por aquele caminho, encontrou a samaritana, puxou assunto e tudo foi lindo. Poderia dizer então que Cristo encontrou a Samaritana. Você foi encontrado por Cristo? Em que circunstância?
LIÇÃO 06 - 20/03/2011
REDESCOBRINDO O CRISTO QUE PRECISAMOS ASSUMIR ABERTAMENTE
João 3
1 - E HAVIA entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
2 - Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.
3 - Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
4 - Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5 - Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
6 - O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
7 - Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.
8 - O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
9 - Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?
10 - Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?
11 - Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho.
12 - Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?
Nicodemos queria bater um papo com Cristo, mas não queria ser visto. Então vai procurá-Lo à noite de forma discreta. De imediato, Nicodemos reconhece a divindade de Cristo, dizendo que ninguém pode fazer aqueles sinais se Deus não for com ele. Jesus então diz para entender estas coisas é necessário nascer de novo.
O QUE É NASCER DE NOVO?
Nascer de novo é ter uma experiência pessoal com Deus, um encontro transformador, íntimo; é você reconhecer Jesus Cristo como o senhor de sua vida, é você colocar-se nas mãos de Deus, entendendo que Sua vontade é boa, perfeita e agradável (Rm 12:2), é você confiar a Deus o seu destino, é você entender que “o vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”, como no poeminha a seguir, produzido a partir de um sermão que ouvi recentemente, não lembro de quem.
Nas mãos de Deus
( Isac M. Moura)
Não havia leme
Não havia âncora
Não havia velas,
Não havia controle algum
Da parte de Noé.
Ele não podia controlar
O destino da arca,
Não havia velas nem leme.
Ele não podia decidir onde parar,
Não havia âncora.
Deus decidia,
Deus tinha o controle.
Eu queria uma vida sem leme,
Sem âncora e sem velas,
Mas como a maioria dos seres humanos,
Quero sentir que tenho algum controle,
Quero achar que tenho o poder de decidir,
De seguir, de parar,
Embora nem sempre isso seja verdade.
Uma vida entregue a Deus
Não tem leme,
Âncora ou velas.
Só tem fé.
UM ENCONTRO COM CRISTO ÀS ESCONDIDAS? É POSSÍVEL?
Não é possível um encontro com Cristo às escondidas. As pessoas com quem convivo precisam perceber que esse encontro aconteceu, precisam perceber que há algo diferente em mim, que algo mudou em minha vida. Não podemos convidar Jesus para trás de um muro, para um local protegido, escondido, a fim de termos um encontro com ele de forma que ninguém veja. Muito pelo contrário, vamos convidar Jesus para a praça de alimentação de um shopping, e lá vamos declarar a Ele: “Eu te amo e vou gritar pra todo mundo ouvir.” Esse gritar nem precisa ser um grito sonoro, auditivo, pode ser um grito com o meu testemunho, de forma que todos vejam Cristo em mim, em minhas ações. Não é possível pensar em evangelizar meu colega de escola, por exemplo, se no espaço escolar eu me comporto mal, eu desrespeito os professores, eu me comporto, enfim, como alguém que não teve ainda um encontro com o Senhor.
Quando o apóstolo Paulo (antes desse encontro ele se chamava Saulo) se encontra com o Senhor a caminho de Damasco, a transformação foi imediata. Ele sai da situação de perseguidor do povo de Deus e se torna perseguido por amor ao evangelho. A luz é tão forte que ele fica cego e precisa de um tempo para recuperar-se e tornar-se o grande homem, o grande apóstolo que foi (Atos 9). Diante daquela luz ofuscante, Saulo cai e estranhamente pergunta: Quem és, Senhor? E a voz que emana daquela luz responde: Eu sou Jesus a quem tu persegues.
Gente, olha que barato essa declaração de Cristo para Paulo: “eu sou Jesus a quem tu persegues”. Saulo perseguia o povo, a igreja, e não Cristo diretamente. E aí é que tá o grande barato: mexeu conosco, mexeu com Cristo. Perseguir a igreja é perseguir o próprio Cristo, escrachar o povo de Deus é escrachar o próprio Deus, e isso não vai ficar barato. Nós não somos “cobaias de Deus”, como diz Cazuza em uma de suas músicas, nós somos filhos de Deus por adoção mediante o sacrifício de Cristo, e isso não é pouca coisa não. Jesus Cristo não se envergonha de nós, apesar das nossas falhas, dos nossos erros. Logo, não é justo que eu me envergonhe dele, que eu omita ou negue por completo minha relação com ele, que eu me disponha a segui-lo, porém escondidinho para não ser visto pela comunidade da qual faço parte. Ou sigo a Jesus abertamente ou não sigo. Simples assim. Oi.
Quero concluir esta lição com duas citações que acho lindíssimas: uma de Santa Teresa (Teresa de Lisieux, se você preferir sem o “santa”), outra do pensador francês Jean Jacques Rousseau. Vamos lê-las com bastante atenção, com bastante carinho e vamos refletir um bocadinho sobre elas:
(Santa Teresa d’Ávila)
“Minha alma já não se satisfaz com nada menos que Deus.”
“...Digo em vão: Deus é assim, eu o sinto, eu o experimento, mas nem por isso compreendo como Deus pode ser assim. Numa palavra: quanto mais me esforço para imaginar sua essência infinita, tanto menos a compreendo; mas ela existe e isto me basta; quanto menos entendo, tanto mais adoro. Humilho-me, dizendo: ‘Ser de todos os seres, eu existo porque tu existes; fixar meus pensamentos sobre ti é subir até a fonte da minha existência. O melhor uso que posso fazer da minha razão é resigná-la diante de ti; minha mente se deleita, minha fraqueza se regozija ao me sentir esmagado por tua grandeza.” Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778)
Embora discordando de Rousseu, acho linda a citação acima. Discordo porque, na minha concepção, quanto mais conheço, melhor adoro ou mais conscientemente adoro.
Quanto a citação de Santa Teresa, a minha alma também não se satisfaz com nada menos que Deus, e Deus, cuja imagem e semelhança está em mim, também está no meu irmão.
I João 4
20 - Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?
21 - E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também a seu irmão.
LIÇÃO 07 - 27/03/2011
REDESCOBRINDO O CRISTO PREOCUPADO COM AQUELES QUE TÊM FOME
Mateus 15
30 - E veio ter com ele grandes multidões, que traziam coxos, cegos, mudos, aleijados, e outros muitos, e os puseram aos pés de Jesus, e ele os sarou,
31 - De tal sorte, que a multidão se maravilhou vendo os mudos a falar, os aleijados sãos, os coxos a andar, e os cegos a ver; e glorificava o Deus de Israel.
32 - E Jesus, chamando os seus discípulos, disse: Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias, e não tem o que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho.
33 - E os seus discípulos disseram-lhe: De onde nos viriam, num deserto, tantos pães, para saciar tal multidão?
34 - E Jesus disse-lhes: Quantos pães tendes? E eles disseram: Sete, e uns poucos de peixinhos.
35 - Então mandou à multidão que se assentasse no chão,
Marcos 8
1 - NAQUELES dias, havendo uma grande multidão, e não tendo que comer, Jesus chamou a si os seus discípulos, e disse-lhes:
2 - Tenho compaixão da multidão, porque há já três dias que estão comigo, e não têm que comer.
8 - E comeram, e saciaram-se; e dos pedaços que sobejaram levantaram sete cestos.
9 - E os que comeram eram quase quatro mil; e despediu-os.
João 6
5 - Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: Onde compraremos pão, para estes comerem?
6 - Mas dizia isto para o experimentar; porque ele bem sabia o que havia de fazer.
11 - E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos discípulos, e os discípulos pelos que estavam assentados; e igualmente também dos peixes, quanto eles queriam.
12 - E, quando estavam saciados, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca.
COMPAIXÃO
Tanto no texto de Mateus quanto no de Marcos, a palavra COMPAIXÃO salta aos nossos olhos: “tenho COMPAIXÃO da multidão”. Compaixão é a capacidade de sentir a dor do outro, o sofrimento do outro, a necessidade do outro. Foi isso que Jesus sentiu por aquela multidão. Observando o contexto, vemos que antes disso Ele curou pessoas, ele consolou pessoas. Por fim, ao observar que aquela multidão já o seguia a dias, ele chama os discípulos e declara: “esse povo está com fome... precisamos alimentá-los.”
As elites religiosas que transformaram o cristianismo num mega investimento teriam uma visão diferente. Um líder dessa elite poderia dizer: “já estamos a dias trabalhando com esse povo, temos fome, em que restaurante vamos comer?” E aí, um deles um pouco mais preocupado poderia contra-argumentar: “mas e o povo?” E o tal líder poderia dizer: “estamos fazendo a nossa parte, o povo se vira... o povo sempre se vira.” Esse líder poderia ainda acrescentar: “em caso de pouca farinha, meu pirão primeiro.”
Para não parecer tão cruel, vou simular uma outra situação envolvendo algumas lideranças cristãs (é claro que meu exemplo é fictício, isso não acontece). Após um período de trabalho com o povo, um líder fictício poderia dizer a sua equipe: “queridos, precisamos almoçar.” Alguém poderia sugerir: “o almoço está pronto. O povo será servido aqui mesmo, e nós nos retiraremos para um lugar reservado onde teremos uma refeição especial, diferente do povo. Também existe a opção de uma churrascaria muito boa que tem aqui perto.” Então alguém muito preocupado com o povo poderia dizer: “mas e o povo?” E outro responderia: “querido, já falei sobre o povo... o povo sempre se vira.”
Saindo da ficção, deixando de lado meus comentários maldosos de pouco sentido, voltemos para o modelo de Jesus: “tenho compaixão do povo, o que podemos fazer por ele.” E João em seu texto arremata: “Ele já sabia o que fazer... perguntou por perguntar...” Eu sigo a esse Cristo. Ainda faço muito pouco pelo outro, pelo próximo, mas o meu modelo é esse Cristo. Quero chegar o mais próximo possível de suas orientações, quero viver o exemplo que ele deixou. O Cristianismo precisa redescobrir esse Cristo. O Cristo que cura a alma, cura o corpo e alimenta as pessoas, o cristo que enfatiza a compaixão, ou seja, o co-sofrimento, o sofrer junto. E sofrer junto, vamos combinar aqui, é muito mais do que dar um tapinha nas costas de um necessitado, é muito mais do que dizer que vai orar por ele. Co-sofrimento é você sentir a dor do outro, de verdade, é você sentir-se um representante desse Cristo de quem estamos falando, e pensar assim: “tive o privilégio de ver essa cena, então eu tenho olhos, e meus olhos estão a serviço de Deus. Essa cena me doeu, ela foi dos olhos para o coração. E eu tenho braços, então preciso agir.” (“Olhos que veem, coração que sente, braços que agem...”). “Agora vou dar o melhor de mim para resolver isso, não posso mudar o mundo, não posso resolver os problemas do povo brasileiro, mas posso fazer a diferença para esse brasileiro (ou não) que vejo diante de mim nesse momento.” Feito isso, querido/querida, depois de tudo o que me veio às mãos para fazer e eu fiz, então vem a oração: “Senhor, obrigado por ter me posto diante daquela pessoa (ou aquela pessoa diante de mim) e por ter me dado condições de atender sua necessidade naquele momento, e por me fazer sentir compaixão, e por tornar essa compaixão em atitudes...” Diferente disso, se vemos uma cena e nos limitamos a orar, estamos transferindo para Deus uma responsabilidade que é nossa. Eu, você, a igreja somos olhos, ouvidos e braços de Deus no planeta. Simplesmente ver e orar (e nada mais) é uma situação parecida com um policial que está nas ruas para combater o crime e diante de cada ação criminosa que assiste faz contato com seu comandante informando o que se passa, mas não interfere. Nesse caso, o comandante poderia usar simplesmente câmeras espalhadas pela cidade e ele teria as informações. Cristo, o nosso comandante, precisa de alguém que aja, e não apenas que informe o que se passa na terra, no Brasil, no nosso estado, município, bairro, rua, casa, igreja.
Outra coisa muito importante: “quem tem fome tem pressa”, como disse nosso Betinho. Quando Cristo olha para aquela multidão de desvalidos e sente compaixão, ele age imediatamente. Ele não fica procurando instituições, ele não fica procurando a mídia para fazer uma distribuição de alimentos diante dos holofotes. Ele simplesmente age.
Os programas de combate a fome promovidos pelo governo brasileiro têm sido muito importantes como política de emergência, mas acabaram ganhando um sentido assistencialista, populista, politiquista. Tem se dado o peixe quando deveria estar-se ensinando a pescar. Entendo que uma boa proposta de assistência aos desvalidos poderia seguir este roteiro: no primeiro dia, diante da urgência, levamos um peixe. No segundo dia, convidamos o cabra para pescar conosco e compartilhamos com ele todo o nosso conhecimento sobre pesca. No terceiro dia, ele pesca. É hora de partirmos para outro necessitado e seguirmos o mesmo ritual. Programa de assistência não pode gerar dependência por longo prazo, nem pode estimular a preguiça, muito menos ainda a “fabricação de filhos” para adquirir mais benefícios.
Só mais uma coisinha, queridos e queridas: num país com tantas desigualdades sociais, não é justo, de jeito nenhum, aquele discurso: “vim de baixo e consegui ficar bem, então todos podem conseguir, basta ter disposição.” Isso não é verdade. Parabéns se você conseguiu. Não esqueça nunca, porém, de uma palavra mágica: oportunidades. Se me permitem, vou usar meu exemplo pessoal: cheguei ao Rio de Janeiro com sete anos de idade (1977), meu pai já estava aqui (veio com a cara e a coragem dos nordestinos). No sertão, passamos fome, e também foi muito difícil a vida no Rio nos primeiros anos. Ele trabalhava muito, sempre trabalhou muito, mas éramos muitos filhos. Eu não posso admitir que alguém diga que passamos fome porque o meu pai não queria trabalhar. Ele trabalhou muito ao longo da vida, mas não dava. Aqui no Rio, fomos assistidos pela LBA (Legião Brasileira de Assistência), e foi graças a sopa e ao leite distribuído pela LBA naqueles anos que eu e minha família nos alimentamos. Hoje, é graças a programas como o Bolsa Família que muitos brasileiros se alimentam, mas é preciso ensinar a pescar, é claro. É graças às cestas básicas distribuídas pela nossa fundação que algumas famílias se alimentam hoje. E essa carência, companheiros e companheiras, essas desigualdades sociais não acontecem simplesmente porque o chefe de família não quer trabalhar. É claro que existem casos assim, e são muitos, mas não podemos, de jeito nenhum, generalizar. Simplesmente ajude. As desigualdades sociais nesse país são gigantescas e são históricas. Nós, igreja, olhos, ouvidos e braços de Deus, precisamos diminuí-las. Assim como Jesus, precisamos ter compaixão das multidões, precisamos dividir, precisamos ensinar nossos filhos a dividir, precisamos amar as pessoas.
Só voltando a palavrinha mágica OPORTUNIDADES, para concluir: agarrei todas as que tive com muita intensidade, e estou aqui escrevendo para vocês. Milhares de brasileiros da minha geração, da minha região, não tiveram as mesmas OPORTUNIDADES, e muitos já morreram de velhice aos quarenta, e muitos seguem morrendo um pouco por dia, como no poema de João Cabral de Mello Neto. Como eu poderia dizer que simplesmente não se esforçaram? Se esforçaram e se esforçam pela sobrevivência por força do instinto. Não fosse isso, muitos já teriam desistido da vida. Você se esforça diante de oportunidades, mas lembre-se que alguns milhares não tiveram nenhuma oportunidade para que pudessem se esforçar. Jesus não criticou a multidão por não terem levado nada para comer, já que iriam demorar a voltar para as suas casas (aqueles que tinham casa para voltar), ele simplesmente teve compaixão e os alimentou... sem perguntas e sem julgamentos.
LIÇÃO 08 - 03/04/2011
REDESCOBRINDO O CRISTO QUE PERDOA
João 8
3 - E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério;
4 - E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.
5 - E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?
6 - Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.
7 - E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.
8 - E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
9 - Quando ouviram isto, redarguidos da consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio.
10 - E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 - E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.
Mateus 18
21 - Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?
22 - Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.
23 - Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos;
24 - E, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos;
25 - E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse.
26 - Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
27 - Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.
28 - Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves.
NEM EU TE CONDENO.... ESTÁS PERDOADA
No Irã, por exemplo, ainda hoje, mulheres são apedrejadas por adultério. O apedrejamento praticado ao longo da história por alguns povos, é de uma crueldade sem tamanho. Essa prática sofre algumas variações. Uma bastante comum é enterrar o corpo do indivíduo, com as mãos presas para baixo, deixando de fora apenas a cabeça, que é apedrejada até sua destruição.
Esse Jesus que perdoa, que precisamos redescobrir, está preocupado com pessoas, sempre, e não com instituições. A religião judaica baseada na lei de Moisés não deixava nenhuma dúvida: a adúltera deveria ser apedrejada. Aqueles legalistas judeus vêm naquela mulher, no adultério flagrante, uma oportunidade única de testar Jesus. Eles se dão ao trabalho de conduzi-la até Ele, que está distraído escrevendo no chão. Vamos entrar no texto e vivenciar aquela cena. Consigo ver as expressões dos rostos daqueles homens. “É agora que pegamos ele.” Apresentam a mulher, relatam o que havia acontecido e aguardam. A armadilha verbal está pronta, é só esperar Jesus cair nela. Consigo vê-lo levantando um pouco a cabeça como quem não dá ao fato a dimensão esperada e dizendo àqueles caras palavras simples e sábias que os desarmou. Se Jesus dissesse APEDREJA CONFORME DETERMINA A LEI, eles teriam como argumento: “Esse cara vive falando em amar o próximo, mas concorda com a execução dessa mulher.” Se ele dissesse LIBEREM ELA, eles teriam como argumento: “Ele não diz que veio cumprir a lei e os profetas, como desrespeita essa mesma lei mandando soltar uma adúltera?” Mas Cristo não disse nada disso. Ele dá uma olhadinha na cena e diz: “vamos combinar assim: quem estiver sem pecado, quem nunca pecou pode iniciar o apedrejamento.” Consigo ver o rosto de pânico da mulher, ela já se preparando para receber as pedradas cruéis, e aí Jesus disse isso. Ela levanta a cabeça, ainda com o olhar de medo, ainda assustada, suas mãos ainda protegendo o rosto numa reação instintiva, e então ouve as palavras de Jesus e vê todo mundo largando suas pedras e saindo de fininho. Ela fica sozinha. Está congelada de medo, de susto, e agora de surpresa. Jesus continua sentado escrevendo no chão. Ela poderia sair correndo numa reação instintiva, mas espera as palavras de Jesus, aquele que perdoa. Ele se endireita, olha para ela e pergunta pelas pessoas que a conduziram até ali, se nenhum deles a apedrejou. Ele já sabia a resposta. Ela só confirma, ainda com a voz embargada, ainda assustada. E Jesus arremata a questão: “eu também não vou te apedrejar, fique tranquila, pode ir, só não peque mais, tá bom?” Estava ótimo. Ela chegou ali certa de que morreria apedrejada, já tinha uma sentença de morte. Contrariando o que era esperado, Jesus lhe dá uma sentença de vida: “vai e não peques mais.” Preciso confessar a vocês que estou arrepiado enquanto escrevo. Fico emocionado cada vez que leio essa história, cada vez que entro nesse cenário de morte e vida. Tem mais um detalhe muito importante: Jesus, aquele que perdoa, não faz perguntas, não dá um questionário para que a mulher responda, ele nem quis saber em que condições ela vivia. A única pergunta que Ele dirige a mulher é esta: “cadê teus acusadores?”
A igreja que exclui precisa reencontrar o Cristo que perdoa.Agora vejo o Cristo participando de uma assembleia ordinária daquela igreja que excluía com imensa facilidade. O nome do culpado é apresentado à assembleia, assim como sua acusação. Alguém pede mais detalhes. Alguém propõe a exclusão para preservar o bom nome da igreja diante da comunidade. Jesus ouve tudo. Ele está sentado num dos últimos bancos. As discussões ficam acaloradas, e já há uma proposta de exclusão. Alguém cita a Bíblia. Jesus quer falar, mas não há espaço para ele naquela assembleia. O culpado é excluído, enfim. A assembleia é encerrada, cada um vai para as suas casas e Jesus sai sem ser notado: “Puxa, essas pessoas não entenderam nada do evangelho.” Se houvesse espaço para Jesus em muitas das assembleias de que já participamos em tantas igrejas, muitas exclusões teriam sido transformadas em tratamento, em pastoreio e não em segregação. O Cristo que perdoa não precisa de interrogatórios, ele conhece os corações.
Quantas amizades terminam por falta de perdão, quantos casamentos? Quantas pessoas se afastam por falta de perdão? Eu sei que essa lição está muito devocional, mas não posso falar de perdão tecnicamente, assim como não posso falar de adoração. Se você ver uma propaganda de um cursinho rápido de como perdoar ou de como adorar, mantenha distância. Se você redescobrir o Cristo que perdoa, você vai aprender a perdoar e a adorar da maneira esperada pelo próprio Cristo. A falta de perdão compromete a adoração. É difícil adorar a Deus, que não vejo, não perdoando meu irmão que está diante de mim. O perdão em sua plenitude é divino. Perdoar a quem amo pode ser moleza, pode ser até desnecessário, mas perdoar quem anda tentando me destruir, fazendo tudo o que pode para me prejudicar ou prejudicando a quem amo para me atingir, isso não é moleza. Sem a participação do Espírito Santo é inviável. Redescobrir o Cristo que perdoa é essencial para cada adorador.
FUI PERDOADO.... PRECISO PERDOAR
Pois bem, agora vem o segundo texto de nossa lição de hoje. Um cidadão tem uma dívida muito alta com o seu senhor. Ele não pode pagar. O senhor o convoca para um ajuste de contas. Diante da impossibilidade de pagar, determina que ele e toda a sua família fossem vendidos como escravos para pagar parte da dívida. Não estamos falando de hoje, evidentemente, embora se procurarmos pelo interior desse Brasil, vamos encontrar casos assim. O servo se desespera, implora e tem sua dívida perdoada pelo senhor, num momento de compaixão. Ele sai dali perdoado, feliz. Caminhando, encontra um dos seus conservos, alguém que trabalhava para ele e que lhe devia um pequeno valor em dinheiro. Se ele foi perdoado de uma dívida tão alta, esperava-se que perdoasse seu conservo, sua pequena dívida, mas não é isso que acontece; ele tortura esse servo para que pague a dívida e prende-o. Um absurdo, não é? Pois bem. Eu tinha uma dívida muito alta para com Deus. Cristo deu a vida dele pela minha. Então por que não posso perdoar meu irmão?
Aquele senhor ao tomar conhecimento do que o cara que ele acabara de perdoar fizera com o seu irmão, fica tão irritado que o entrega aos cobradores para que façam com pague a dívida.
TALENTOS, no verso 24, refere-se a uma medida de peso que variava entre 26 e 36 quilos. Era usada para pesar metais preciosos. Cada talento valia 6 mil denários. A soma total da dívida do primeiro servo girava em torno de 60 milhões de denários.
DENÁRIO era o salário de um dia de trabalho. A dívida do conservo, portanto, era de cem denários, valor insignificante diante do primeiro.
FONTE: Bíblia Anotada e Bíblia Thompson.
Se entendemos alguma coisa dessa lição, passaremos a ser mais tolerantes e menos exigentes com o nosso próximo. A dívida do meu irmão para comigo não pode ser maior que a minha para com Deus. O perdão, muitas vezes, é a primeira ação que vai desencadear um processo necessário de cura interior.
LIÇÃO 09 - 10/04/2011
REDESCOBRINDO O CRISTO QUE LIBERTA
João 8
31 - Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos;
32 - E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
33 - Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?
34 - Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.
35 - Ora o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre.
36 - Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
A VERDADE QUE LIBERTA
Companheiros e companheiras, a ignorância aprisiona ainda muitos de nossos irmãos na fé. São muitos os que declaram a Bíblia como regra de fé e prática, mas não a leem. Vivem aprisionados pelo desconhecimento, vivem seguindo ”pastores” eletrônicos. Formam o que chamam de conhecimento a partir de sermões e de musiquinhas que ouvem. Não frequentam a EBD nem qualquer outro evento relacionado ao estudo da Bíblia. Vivem dizendo que Jesus liberta, mas não conseguem dizer de quê. Jesus é a verdade que liberta. Vamos pensar um pouquinho:
Honestamente, você conhece o Jesus que liberta? Teve um encontro pessoal com ele? Ou você o conhece só de ouvir falar?
Jesus não liberta apenas de demônios, de doenças, o que o vemos fazer o tempo todo no evangelho. Ele nos liberta também de nós mesmos, do nosso egoísmo humano, de nossas manias, da ignorância. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Conhecer nossos direitos nos liberta do domínio de outros seres humanos. Ainda que você seja daqueles que dizem não suportar política, se você souber a função específica de cada cargo público eletivo, você não será prisioneiro do voto de cabresto, muito menos venderá seu voto (se o candidato que compra voto é um corrupto, o eleitor que vende também é). O conhecimento liberta. A ignorância aprisiona. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Quanto mais conheço, menos risco corro de ser manipulado. Quanto mais conheço, mais incomodo, mais questiono. Quanto menos conheço, mais me calo diante das injustiças, diante da opressão imposta por outros seres humanos, diante da exploração do meu irmão. A letra que mata (2 Co 3:6) não é a letra do conhecimento, não é a letra da verdade, é a letra da lei. “Se, pois, o filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” Não sou egoísta. Não quero essa liberdade somente pra mim. Meu irmão também precisa ser livre. Não posso silenciar diante das injustiças, mas devo silenciar diante de Deus. Silenciamos diante da morte, “fim de todos nós”, mas não devemos silenciar diante da vida, direito meu, direito do meu irmão menos favorecido, direito de todos nós.
SILÊNCIO
(Isac M. Moura)
Amo o silêncio,
a reflexão,
o nada,
a viagem,
o silêncio;
não o silêncio temeroso do aprendiz
diante do mestre intolerante;
não o silêncio de quem tem medo
ou o silêncio imposto arbitrariamente
por humanos que se arvoram deuses;
não o silêncio imposto pela ignorância,
pelo não saber diante do suposto saber;
não o silêncio do homem simples produtivo
diante de um acadêmico estéril,
dono de saberes que julga importantíssimos,
embora inúteis para a concretude da vida.
Gosto do silêncio meditativo,
reflexivo,
do silêncio que provoca impacto,
do silêncio que provoca silêncio,
do silêncio de Jesus Cristo diante de Herodes,
de Pilatos e do Sumo-Sacerdote;
do silêncio que afronta,
que faz calar.
Gosto do silêncio que grita,
que irrita,
que provoca mudanças.
Eclesiastes 3
1 - TUDO tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
7 - Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Ester 4:14 - Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento de outra parte sairá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?
Provérbios 31: 8 - Abre a tua boca a favor do mudo, pela causa de todos que são designados à destruição.
9 - Abre a tua boca; julga retamente; e faze justiça aos pobres e aos necessitados.
Então, queridas e queridos, é preciso saber a hora de falar e de calar. Muitas vezes, ganhamos muito mais com o silêncio. Outras vezes, nosso silêncio vai contribuir com as injustiças sociais, com a desgraça do nosso irmão, e aí dizemos coisas sem sentido para amenizar nossa consciência, que nos acusa: “deixa pra lá, não é comigo... se fosse comigo...” O meu irmão é parte de mim, é o próximo a quem Cristo se refere e determina que amemos como a nós mesmos. Se ele não pode falar e eu posso, mas ainda assim me calo, posso estar encaminhando-o para a destruição, conforme texto bíblico acima. O silêncio de Ester poderia ter um alto preço para os outros judeus e mais alto ainda para sua família. Se ela estava naquele lugar, não era a toa, então precisava falar, se manifestar, se expor. Foi esse o conselho de Mardoqueu para Ester. Ela resolve seguir esse conselho, mesmo correndo riscos. O resto da história já conhecemos. E se ela se calasse, se omitisse, como teria terminado essa história?
Uma coisa, companheiros e companheiras, é o respeito à autoridade. Outra coisa é a submissão, a subserviência a outro ser humano. Somos iguais:
Colossenses 3:11 - Onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos.
Foi esse Cristo do texto acima que nos libertou. Então somos livres. Cristo é tudo em todos. Eu não sou mais importante que você; os que lideram a igreja não são mais importantes que o povo que compõe a igreja. O nosso irmão Leonardo Boff contrariou os interesses de sua igreja ao apresentar uma pirâmide inversa àquela defendida pelo Vaticano. Ele propõe DEUS em primeiro lugar, O POVO DE DEUS em segundo lugar, e só depois o CLERO. A realidade da igreja católica nesse sentido não é diferente da igreja evangélica, onde algumas lideranças ainda arvoram-se quase deuses (a igreja evangélica brasileira tem seus “papas”), quando deveriam estar a serviço do povo de Deus. Povo que o Cristo libertou, mas que tais lideranças insistem em aprisionar. “EU SOU LIVRE.... EU SOU LIVRE....”, como grita nosso irmão Fernandinho em uma de suas músicas.
LIÇÃO 10 - 17/04/2011
REDESCOBRINDO O CRISTO QUE OUVE AS SÚPLICAS DAS RUAS, AS VOZES DOS OPRIMIDOS...
Mateus 9
27 - E, partindo Jesus dali, seguiram-no dois cegos, clamando, e dizendo: Tem compaixão de nós, filho de Davi.
28 - E, quando chegou à casa, os cegos se aproximaram dele; e Jesus disse-lhes: Credes vós que eu possa fazer isto? Disseram-lhe eles: Sim, Senhor.
29 - Tocou então os olhos deles, dizendo: Seja-vos feito segundo a vossa fé.
Mateus 15
21 - E, partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de Sidom.
22 - E eis que uma mulher cananéia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada.
28 - Então respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã.
Mateus 20
29 - E, saindo eles de Jericó, seguiu-o grande multidão.
30 - E eis que dois cegos, assentados junto do caminho, ouvindo que Jesus passava, clamaram, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!
31 - E a multidão os repreendia, para que se calassem; eles, porém, cada vez clamavam mais, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!
32 - E Jesus, parando, chamou-os, e disse: Que quereis que vos faça?
33 - Disseram-lhe eles: Senhor, que os nossos olhos sejam abertos.
34 - Então Jesus, movido de íntima compaixão, tocou-lhes nos olhos, e logo viram; e eles o seguiram.
A igreja evangélica brasileira precisa ouvir as vozes das ruas, dos guetos, dos oprimidos (explorados), dos renegados pelo governo pela crueldade do sistema capitalista que valoriza muito mais o capital, o dinheiro, que as pessoas. O Cristo, nosso modelo, por onde passava estava atento às vozes do povo.
O QUE É POVO? Vou responder dando voz a uma operária (pessoa do povo) citada por Paulo Freire em seu livro Pedagogia da Esperança: “povo é quem não pergunta o que é povo.” Isso significa dizer que povo é aquela massa facilmente manipulada pela mídia, pelos políticos, por lideranças negativas. Povo é aquela massa que luta pela sobrevivência, não sobrando tempo nem condições para a arte, para a reflexão. O nosso povo é muito crédulo. Ser crédulo é positivo quando há um conhecimento bíblico básico, todavia a crença sem nenhum conhecimento gera pessoas intolerantes, pessoas que não admitem uma fé diferente da sua, uma adoração diferente da sua, uma forma de ver Deus diferente da sua.
Parafraseando a operária citada por Paulo Freire, e adaptando sua resposta ao contexto evangélico brasileiro, eu diria que povo é uma massa religiosa que vota em quem seus líderes manda votar, que demoniza quem seus líderes entendem que deve ser demonizado, que compra toalinhas com suor de um ser humano que julga detentor de poderes especiais, que coloca copinho de água sobre a tv e bebe essa água depois de uma oração esperando ser curado, que dá sua economia em troca de um espaço privilegiado no céu ou de uma cura que nem sempre acontece. Não era diferente nos dias de Jesus, quando o povo acreditava, por exemplo, que um anjo descia do céu, agitava as águas de um tanque e o que entrasse primeiro nele era curado, conforme narrativa bíblica já estudada. Em todas as culturas o povo tem algo de muito positivo: a crença, uma fé simples que não faz muitas perguntas. O perigo disso é quando maus líderes se utilizam dessa “disponibilidade” para se beneficiarem. O povo dos dias de Jesus teve o privilégio de segui-lo e de ser ouvido por ele. O Cristo que ouve as vozes das ruas, dos desvalidos, dos oprimidos, atendia seus pedidos conforme a fé de cada um. A igreja, diferente disso, muitas vezes, vê em si mesmo a razão de sua existência, e fecha-se em quatro paredes e não ouve as ruas, e não percebe o sofrimento das pessoas que vivem em seu entorno e nada faz para amenizar esse sofrimento.
No texto de Mateus 9, dois cegos pedem a compaixão de Jesus. Ele os ouve, pergunta qual a necessidade deles, embora, de fato, já saiba, e por fim determina a cura conforme a fé de cada um, e eles são curados. Diferente disso, vivemos, muitas vezes, armados contra o povo e por isso não o ouvimos. Achamos que as pessoas do povo são preguiçosas, que vivem na miséria porque são preguiçosas, que não prosperam porque não têm fé. Fazemos lindos discursos sobre amor ao próximo e olhamos para o lado oposto quando estamos num restaurante e por distração dos funcionários um morador de rua se aproxima pedindo alguma coisa.
O que vou dizer agora é uma realidade do Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro da Lapa e proximidades, que vai escandalizar alguns dos senhores: segundo pesquisa de um instituto evangélico bastante sério, parte das prostitutas que fazem ponto por lá se declaram evangélicas. São moradoras da Baixada Fluminense e de favelas cariocas, frequentam igrejas, mas se prostituem na Lapa como forma de sobrevivência. Muitos de nós vamos nos escandalizar com essa informação, vamos dizer que existem milhares de outras formas de ganhar a vida que não seja se prostituindo, vamos dizer que isso é uma vergonha, vamos ficar até aborrecidos com esse parágrafo da lição, e só. Vamos até mesmo condenar aquelas mulheres e em outros tempos e/ou culturas pegaríamos em pedras para detoná-las. Ok, particularmente não acho que isso seja normal, mas me pergunto o que faria Jesus, aquele que ouve as vozes das ruas, dos oprimidos e desvalidos, caminhando pela Lapa. O que será que ele condenaria: as mulheres que frequentam igrejas (algumas são membros com carteirinha e tudo) e se prostituem ou será que ele condenaria o sistema cruel que as leva a isso? Tenho certeza que ele conversaria com elas, as ouviria. E nós, igreja, corpo desse mesmo Cristo, estamos prontos para conversar com elas, para buscar soluções que as “tire da vida”, como se diz popularmente? Particularmente, acho até mesmo indecente um “programa evangelístico” que limite-se a ir lá na Lapa, na Praça Tiradentes, no mercado de peixes de Macaé ou em qualquer outra área de prostituição simplesmente entregar folhetinhos e dizer que Cristo salva, cura, liberta. Além do folhetinho e do anúncio do que Cristo é capaz de fazer, preciso já levar a cura, a salvação, a libertação, uma alternativa diferente de vida. Sem essa estrutura, melhor nem ir lá.
Para que ninguém me acuse de apenas mostrar pontos negativos da igreja brasileira que precisam ser consertados, preciso citar uma situação positiva, que está dando muito certo, que mostra que parte da igreja brasileira está sim ouvindo as vozes das ruas, do povo, dos desvalidos. Existe um programa de evangelização (missões urbanas) em andamento na cracolândia, em São Paulo. Uma igreja foi plantada lá, com uma proposta diferente de funcionamento, aberta 24 horas. Quando um viciado manifesta o desejo de abandonar o crack, se for mulher é enviada para um abrigo da convenção batista aqui em Campos (é preciso tirar a pessoa daquele contexto) e se for homem, como não temos ainda um abrigo específico para esse grupo, é enviado para um abrigo mantido pelas Assembléias de Deus lá mesmo em São Paulo. Missões como essas tão bem sucedidas nos faz refletir que, graças a Deus, muitos cristãos, a exemplo de Cristo, estão sim ouvindo as vozes das ruas.
Lucas 5
30 - E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?
31 - E Jesus, respondendo, disse-lhes: Não necessitam de médico os que estão sãos, mas, sim, os que estão enfermos;
32 - Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento.
Após ler um texto como esse, acima, e tantos outros que tratam do mesmo tema, você não tem mais o direito de dizer coisas do tipo: “problemas deles... se querem usar crack, que usem até morrer.” Jesus veio para essa galera. Imagine agora Jesus caminhando pela cracolândia. O que você vê-lo fazendo? Julgando as pessoas viciadas? Eu o vejo parado diante de cada um ouvindo-o, curando-o, declarando libertação.
O que queremos? Uma comunidade de pessoas perfeitas, compreensivas, simpatizantes do evangelho?, uma igreja cheia de pessoas perfeitas? Gente, somos olhos, ouvidos e braços de Deus. Existe uma pequena cracolândia se formando em Unamar. Não vamos fazer nada, a não ser tentar proteger nossos filhos? E os filhos de tantos outros pais e tantas outras mães que já estão lá? O que vamos fazer com essa informação? Fingir que não lemos isso? Fingir que o professor da classe não abordou isso? Parar de frequentar a EBD para não nos deparar com informações tão chocantes? “Olhos que veem, coração que sente, braços que agem...”
LIÇÃO 11 - 15/05/2011
REDESCOBRINDO O CRISTO QUE SE EMOCIONA
João 11
35 - Jesus chorou.
36 - Disseram, pois, os judeus: Vede como o amava.
37 - E alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?
38 - Jesus, pois, movendo-se outra vez muito em si mesmo, veio ao sepulcro; e era uma caverna, e tinha uma pedra posta sobre ela.
Lucas 13
34 - Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?
João 2
13 - E estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
14 - E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados.
15 - E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas;
16 - E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.
Lucas 22
41- E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava,
42 - Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.
43 - E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.
44 - E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.
Emoções não significam necessariamente fraquezas. Existe uma expressão popular muito usada em relação ao homem latino-americano, em especial, por nós, brasileiros, de que “homem não chora”. O pior é que esta inverdade é dita por muitos pais aos seus filhos. Brigam com o garoto, até aí tudo bem, o menino sente raiva ou qualquer outra emoção, inicia um processo de choro (e isso é legítimo) e o pai ordena que recolha o choro porque “homem não chora”. Não sei o que dizem para as meninas diante da mesma cena. Seres humanos choram. Alguns com mais facilidades, outros com mais dificuldades, mas choram. Se não chegam a chorar, se emocionam, e isso não é sinônimo de fraqueza. Choramos quando perdemos. Aliás, lidar com as perdas é uma das maiores dificuldades do ser humano, é difícil pra gente. Quando perdemos um parente, um amigo, um filho, enfim, alguém que nos é especial, aí não tem jeito, desabamos. Chorar a morte de alguém, mesmo que acreditemos em vida eterna, não significa fraqueza, descrença nessa outra vida, afinal de contas estamos perdendo o contato físico com essa pessoa, e é por isso que choramos. Dizer a alguém que acaba de perder uma pessoa especial para que não chore porque a vida é assim mesmo, é pelo menos desumano. Ela precisa chorar. Nossa função é ceder o ombro, é abraçar, é mostrar compaixão, ou seja, co-sofrimento. O silêncio nessas horas é a melhor opção. Pois bem, estou dizendo isso tudo para mostrar que o próprio Jesus se emocionou diante da morte de um amigo, e chorou. A caminho do local, segundo a narrativa, ele estava tranquilo, inclusive dizendo aos discípulos que Lázaro apenas dormia, que aquele fato contribuiria para a glória de Deus. Lá na cena, diante do choro das pessoas, daquela família que ele amava, ele, Deus humanizado, sente a dimensão da dor humana diante da perda, diante da morte, então não resiste e chora também. O Cristo humanizado nunca foi insensível à dor humana, ele experimentou todas as nossas sensações, e diante da morte, ele chora, mesmo sabendo que ressuscitaria o cara. Vou repetir uma frase que usei na primeira lição: “Tão humano assim, só podia ser Deus.”
Quando em meus momentos de conversa com esse Cristo, confesso a ele minhas angústias, minhas dores, minhas emoções, meus sentimentos, estou falando com um Deus que humanizou-se e experimentou tudo o que sinto. Ele sabe, portanto, do que estou falando, e não sabe apenas porque é Deus, sabe de vivência mesmo porque optou por ser humano, não deixando de ser Deus. Ele conhece a natureza humana e isso me tranquiliza. Ele, Deus, sendo homem, conviveu com homens e mulheres, logo conhece todas as nossas angústias, todas as nossas emoções. Ele chora diante da morte de um amigo, ele se emociona ao olhar para Jerusalém, para suas práticas e deseja poder proteger seu povo como uma galinha protege seus filhotes debaixo de suas asas; ele sente raiva ao chegar ao templo e ver que as pessoas estavam usando aquele espaço de adoração para fazer comércio, e ele, profundamente irritado, espanta os animais, empurra barracas, expulsa pessoas. Sem dúvida alguma, precisamos redescobrir esse Cristo que se emociona, que sensibiliza-se diante do sofrimento humano por ter experimentado esse mesmo sofrimento. É lindo! - como diria Caetano Veloso.
Queridos e queridas, a igreja, é um lugar de cura, mas também pode causar neuroses, estresses, emoções diversas. A igreja, como já disse em tantas outras lições, é um agrupamento de pessoas. Pessoas são imperfeitas. Como posso cobrar perfeição das outras pessoas, sendo eu mesmo imperfeito? Eu não tenho que me considerar um monstro se um dia sentir raiva de um irmão. O que não posso é deixar de procurá-lo para que nos acertemos, para que administremos nossas diferenças.
Efésios 4
1 - ROGO-VOS, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados,
2 - Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
“Suportar em amor” significa, como está explícito no próprio texto, respeitar o outro em suas diferenças, aceitar o outro mesmo quando ele não concorda com a nossa opinião, entender que o outro é imperfeito, assim como nós também somos; quando estivermos aborrecidos com o outro, falarmos com ele mesmo sobre isso, e não com terceiros.
No texto de Lucas 22, o Cristo que se emociona está em agonia, ele está prestes a ser traído, preso, julgado, torturado e morto. Ele sabia que passaria por tudo isso, mas ele estava humanizado. Seres humanos têm medo. O Cristo que se emociona precisava experimentar mais esta sensação humana. O Cristo Deus sabia tudo que ia acontecer e estava pronto. O Cristo homem precisava experimentar o medo, o terror. Sua pressão sobe, parece que vai ter um avc, mas isso não podia acontecer, não estava no programa, então seu organismo humano suporta. Vasos sanguíneos estouram e seu suor mistura-se ao seu próprio sangue. Os discípulos dormem, de tristeza, segundo Lucas; de terror, certamente. O Cristo está ali vivendo mais uma sensação humana. Então, agora, quando falo com ele dos meus medos, tenho absoluta certeza de que sabe por experiência própria do que estou falando. Além de conhecer meu coração, ele vivenciou o medo. Talvez alguns dos senhores aos lerem esta lição discordem da expressão “medo” aplicada ao Cristo humanizado, mas pensem bem: que outra sensação levaria um ser humano a tamanha agonia?
Nosso companheiro Sérgio (esposo de Nossa Andréia)... Isso mesmo, eles são nossos, estou pensando até numa plaquinha de “patrimônio da PIB-Unamar”. Pois bem, o Sérgio me surpreendeu um dia desses com a seguinte pergunta (assim na lata): “Isac, você tem medo de quê?” Pensei um pouquinho, e disse que tenho muitos medos, um deles é de perder meus pais. Ele me falou de alguém que diante da mesma pergunta tinha respondido: “de mim mesmo.” E você, tem medo de quê? Talvez um dos piores medos seja o medo de amar. Quando temos medo de amar não conseguimos ter amigos porque nunca nos entregamos a uma relação de amizade, ficamos sempre com um pé atrás. Há uma canção popular dos anos 80, lindíssima por sinal, que diz: “ai, coração, te apronta pra recomeçar / ai, coração, esquece esse medo de amar de novo.” Eu sei que a canção fala do amor entre um homem e uma mulher, mas quero ampliar para qualquer forma de amor. Se você já ficou frustrado com um amigo, isso não quer dizer que toda amizade tenha que acabar em frustração. Se você já ficou frustrado com uma igreja, isso não quer dizer que igreja tenha que ser frustrante. “Te apronta pra recomeçar.” Nós não somos pessoas tão do bem assim, mas Cristo não teve medo de morrer por nós. Sabe aquele pai, que na desgraceira natural ali em Teresópolis, deitou-se sobre o filho, o agarrou, o protegeu... ele não teve medo de tomar pancadas, de receber impactos de água, de lama, de pedras... e tudo isso pelo filho. Foi assim que Cristo nos amou. A diferença é que aquele pai se dispôs a tudo aquilo pelo SEU filhinho. Jesus fez por estranhos e esquisitos como eu, como você. Ah, não sou só eu que sou esquisito, você também é. De perto, ninguém é normal. Mas Jesus não teve medo de morrer por nós.
Se me permitem, quero contar rapidamente uma experiência pessoal: como é do conhecimento de alguns dos senhores, participei do movimento estudantil, pertenci ao sindicato dos metalúrgicos e sou do sindicato dos professores. Mesmo depois de casado, continuei ativista, participando de manifestações, correndo de polícia... aí veio o nosso filho, o nosso Matheus. A partir do Matheus, passei a ter medo. Medo de tomar uma pancada, medo de morrer, medo de me expor como antes. Tornei-me um negociador, passei a conversar e não a discutir em situações de conflito. Com o tempo fui reduzindo minha participação nesses movimentos. E isso tudo pelo meu menino, por medo de alguma coisa me acontecer numa fase em que ele precisa tanto de mim. O medo não é sempre negativo. Só é negativo quando impede que você aja, quando “esteriliza os abraços”, como diz Drummond, tornando-os frios, desconfiados. O medo é positivo quando me leva a reflexão, quando me faz pensar bastante antes de tomar uma decisão. Quando o meu menino era pequenininho, tinha medo de água (grandes concentrações: piscina, mar...) e de fogo. Isso nos deixava muito tranquilos. No momento mais preocupante com relação a água e fogo, ele tinha medo, então não havia riscos de afogamento nem de queimadura. Olha que tranquilidade! Conheço crianças que, nessa idade dele, corriam para o mar e para perto do fogo. Eu estava tranquilo com o meu. Mas e você, tem medo de quê? De se doar para a igreja e frustrar-se? De mergulhar sem reservas numa relação de amor, de amizade? A vida, companheiros e companheiras, não oferece garantias. Tenha os medos necessários e vença os desnecessários.
LIÇÃO 12 - 22/05/2011
REDESCOBRINDO O CRISTO QUE QUEBROU PARADIGMAS
Mateus 12
6 - Pois eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo.
7 - Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes.
8 - Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor.
9 - E, partindo dali, chegou à sinagoga deles.
10 - E, estava ali um homem que tinha uma das mãos mirrada; e eles, para o acusarem, o interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados?
11 - E ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará mão dela, e a levantará?
12 - Pois, quanto mais vale um homem do que uma ovelha? É, por consequência, lícito fazer bem nos sábados.
13 - Então disse àquele homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu, e ficou sã como a outra.
14 - E os fariseus, tendo saído, formaram conselho contra ele, para o matarem.
Êxodo 20
8 - Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.
9 - Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra.
10 - Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
11 - Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado, e o santificou.
Em Êxodo 20, temos o mandamento da lei quanto a guarda do sábado. Levando-se em conta este texto, esta tradução, observe no verso 8 que o sábado deveria ser santificado. Com o tempo, o sábado deixou de ser santificado e passou a ser ritualizado. Aliás, isso parece uma tendência humana: ritualizar as coisas. E quando ritualizamos, passamos a valorizar esse rito acima de qualquer coisa. Nos dias de Jesus, a guarda do sábado já era muito mais um ritual do que a guarda de um mandamento divino. Guardava-se o sábado para que todos vissem que aquele cabra era religioso mesmo, e esse cabra, de certa forma, já que guardava, observava e exigia que todos guardassem também, chegando ao ponto de denunciar quem não guardava. É nesse contexto que Jesus resolve curar no sábado. Ora, o problema do cara que ele resolve curar no sábado, na sinagoga, era uma mão ressequida, ou seja, não era uma emergência. Ele era portador dessa deficiência havia anos, poderia esperar o domingo, poderia até seguir o Cristo e buscar a cura do seu problema num outro dia. Outra questão é o lugar: na sinagoga. Local de reuniões de estudos da Lei. Pois bem. Aquela cura precisava mesmo ser feita na sinagoga, e no sábado. A reação foi imediata. E aí Jesus, o grande mestre, o ensinador espetacular, diz aos caras (minha livre tradução): “Vocês são uns religiosos de meia tigela mesmo. Até guardaram o mandamento, mas esqueceram completamente do fundamento dele. O ser humano é muito mais importante que o sábado, seus fundamentalistas. E tem mais: vou responder essa perguntinha besta que vocês me fizeram, se é lícito curar no sábado, fazendo outra perguntinha a vocês: você aí, é você mesmo... você tem um boi. Justamente no sábado, ele caiu num buraco. Se você não retirá-lo logo, ele vai morrer. Não dá para esperar o dia seguinte. E então, vai deixar o boi morrer? Ah, por favor, vamos parar de palhaçada. Iria salvar o boi sim. Esse cara aqui é muito mais importante que seu boi, e tem mais uma coisinha: eu sou Senhor do sábado, sou Senhor do templo, sou o Filho de Deus. Ah, e chega dessa discussão besta: meu amigo (virando-se para o homem da mão ressequida), estende a tua mão. Pronto. Tá curado!”
Que coisa mais linda. Os seres humanos são mais importantes que os rituais. Alguns críticos vão dizer que Jesus aí desrespeita a lei mosaica. Não é bem assim, ele quebra um paradigma. O modelo era o sábado, ou melhor, a guarda ritualística do sábado. Ele queria que o modelo, que a referência fosse o ser humano. Uma coisa era santificar o sábado. Outra, ritualizá-lo.
Os judeus guardam o sábado até hoje, assim como os adventistas. De certa forma, até os invejo. Guardar o sábado é a garantia de um dia de descanso em cada semana. Eu, por exemplo, obcecado por estudo e trabalho, faço essas duas coisas em pleno sábado, após trabalhar de segunda a sexta, um absurdo. O mais grave é que o faço feliz e sem nenhum peso na consciência, sem nenhum registro mental de que esteja violando um mandamento. Não sou judeu, nem sou adventista. Portanto, tudo bem pra mim. O domingo não substitui o sábado. O domingo é uma opção cultural e religiosa cristã de nos reunirmos no templo, não é um mandamento. E muitos de nós, diga-se de passagem, também não levamos isso tão a sério. Se rolar um trabalhinho extra no domingo, a gente faz também.
Resumão do parágrafo anterior: esqueça essa coisa de guarda do sábado a ferro e fogo, mas por favor, respeite aqueles que o fazem. Não se afaste de ninguém por guardar ou não guardar o sábado. Relaxe. Você é mais importante que o sábado. Estudar aos sábados é uma delícia.
Aproveitando o ensejo: você não precisa, na semana santa, apenas comer peixe. Faça um churrasco, se quiser, mas por favor, não use o seu churrasco para afrontar o seu vizinho católico que está comendo peixes, respeite sua opção. Coma carne de porco a vontade (os criadores agradecem), mas por favor, se vai convidar um amigo judeu para almoçar com você, deixe o porquinho para outro dia. Não usamos imagens de santos em nossas casas, mas se visitar um amigo ou um parente que as tenha, respeite o espaço e a fé do seu amigo. Aquela imagem não vai te fazer mal, mas você fará muito mal ao seu amigo se faltar com o devido respeito a ela. Enfim, nunca avacalhe o objeto de culto de outra pessoa.
OUTRA QUEBRA DE PARADIGMA
João 4
7 - Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.
9 - Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos).
Eu sei que esse caso já estudamos na lição 5, todavia só quero relembrar a grandiosidade desse diálogo. De uma tacada só, Jesus quebra dois paradigmas: Ele puxa conversa com uma mulher. Essa mulher é samaritana. O próprio texto de João já explicita a “impossibilidade” de diálogo entre judeus e samaritanos. A própria mulher o questiona quanto a isso. E ele continua o diálogo. Hoje, temos na Irlanda do Norte uma relação parecida entre católicos e protestantes. Muitas vezes, encontros entre esses dois grupos geram agressões físicas. Uma contradição sem tamanho para dois grupos cristãos. E nós, evangélicos brasileiros, com quem não dialogamos? Que paradigmas precisamos quebrar? Que portas precisamos abrir para que o diálogo aconteça, independente de nossas diferenças, de nossas opções religiosas? O foco do Cristo a quem seguimos era o ser humano. Qual é o nosso foco? Os rituais? Os dogmas? Ou faz como eu faço ou não podemos conversar? Os batistas são mais especiais que os assembleianos, presbiterianos, neopentecostais, católicos? O simples fato de sermos evangélicos nos faz, para Deus, mais importantes que os umbandistas, candomblecistas, budistas e outros istas? O que é mais importante: o ser humano ou o “ista” que ele carrega? Deus só ouve evangélicos? O critério para você dialogar com o outro é a religião que ele professa? Em que texto bíblico você encontra Jesus preocupado com a religião do outro? A propósito, qual era mesmo a religião da mulher do fluxo de sangue? E a de Zaqueu? Huummm.... e a da mulher adúltera?
Com base nas lições anteriores ou em qualquer outro cenário bíblico não representado aqui, vamos listar outras situações em que Cristo tenha quebrado paradigmas? Quem começa?
LIÇÃO 13 - 29/05/2011
REDESCOBRINDO O CRISTO ENCARNADO, O LOGOS, O VERBO, O FILHO DE DEUS
João 1
1 - NO princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 - Ele estava no princípio com Deus.
3 - Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
3 - Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
4 - Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
5 - E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
9 - Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.
10 - Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
11 - Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12 - Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;
13 - Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
14 - E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.
16 - E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça.
17 - Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.
18 - Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.
Quando o verbo se fez carne e habitou entre nós e viveu nossos sentimentos, nossas dores, nossas angústias, Deus estava optando por um relacionamento direto com a humanidade, e por relacionamentos baseados na experiência de ser um de nós. Deus tornou-se gente. O fato de Deus tornar-se gente, materializar-se, nos indica que a carne não estava de todo perdida. Isso muda, inclusive, nossa relação com nós mesmos, ou seja, vamos pensar um pouquinho:
Será que a carne é símbolo efetivo do pecado?Será que a carne para nada serve? Ora, se o corpo é templo do Espírito Santo e dizemos que a carne é imunda, estragada, vencida, pecaminosa, então estamos dizendo que o Espírito de Deus habita na impureza, na imundície?
Desde os tempos da Idade Média, a igreja ensinou amplamente que a carne representa o pecado, que o desejo de pecar está exclusivamente na carne, que, por sinal, deveria ser mortificada, renegada. Assim, o sexo, por exemplo, mesmo no casamento, deveria limitar-se a reprodução, não devendo ser praticado como uma forma de prazer. Logo, cuidar do corpo era vaidade, e a vaidade, por sua vez, um pecado terrível. Num outro momento, o corpo passa a ser cultuado. Vamos combinar assim: nem 8 nem 80. Não podemos considerar a carne como objeto exclusivo do pecado, se Lúcifer, não tendo um corpo físico e não tendo nenhum estímulo externo, ainda assim rebela-se contra Deus. Por outro lado, adorar, cultuar o próprio corpo também já é demais. Consideremos, pois, o corpo como templo do Espírito Santo e cuidemos dele para que seja, de fato, um santuário, para que seja um outdoor de Deus.
Enfim, queridos e queridas, o Cristo tornou-se carne, tornou-se gente, tornou-se um de nós. Isso muda a relação de Deus com o homem. Assim, no Novo Testamento já não encontramos aquele Deus “estressado” do Velho Testamento. Agora vemos um Deus “tolerante” com a humanidade. Não estou dizendo que Deus tenha passado a tolerar o pecado, de jeito nenhum, visto que o pecado é absolutamente contrário a Sua santidade, mas um Deus que ouve, que compreende, um Deus que experimentou a natureza humana com suas dificuldades, suas limitações, suas dores, sua finitude. Após experimentar a morte, “fim de todos os humanos”, ele ressuscita, mostrando que a própria morte está sob controle divino e que todos que o seguirem terão direito a vida eterna.
No livro Sarça Ardente, que fala sobre a Teologia Latino-Americana, Luiz Carlos Suzin, o organizador, faz um registro muito bacana relacionando ao tema em questão.
Filipenses 2“A carne é o eixo da salvação. Da carne, do esvaziamento divino e sua correspondente condição servidora e humanizadora (Fl 2:6-8), levanta-se a glória divina, a revelação viva e a espiritualidade - e só então a Teologia (Fl 2:9-11). [....] ...aquilo que o Espírito opera – a espiritualidade – precede a Teologia e as Igrejas.”
5 - De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
6 - Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus,
7 - Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;
8 - E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.
ESPIRITUALIDADE, IGREJA E TEOLOGIA
A ideia de espiritualidade, conforme citação acima, com a qual concordo, precede, ou seja, vem antes da ideia de igreja e da própria Teologia. Espiritualidade não é sinônimo de marcar ponto na igreja, não é sinônimo de conhecer Teologia ou de desconhecê-la, não é sinônimo de trabalhar num determinado ministério, não é sinônimo de submissão cega... então o que é espiritualidade?
Segundo Rubem Alves, “a teologia é o caminho mais distante para se chegar a Deus”. Gosto de Rubem Alves, sou apaixonado por Teologia, mas não acho que alguém precise da teologia para chegar a Deus. O caminho para Deus não é a teologia, é o Cristo que tornou-se um de nós e que deu sua vida por nós. Logo, não importa muito se esse caminho é longo ou curto. Cristo é o caminho, não a teologia. Não estou dizendo que a teologia não seja importante. Estou dizendo que não é o caminho para Deus.
Quanto a igreja, talvez um de seus maiores equívocos seja comportar-se como se fosse “dona” de Deus. Deus não está de plantão 24 horas para atender exclusivamente os queixumes melodramáticos daqueles que fazem parte da igreja. Ele ouve aqueles que o procuram em espírito e em verdade, e não, necessariamente, aquele que se identifica como fazendo parte de uma igreja. Deus não é propriedade do Cristianismo. Ao longo dessas lições, vimos um Cristo sempre atento às pessoas, não necessariamente aos religiosos. De nenhuma delas ele exigiu uma carteirinha que comprovasse seu vínculo com um grupo religioso, exigiu apenas fé. Eu amo esse cara, me emociono, me arrepio falando dele. Na direção oposta, convivemos com um Cristianismo que parece acima do próprio Cristo, um Cristianismo no qual, em alguns setores, não há espaço para esse Cristo, e isso me aborrece imensamente. Se materializado hoje, estou certo de que entraria em alguns ambientes “cristãos”, em algumas assembleias ou convenções e teria um “ataque” semelhante àquele que teve no templo e perguntaria o que estariam fazendo ali, e em nome de quem, e para quê. Aquele episódio dele aborrecido no templo é um dos mais lindos do evangelho, é o registro da intolerância dele diante da hipocrisia, da religiosidade estéril. Sinto até vontade de estar lá com ele quebrando tudo. Eu amo esse cara. Converso com ele regularmente. Somos amigos. Não, não me sinto escravo dele, independente dos termos gregos citados por Paulo que dá essa impressão, me sinto amigo. Se me sentisse escravo, faria minhas atribuições pela obrigação de fazer, e limitaria-me, de fato, às minhas obrigações. Por um amigo não, faço por amor, e procuro fazer mais do que seria minha obrigação, até porque não há obrigações numa amizade, as coisas são espontâneas. Eu entendo perfeitamente o que Paulo quis dizer com termos como “Kurios”, traduzido por senhor e amo; e “doulos”, traduzido por escravo, mas prefiro ainda a declaração a seguir do próprio Jesus:
João 15
13 - Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.
14 - Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.
15 - Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.
É muita onda para nós, simples mortais, sermos amigos de Jesus. Agora só para finalizar esse quite de lições, sabe quando ele diz “se fizerdes o que eu vos mando”? Vou citar a seguir o que ele nos manda:
João 15: 12 - O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.
É lindo!